A nova economia pós-coronavírus. Artigo de Alfredo Serrano Mancilla

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20 Março 2020

“Esperemos que, ao menos, o coronavírus nos sirva para alguma coisa. E tomara que apareça uma espécie de novo New Deal, novo contrato social e econômico, no qual a saúde e outros direitos básicos estejam no centro da economia, e que a economia financeira esteja a serviço da economia real, e não o contrário”, escreve Alfredo Serrano Mancilla, doutor em Economia e diretor executivo do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica - CELAG, em artigo publicado por Público, 18-03-2020. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Mais uma vez, um novo evento, desta vez a chegada do coronavírus, põe em xeque toda a economia mundial e muito especialmente a economia latino-americana. O impacto desse evento fatídico será maior devido ao fato de termos uma economia mundial débil e em crise permanente (contração da economia real, atividade comercial reduzida, baixa produtividade, endividamento massivo e excessiva volatilidade especulativa).

Além desta ordem econômica global, complexa e infestada de desequilíbrios, cabe resistir a outra prova de fogo: o coronavírus. Hoje, ninguém seria capaz de prever com exatidão quais serão as consequências para a economia mundial e, particularmente, na latino-americana. Ainda é muito cedo para isso, mas, sim, podemos fornecer alguns dados para ter uma primeira aproximação com essa situação tão difícil.

1- O Instituto de Finanças Internacionais calcula que o valor de saída de capital registrada das economias emergentes nos primeiros 45 dias do coronavírus no mundo (muito antes de se espalhar para a União Europeia) é de 30 bilhões de dólares. Esse valor é recorde em nível global, superando até mesmo o que aconteceu após o crash financeiro de 2007-2008. Isso significa que quando existirem dados atualizados, certamente haverá uma saída de capital sem precedentes das economias emergentes que afetará - e muito - a economia latino-americana.

2- No lado oposto estão aqueles que se beneficiam com tal fuga. Surpresa! O principal refúgio é o título estadunidense. Assim, os fluxos financeiros são reordenados em favor do país hegemon.

3- Sempre que há um choque externo, seja qual for, busca-se uma resposta monetária expansiva e anticíclica. Até a ortodoxia neoclássica cede nesses casos. O Federal Reserve dos Estados Unidos colocou à disposição do sistema financeiro 1,5 trilhão de dólares. O Banco Central Europeu anunciou que injetará 120 bilhões de euros na economia. O FMI também está disposto a mobilizar um trilhão de dólares. No entanto, uma vez que se faz uma forte emissão, logo nos esquecemos de identificar a rota desse dinheiro. Chegará na economia real ou se optará por destiná-la ao mundo financeirizado?

4- Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento prevê uma perda de renda global de 2 trilhões de dólares como consequência dessa crise. Somente em fevereiro, devido ao efeito da crise na China, as perdas na produção industrial foram de 50 bilhões de dólares. Definitivamente, também estamos enfrentando uma crise de oferta que ainda não dimensionamos: estão sendo paralisadas muitas cadeias globais de produção e também de fornecimento.

Vivemos em um mundo cheio de incertezas. Com o coronavírus, tudo é mais incerto. A economia não se amplia sem expectativas. E quanto mais doente está, pior é sua capacidade para gerenciar fatores de alto risco. Até o momento, abateu-se uma deterioração de todos os indicadores que dependem, precisamente, das expectativas: preço do petróleo, índices de ações, taxas de câmbio, risco país, etc. A dizimada economia global segue em queda.

Veremos o que acontece após esse grande tsunami. Após cada grande crise, a ordem econômica global sempre se reacomoda. Depois de 2008, a economia global aprendeu pouco e continuou destroçando a economia real. A partir de agora, o interessante é saber se o consenso surgido na contingência perdurará no tempo: mais e melhor saúde pública, mais Estado, mais política fiscal expansiva, quando surgem as dificuldades, mais economia real e, sobretudo, dar muito mais importância aos assuntos verdadeiramente imprescindíveis para a vida humana.

 

Faz sentido que o capitalismo global tenha produzido mais de 1,5 bilhão de smartphones em um ano e tão poucos respiradores assistidos em caso de pandemia? Não. Faz sentido que estejamos tão pouco preparados economicamente para uma pandemia que, até o momento, foi letal para 0,000092% da população mundial (e que infectou 0,00235%)? Também não. 

Esperemos que, ao menos, o coronavírus nos sirva para alguma coisa. E tomara que apareça uma espécie de novo New Deal, novo contrato social e econômico, no qual a saúde e outros direitos básicos estejam no centro da economia, e que a economia financeira esteja a serviço da economia real, e não o contrário.

 

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