07 Março 2019
"Sexualidade e celibato estão ligados ao poder, assim como a resistência às diaconisas e à ordenação de mulheres. O clericalismo é sua expressão mais evidente. Não por acaso Francisco, neste caso severo e enfático, atacou duramente o clericalismo", escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
O recente encontro de Francisco com as comissões episcopais nacionais centrou a atenção no terrível problema da pedofilia. A Igreja devia à sociedade uma palavra a respeito. Note-se, entretanto, que esse é um problema da sociedade como um todo e seria uma hipocrisia social reduzi-lo aos espaços da Igreja Católica Romana. Claro que anos de encobrimento nessa instituição levaram à necessidade de enfrentá-lo abertamente com coragem. Não esqueçamos, porém, que bom número de casos de pedofilia ocorrem no interior das famílias, em centros de juventude, etc.
Porém é o momento de sair das páginas de escândalo e colocar a pedofilia numa perspectiva mais ampla e mais séria. Muitos querem reduzi-la à homossexualidade. O livro do sociólogo francês Frédéric Martel, Sodoma, relata possíveis índices altíssimos desta na cúpula da Igreja Católica. O autor se apresenta como homossexual e o tema é tratado com cuidado e sensibilidade, querendo denunciar uma rede de hipocrisia na instituição. Isso pode ser até certo ponto salutar. Entretanto, uma leitura que escorrega para o sensacionalismo termina sendo a pior maneira de enfrentar a problemática.
Uma relação redutiva e falsa pedofilia-homossexualidade tem permitido a setores conservadores ver essa última como a grande chaga eclesial. Os bispos Raymond Burke dos Estados Unidos e Walter Brandmüller, da Alemanha, que com outros dois tinham lançado um ataque ao pontificado de Francisco, voltam agora em carta aos participantes da cúpula sobre pedofilia, pedindo para pôr fim “à conspiração do silêncio em torno à praga da agenda homossexual”. O arcebispo Carlo Viganò, que pedira a renúncia do papa, lembra São Pedro Damião, que denunciara, no século XI, os perigos da sodomia na Igreja. Já o arcebispo maltês Charles Scicluna, talvez uma das maiores autoridades na matéria, que fora enviado ao Chile para pesquisar ali o problema da pedofilia, indica que a homossexualidade e a heterossexualidade são condições humanas e não predispõem necesariamente ao pecado. Para ele, “não ousaria dizer que uma categoria inteira tem tendência a pecar”.
Um porta voz do Vaticano, depois do discurso do Papa do dia 24, indicou que “os abusos de menores são sempre consequências do abuso de poder”. Este é um ponto central de toda esta reflexão, ao qual voltaremos ao final. Não é aceitável que setores conservadores na Igreja se lancem numa cruzada homofóbica. Antes de tudo, há que indicar que a pedofilia pode partir tanto de hétero como de homossexuais . Como afirmou no recente encontro a Irmã nigeriana Verônica Openibo, as meninas são também vítimas de abuso. O problema é mais profundo e tem a ver com a sexualidade em geral. Vejamos exemplos eloquentes.
Em princípio não gostaria de deter-me nos fatos, mas infelizmente é necessário partir de alguns deles, para uma reflexão eclesial concreta, por mais dolorosa e terrível que possa parecer essa informação. Quero que esta reflexão, de um cristão leigo, seja uma tentativa de análise sujeita a revisão e correções, uma simples participação provocadora em um debate candente e cada vez mais atual.
Começa a haver um certo consenso de que o tempo do pontificado de João Paulo II foi um momento de forte encobrimento ou de negação dos fatos relativos à pedofilia e eu acrescentaria, à sexualidade em geral. Começo com uma situação emblemática que não pode ser ignorada. O Cardeal de Viena, Hans Hermann Groër, foi nomeado, em 1986, por João Paulo II, que admirara sua piedade mariana. Ele sucedeu ao notável Cardeal Franz König, uma das fortes figuras do Vaticano II. Começaram logo a aparecer acusações de pedofilia quando ainda era monge e depois como cardeal. Salto os terríveis detalhes. Chegavam testemunhos de seminaristas, mas sua prática possivelmente seria mais ampla. Seu sucessor, o Cardeal Christoph Schönborn, disse a jornalistas, “off the record” - mas a informação logo vazou - que o prefeito Ratzinger tentara convencer o Papa a investigar o caso, no que teria sido impedido pelo Secretário de Estado, Angelo Sodano. Finalmente, a pedido de João Paulo II, em 1998, Gröer renunciou a todos os privilégios como arcebispo e cardeal. Passou a ser prior num mosteiro mas, diante de novas acusações, teve de retirar-se definitivamente da vida pública.
O caso mais notório, com muitos livros e artigos publicados, foi o do padre mexicano Marcial Maciel Degollado. Criou os Legionários de Cristo, que seria adiante congregação de direito pontifício. Dirigiu por 64 anos os Legionários, que cresceram enormemente, em quantidade e força financeira. As primeiras suspeitas sobre suas atividades sexuais dolosas começaram em 1948, porém nos quarenta anos seguintes foram consideradas calúnias. Pelas pesquisas posteriores da própria Igreja, constatou-se que, além da pedofilia, tivera pelo menos duas companheiras com quatro ou seis filhos, ademais de ser adicto em cocaína. Reuniu enorme fortuna, para os Legionários e para si próprio, em parte depositada em paraísos fiscais. Depois de sua morte uma filha, na justiça, tentou reaver parte da fortuna paterna. Em 2010, a direção dos Legionários finalmente admitiu as atividades promíscuas de seu fundador – que aliás vivia com cinco identidades falsas. Bento XVI então, considerando a idade avançada e a saúde de Maciel Degollado, o intimou a levar uma vida retirada “de oração e de penitência”. Morreu aos 87 anos, em 2008, numa mansão em Jacksonville, na companhia de uma companheira e sua filha, sem a presença da Igreja. Os Legionários passaram por uma intervenção, mas continuaram administrando seus volumosos bens. Sobra dizer que suas posições eram e seguem sendo integristas no âmbito eclesial e conservadoras na sociedade. Um cardeal denunciou que chegou a ele um cheque de milhares de dólares como tentativa de suborno e que o devolveu imediatamente. Era conhecido o financiamento abundante a obras da Igreja em geral e do Vaticano em particular. Note-se aqui que o problema não se reduzia à pedofilia, nem se tratava de um homossexual, mas de alguém com uma sexualidade exacerbada e ávido de poder econômico.
No Peru, o leigo Luís Fernando Fígari fundou, em 1971, o Sodalício de Vida Cristã, mais adiante também sociedade de direito pontifício. Este é formado por sacerdotes e leigos presentes em muitos países. Igualmente integrista eclesial e conservador social. Fígari também foi acusado de pedofilia. Superior do Sodalício até 2010, em 2017 foi “exclaustrado”, isto é, proibido de viver numa casa da congregação. O novo superior pediu a ele uma “vida de oração e penitência”. Vive em Roma sem poder voltar ao Peru, onde chegou a correr um processo contra ele na justiça civil.
No Chile, o padre Fernando Karadima, pároco de um bairro de classe alta de Santiago, criou uma Pia União Sacerdotal, teve enorme prestígio e foi responsável pela nomeação de vários bispos. Com laços com o regime militar, era próximo do núncio Angelo Sodano, mais tarde Secretário de Estado. Quando o bispo Juan Barros, ligado a ele, foi nomeado bispo de Osorno, parte da comunidade eclesial local se rebelou. Francisco, em visita ao país, baseado possivelmente em informações tendenciosas, não recolheu a denúncia e isso manchou sua presença no Chile. Mais tarde, com enorme honestidade, nomeou o bispo de Malta, Charles Scicluna, para uma visita apostólica ao Chile. Na base de seu informe, Francisco convocou todos os bispos do país a Roma. Estes puseram sua renúncia nas mãos do Papa, que agiu com cuidado e gradualmente. Um dos problemas foi o caso do antigo Cardeal-arcebispo de Santiago, Francisco Errazuriz, que aliás fazia parte dos oito prelados escolhidos por Francisco para assessorá-lo. Como seu sucessor também foi questionado, a sucessão do arcebispado passou a ser uma decisão difícil. O escândalo de pedofilia alcançou também um conhecido colégio dos Irmaõs Maristas. A Igreja chilena sofreu perda de seus membros e não se refez ainda do trauma. Dali em diante choveram acusações as mais variadas, verazes ou não, como o caso de conhecido jesuíta falecido, que teria molestado uma mulher. Veja-se que tudo extrapolou da pedofilia, para casos de uma sexualidade hetero ou homo reprimida. O que nos leva a ampliar a reflexão da pedofilia à sexualidade em geral e abre logo para o problema do celibato obrigatório, que trataremos adiante.
Casos de abuso se estenderam a outros países da América Latina, aos Estados Unidos, à Irlanda e à Austrália. Nesta, o cardeal George Pell acaba de ser condenado pela justiça do país por atos de pedofilia e perdeu suas funções na Igreja, inclusive na área econômica na Santa Sé, ele também um dos oito cardeais do conselho do Papa. Em fevereiro, Francisco, numa decisão drástica, retirou o sacerdócio do ex-Cardeal emérito de Washington, Theodore McCarrick, de 88 anos,
No Brasil, surgiram várias acusações de pedofilia e de encobrimento. Um sacerdote em Goiás foi expulso da Igreja. Foram aparecendo outros casos. O mais conhecido foi o do arcebispo de João Pessoa, afastado do cargo, conhecido também por suas ligações com setores econômicos. Volta o problema do poder.
Vai ficando claro que os casos de pedofilia não se restringem apenas a meninos, mas envolvem também meninas. E em relação à idade dos abusados, não se reduz à pedofilia, mas a relações hetero e homossexuais. Podemos ir descobrindo que o problema de fundo tem a ver com a sexualidade, tanto hetero quanto homossexual. E possivelmente em muitos casos, podia tratar-se de uma sexualidade reprimida e logo exacerbada.
E isso nos reporta ao tema do celibato obrigatório no caso dos presbíteros. Para introduzi-lo, talvez fosse importante falar de serviços (diaconias) na Igreja, em múltiplas funções, sem separar rigidamente as fronteiras entre ministérios ordenados e não ordenados. Trata-se antes de tudo de diferentes missões, uma das quais a dos presbíteros.
Uma coisa é o celibato optativo como vocação. Isso é claro no caso dos religiosos que optaram em viver em comunidade, diferente daquele dos presbíteros. Claro que não há uma relação automática entre celibato obrigatório e abusos sexuais, hetero ou homo. Mas a Conferência Episcopal alemã, em 2018, indicou que esse celibato obrigatório é um fator que pode favorecer os abusos.
Um celibato escolhido livremente, por vocação pessoal, pode ser uma “joia brilhante”, como declarou Paulo VI. Ao final, em anexo, transcrevo um comovente poema de Pedro Casaldáliga, “Aviso prévio para jovens que querem ser celibatários”. Entretanto, um celibato obrigatório pode dar origem a situações problemáticas.
Enfrentar o problemas do celibato não toca na Revelação, pois se trata de um problema disciplinar, passível de revisão. Tem a ver não com a ortodoxia, mas com uma ortopráxis. Às vezes situações concretas podem ser ocasião de rever e ampliar práticas.
Nesse sentido, o Sínodo da Amazônia, a ser realizado de 2 a 27 de outubro deste ano, entre muitos problemas deverá enfrentar o caso do reduzido número de sacerdotes na região, diante da necessidade do acesso à Eucaristia. Por anos, em muitos lugares, a presença de um sacerdote se realizava esporadicamente por ocasião das chamadas desobrigas. Numa Igreja pastoralmente ativa, a celebração eucarística deveria ser um momento central da vida eclesial. O teólogo Francisco Taborda questiona: “Há uma enorme escassez de padres”, o que leva a “repensar como fazer para que toda a comunidade possa celebrar a Eucaristia de domingo”. Porque não ordenar, nessas comunidades, homens casados, cuidadosamente escolhidos como presbíteros? Bispos da região amazônica tem colocado reiteradamente o tema.
Na prática, já há, aos poucos, uma certa tendência para aceitar relações afetivas de sacerdotes com suas companheiras, superando barreiras de negação e de ocultamento. Aliás, na Igreja brasileira, até final dos anos oitocentos, era normal a presença de sobrinhos ou afilhados dos padres, na realidade em parte seus filhos.
O mesmo deveria valer para um companheiro homossexual. Recentemente um jovem homossexual foi eleito para um conselho pastoral na diocese de Viena. O Cardeal Schönborn recebeu-o com seu parceiro. O notável Cardeal Carlo Maria Martini, em reflexão recolhida no livro Credere e Conoscere, em diálogo com Ignazio R. Marino (Einaudi 2012), depois de assinalar a importância central e insubstituível da família, lança a seguinte pergunta: “porém não seria ruim que, no lugar de relações homossexuais ocasionais, as pessoas tivessem certa estabilidade e então, neste sentido, o Estado poderia favorecê-las também”. Note-se o enorme cuidado em tratar do tema naquele momento, limitando-se ao relativo às leis civis, sem transferi-las automaticamente para normas eclesiais.
Experiências atuais, nas relações afetivas dos sacerdotes, podem desenvolver-se aos poucos num ambiente de naturalidade. Mas ainda há no ar, infelizmente, um certo clima ambíguo. Quantas vezes alguns clérigos, e inclusive leigos e leigas, por atos falhos, acabam imputando apenas à mulher a responsabilidade por uma opção a dois que fora resultado de uma decisão comum. Trago um exemplo que me tocou assistir. Na missa de sétimo dia de um sacerdote com função central na sua diocese, tudo se desenrolou em torno a uma familiar e, num canto, silenciosa e quase esquecida, estava aquela que dividiu por anos a vida a dois, e que, tantas vezes, havia recebido e acolhido muitos dos presentes.
Aliás, já há um espaço importante entre a vida leiga e o presbiterato. É o caso do diaconato. O diaconato masculino permanente – e não como mero corredor ao sacerdócio- , tem já uma consistência e funções próprias. São milhares de diáconos pelo mundo afora, cumprindo importantes tarefas e não somente reduzidos a atuar em certas rubricas durante a eucaristia.
Mas para seguir adiante, não podemos deixar de enfrentar o problema das diaconisas, que existiram na história e não são ainda permitidas na atualidade. Basta lembrar a menção de Paulo ao trabalho de Febe “servindo à Igreja de Cencreia” e de Priscila “cooperadora em Cristo Jesus” (Rom, 16, 1-3).
Não parece haver impedimento sério para diaconisas, a não ser talvez o temor de alguns ordenados, cônscios de seu poder clerical, com receio que pudesse ser um caminho aberto ao sacerdócio feminino.
Chegamos então à situação da mulher na Igreja. De fato, é cada vez mais decisiva a presença de mulheres nos diversos ministérios: ministras da eucaristia, do batismo, da bênção dos enfermos...
Sua importância é crescente na vida eclesial e inclusive eclesiástica. Perto de nós era conhecida a influência da Priora Geral das Ursulinas, Mère Saint-Jean, nos pontificados de Pio XI e de Pio XII. Houve a forte presença de Chiara Lubich, fundadora dos Focolares, na vida da Igreja contemporânea. Há sinais da influência de Chiara e dos Focolares na indicação de bispos e arcebispos. Isso não é de estranhar. Eu testemunhei a importância de D. Hélder na nomeação episcopal de assistentes eclesiásticos da Ação Católica. Na atual estrutura, com pouca ou nenhuma participação das Igrejas locais na nomeação de seus bispos, ela se dá principalmente com a intermediação dos núncios e a consulta a personalidades eclesiais normalmente masculinas e, em casos esporádicos, femininas. Descobrimos a importância da mulher em decisões eclesiásticas e sua possível presença na estrutura da Igreja. Ao que parece, João Paulo II tinha pensado em nomear como Cardeal, Madre Teresa de Calcutá.
Há uma experiência que merece ser analisada: nos anos sessenta, as ”irmãs vigárias”, na Paróquia Nossa Senhora do Ó em Nísia Floresta, dentro das atividades do chamado Movimento de Natal, impulsionado pelo então jovem Administrador Apostólico da Arquidiocese, Dom Eugênio de Araújo Sales. As irmãs assumiam plenamente a paróquia e realizavam atividades pastorais, presidindo celebrações, onde só não era realizada a consagração eucarística, reservada a um sacerdote externo. Começou na campanha da Fraternidade de 1962 e foi assumida pela CNBB dois anos depois. O recente livro “Mulheres no Altar”, de Luiza Valladares Ferreira, relata a experiência. No lançamento do livro, dom Jaime Vieira Rocha, arcebispo de Natal indicou recentemente: “A temática é pertinente para os dias atuais, quando o Papa pede uma Igreja de saída e também tem combatido o clericalismo”. Religiosas ou leigas, não poderiam ser ordenadas para um exercício pleno do sacerdócio?
A Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de João Paulo II, de 22 de maio de 1994, indicava que a ordenação sacerdotal sempre fora reservada aos homens: “declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”. Note-se que esta declaração não cumpriu os requisitos de uma declaração infalível “ex catedra”, solenemente proclamada depois de ouvir as Igrejas locais, como no caso dos últimos dogmas marianos. É um tema passível de revisão e, além do mais, não tem, segundo biblistas renomados, bases escriturísticas que o sustente.
A presença da mulher em todos os ministérios, incluindo os ordenados, foi uma noção apresentada no Inter-eclesial das CEBS de Santa Maria em 1992 e tem sido discutida abertamente em muitas Igrejas europeias.
O acesso da mulher ao sacerdócio não deveria esconder a vontade de compartir um poder masculino e patriarcal tradicional, sem pô-lo em causa. A saudosa Rose Marie Muraro, candidata a deputada, deparou-se com um clima eleitoral masculino. Com sua valentia habitual, denunciou um caminho viciado em um lúcido livro: “Os seis meses em que fui homem” (Record 1990, Rosa dos Ventos 1993). Algo semelhante pode acontecer com um sacerdócio feminino prisioneiro dos marcos patriarcais.
Francisco, de uma maneira talvez atabalhoada e generalizadora, indicou que “todo (!) feminismo termina sendo um machismo de saias”. Saudou a fala de Lidia Ghisoni, professora de direito canônico no encontro sobre pedofilia mas, numa visão tradicional de colocar a mulher num pedestal, “como imagem da Igreja, que é mulher, noiva e mãe” e assim tirá-la do contexto concreto de sua posição ainda em construção na Igreja. Isso chocou o movimento feminista, que tem muitas vertentes, incluindo mulheres católicas. O teólogo espanhol Juan José Tamayo declarou seu estranhamento diante dessa afirmação.
Uma coisa seria uma reivindicação para o sacerdócio feminino, absorvendo e aceitando uma posição patriarcal tradicional, outra uma presença feminina que colaboraria para superar o patriarcalismo. Isso tem avançado em bases femininas e masculinas na Igreja, mas não parece ter sido ainda recebido pelo Bispo de Roma, em geral tão atento ao novo emergente.
Tudo dito até agora nos encaminha ao problema do poder na Igreja. Ele é central e está subsumido em todos os temas tratados nesta reflexão. Sexualidade e celibato estão ligados ao poder, assim como a resistência às diaconisas e à ordenação de mulheres. O clericalismo é sua expressão mais evidente. Não por acaso Francisco, neste caso severo e enfático, atacou duramente o clericalismo: “uma perversão da Igreja”, disse a jovens reunidos no Circo Máximo em 2018; “a perversão mas difícil de eliminar”, indicou em Palermo logo depois; “uma peste”, voltando de Fátima; “fujam do clericalismo”, ensinou a novos bispos em setembro desse ano.
Uma Igreja povo de Deus, com serviços diversificados, tentando superar uma estrutura rígida de poder, teria certamente funções de autoridade, mas num contexto participativo de serviços, abertos a homens e mulheres. O fato do Bispo de Roma, no seu múnus de pastor universal nomear-se “servo dos servos de Deus”, não deveria ficar como uma declaração meramente retórica.
Pedro Casaldáliga: Aviso prévio para jovens que querem ser celibatários.
Será una paz armada, compañeros,
será toda la vida esta batalla;
que el cráter de la carne sólo calla
cuando la muerte acalla sus braseros.
Sin lumbre en el hogar y el sueño mudo,
sin hijos las rodillas y la boca,
a veces sentiréis que el hielo os toca,
la soledad os besará a menudo.
No es que dejéis el corazón sin bodas.
Habréis de amarlo todo, todos, todas,
discípulos de Aquel que amó primero.
Perdida por el Reino y conquistada,
será una paz tan libre como armada,
será el Amor amado a cuerpo entero.
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Sexualidade e poder. Artigo de Luiz Alberto Gomez de Souza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU