A pandemia e o fim do neoliberalismo pós-moderno

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18 Março 2020

"O pós-coronavírus será como sair de uma guerra: tudo estará em escombros. Ao propagar o medo do outro, o individualismo radical, a insolidariedade social, o “salve-se quem puder”, sistema nos tornou frágeis. Agora é buscar a volta por cima", escreve Juan Antonio Molina, escritor e jornalista espanhol, em artigo publicado por Outras Palavras, 05-11-2017. A tradução é de Simone Paz.

Eis o artigo.

Chegou a hora de reduzir ao absurdo o capitalismo em sua versão neoliberal e a pós-modernidade como seu suporte metafísico. Esta crise do coronavírus questiona e põe o mundo todo em dúvida. Afeta gravemente a saúde dos cidadãos, a vida das empresas, o destino dos empresários, os trabalhadores, os precarizados e os pobres

Tudo junto e misturado porque temos, nas sociedades modernas, uma “comunidade de destino” que nos une uns aos outros num emaranhado só. Termos quebrado esse vínculo, inclusive emocionalmente, pela difusão do medo aos demais, o individualismo radical, a falta de solidariedade social, o “salve-se quem puder” que o neoliberalismo nos impõe, nos tornou mais frágeis hoje — produto da hegemonia cultural perversa que acaba sendo antagônica quando deveríamos nos unir para enfrentar o inimigo em comum, do qual ninguém consegue escapar sozinho.

O pós-coronavírus será como um período de pós-guerra. Só encontraremos ruínas. Então, qual sentido vão ter todos aqueles excessos neoliberais — que tanto esta crise como aquela de 2008 já demonstraram ser falácias sem fundamento para impor o implacável direito de uma minoria de explorar, marginalizar e empobrecer as maiorias sociais? Ainda mais quando o coronavírus nos obriga a repensar o significado de nossas vidas, nossa forma de estar juntos, os perigos da globalização; sendo possível que ele nos devolva uma normalidade transformada, um renascer diferente, incluindo as regras financeiras internacionais. O problema é que perdemos o sentido do equilíbrio entre os diversos componentes da nossa sociedade.

Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia de 2001, escreveu um artigo publicado na revista Social Europe, chamado O fim do neoliberalismo e o renascimento da história, no qual aponta as consequências negativas da aplicação das políticas neoliberais. Estas incluem: reformas trabalhistas destinadas a enfraquecer os sindicatos e facilitar a demissão dos trabalhadores, bem como políticas de austeridade que tentam diminuir a proteção social por meio de cortes no gasto público social, na qualidade democrática dos países em volta do Atlântico Norte (incluindo a Espanha), e também, no bem-estar das classes populares. Uma das consequências desta realidade tem sido o enorme crescimento da desigualdade na maioria desses países, nos quais as políticas neoliberais têm sido aplicadas.

O neoliberalismo ataca todas as subjetividades e interpretações ideológicas da realidade que se suavizaram com a convivência, já que não acredita na sociedade e, sim, em indivíduos concorrendo entre si, em termos desiguais. Prega a forte liberalização da economia, o livre comércio de modo geral, e uma drástica redução do gasto público e da intervenção do Estado na economia a favor do setor privado, o qual passaria a desempenhar as funções tradicionalmente atribuídas ao Estado.

Não obstante, essa substituição do Estado, justificada por uma suposta ineficiência do setor público se comparado ao privado, vai por água abaixo quando a ineficácia dos banqueiros acaba com as entidades financeiras e, então, é solicitada a intervenção do Estado — que reconhece implicitamente a gestão pública, só que apenas articulando a perversa equação de privatizar os benefícios e coletivizar as perdas. O que seria da luta contra o coronavírus com um sistema de saúde absolutamente privado e focado exclusivamente no benefício empresarial?

Essa economia pós-moderna possui seus pilares numa visão apocalíptica do discurso político dos criadores do capital. O Estado é julgado culpado, ineficiente, corrupto, mas também lastro para a competitividade do mercado e de suas leis de oferta e demanda. Mudam as referências, o imaginário e as palavras para se referir ao Estado de bem-estar. O capitalismo é reinventado. Tudo é modificado para dar lugar a um ser despolitizado, conformista social. Um perfeito ignorante social. As velhas estruturas cedem espaço para uma ordem social cujas reformas enaltecem os valores individualistas, o “eu” acima do “nós”, onde os outros são considerados obstáculos ou concorrentes que devemos destruir… mas, nisso, chegou o coronavírus.

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