Sacerdócio, celibato e sexo

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18 Julho 2018

“A Igreja precisa de uma discussão franca destas questões com ponderações por parte dos leigos. Sexo entre um padre e um adulto pode ser mais do que simplesmente uma violação do celibato. Também pode ser uma violação da ética profissional”, escreve Thomas Reese, S.J., ex-diretor da revista America, em artigo publicado por Religion News Service, 16-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Eis o artigo.

Notícias recentes sobre acordos financeiros com adultos que tiveram encontros sexuais com um bispo nos mostra que a questão do abuso sexual na Igreja Católica não é limitada ao abuso de menores. Quando o cardeal Theodore McCarrick foi suspenso do sacerdócio após credivelmente ser acusado de abusar de um coroinha, foram revelados acordos financeiros anteriores feitos com dois adultos com quem o cardeal teve relações.

A Igreja adotou uma tolerância zero para o abuso sexual de menores, mas como lidar com outras atividades sexuais dos padres?

A exigência de celibato sacerdotal na Igreja Católica é um tópico de debate na hoje. Muitos, inclusive eu, pensam que o celibato sacerdotal deve ser opcional, como é nas outras igrejas cristãs. Papa Francisco sinalizou que está aberto para analisar a ordenação de homens casados, mas quer o pedido venha de conferências episcopais nacionais.

Mas Francisco também é bastante contundente ao afirmar que até que isso aconteça o celibato deve ser observado. Ele não expulsaria todos os padres que violaram o celibato; lapsos individuais podem ser perdoados. Mas um padre que é incapaz de observar o celibato deve retornar ao estado laical, escreveu Francisco antes de se tornar Papa, especialmente se há um filho envolvido, que tem direito a um pai.

Nem todos concordam com Francisco. Alguns são menos tolerantes e expulsariam qualquer pessoa que violasse uma vez sua promessa de celibato. Outros argumentam que o celibato nunca foi observado universalmente e leis ruins não devem ser impostas. Em algumas culturas, os bispos sabem que muitos de seus sacerdotes não cumprem o celibato e simplesmente o ignoram contanto que suas ações não se tornem públicas ou enquanto os paroquianos não se queixarem.

É ignorado o quão generalizado são as violações do celibato. Há muitas histórias, mas poucos dados. Eu pessoalmente acredito que a maioria dos padres, especialmente nos Estados Unidos, observe o celibato. Mas como devemos pensar sobre aqueles que não o cumprem?

Há um acordo universal de que aqueles que têm relações sexuais com menores devem ser julgados como criminosos e expulsos do sacerdócio. Mas e a violação com adultos? Existem outras violações sexuais que devem ser tratadas pela Igreja com tolerância zero?

Estupro ou outras violações criminais devem, naturalmente, receber tolerância zero. Estas violações devem ser denunciadas à polícia e processadas nos termos da lei. Não há lugar no sacerdócio para tais criminosos.

Mas e outros casos de sexo com adultos? Muitos americanos não acham que o sexo entre adultos é um problema. Mas eles e a Igreja precisam aprender com feministas e o movimento #MeToo, que nos ensinam sobre o perigo do sexo entre adultos que não estão em posições iguais de poder.

Para a Igreja, isso seria claramente o caso de um bispo ou padre transar com um seminarista ou um bispo transar com um padre. A relação aqui é diferente do que entre um empregador e empregado. Um bispo é supostamente um pai para seus sacerdotes e seminaristas. A Igreja precisa de uma política de tolerância zero em relação a tal abuso. Qualquer bispo que transe com um seminarista ou sacerdote deve perder seu ministério, da mesma forma como qualquer padre com um seminarista.

Também existem muitos leigos empregados pela Igreja. Certamente, a Igreja deve seguir os mais altos padrões na proteção de colaboradores leigos em relação a assédio sexual de seus supervisores, sejam sacerdotes ou leigos. Aqui, a Igreja deve adotar melhores práticas desenvolvidas no mundo secular.

Existem também relações pastorais que precisam ser examinadas uma vez que os padres lidam com pessoas são frequentemente muito vulneráveis.

Durante séculos, a Igreja reconheceu este problema em relação aos confessores e penitentes. Como resultado, os sacerdotes estão excomungados se eles absolverem seus parceiros sexuais.

Profissionais seculares, como psicólogos, reconhecem estes perigos também. Os clientes podem ser muito vulneráveis e dependentes de seu terapeuta. Os sentimentos e emoções que surgem nas sessões podem ser explorados. A Igreja pode aprender com outras profissões sobre as práticas recomendadas.

E o sexo com um paroquiano ordinário?

A Igreja precisa de uma discussão franca destas questões com ponderações por parte dos leigos. Sexo entre um padre e um adulto pode ser mais do que simplesmente uma violação do celibato. Também pode ser uma violação da ética profissional. Com conselho de leigos com conhecimentos nestas áreas, a Igreja precisa adotar melhores práticas e se manter no mais alto padrão. Ela precisa da ajuda de leigos não só no desenvolvimento de normas, mas também na aplicação delas. Nenhuma profissão, incluindo o clero, faz bem o policiamento de si própria.

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