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Os dados da realidade e a informação

Segunda, 18 de Abril de 2016

“Números, números e números... o que são e o que dizem sobre vocês”.

Os dados sobre a realidade podem ser importantes instrumentos para melhor conhecer, analisar e intervir na realidade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE é uma importante referência neste campo, realizando inúmeras pesquisas, cujos resultados estão públicos para o acesso da população e das organizações. Conhecer estas pesquisas, os dados e possibilidades de análise foi o propósito da Oficina “Realidades e Bases de Dados do IBGE”, ministrada por Ademir Barbosa Koucher no dia 13 de abril. A Oficina foi uma atividade promovida pelo Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em parceria com o IBGE.

Estiveram presentes na atividade aproximadamente 90 pessoas, entre professores, alunos de graduação e pós-graduação da Unisinos, da Feevale, da UFRGS e da UCS. Também destaca-se a presença do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul – UCS, Observatório de Segurança Pública de São Leopoldo, Observatório de Segurança Cidadã de Novo Hamburgo, Observatório da Educação Física Escolar e representantes da Prefeitura Municipal de Canoas e da Polícia Rodoviária Federal.

A Oficina oportunizou o conhecimento sobre o acesso e a organização das estatísticas da página do IBGE, onde foram apresentadas as principais pesquisas e bases de dados do Instituto. Koucher destacou a importância dos dados divulgados pelo IBGE e ressaltou que, pela primeira vez, o Instituto vai presidir a Comissão de Estatísticas das Nações Unidas, criada em 1947 para unificar a forma como os países produzem as suas estatísticas. O ministrante apresentou alguns serviços disponibilizados, como também duas plataformas do IBGE lançadas no mês passado.

A primeira delas foi a Grade Estatística, que permite interatividade aos usuários na hora da consulta de informações e dados, pois qualquer área do mapa possibilita fazer marcações, obtendo os dados sobre população total, por sexo e a quantidade de domicílios ocupados na área escolhida. O programa apresenta, também, mapas interativos com informações por biomas, regiões hidrográficas, clima, altitude e relevo.

A segunda ferramenta foi o Atlas Digital Brasil 1 por 1, que apresenta, ineditamente de modo geográfico nos mapas, os resultados das principais informações da população (sexo, estrutura etária, cor/raça, alfabetização e registros de nascimentos), dos domicílios (abastecimento de água, esgotamento sanitário, energia elétrica e rendimento per capita) e dados sobre infraestrutura no entorno das residências.

Foto: João Conceição

 

O economista também expôs as pesquisas e informações disponibilizadas pelo IBGE, tais como dados censitários, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ContínuaProdução Agrícola MunicipalPesquisa Nacional de Saúde e outros. Ao fim, Ademir Koucher destacou que é papel da academia coletar esses dados, produzir a informação e disponibilizar os mesmos.

Assista à Oficina na íntegra em nosso canal do YouTube.

A apresentação completa de Ademir Koucher pode ser acessada aqui.

Sobre o palestrante:

Ademir Barbosa Koucher é graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Atualmente, é Técnico em Informações Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; tem experiência na área de sistemas de informações, indicadores socioeconômicos e demografia.

 

Próximas Atividades do ObservaSinos

A Oficina Realidades e Bases de Dados do IBGE terá outra etapa, para o exercício, acesso, manuseio e análise dos dados do IBGE, especialmente com o Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Esta oficina será oferecida em dois dias e turnos diferentes, nos meses de maio e junho. A programação em breve estará na agenda e pode ser acessada aqui.

Confira a programação das próximas oficinas que serão promovidas:

Oficina - Realidades e Base de Dados do DATASUS

Data e horário: 10/05/2016 das 19h30min às 22h

Ministrante: Prof. Dra. Veralice Maria Gonçalves – Ministério da Saúde - RS

Oficina - Indicadores do Trabalho e Trabalhadores do Vale do Rio dos Sinos

Data e horário: 19h30min às 22h

Ministrante: Prof. Dr. Moisés Waismann - Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas

 

Por João Conceição e Marilene Maia

De acordo com o Idese, o desenvolvimento socioeconômico na região do Vale do Sinos apresentou melhora de 2012 a 2013. No entanto, tal Índice, que reúne dados sobre educação, renda e saúde, continua menor que o do estado do Rio Grande do Sul. Além disso, todos os 14 municípios da região perderam posições no ranking em relação aos 497 municípios do estado.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou os dados do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico – Idese disponibilizados pela Fundação de Economia e Estatística – FEE. Os dados usados referem-se aos anos de 2012 e 2013, sendo os dados de 2013 publicados em 22 de março de 2016.

Idese melhora em 11 municípios do Vale do Sinos, mas todos os municípios perderam posições no ranking estadual

O Idese, de acordo com a FEE é:

“um indicador-síntese que tem o propósito de mensurar o nível de desenvolvimento dos municípios do Rio Grande do Sul. O objetivo de sua divulgação é avaliar e acompanhar a evolução dos indicadores socioeconômicos dos municípios do Estado, bem como fornecer informações para o desenho de políticas públicas específicas, de acordo com as necessidades municipais. O Idese é composto por 12 indicadores, divididos em três blocos: Educação, Renda e Saúde.”

A divisão em três blocos permite a análise individual de cada uma destas dimensões, sendo estas: educação, renda e saúde. O Idese é calculado a partir da média normal dos índices das três dimensões, portanto, as três variáveis possuem pesos iguais no cálculo. A metodologia do estudo e as variáveis inseridas em cada dimensão de estudo estão disponíveis na página da FEE.

No total, foram usadas 12 variáveis para o cálculo do Idese, divididas em três dimensões/blocos diferentes. A seguir, são apresentadas as variáveis calculadas em cada bloco.

 

A tabela 01 apresenta o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico – Idese nos 14 municípios do Vale do Sinos, na região e no estado, para os anos de 2012 e 2013. Nos municípios, houve redução do índice em três: Ivoti, Nova Hartz e Sapucaia do Sul.

Na região do Sinos, o índice que teve o maior aumento em pontos absolutos foi o da Renda, que passou de 0,718 para 0,732 no período. O Índice da Educação também apresentou melhora, passando de 0,654 para 0,662. No entanto, o Índice da Saúde apresentou recuo de 0,790 para 0,789, sendo que em 8 dos 14 municípios este indicador apresentou queda.

Em todos os índices, o Vale do Sinos apresentou resultados inferiores ao do estado. Em 2013, apenas 4 municípios da região tiveram Idese acima do estadual. No Vale do Sinos, a dimensão saúde, em particular, continua cada vez mais longe da registrada pelo estado.

O maior aumento absoluto do Idese ocorreu em Esteio, em que o Índice passou de 0,734 para 0,753 no período. Em Araricá o índice passou de 0,666 para 0,681. Desta forma, o município não apresentou o Idese mais baixo da região em 2013, que agora é de Sapucaia do Sul.

A tabela 02 apresenta o Idese por Corede nos anos de 2012 e 2013. Destaca-se que entre os 28 Coredes existentes no estado, o Vale do Sinos estava em 14° em 2012, enquanto em 2013 estava em 19°. Percebe-se, portanto, que o índice relativo da região teve queda em relação aos outros Coredes do estado.

Apesar do Idese do Vale do Sinos ter apresentado aumento no período de 2012 a 2013, manteve-se a queda no ranking estadual. Isto ocorre porque as outras regiões possuem aumento do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico em proporções muito mais rápidas do que a região do Sinos. De 2011 a 2012, a região do Sinos também apresentou alta no Índice.

A tabela 03 apresenta a posição dos municípios da região em relação aos 497 do estado. Assim como o Vale do Sinos em comparação aos outros Coredes, todos os 14 municípios da região recuaram no ranking estadual do Idese.

Apesar dos municípios de Carlos Barbosa e Alvorada não fazerem parte da região do Vale do Sinos, estes estão apresentados visto que são os municípios, respectivamente, com maior e menor Idese no estado.

O município com o maior recuo relativo foi Nova Hartz, que ocupava a 221ª posição em 2012 e passou para a 310ª em 2013. Além de o município ter recuado relativamente, houve também recuo absoluto com queda de 0,722 para 0,712 em seu Índice.

Sapucaia do Sul já está entre os 100 municípios gaúchos que apresentam os Ideses mais baixos


Em relação ao município de Esteio, mesmo com o aumento do Idese municipal, houve queda no ranking estadual. Isto mostra que nem o município com maior evolução no índice no Vale do Sinos apresentou evolução quando comparado com os outros municípios gaúchos, apesar de ter apresentado evolução maior que a do estado.

Com os índices de 2013, destaca-se que Sapucaia do Sul já está entre os 100 municípios gaúchos que possuem os Ideses mais baixos. Araricá, na posição 393, também já se encontra muito perto disso.

Apesar da redução relativa do índice nos municípios do Vale do Sinos, destaca-se que de 2012 a 2013 a região apresentou aumento do índice, assim como de 2011 a 2012. Para a maioria dos municípios, o mesmo quadro é verificado, com aumento do índice absoluto.

Por Marilene Maia e Matheus Nienow

O cenário do mercado de trabalho formal aponta para uma maior participação das mulheres ao longo da história, mas ainda é desigual, principalmente ao comparar os salários médios entre mulheres e homens. A desigualdade entre os dois grupos pode ser ainda mais acentuada ao comparar setores econômicos específicos.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos, acessou os dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e do Cadastro de Empregados e Desempregados – CAGED, ambos do Ministério do Trabalho e Previdência Social para analisar os dados.

No Vale do Sinos, 171.884 mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho formal, de acordo com a RAIS, em 2014. Conforme dados do CAGED, em 2015 este número caiu para 163.863, representando 45,35% dos trabalhadores formais totais frente a 45,42% um ano antes.

Além de o trabalho formal feminino ser desvalorizado, as mulheres têm, por vezes, duas ocupações, a de trabalhadoras formais ou informais do mercado de trabalho e também a de mães e domésticas. Estas realidades são frequentemente situações implicadas a partir da necessidade de renda da família, prejudicando o desenvolvimento das crianças em famílias mais pobres.

Para dar vistas à desigualdade dos salários através de dados, a tabela 01 apresenta dois grupos populacionais do mercado de trabalho formal: os 50% da população de trabalhadores formais com os salários mais altos e os 50% da população com os salários mais baixos. Esta comparação aponta para uma presença superior de mulheres entre os 50% que menos recebem e uma participação menor de mulheres entre os 50% que mais recebem.

Para expressar tal desigualdade, é necessário salientar que 45,42% dos trabalhadores do mercado formal de trabalho da região são mulheres. No grupo dos 50% com menores salários, a maioria da população é de mulheres: 55,40%. Por outro lado, na faixa dos 50% com os maiores salários, apenas 35,96% da população são mulheres, ou seja, 20% das mulheres não acompanham o crescimento da pirâmide salarial e reaparecem na base da mesma.

O gráfico 02 apresenta a evolução dos grupos de homens e mulheres ao longo do crescimento da faixa salarial no Vale do Sinos em 2014 conforme os salários dos trabalhadores do mercado de trabalho formal. As mulheres são maioria apenas nas faixas salariais de 0,51 a 1,00 e 1,01 a 1,50 salários mínimos.

A representatividade adversa das mulheres no mercado de trabalho formal não se dá apenas nos salários, mas também nos diferentes setores econômicos, sendo que dos 8 setores definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em apenas dois a participação feminina é maior que 50% e em outros dois setores ela não alcança nem 10%.

A tabela 03 apresenta a participação das mulheres no mercado formal de trabalho ao final de 2014 no Vale do Sinos nos 8 setores econômicos definidos pelo IBGE. No setor da administração pública, 68,83% dos trabalhadores são mulheres, enquanto nos setores formais da extrativa mineral e da construção civil a participação não alcança os 10%.

O setor de serviços é o que mais emprega mulheres, alcançando 51,94% dos postos. Ainda assim, a realidade desse setor na região difere de acordo com cada município. Em Araricá, 79% são mulheres neste setor, enquanto em Nova Santa Rita apenas 21,74%, sendo que este município frequentemente está entre os que possuem a menor participação feminina nos diversos setores econômicos. No segundo setor econômico que mais emprega formalmente, a indústria de transformação, apenas 26,10% são mulheres em Nova Santa Rita, representando a segunda menor participação feminina dos municípios da região neste setor. Apenas em São Leopoldo a participação feminina no setor da indústria de transformação é menor, com 25,62%.

A tabela 04 apresenta a evolução da participação feminina ao longo do período 2007-2014 em três territórios: Vale do Sinos, Dois Irmãos (município com maior percentual de mulheres no total do mercado de trabalho) e Nova Santa Rita (município com menor percentual de mulheres no total do mercado de trabalho.

No período analisado, a participação das mulheres no mercado formal de trabalho no Vale do Sinos cresceu de 40,38% para 45,41%. Além disso, pela primeira vez na nova série histórica do CAGED e da RAIS, que datam de 2003, observou-se em 2011 o primeiro município com maior percentual de mulheres do que homens no mercado formal de trabalho: Dois Irmãos.

Diferentemente dos territórios anteriormente citados, Nova Santa Rita apresentou recuo da participação feminina no período, de 31,17% para 29,67%. O município possui o menor percentual de participação feminina e destoa dos outros territórios da região.

A realidade da mulher no mercado de trabalho ainda revela a desigualdade de gênero e de classe. Esta é uma pauta a compor os debates das realidades, em vista do aprofundamento das análises e da busca de novos enfrentamentos, por meio de políticas públicas que necessitam ser implementadas intersetorialmente.

Por Marilene Maia e Matheus Nienow

Compreender que a realidade local e regional dentro da Região Metropolitana de Porto Alegre difere nos diversos territórios é preciso para a afirmação das políticas locais. Ao analisar-se os 8 municípios da sub-região sudeste da RMPA nota-se, que estes, apresentaram uma melhora significativa em seus índices de desenvolvimento humano, porém mantiveram assimetrias, sobretudo nas áreas de renda e educação.

Ampliar a análise e o debate sobre as realidades do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre a partir das contribuições de acadêmicos e trabalhadores por meio de sistematizações de pesquisas e/ou experiências de intervenção é o objetivo do edital de Apresentação de trabalhos para publicação pelo ObservaSinos/Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Em 2015, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.

O trabalho “Análise do processo de desenvolvimento socioeconômico da sub-região sudeste da região metropolitana de Porto Alegre (1991/2010)” foi realizado pelo grupo de mestrandos acadêmicos em Economia pela Unisinos Larisse Marks, Luiz Valdemir Ribas da Cruz Junior e Sheila Beatriz Bonne.

Eis o texto.

Regiões metropolitanas são definidas como um conjunto de municípios que partilham de uma mesma identidade socioeconômica e que possuem interesse na realização de serviços públicos comuns, independente de terem ou não uma vinculação administrativa, de acordo com Art.157, § 10 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 (BRASIL). A partir de 1973, mediante lei federal, foi possível estabelecer a Região Metropolitana de Porto Alegre(RMPA), a qual iniciou com 14 municípios.

No decorrer dos anos, municípios foram incorporados à área metropolitana. Alguns foram criados a partir de segregações e emancipações de territórios já pertencentes à configuração original de 1973. Devido a este processo, a área da RMPA aumentou cerca de 4,5 mil km2, mais que o dobro da sua primeira formação. Atualmente a região é constituída por 34 municípios: Alvorada, Araricá, Arroio dos Ratos, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Capela de Santana, Charqueadas, Dois Irmãos, Eldorado do Sul, Estância Velha, Esteio, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Igrejinha, Ivoti, Montenegro, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Parobé, Portão, Porto Alegre, Rolante, Santo Antônio da Patrulha, São Jerônimo, São Leopoldo, São Sebastião do Caí, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Triunfo e Viamão.

A RMPA é a área mais densamente povoada e possui a expansão econômica mais acentuada do Estado do Rio Grande do Sul. Em 2010, concentrava mais de 4 milhões de habitantes, cerca de 37,7% da população total do Rio Grande do Sul (FEE, 2015). Dez anos atrás, apenas Porto Alegre e as cidades mais populosas eram demandadas devido a maior oferta de serviços e emprego, porém hoje isto também ocorre em cidades menores e no entorno da RMPA. A densidade demográfica média da região, em 2013, era de 162,1 hab/km². Desta forma, a RMPA se transforma em polo de atração e concentração no Estado (FEE, 2015).

Para efeitos deste trabalho estão sendo considerados os municípios que integram a sub-região sudeste da RMPA: Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Glorinha, Gravataí, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e Viamão. O objetivo deste estudo é analisar o processo de desenvolvimento socioeconômico destes municípios no período 1991/2010 nas áreas de renda, educação e saúde, e propor estratégias para o seu desenvolvimento.

A sub-região analisada é definida como Tipo II, aquela que se caracteriza por contemplar territórios com nível de vida intermediários ou baixos e que exibem alguns recursos aparentemente mobilizáveis pelo mercado, mas que não são plenamente explorados pelas políticas de desenvolvimento local (MELO, 2009).

... qualquer esforço público para melhorar o nível de vida num pequeno território deve começar pelo bom conhecimento, por um lado, dos seus problemas e estrangulamentos e, por outro, do seu potencial e oportunidades. (MELO, 2009, p. 506)

Com o mesmo objetivo de analisar a RMPA, Falcão et al. (2013) buscaram fornecer um diagnóstico socioeconômico urbano e rural da RMPA partindo do espaço geográfico e suas condicionantes. Utilizando bases de dados do Sistema de Informações Geográficas (SIG), os autores consideraram aspectos de coesão e diferenciação entre os municípios em diversos pontos, tais como acesso a serviços básicos, infraestrutura e populações, possibilitando o mapeamento e a localização das maiores disparidades dentro do espaço da RMPA. Diante dos resultados, é notório o longo curso em direção a uma região coesa dentro dos aspectos analisados. Com base neste modelo e visando atender o objetivo proposto deste artigo, serão analisados dados a partir do Programa das Nações Unidas (PNUD).

A sub-região sudeste apresentou melhoras em seu índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) na comparação dos anos de 1991 e 2010, conforme apresentado na tabela 1. No primeiro ano os municípios de Glorinha e Alvorada estavam em um nível muito baixo do IDHM, índices de 0,424 e 0,472, enquanto os demais municípios estavam distribuídos entre os níveis baixo e médio, com índices de 0,508 a 0,660. Em 2010, quase todos os municípios elevaram seus índices de IDHM, concentrando-se em nível alto, com exceção de Alvorada, que avançou para o nível médio, e Porto Alegre, que passou do nível alto para o mais alto índice de desenvolvimento com 0,805. Destaca-se o município de Glorinha, que passou do nível muito baixo para alto, atingindo 0,714, representando 68% de aumento.

Tabela 1: IDHM dos Municípios Integrantes da RMPA – Sub-região sudeste – 1991/2010.

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de PNUD (2015).

A partir destes dados é possível propor algumas estratégias de desenvolvimento nas áreas analisadas. No âmbito da educação destaca-se a necessidade de uma maior interdependência na relação escola e família; incentivos constantes aos professores como atualizações periódicas e estímulos a qualificações; investimento constante em infraestrutura, incentivos ao aluno com métodos adequados à realidade global. Em relação à saúde, investimento em municípios de maior carência; desenvolvimento de assistência local e de qualidade em áreas distantes de grandes centros hospitalares para facilitar o atendimento emergencial; apoio aos profissionais e incentivos contínuos à sua qualificação. Acompanhamento contínuo de pacientes e às famílias carentes, prevenindo e informando de forma constante à população sobre riscos, doenças e tratamentos, permitindo uma melhor qualidade e expectativa de vida desta população. Por fim, em relação à renda, menciona-se políticas de atração de investimentos externos à região, mas também uma promoção das empresas locais de forma a fomentar o empreendedorismo; facilitar o acesso intra e intermunicipal; orientar as comunidades a respeito de controle orçamentário familiar e direitos; estimular parcerias públicas/privadas.

Como considerações finais destaca-se que os 8 municípios da sub-região sudeste da RMPA apresentaram uma melhora significativa em seus índices de desenvolvimento humano, porém mantiveram assimetrias, sobretudo nas áreas de renda e educação. Nos municípios de Alvorada, Glorinha e Santo Antônio da Patrulha, identificou-se a necessidade de uma maior demanda de ações públicas locais em relação aos temas citados. Visando mitigar tais disparidades, sugere-se que as entidades competentes revisem suas iniciativas no intuito de trabalhar conjuntamente na busca de soluções para os problemas da sub-região sudeste da RMPA, seja por meio de formação de associações, seja fomentando uma cooperação de atuação em conjunto entre a sociedade civil e os órgãos públicos competentes.

Para Melo (2009) é sinal de vitalidade que um território gere muitas iniciativas associativas, quer sejam de índole econômica, sindical, cultural ou desportiva, e a atuação das autoridades econômicas para favorecer este fervilhar de iniciativas é muito importante.

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Presidência da Repúplica, Casa Civil, Subchefia para assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm. Acesso em: 29/11/15.

FALCÃO, Julia; MARTINS, Rafael L; SILVA, Dakir M. Diagnóstico socioeconômico do espaço geográfico metropolitano de Porto Alegre e seus condicionantes para o desenvolvimento urbano e rural. Revista de iniciação científica da Ulbra, Nº10/12., p. 59-65.

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. FEE. Perfil Socioeconômico. Disponível em: http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/index.php. Acesso em: 23/10/15. 

MELO, João Paulo. A problemática e as políticas de desenvolvimento local. In: COSTA, José da Silva; NIJKAMP, Peter. Compêndio de economia regional: teoria, temáticas e políticas. Cascais: Principia, 2009. Vol. I, cap. 13.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. PNUD. Atlas Brasil 2013. Disponível em: http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3749. Acesso em: 23/10/15.

 

Por Larisse Marks, Luiz Valdemir Ribas da Cruz Junior e Sheila Beatriz Bonne

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, publica a “Carta Especial Mulheres no Mercado de Trabalho” elaborada pelo Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, tendo como referência a participação da mulher no mercado de trabalho formal nos anos de 2006 e 2014, com ênfase na atividade de cultura. A carta mostra o movimento do trabalho no Brasil, no Rio Grande do Sul, na região Metropolitana de Porto Alegre e nos municípios de Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo.

Eis a carta.

A Carta Especial Mulheres no Mercado de Trabalho é produzida pelo Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, e apresenta nesta edição um olhar sobre a força de trabalho feminina no que diz respeito a sua participação e remuneração, no conjunto da atividade econômica e também na atividade da cultural, mais especificamente os vínculos ligados as Atividades artísticas, criativas e de espetáculos e as Atividades ligadas ao patrimônio cultural e ambiental. Este material é elaborado a partir dos dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por meio da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). As informações dizem respeito aos anos de 2006 e 2014, últimos dados divulgados. Como recorte metodológico selecionou-se seis regiões geográficas (Brasil, Rio Grande do Sul, Região Metropolitana de Porto Alegre e os municípios de Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo) para realizar a pesquisa. Espera-se com material visualizar o papel das mulheres no mercado de trabalho formal no sentido de problematizar a contribuição da força de trabalho feminina.

A tabela 1 apresenta a quantidade de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no Brasil nos anos de 2006 e 2014. A intensão da tabela é mostrar a o comportamento dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se perceber ao olhar a tabela que ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. No ano de 2006 o Brasil totalizava 35,1 milhões de postos trabalho, sendo que destes 14,2 milhões eram postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 17,8 mil, dos quais 7,9 mil eram vagas femininas, já no ano de 2014 o Brasil totalizava 49,5 milhões de postos trabalho, sendo 21,4 milhões postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 25,4 mil, dos quais 10,5 mil eram vagas femininas. A próxima ilustração mostra a parcela do trabalho feminino e masculino. 

A figura 1 retrata a proporção de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no Brasil nos anos de 2006 e 2014. O objetivo da figura é visualizar o comportamento da distribuição dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao contemplar a imagem nota-se que no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 41% e passa para 43% em 2014. E que na atividade cultural que era de 44% em 2006 passa para 41%. Verifica-se desta forma que o trabalho feminino no Brasil avança no geral, porém recua a atividade de cultura, mesmo que tenha ocorrido um aumento na quantidade de absoluta de vínculos. Na próxima figura observa-se esta informação melhor.

A figura 2 expõe a variação nos vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no Brasil nos anos de 2006 e 2014. A intensão da figura é visualizar a mudança dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao analisar a figura apreende-se que ocorreu um crescimento no total de vínculos de 41% e nos postos de trabalho feminino em 50%, e nos vínculos ligados a atividade cultural o crescimento total foi de 42% em quanto os postos de trabalho femininos cresceu em 33%. Observa-se então que no Brasil, a quantidade de postos de trabalho exercidos por mulheres na atividade cultural cresceu menos que no geral do mercado de trabalho no período estudado. Na ilustração seguinte apresentam-se informações sobre o rendimento do trabalho.

A figura 3 anuncia a diferença, em percentual, no rendimento por hora, do trabalho feminino e o masculino de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no Brasil nos anos de 2006 e 2014. O desejo da figura é ilustrar a variabilidade do rendimento por sexo nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se constatar ao contemplar a ilustração que as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho percebiam 7% a menos que a média geral dos trabalhadores. E que na atividade cultural recebiam 4% acima da média. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 4% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 1% a mais que a média. Pode-se então refletir que no Brasil, no total das atividades econômicas, ocorreu uma redução da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres, o mesmo ocorrendo do setor cultural, mesmo que aqui tenha o rendimento caído em relação a média. Na sequencia apresenta-se informações sobre o estado do Rio Grande do Sul.

A tabela 2 apresenta a quantidade de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no estado do Rio Grande do Sul nos anos de 2006 e 2014. A intensão da tabela é mostrar a o comportamento dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se perceber ao olhar a tabela que ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. No ano de 2006 o estado do Rio Grande do Sul totalizava 2,3 milhões de postos trabalho, sendo que destes um milhão era de postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 416, dos quais 189 eram vagas femininas, já no ano de 2014 o estado do Rio Grande do Sul totalizava 3,1 milhões de postos trabalho, sendo 1,4 milhões postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somava mil e trezentos, dos quais 539 eram vagas femininas. A próxima ilustração mostra a parcela do trabalho feminino e masculino.

A figura 4 retrata a proporção de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no estado do Rio Grande do Sul nos anos de 2006 e 2014. O objetivo da figura é visualizar o comportamento da distribuição dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao contemplar a imagem nota-se que no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 44% e passa para 46% em 2014. E que na atividade cultural que era de 45% em 2006 passa para 40% no ano de 2014. Verifica-se desta forma que o trabalho feminino no estado do Rio Grande do Sul avança no geral, porém recua a atividade de cultura, igual ao comportamento do Brasil, mesmo que tenha ocorrido um aumento na quantidade de absoluta de vínculos. Na próxima figura observa-se esta informação melhor.

A figura 5 expõe a variação de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no estado do Rio Grande do Sul nos anos de 2006 e 2014. A intensão da figura é visualizar a mudança nos postos de trabalho dos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao analisar a figura apreende-se que ocorreu um crescimento no total de vínculos de 34% e nos postos de trabalho feminino em 41%, e nos vínculos ligados a atividade cultural o crescimento total foi de 320% em quanto os postos de trabalho femininos cresceu em 185%. Observa-se então que no Rio Grande do Sul, a quantidade de postos de trabalho exercidos por mulheres na atividade cultural cresceu mais que no geral do mercado de trabalho no período estudado. Na ilustração seguinte apresentam-se informações sobre o rendimento do trabalho.

A figura 6 anuncia a diferença, em percentual, no rendimento por hora, do trabalho feminino e o masculino de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no estado do Rio Grande do Sul nos anos de 2006 e 2014. O desejo da figura é ilustrar a variabilidade do rendimento por sexo nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se constatar ao contemplar a ilustração que as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho percebiam 6% a menos que a média geral dos trabalhadores. E que na atividade cultural recebiam o equivalente a média da atividade. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 4% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 4% a mais que a média. Pode-se então refletir que no estado do Rio Grande do Sul, no total das atividades econômicas, ocorreu uma redução da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres, na atividade cultural a mulheres percebem a mais que a média do setor. Na sequencia apresenta-se informações sobre a Região Metropolitana de Porto Alegre.

A tabela 3 apresenta a quantidade de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) nos anos de 2006 e 2014. A intensão da tabela é mostrar a o comportamento dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se perceber ao olhar a tabela que ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. No ano de 2006 a RMPA totalizava 1,1 milhões de postos trabalho, sendo que destes 507 mil eram postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 283, dos quais 126 eram vagas femininas, já no ano de 2014 a RMPA totalizava 1,4 milhões de postos trabalho, sendo 671 mil postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 876, dos quais 396 mil eram vagas femininas. A próxima ilustração mostra a parcela do trabalho feminino e masculino.

A figura 7 retrata a proporção de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) nos anos de 2006 e 2014. O objetivo da figura é visualizar o comportamento da distribuição dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao contemplar a imagem nota-se que no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 45% e passa para 47% em 2014. E que na atividade cultural que era de 45% em 2006 mantém-se em 45% no ano de 2014. Verifica-se desta forma que o trabalho feminino na Região Metropolitana de Porto Alegre avança no geral e esta proporcionalmente estabilizada na atividade cultural, mesmo que tenha ocorrido um aumento na quantidade de absoluta de vínculos. Na próxima figura observa-se esta informação melhor.

A figura 8 expõe a variação nos vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) nos anos de 2006 e 2014. A intensão da figura é visualizar a mudança nos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao analisar a figura apreende-se que ocorreu um crescimento no total de vínculos de 26% e nos postos de trabalho feminino em 32%, e nos vínculos ligados a atividade cultural o crescimento total foi de 210% em quanto os postos de trabalho femininos cresceu em 214%. Observa-se então que na Região Metropolitana de Porto Alegre, a quantidade de postos de trabalho exercidos por mulheres na atividade cultural cresceu mais que no geral do mercado de trabalho no período estudado. Na ilustração seguinte apresentam-se informações sobre o rendimento do trabalho.

A figura 9 anuncia a diferença, em percentual, no rendimento por hora, do trabalho feminino e o masculino de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) nos anos de 2006 e 2014. O desejo da figura é ilustrar a variabilidade do rendimento por sexo nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se constatar ao contemplar a ilustração que as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho percebiam 5% a menos que a média geral dos trabalhadores. E que na atividade cultural recebiam 5% acima da média. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 6% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 5% a menos que a média. Pode-se então refletir que na Região Metropolitana de Porto Alegre, no total das atividades econômicas, ocorreu uma ampliação da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres, o mesmo ocorrendo do setor cultural. Na sequencia apresenta-se informações sobre o município de Porto Alegre.

A tabela 4 apresenta a quantidade de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no munícipio de Porto Alegre nos anos de 2006 e 2014. A intensão da tabela é mostrar a o comportamento dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se perceber ao olhar a tabela que ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. No ano de 2006 o município de Porto Alegre totalizava 635 mil de postos trabalho, sendo que destes 316 mil eram postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 219 vagas, dos quais 107 mil eram vagas femininas, já no ano de 2014 o município de Porto Alegre totalizava 780 mil postos trabalho, sendo 392 mil postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 656 vagas, dos quais 313 eram vagas femininas. A próxima ilustração mostra a parcela do trabalho feminino e masculino.

A figura 10 retrata a proporção de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de Porto Alegre nos anos de 2006 e 2014. O objetivo da figura é visualizar o comportamento da distribuição dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao contemplar a imagem nota-se que no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 50% e se mantém no ano de 2014. E que na atividade cultural que era de 49% em 2006 passa para 48% em 2014. Verifica-se desta forma que o trabalho feminino no município de Porto Alegre mantém-se proporcionalmente estável, porém recua a atividade de cultura, mesmo que tenha ocorrido um aumento na quantidade de absoluta de vínculos. Na próxima figura observa-se esta informação melhor.

A figura 11 expõe a variação de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de Porto Alegre nos anos de 2006 e 2014. A intensão da figura é visualizar a mudança dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao analisar a figura apreende-se que ocorreu um crescimento no total de vínculos de 24% e nos postos de trabalho feminino em 24%, e nos vínculos ligados a atividade cultural o crescimento total foi de 200% em quanto os postos de trabalho femininos cresceu em 193%. Observa-se então que no município de Porto Alegre, a quantidade de postos de trabalho exercidos por mulheres na atividade cultural cresceu mais que no geral do mercado de trabalho no período estudado. Na ilustração seguinte apresentam-se informações sobre o rendimento do trabalho.

A figura 12 anuncia a diferença, em percentual, no rendimento por hora, do trabalho feminino e o masculino de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de Porto Alegre, nos anos de 2006 e 2014. O desejo da figura é ilustrar a variabilidade do rendimento por sexo nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se constatar ao contemplar a ilustração que as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho percebiam 6% a menos que a média geral dos trabalhadores. E que na atividade cultural recebiam 5% acima da média. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 6% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 5% a menos que a média. Pode-se então refletir que no município de Porto Alegre, no total das atividades econômicas a desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres esta constante, já na atividade cultural ocorre um aprofundamento. Na sequencia apresenta-se informações sobre o município de Canoas.

A tabela 5 apresenta a quantidade de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no munícipio de Canoas nos anos de 2006 e 2014. A intensão da tabela é mostrar a o comportamento dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se perceber ao olhar a tabela que ocorreu crescimento na geração total de postos de trabalho e também no trabalho feminino e no masculino. Verifica-se que no ano de 2006 o município não tinha vagas de trabalho registradas na atividade cultural. No ano de 2006 o município de Canoas totalizava 65,6 mil de postos trabalho, sendo que destes 22,5 mil eram postos de trabalho feminino. No ano de 2014 o município de Canoas totalizava 88 mil postos trabalho, sendo 36 mil postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 8 vagas, dos quais 4 eram vagas femininas. A próxima ilustração mostra a parcela do trabalho feminino e masculino.

A figura 13 retrata a proporção de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de Canoas nos anos de 2006 e 2014. O objetivo da figura é visualizar o comportamento da distribuição dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao contemplar a imagem nota-se que no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 34% e passa para 42% em 2014. E que na atividade cultural 50% são femininos em 2014. Verifica-se forma que o trabalho feminino no município de Canoas avança no geral. Na próxima figura observa-se esta informação melhor.

A figura 14 expõe a variação de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de Canoas nos anos de 2006 e 2014. A intensão da figura é visualizar a mudança dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao analisar a figura apreende-se que ocorreu um crescimento no total de vínculos de 34% e nos postos de trabalho feminino em 64%. Nos vínculos ligados a atividade cultural não se pode apurar a variação. Observa-se então que no município de Canoas, a quantidade de postos de trabalho exercidos por mulheres no geral cresce no período estudado. Na ilustração seguinte apresentam-se informações sobre o rendimento do trabalho.

A figura 15 anuncia a diferença, em percentual, no rendimento por hora, do trabalho feminino e o masculino de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de Canoas, nos anos de 2006 e 2014. O desejo da figura é ilustrar a variabilidade do rendimento por sexo nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se constatar ao contemplar a ilustração que as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho percebiam 6% a menos que a média geral dos trabalhadores. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 10% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 10% a menos que a média. Pode-se então refletir que no município de Canoas, no total das atividades econômicas, ocorreu um aumento da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres. Na sequencia apresenta-se informações sobre o município de São Leopoldo.

A tabela 6 apresenta a quantidade de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no munícipio de São Leopoldo nos anos de 2006 e 2014. A intensão da tabela é mostrar a o comportamento dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se perceber ao olhar a tabela que ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. No ano de 2006 o município de São Leopoldo totalizava 43,6 mil de postos trabalho, sendo que destes 18,2 mil eram postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 3 vagas, dos quais uma era feminina, já no ano de 2014 no município de São Leopoldo totalizava 60,5 mil de postos trabalho, sendo 27,6 mil postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somava 10 vagas, das quais 7 eram vagas femininas. A próxima ilustração mostra a parcela do trabalho feminino e masculino.

A figura 16 retrata a proporção de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de São Leopoldo nos anos de 2006 e 2014. O objetivo da figura é visualizar o comportamento da distribuição dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao contemplar a imagem nota-se que no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 42% e passa para 46% em 2014. E que na atividade cultural que era de 33% em 2006 passa para 70%. Verifica-se desta forma que o trabalho feminino no município de São Leopoldo avança tanto no conjunto das atividades econômicas quanto na atividade cultural. Na próxima figura observa-se esta informação melhor.

A figura 17 expõe a variação de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de São Leopoldo nos anos de 2006 e 2014. A intensão da figura é visualizar a mudança dos postos de trabalho nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Ao analisar a figura apreende-se que ocorreu um crescimento no total de vínculos de 39% e nos postos de trabalho feminino em 52%, e nos vínculos ligados a atividade cultural o crescimento total foi de 233% em quanto os postos de trabalho femininos cresceu em 600%. Observa-se então que no município de São Leopoldo, a quantidade de postos de trabalho exercidos por mulheres na atividade cultural cresceu mais que no geral do mercado de trabalho no período estudado. Na ilustração seguinte apresentam-se informações sobre o rendimento do trabalho.

A figura 18 anuncia a diferença, em percentual, no rendimento por hora, do trabalho feminino e o masculino de vínculos total e na atividade cultural, no mercado formal de trabalho, no município de São Leopoldo, nos anos de 2006 e 2014. O desejo da figura é ilustrar a variabilidade do rendimento por sexo nos diferentes tipos de atividade e ao longo do período.

Pode-se constatar ao contemplar a ilustração que as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho percebiam 5% a menos que a média geral dos trabalhadores. E que na atividade cultural recebiam 58% a menos que a média. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 13% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 17% a menos que a média. Pode-se então refletir que no município de São Leopoldo, no total das atividades econômicas, ocorreu uma redução da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres, já na atividade cultural ocorre uma ampliação da desigualdade.

O objetivo da produção e divulgação da carta especial MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO é problematizar, a partir da visualização, observação, a contribuição da força de trabalho feminina no mercado de trabalho formal. Acredita-se que este material possa qualificar a importante discussão sobre este tema.

Por Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas

O crescimento das cidades, em especial a expansão horizontal, acaba por modificar o uso do solo de determinadas áreas, tendo em vista que o solo exposto ou coberto por vegetação é, muitas vezes, substituído por edificações, vias, calçadas e pavimentos diversos. O impacto destas transformações em espaços urbanos traz diversas dificuldades ao cenário, como alterações de uso e manejo do solo na superfície da bacia hidrográfica. Este processo é analisado, logo abaixo, para o município de Canoas.

Ampliar a análise e o debate sobre as realidades do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre a partir das contribuições de acadêmicos e trabalhadores por meio de sistematizações de pesquisas e/ou experiências de intervenção é o objetivo do edital de Apresentação de trabalhos para publicação pelo ObservaSinos/Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Em 2015, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.

O trabalho “Ocupação de vazios urbanos e o impacto na drenagem: estudo de caso para o município de Canoas/RS” foi realizado pela professora Izabele Colusso do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Unisinos e Coordenadora da Especialização em CIDADES – Gestão Estratégica do Território Urbano e pela graduada em Engenharia Ambiental pela UFRGS, Regina Fernandes Sebastião, que é aluna da Especialização em CIDADES – Gestão Estratégica do Território Urbano.

Eis o texto.

O crescimento das cidades, em especial a expansão horizontal, acaba por modificar o uso do solo de determinadas áreas, tendo em vista que o solo exposto ou coberto por vegetação é, muitas vezes, substituído por edificações, vias, calçadas e pavimentos diversos. Embora a expansão seja um processo comum a grande parte das cidades, geralmente ocorre com pouco ou nenhum planejamento, fato este que pode acarretar danos não somente para a área que recebeu um novo uso, mas para a cidade de forma geral, dependendo do aspecto analisado.

A ocupação de determinados espaços impacta sobre os sistemas urbanos, trazendo dificuldades diversas, como a sobrecarga em alguns sistemas previamente existentes, os quais não foram dimensionados para a nova demanda. Em se tratando de drenagem urbana, o crescimento da cidade para áreas desocupadas – transformando o solo permeável em superfícies impermeáveis – impacta diretamente nos sistemas de drenagem pluvial. De acordo com Tucci e Clarke (1997), as alterações de uso e manejo do solo na superfície da bacia hidrográfica provocam impactos significativos sobre o escoamento da água, alterando o comportamento das enchentes. Nesses casos, o que se percebe é o aumento da magnitude ou da frequência com que ocorrem as inundações e os alagamentos nas áreas urbanas.

Considerando a forma, muitas vezes, desordenada e sem planejamento como ocorre o crescimento de diversas cidades, mostra-se relevante avaliar as alterações que a implantação de novos empreendimentos – sejam eles residenciais, comerciais, industriais – podem provocar na permeabilidade do solo e, consequentemente, na ocorrência de inundações e alagamentos. É importante destacar que, no caso da drenagem urbana, o impacto hidrológico acontece na própria bacia hidrográfica onde é realizada a alteração, mas também há o potencial desse impacto se propagar para aquelas bacias que se localizam à jusante, transferindo os efeitos para áreas mais distantes do local da interferência. Essa transferência de impactos acontece quando as devidas precauções não são tomadas na bacia onde foram realizadas as alterações que refletiram no sistema de escoamento das águas urbanas.

Em razão disso, para se permitir a implantação de um empreendimento e suas consequentes mudanças no padrão de uso do solo, é preciso considerar os impactos que decorrem dessa ação, dada a extensão e a magnitude que podem alcançar. Todavia, apesar da importância, esses aspectos são muitas vezes desconsiderados, por motivos diversos, e apenas quando os problemas surgem é que se dá – tardiamente – importância ao fato e início à discussão.

Diante desse contexto, percebe-se a necessidade de ampliar os estudos e pesquisas envolvendo essa temática, tendo por objetivo, dentre outros, o desenvolvimento de ferramentas que possam, de uma maneira mais simples e direta, auxiliar a análise que antecede a aprovação de novos empreendimentos no que tange à transformação de vazios urbanos em espaços construídos.

O impacto do crescimento das cidades – representado aqui pela transformação de vazios urbanos em espaços construídos – sobre os sistemas existentes foi avaliado por intermédio de um estudo de caso no município de Canoas, Região Metropolitana de Porto Alegre. O município foi escolhido para a realização de um estudo de caso, em função da elevada ocupação do território urbano, da existência de algumas áreas desocupadas e da frequente ocorrência de alagamentos nos mais diversos bairros do município.

O estudo avaliou um indicador que relaciona a existência de vazios urbanos e de espaços construídos dentro de cada uma das bacias hidrográficas do município. O indicador serviu para avaliar a condição atual das bacias (considerando o primeiro semestre de 2015), assim como para estimar uma situação futura no caso do aumento dos espaços construídos, tomando como base alguns empreendimentos previstos para o município. O indicador foi aplicado para o município considerando sua condição atual e diferentes cenários futuros, tendo como balizador alguns empreendimentos com implantação prevista ou em fase de estudos.

A existência dos vazios urbanos

Os vazios urbanos estão presentes nas áreas urbanas das grandes cidades e, conforme observado por Borde (2004), sua condição está relacionada aos aspectos políticos, funcionais, formais e simbólicos, fazendo com que seu entendimento esteja ligado ao dos processos de urbanização. Em razão disso, mostra-se necessária a compreensão do processo histórico de urbanização das cidades, no qual insere-se o fenômeno dos vazios urbanos.

Entender a construção do espaço urbano, tendo em vista sua complexidade, exige análises integradas dos diversos aspectos e agentes envolvidos, como a valorização do solo, a legislação vigente e o processo histórico, além das características específicas de cada cidade. A cidade – um produto social – se caracteriza conforme suas formas de ocupação, as quais acontecem em função do que se necessita: produzir, consumir, morar ou viver. E ao longo do tempo, intrinsicamente a esse processo dinâmico de construção da cidade, surgem os vazios urbanos. (NEVES, s.d.).

Nesse sentido, tem-se a falta de planejamento, entre outras causas, associada ao processo de construção, conforme menciona Saraiva (2012, p.50): “O crescimento rápido das cidades, a falta de planejamento na gestão territorial e tantos outros fatores econômicos, políticos, e sociais, são possíveis causas entre outras mais complexas para que esta situação se tenha tornado tão frequente.”

Embora a existência de vazios urbanos – da forma como os mesmos têm sido identificados e descritos – indique uma certa perversidade por não serem ocupados lugares com determinadas potencialidades, há outros aspectos sobre alguns desses espaços que precisam também ser considerados, com o intuito de diferenciar o que é e o que não é um vazio urbano. É isso que observa Borde (2004), quando menciona a existência de inúmeras situações de vazios na forma urbana contemporânea das grandes cidades. Espaços residuais, abandonados, ocupados por estruturas obsoletas, terrenos subutilizados, ociosos, entre outros, localizados em áreas urbanas, são os que de fato configuram os vazios urbanos, de acordo com a autora. Por outro lado, ela menciona espaços vazios que não se configurariam como vazios urbanos, tais como as áreas verdes, as praças e até mesmo os espaços residuais entre os edifícios – que se configuram como espaços de sociabilidade – os quais são espaços vazios que não deveriam ser identificados como vazios urbanos.

Essa perspectiva ao olhar os espaços vazios, considerando suas características ambientais, sociais e culturais, permite observar que nem todos os lugares necessitam de ocupação, caso a sua permanência dessa forma seja importante e se justifique por alguma das características mencionadas. Nesse sentido Portas (2000) alerta para possíveis problemas decorrentes da ocupação intensiva desses espaços. O autor menciona que ocupar alguns vazios urbanos na tentativa de impedir a dispersão da cidade para áreas periféricas, caso ocorra de forma intensiva, poderá agravar as condições ambientais das cidades e, ainda assim, a periferia continuaria crescer.

Sendo assim, determinados espaços vazios com características ambientais específicas e importantes merecem especial atenção antes de serem ocupados, em razão de possíveis problemas que podem decorrer desse processo. Ainda em relação à ocupação dos espaços, Saraiva (2012) destaca que há uma relação entre os espaços construídos e os espaços vazios, tanto nas áreas mais consolidadas quanto nas periferias, e se por um lado existem autores que defendem ocupar todos os espaços livres, outros consideram importante a permanência de cheios e vazios, como um espaço único.

Essa perspectiva sobre a ocupação, ou não, dos espaços deve ser considerada, pois, se por um lado há benefícios em sua ocupação, por outro podem surgir prejuízos. Todavia, não há como generalizar, é preciso avaliar cada situação de forma particularizada. É nesse sentido que Saraiva (2012) considera necessário intervir nesses espaços – que o autor chama de residuais – ligando-os em uma perspectiva de continuidade, agregando a eles propriedades atrativas e eliminando as barreiras que existem. O autor salienta que, por serem muito diferentes entre si, cada um desses espaços vazios deve ter suas potencialidades valorizadas, “reestruturando-os nas diferentes escalas e procurando encontrar soluções para cada situação e realidade em cada lugar, interligando as questões histórico-sociais e ambientais, numa matriz ecológica e sustentável.” (SARAIVA, 2012, p. 53).

A URBANIZAÇÃO E OS IMPACTOS NA DRENAGEM URBANA

O ciclo hidrológico é um processo natural que ocorre, simplificadamente, da seguinte maneira: a água precipita sobre a terra na forma de chuva, parte dela é interceptada pela vegetação e evapora, retornando para a atmosfera, outra parte infiltra, recarregando os aquíferos. Resta ainda uma parcela que escoa pela superfície até encontrar os cursos d’água e, posteriormente, alcança o oceano. Quando ocorre a urbanização, esse ciclo natural é alterado, modificando o balanço existente entre as parcelas que são interceptadas, que evaporam, infiltram ou escoam. (TUCCI, 2007). No processo de urbanização, as superfícies naturais cedem lugar às ruas, aos estacionamentos, aos loteamentos e a outras estruturas que são impermeáveis, impedindo a água de infiltrar no solo e aumentando a parcela da precipitação que escoa sobre a superfície.

Cabe ressaltar que não é apenas a impermeabilização da superfície que impacta a condição natural dos recursos hídricos, mas há uma série de fatores que interfere no processo hidrológico urbano, como relacionam Righetto, Moreira e Sales (2009, p.47): “O desmatamento, a substituição da cobertura vegetal natural, a instalação de redes de drenagem artificial, a ocupação das áreas de inundação, a impermeabilização das superfícies, [...] e o aumento dos deflúvios superficiais [...].”

Em função dos processos relacionados à urbanização, ocorrem diversas alterações no balanço hídrico natural: a evapotranspiração diminui, assim como a infiltração para o solo, enquanto aumenta o volume de água enviado para a rede de drenagem pluvial. Esse fato já evidencia que problemas irão ocorrer, principalmente pelo aumento da quantidade de água transportada pelos dispositivos de drenagem.

Assim, é nítido que o crescimento das cidades e sua consequente alteração no padrão de uso e ocupação do solo – geralmente transformando-o em superfície impermeabilizada – produz um impacto direto sobre a drenagem urbana das águas pluviais. Identificar e conhecer a superfície da área urbana é um importante passo para auxiliar o planejamento da cidade, e dentre os diversos parâmetros considerados relevantes, cabe destacar a impermeabilização do solo, tendo em vista sua influência sobre o escoamento das águas superficiais. (GAROTTI; BARBASSA, 2010). De acordo com os citados autores, a impermeabilização do solo é um parâmetro capaz de mostrar como a urbanização impacta o sistema de drenagem urbana de uma região.

Esse impacto ocorre em função do “[...] princípio errado que tem levado às inundações na drenagem urbana [...]: A melhor drenagem é aquela que escoa a água da chuva o mais rápido possível para jusante.” (TUCCI, 2007, p. 185, grifo do autor). O autor ressalta que a cada nova implantação de edificação – seja uma residência, um prédio, uma indústria – que adota esse princípio, faz aumentar a vazão natural, conduzindo-a para a rede de drenagem em um período de tempo mais curto do que na condição anterior à construção.

Dessa forma, quando somam-se todas as vazões oriundas das diversas edificações, loteamentos e demais obras implantadas nas cidades, tem-se um aumento significativo das vazões que são recebidas pelos sistemas públicos de drenagem, os quais podem já estar sobrecarregados. O aumento da vazão na rede, devido à implantação sucessiva de diversos loteamentos, conforme as águas drenadas dos mesmos vão sendo conectadas à rede de drenagem, pode ser visualizado na Figura 1.

 

Figura 1 – Hidrograma no ponto “F” à medida que os novos loteamentos são implantados e ligados à rede

Fonte: adaptado de Tucci (2007, p. 186)

 

O hidrograma apresentado acima evidencia o aumento da vazão após os loteamentos serem implantados, em comparação com a situação anterior a sua existência, isto é, na condição natural. Assim, quanto maior a vazão gerada, maiores as chances de ocorrerem inundações, pois o sistema já existente possivelmente não terá condições de absorver todo o incremento de vazão resultante da urbanização.
Nesse contexto, o que precisa ser entendido é o fato de que o processo de urbanização (a implantação de um loteamento, por exemplo) é que precisa prever os impactos decorrentes da ação, assim como as medidas necessárias para que os mesmos não sejam transferidos para a rede pública de drenagem. Todavia, essa não é uma prática comum e o que geralmente ocorre, como esclarece Tucci (2007), é que o poder público aumenta a rede de drenagem para absorver todo o escoamento oriundo dos loteamentos, o que acaba por distribuir para toda a cidade o custo desse processo. O fato é que a urbanização é crescente e aumentar as seções dos canais sucessivamente pode elevar muito os custos com obras.

Entretanto, quando o aumento da capacidade de escoamento da rede de drenagem não acontece por parte do poder público, e também não há controle no momento da urbanização de novas áreas, ocorrem as inundações. Além disso, há que se mencionar um outro problema que decorre da atuação do poder público nesse processo: a realização de intervenções de forma isolada e descontínua, atuando apenas sobre um trecho (que, em geral, já apresenta problemas), deixando de atuar de forma integrada e com o objetivo de resolver os problemas existentes na bacia como um todo. Nesses casos, o que acontece é a transferência da inundação para outros locais, fazendo com que o que problema não seja resolvido e apenas seja transferido para outra área. (TUCCI, 2007).

Com base no exposto, fica evidente que os impactos da urbanização resultam em problemas de drenagem, os quais, por sua vez, acarretam outros problemas ainda maiores quando se tenta solucioná-los, e assim, a sequência de danos prossegue numa espécie de ciclo. Diversos são os fatores que desencadeiam o processo, todavia a falta de planejamento anterior à ocupação do solo pode ser identificada como um dos principais fatores.

É preciso considerar que esse ciclo de problemas não é algo localizado que atinge pontualmente o local da intervenção, mas também outras áreas do entorno e da cidade como um todo. Nesse sentido, Brasil (2005) destaca que quando áreas frágeis são ocupadas – sob a ótica ambiental – isso causa danos aos moradores locais, que em geral são os mais atingidos. Contudo, problemas tais como enchentes, processos erosivos e contaminação de mananciais podem atingir toda a cidade.

Nesse contexto, é relevante mencionar que, no caso dos danos causados aos recursos hídricos, os mesmos podem ultrapassar os limites do município, atingindo outros em seu entorno, tendo em vista que a unidade que define seus limites é a bacia hidrográfica. Assim, alguns problemas relacionados aos recursos hídricos, tais como águas contaminadas por efluentes e vazões geradas em eventos de cheias, são facilmente transferidos para outro município que se localiza na mesma bacia daquele onde o dano foi causado.

Em relação a isso, Tucci (2002, p. 12) menciona que “Atualmente um dos principais, se não o principal problema de recursos hídricos no país, é o impacto resultante do desenvolvimento urbano, tanto a nível interno dos municípios como a nível externo, exportando poluição e inundações para jusante.” Desse modo, pode-se perceber como os reflexos da urbanização podem se estender para além dos limites do município, caso não haja planejamento e gestão adequados para evitar os possíveis danos.

Fica evidente a possibilidade de surgirem problemas, o que explicita a necessidade de planejar a expansão urbana de forma disciplinada e ordenada. Quando a ocupação do solo ocorre de maneira desregrada, o ambiente ocupado e também aquele em seu entorno sofre, inevitavelmente, os danos. Em se tratando dos prejuízos ambientais, as inundações podem ser consideradas um dos mais evidentes problemas, que acabam por provocar também impactos sociais e econômicos. Esse aspecto foi mencionado por Tucci (1997, p. 5) quando o autor diz que “As enchentes nas cidades brasileiras são um processo gerado principalmente pela falta de disciplinamento da ocupação urbana. O custo do controle desse processo é alto quando o desenvolvimento já está implantado”. E o resultado dessa falta de ações preventivas aparece na forma de danos tanto para o ambiente, quanto para a população, que perde qualidade de vida ao sofrer com as constantes inundações e seus problemas associados, como ilustrado na Figura 2.

 Figura 2 – Relação causa-efeito das águas pluviais urbanas

 

 

Fonte: adaptado de Tucci (2007, p. 191)

 

Em razão disso, é funda mental que exista um ordenamento na ocupação do território urbano, para que o processo de urbanização, e consequente modificação do uso do solo, não traga ônus à população e ao poder público, tanto em termos ambientais quanto sociais e econômicos. É nesse sentido que Vendramini (2008) salienta a importância de que, no momento de designar os usos para cada área na cidade, seja dada a atenção necessária para as áreas verdes disponíveis. A autora salienta os diversos aspectos nos quais áreas verdes interferem dentro da cidade, como a regulação da drenagem, o amortecimento de ruídos e a purificação do ar. Ainda segundo Vendramini (2008, p. 4) “Os parques urbanos têm tanto a função de proporcionar áreas de lazer para a população, quanto a de criar condições ambientais urbanas mais satisfatórias.”

Nesse contexto, Saraiva (2012) considera que sendo a cidade delimitada por suas fronteiras administrativas, e sendo o solo um bem escasso e que não pode ser aumentado, é essencial que sejam buscadas estratégias para que se consiga um maior equilíbrio territorial entre zonas rurais e urbanas, entre as mais e menos desenvolvidas, por exemplo. E, nessa busca pelo equilíbrio, é de extrema importância que todas as variáveis envolvidas no processo de urbanização sejam consideradas e, também nesse contexto, o equilíbrio seja alcançado.

Dessa forma, é fundamental que o processo de planejamento para a ocupação do solo seja realizado prevendo a manutenção de áreas consideradas relevantes para evitar o surgimento de problemas futuros. A urbanização é um processo necessário e que está vinculado ao crescimento das cidades, todavia não pode ocorrer sem controle e sem a observação de elementos fundamentais para garantir o equilíbrio sob os aspectos ambiental, social e econômico.

 ESTUDO DE CASO

 

Metodologia
A sequência de atividades que orientou a realização do presente trabalho foi estruturada em quatro etapas, como ilustra a Figura 3 a seguir.

 

Figura 3 – Fluxograma das atividades da pesquisa

 

Fonte: elaborado pela autora

 

Os dados utilizados para embasar o estudo foram, basicamente, de três tipos distintos: cartografia básica, incluindo imagem de satélite atual que contempla toda a área do município em análise; informações disponíveis publicamente (sites, folders, etc.) que contemplam a divulgação de novos empreendimentos, visando diferentes usos e atividades, para o município; e informações atuais e históricas sobre a ocorrência de eventos críticos, tais como inundações e alagamentos que atingiram o município de Canoas.

O mapeamento das áreas onde encontram-se os maiores vazios urbanos do município foi realizado tendo por base uma imagem de satélite, datada de dezembro de 2012. Foram utilizados ainda os vetores de algumas áreas específicas, oriundos do Plano Diretor Urbano e Ambiental de Canoas (PDUA), os quais delimitam áreas vazias que possuem alguma característica ou função diferenciada e, por já possuírem suas áreas delimitadas, não foram incluídas no mapeamento dos vazios urbanos.

A partir das informações dos empreendimentos, tendo como base as imagens de divulgação em relação a localização dos mesmos, foram delimitadas – sobre a imagem de satélite do município – as áreas ocupadas por cada um deles. Em razão disso, dadas as limitações existentes (como a ausência da área exata ocupada), entende-se que os valores de área obtidos são uma aproximação.

De posse das informações vetorizadas – vazios e empreendimentos – além das já existentes (bacias hidrográficas e áreas vazias oriundas do PDUA), os cruzamentos de dados foram realizados em um ambiente SIG, para a obtenção do indicador de relação entre vazios urbanos e áreas ocupadas. Em cada bacia foram mensuradas as áreas ocupadas e as áreas vazias, e a relação entre elas permitiu a obtenção do indicador.

O valor que resulta da equação acima informa quanto há de área vazia na bacia para cada unidade de área ocupada. O indicador igual a um indica que há uma unidade de área vazia para cada unidade ocupada; assim, quanto mais próximo de um estiver o indicador, mais área vazia há na bacia, enquanto mais próximo de zero significa menos área vazia para cada unidade de área ocupada.

Para a situação atual foram analisadas duas condições diferentes: a primeira considerando todos os vazios existentes – os mapeados e os das áreas delimitadas no PDUA; a segunda (denominada análise diferenciada) considerou apenas os vazios delimitados, não contabilizando as áreas vazias do PDUA, tendo em vista que possuem restrições de uso. Em sequência foram definidos três diferentes cenários futuros, considerando o seguinte critério:

- Cenário I: construção dos empreendimentos que estão iniciando sua implantação (terraplenagem e/ou fundações executadas até o momento);
- Cenário II: construção dos empreendimentos do Cenário I mais os empreendimentos previstos para o município (elaboração de projeto até o momento);
- Cenário III: construção dos empreendimentos dos Cenários I e II, mais a implantação de empreendimentos em áreas de propriedade de construtoras (embora não haja projeto divulgado até o momento, essas áreas possuem grande potencial de serem ocupadas).

Área de Estudo

O município de Canoas está localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre e tem como municípios limítrofes: Esteio (ao Norte), Porto Alegre (ao sul), Cachoeirinha (a leste) e Nova Santa Rita (a oeste). O município possui uma população estimada em, 2015, de 341.343 habitantes, os quais se distribuem em uma área territorial de 131,096 km², resultando em uma densidade populacional de aproximadamente 2.600 hab./km². Canoas não possui área rural, sendo assim, toda a população reside em área urbana.

Os bairros oficiais são 17 (dezessete), além da região da Ilha das Garças, que não possui população residente, conforme dados do último Censo (IBGE, 2010). Em termos populacionais, destacam-se 4 bairros – Mathias Velho, Guajuviras, Harmonia e Niterói – que juntos abrigam pouco mais da metade da população do município.

Em relação aos aspectos físicos, o município se localiza em uma importante região, sendo banhado pelo Rio Gravataí ao sul e pelo Rio dos Sinos a oeste, além de estar inserido na região do Delta do Rio Jacuí. O Delta recebe as águas de diversos rios, além do Jacuí, que dá seu nome, deságuam nele o Rio dos Sinos, o Rio Gravataí e o Rio Caí; as águas que chegam ao Delta, por sua vez, desembocam no Lago Guaíba. Devido às características especiais dessa região, o Delta do Jacuí é protegido pela Área de Proteção Ambiental (APA) e pelo Parque Estadual do Delta do Jacuí, cujo Plano de Manejo orienta as atividades passíveis de serem executadas em sua área de abrangência.

Em razão da sua localização, conforme descrito acima, Canoas insere-se em três diferentes bacias hidrográficas: do Rio dos Sinos, do Rio Gravataí e do Lago Guaíba, as quais fazem parte da Região Hidrográfica do Guaíba. Cabe destacar que o relevo do município é relativamente plano, com pequena diferença de cotas, não havendo grandes elevações. Esse tipo de formação é característico da região onde se insere o município, bastante baixa, nas proximidades do Lago e da foz de diversos rios.

Em consequência das características naturais da região onde o município de Canoas está instalado, a ocorrência de inundações devido a cheia dos rios e arroios é bastante frequente em algumas áreas do município. O mapa das áreas de alagamento, constante do PDUA, delimita as áreas do município de acordo com as cotas dos locais, como exibe a Figura 4.

 

Figura 4 – Áreas de Alagamento

 

Fonte: Canoas, 2008

 

Devido aos problemas decorrentes das inundações, Canoas conta com um sistema de diques para a proteção da cidade. Além das inundações que ocorrem nas áreas mais baixas não protegidas, eventos chuvosos mais críticos têm provocado a ocorrência de alagamentos nos mais diversos bairros do município. Especialmente nos últimos anos esses eventos têm impressionado e assustado os moradores, que passaram a conviver com alagamentos cada vez mais frequentes. A ocorrência desses eventos está relacionada à intensa urbanização e consequente impermeabilização do solo.

O mapeamento realizado no município permitiu identificar as áreas de grandes vazios urbanos, caracterizadas por serem áreas sem nenhum tipo de ocupação com edificações ou impermeabilização do solo. Embora todas as áreas não ocupadas – onde a água pode infiltrar
– contribuam para a diminuição do volume de água que escoa durante um evento chuvoso, para esse trabalho optou-se por delimitar as principais áreas com essas características, ou seja, aquelas com maiores extensões.

Foram acrescidas ao mapa com as áreas vazias delimitadas algumas áreas com características especiais, as quais já estão demarcadas no PDUA, quais sejam: Zona Especial de Interesse ao Ambiente Natural (APA e Parque do Delta do Jacuí), área do Quinto Comando Aéreo Regional (V COMAR) e área da Base Aérea de Canoas (BACO). Esses espaços, apesar de não estarem parcial ou totalmente ocupados, por suas características e funções, deverão assim permanecer. O mapa a seguir (Figura 5) traz as áreas delimitadas, cujas respectivas dimensões podem ser visualizadas na tabela a seguir (Tabela 1).

 

Figura 5 – Grandes vazios urbanos identificados no município de Canoas

 

Fonte: elaborado pela autora

 

Tabela 1 – Grandes vazios do município de Canoas e suas áreas aproximadas

 

Fonte: elaborado pela autora

 

 

 

A pesquisa realizada permitiu identificar os empreendimentos que deverão ser implantados no município de Canoas, nos próximos meses e anos, sejam eles residenciais, comerciais ou industriais. Para a elaboração deste trabalho os empreendimentos identificados foram divididos em duas categorias, que basearam a divisão em cenários: implantação e previstos, de acordo com a fase em que se encontram. Além desses empreendimentos, foram identificadas áreas de propriedade de construtoras, as quais possuem um grande potencial de serem escolhidas para a implantação de condomínios. Assim, embora ainda não exista lançamento de empreendimentos para estas áreas, as mesmas também foram consideradas – em uma terceira categoria – para a formulação de outro cenário.

A Tabela 2 apresenta os empreendimentos identificados segundo o tipo de atividade que irá abrigar, as suas respectivas categorias e áreas estimadas, as quais estão apresentadas no mapa da Figura 6.

 

Tabela 2 – Empreendimentos identificados a serem implantados no município

  

Fonte: elaborado pela autora

 

 

 

Figura 6 – Novos empreendimentos a serem implantados em Canoas

  

Fonte: elaborado pela autora

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nas análises para a situação atual e os diferentes cenários indicam uma diminuição gradativa das áreas vazias à medida que as mesmas vão sendo ocupadas por novos empreendimentos, o que altera o indicador calculado. A Tabela 3 apresenta a síntese do indicador para as diferentes bacias hidrográficas na situação atual (com e sem os vazios do PDUA) e nos três diferentes cenários.

 

Tabela 3 – Indicador calculado para cada bacia hidrográfica nos diferentes cenários

 

 

Fonte: elaborado pela autora

 

Na situação atual onde foram desconsideradas as áreas das unidades do PDUA, nota-se que a quantidade de área vazia para cada unidade de área ocupada passa a ser muito pequena. Entretanto, é nítido que as áreas desconsideradas nessa análise não estão ocupadas, sendo assim, elas contribuem para o aumento da infiltração e a diminuição do escoamento superficial, sendo indispensável computá-las em termos de área vazia para o cálculo do indicador.

Por outro lado, essa análise pode servir para avaliar outra perspectiva, em relação à ocupação do solo. Tendo em vista que essas áreas possuem usos específicos (no caso do COMAR e da Base Aérea) e características especiais (no caso da APA e do Parque do Delta do Jacuí), entende-se que há restrições para outros usos nessas áreas. Sendo assim, as mesmas deverão permanecer da forma como estão, pois não permitem a possibilidade de ocupação para usos diferentes.

É nesse sentido que o indicador pode demonstrar uma outra condição: quando se trata de áreas disponíveis para ocupação, as áreas pertencentes à bacia do Rio Gravataí e do Lago Guaíba no município de Canoas possuem poucas áreas, tendo em vista que o indicador apresentou valores iguais a 0,13 e 0,09 para cada uma, respectivamente.

Em termos hidrológicos, o que de fato importa é a existência de áreas disponíveis para a infiltração das águas pluviais. Todavia, considerou-se importante essa análise diferenciada, para demonstrar que há poucas áreas disponíveis para a ocupação nas bacias do Rio Gravataí e do Lago Guaíba em Canoas, tendo em vista que há áreas restritas para a ocupação do solo.

A análise diferenciada foi realizada apenas para a situação atual, a fim de demonstrarque já há poucas áreas disponíveis para ocupação. Todavia, tendo em vista que esse trabalho objetiva avaliar os impactos da ocupação na drenagem urbana, para o cálculo do indicador nos cenários futuros foram considerados todos os vazios existentes, incluindo as unidades delimitadas no PDUA, pois as mesmas contribuem para a infiltração das águas pluviais.

Dessa forma, para a situação atual e os demais cenários, os valores apresentados evidenciam as alterações provocadas pela implantação dos diversos empreendimentos no município de Canoas, as quais deverão acarretar impactos na drenagem urbana, podendo contribuir para o aumento dos eventos críticos, como os alagamentos. O indicador apresenta as modificações que ocorrem no uso do solo nos limites de cada bacia, deixando evidente que as áreas ocupadas passam a ser mais significativas – em termos quantitativos – frente às áreas vazias. Com base nas teorias expostas, sabe-se que a urbanização impacta diretamente o escoamento das águas pluviais – aumentando o volume escoado superficialmente e diminuindo o volume infiltrado – o que, por sua vez, se reflete no sistema de drenagem urbana. Assim, no caso da concretização dos cenários avaliados, as bacias passarão por mudanças relevantes no que tange à impermeabilização do solo, o que indica a possibilidade real de aumento da ocorrência de alagamentos na cidade.

A porção do município inserida na bacia do Lago Guaíba é a que apresenta a melhor condição na situação futura, isto é, maior presença de áreas vazias em relação às ocupadas, como mostra o indicador calculado. Isso se deve, em parte, ao fato de essa bacia possuir um percentual significativo de sua área restrito à ocupação devido à APA e ao Parque do Delta do Jacuí, e também ao V COMAR. Já a região de Canoas que se insere na bacia do Rio dos Sinos é a que apresenta o pior prognóstico, tendo em vista que, após a concretização do Cenário III, seu indicador apresenta a existência de apenas 0,24 unidade de área vazia para cada unidade de área construída.

É válido mencionar que foram mapeados apenas os maiores vazios identificados no município, assim como os empreendimentos a serem implantados nessas áreas. Entretanto, é possível que uma análise mais detalhada, mapeando os vazios menores onde também há ocupação, não de grandes empreendimentos mas de residências unifamiliares, possa resultar em uma condição ainda mais crítica, principalmente em termos locais, mais próximos às novas áreas ocupadas.

A análise diferenciada realizada para a situação atual demostra uma condição preocupante, pois se essas áreas não fossem restritas para uso, o indicador apresentaria valores bem mais baixos. Assim, apesar das grandes alterações que podem ocorrer com a ocupação das áreas vazias, as áreas delimitadas no PDUA – em razão de suas restrições – por permanecerem desocupadas acabam por contribuir para a atenuação dos impactos na drenagem urbana.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise de questões relacionadas aos vazios urbanos, em geral, traz consigo uma conotação negativa associada a esses espaços, assim como a necessidade de ocupá-los aparece como alternativa para solucionar o problema. Esse tipo de abordagem pode ser interessante para o aproveitamento de uma área com infraestrutura ociosa e disponível, todavia nem todos os vazios urbanos possuem essa característica. Dessa forma, é necessário considerar que determinados espaços podem ser aproveitados sem que sejam totalmente ocupados, e sua utilização pode ocorrer de formas diferenciadas, como por intermédio da implantação de espaços de lazer, primando pelas questões ambientais e culturais.

Esse tipo de abordagem precisa ser considerado no processo de planejamento das cidades, levando em consideração o fato de que a ocupação – acompanhada da impermeabilização – do solo impacta diretamente nos sistemas de drenagem urbana, contribuindo assim para o aumento da ocorrência de alagamentos. Esses eventos, além de causarem prejuízos econômicos e sociais, se refletem diretamente na qualidade de vida da população atingida. Dessa forma, as áreas vazias possuem um papel importante, pois permitem o aumento da infiltração das águas pluviais, contribuindo para melhores condições de vida.

Entende-se que a cidade precisa crescer e se desenvolver, entretanto é coerente avaliar que deve haver limites para esse crescimento, pois no momento que a expansão – para abrigar novos habitantes e serviços – passa a interferir de forma negativa na ‘cidade já existente’, é porque algum limite foi ultrapassado e a cidade não possui condições de suportar as modificações implantadas em seu território. Sendo assim, se para algumas cidades ocupar os vazios urbanos existentes é necessário, em outras, essa ação pode ocasionar um prejuízo maior que os possíveis benefícios. Dessa forma, fica evidente a necessidade de avaliar cada caso de forma particular, levando em consideração as características e os limites da cidade e de seu espaço físico, pesando os benefícios e prejuízos decorrentes.

Nesse contexto, para o município de Canoas, a análise realizada mostrou que há possibilidades reais de ocorrerem impactos sobre a drenagem urbana devido à implantação de diversos empreendimentos previstos. Assim, mesmo que algumas medidas sejam tomadas para evitar danos, isso pode não ser suficiente, pois em geral tais medidas não são capazes de eliminar os impactos na drenagem, apenas os transferem para locais à jusante, conforme abordado no referencial teórico do presente trabalho.

Os resultados obtidos mostraram que algumas regiões do município podem ser bastante afetadas, pois terão suas áreas vazias consideravelmente diminuídas. Além disso, Canoas possui um aspecto que agrava sua situação relativa à drenagem urbana: o fato de se localizar em cotas muito baixas, tendo uma área significativa do seu território que necessita ser protegida por um sistema de diques. Assim, fica claro que as características do município o colocam em uma situação que exige bastante atenção no momento de planejar o crescimento e a expansão, com o intuito de evitar maiores danos aos seus habitantes e ao ambiente natural.

Nesse sentido, o indicador de relação entre vazios urbanos e espaços construídos pode ser uma ferramenta útil de auxílio ao planejamento ou de avaliação de possíveis impactos quando da autorização para a implantação de novos empreendimentos. Nesse trabalho, a análise foi realizada considerando o município como um todo, as bacias hidrográficas principais e os maiores vazios urbanos identificados; todavia, dependendo do objetivo, o indicador pode ser utilizado para avaliar uma área menor, como uma microbacia no município. Nesse caso, devido ao fato da escala de trabalho ser mais detalhada, deverão ser mapeados também os vazios menores, objetivando verificar os impactos em uma área reduzida e mais próxima à intervenção.

A análise realizada neste trabalho permitiu avaliar as modificações que acontecem no uso e ocupação do solo quando ocorre o crescimento da cidade, o que por sua vez possibilita a identificação de impactos na drenagem decorrentes desse processo. A realização de novas pesquisas utilizando essa metodologia poderiam auxiliar no estabelecimento de valores de referência para o indicador, identificando, por exemplo, valores ideais e críticos. Dessa forma, se uma microbacia urbana apresenta valores críticos para o indicador enquanto outra possui valores acima do ideal, isso poderia ser utilizado pelos planejadores urbanos para selecionar possíveis locais para a implantação de determinado empreendimento.

 

REFERÊNCIAS

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Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, v. 8, n. 5, 2004. Disponível em: http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/shcu/article/view/1061. Acesso em: 15 ago. 2015.


BRASIL. Ministério das Cidades. Estatuto da Cidade - guia para implementação pelos municípios e cidadãos. 4. ed. Brasília, DF, 2005.
CANOAS. Lei n. 5.341 de 22 de outubro de 2008. Institui o Plano Diretor Urbano Ambiental de Canoas, dispõe sobre o desenvolvimento urbano no Município de Canoas e dá outras providências. Disponível em: http://www.geo.canoas.rs.gov.br/img/lei5341/LEI_5341_2008.pdf. Acesso em: 18 ago. 2015.


GAROTTI, L.M.; BARBASSA, A.P. Estimativa de área impermeabilizada diretamente conectada e sua utilização como coeficiente de escoamento superficial. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 15, n. 1, p. 19-28, jan./mar. 2010.


NEVES, Luiz. Vazios Urbanos na Área Central do Rio de Janeiro - Preservação e Reabilitação Urbana. Universidade Federal do Rio de janeiro. p. 10-17. s.d. Disponível em: http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNPU/Biblioteca/ReabilitacaoAreasUrbanas/. Acesso em: 08 ago. 2015.


PORTAS, Nuno. Do vazio ao cheio. SMU. Vazios e o Planejamento das Cidades. Caderno de Urbanismo, n. 2, 2000. Disponível em: http://cidadeimaginaria.org/ .Acesso em: 09 ago. 2015.


RIGHETTO, A. M.; MOREIRA, L. F. F.; SALES, T. E. A. Manejo de Águas Pluviais Urbanas. In: RIGHETTO, Antônio Marozzi (Coord.). Manejo de Águas Pluviais Urbanas. Rio de Janeiro: ABES, 2009. p. 19 - 73.


SARAIVA, Francisco de Paula C. V. Acessibilidade e mobilidade: o espaço público como renovação urbana. Dissertação de mestrado. Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional das Beiras, Departamento de Arquitectura, Ciências e Tecnologia. Portugal, 2012. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.14/10589 .Acesso em: 10 ago. 2015.


TUCCI, C. E. M. Gerenciamento da Drenagem Urbana. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 7, n.1, p. 5-27, jan./mar. 2002.


TUCCI, C. E. M. Plano Diretor de Drenagem Urbana: Princípios e Concepção.


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TUCCI, C. E. M.; CLARKE, R. T. Impacto das mudanças da cobertura vegetal no escoamento: Revisão. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 2, n. 1, p. 135-152, 1997.


TUCCI, Carlos E. M. Inundações Urbanas. Porto Alegre: ABRH / RHAMA, 2007, 393p.


VENDRAMINI, Paula Raquel da Rocha Jorge. Limites e possibilidades da sustentabilidade do meio urbano. Cadernos de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, v. 5, n. 1, 2008. Disponível em: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF- 8#q=Limites+e+possibilidades+ da+sustentabilidade+do+meio+urbano+Paula +Raquel+da+Rocha+Jorge+ Vendramini1. Acesso em: 01 maio 2015.

 

Por Izabele Colusso e Regina Fernandes Sebastião

Após 9 meses de queda consecutiva, postos de empregos formais na região dos Sinos voltam a crescer em janeiro de 2016, inclusive com um aumento maior que o registrado em janeiro de 2015. A Indústria de transformação contribuiu para este quadro, com destaque para o subsetor da indústria de calçados.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED para sistematizar os dados de movimentação do mercado de trabalho formal em janeiro de 2016 no Vale do Sinos.

O subsetor da indústria de calçados foi o de maior destaque quanto à geração de postos de emprego na região no mês de janeiro. De acordo com Marcos Tadeu Lélis, doutor em Economia do Desenvolvimento pela UFRGS, o subsetor da indústria de calçados se favoreceu da desvalorização do câmbio, mas houve também uma concentração da produção nas grandes empresas da indústria de calçados na região, a fim de aumentar a produção para o mercado externo, devido à diminuição da demanda no mercado interno, fato verificado a partir da diminuição da renda interna.

A tabela 01 apresenta a movimentação no mercado formal de trabalho no Vale do Sinos em janeiro de 2016. Nesse mês, houve acréscimo de 941 postos de emprego, sendo quase metade destes em Novo Hamburgo, onde foram criados 446 postos.

A região dos Sinos voltou a apresentar saldo positivo depois de 9 meses consecutivos em queda. O resultado de janeiro de 2016 foi, inclusive, melhor que o registrado em janeiro de 2015. Além de Novo Hamburgo, outros 10 municípios registraram aumento de postos de emprego. Em Sapiranga, o acréscimo foi de 227, registrando aumento de 1% em apenas um mês no número de postos de emprego no município. Em 2015, o município havia reduzido os postos de emprego em 2,86%.

Para o Vale do Sinos, o aumento percentual em janeiro de 2016 foi de 0,26%. No mesmo mês do ano anterior, o aumento foi de 0,16%. Tal acréscimo de postos de emprego pode surpreender devido às crises econômica e política, mas poucos setores apresentaram aumento de postos, sendo que a indústria de transformação apresentou o aumento mais representativo.

A tabela 02 apresenta a movimentação no mercado de trabalho formal no Vale do Sinos em janeiro de 2016 no setor da indústria de transformação. A definição dos setores econômicos é dada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Dos 14 municípios da região, houve aumento de postos de emprego em 12 no setor da indústria de transformação. Canoas e Sapucaia do Sul foram os municípios em que houve queda de postos de emprego neste setor econômico.

Em muitos destes municípios, o aumento de postos de emprego na indústria de transformação ocorreu devido ao aumento de empregos no subsetor da indústria de calçados, que registrou elevação de 767 postos; neste subsetor, não houve redução de postos em nenhum município da região.

A tabela 03 apresenta a movimentação no subsetor da indústria de calçados na região. Historicamente esta indústria possui grande representatividade tanto quanto ao percentual de postos de emprego quanto ao valor agregado gerado economicamente.

A indústria de calçados possui 10,20% do total de trabalhadores formais da região, sendo que em alguns municípios como em Sapiranga essa participação de trabalhadores chega a 44,42%. Em Nova Hartz a participação é ainda maior, com 65,21% dos vínculos localizados neste subsetor ao final do ano de 2015.

O subsetor da indústria de calçados se favoreceu da desvalorização do câmbio

 

 

Conforme Marcos, há expectativa de que em 2016 haja um crescimento do nível de exportações da indústria de transformação a partir da recuperação econômica deste setor via setor externo, e não necessariamente da produção, dada a reestruturação das indústrias locais.

No entanto, esta reestruturação deve concentrar o número de empresas na indústria de calçados, visto que há muitas empresas pequenas na região que não têm a mesma agilidade para aumentar o nível de exportação. Isso porque, dada a crise da demanda interna, as empresas necessitam reavaliar suas estruturas para tornarem-se empresas de exportação ao invés de focarem no mercado interno.

Mesmo que haja recuperação das exportações desta indústria, o nível de empregos não deve ser tão alterado já que o nível de produção deve apresentar retração, ao menos nos próximos meses.
Os municípios com maior participação da indústria de calçados na sua economia também estiveram entre os que mais aumentaram percentualmente postos de emprego neste mês. Exemplo disso são os municípios de Araricá, Campo Bom e Sapiranga.

Araricá obteve a maior variação percentual de postos de emprego, 4,41%, após aumento de 26 postos no município no setor da indústria de calçados. Do total de 1.509 vínculos ativos ao final de janeiro de 2016, 616 eram do setor da indústria de calçados.

 

Há uma tendência à saída da indústria de calçados da região dos Sinos

Apesar do aumento de unidades e vínculos empregatícios nos municípios da região norte1 do Vale do Sinos, há uma tendência a saída da indústria de calçados da região dos Sinos. Nos últimos anos, os municípios mais ao sul2 da região como Canoas, Nova Santa Rita, Esteio e Sapucaia do Sul, que no início da década de 2000 ainda detinham indústria calçadista reduziram-na a ponto de não haver mais vínculos empregatícios neste subsetor em alguns destes municípios. A tabela 03 já verifica que não houve movimentação neste setor em três destes municípios no mês de janeiro.

Marcos aponta, também, que há uma migração interna no estado em que a indústria de calçados procura reduzir custos e assim migra do interior da Região Metropolitana de Porto Alegre para áreas próximas, que não possuem custos da terra e do trabalho tão elevados, como para a Região do Paranhana, região localizada ao norte da região dos Sinos.

O aumento de postos de emprego nesta indústria revela um debate acerca do modelo econômico vigente na região, em que setores industriais de baixa tecnologia, como é caracterizada a indústria de calçados, apresentam aumento de participação em número de postos de emprego e, também, em termos econômicos.

[1] Não foi usada uma regionalização oficial em relação aos municípios da região norte do Vale do Sinos. No entanto, para efeito de análise compreende-se que esta subregião é composta pelos oito municípios de Araricá, Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Ivoti, Nova Hartz. Novo Hamburgo e Sapiranga.

[2] Não foi usada uma regionalização oficial em relação aos municípios da região sul do Vale do Sinos. No entanto, para efeito de análise compreende-se que esta subregião é composta pelos seis municípios de Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Portão, São Leopoldo e Sapucaia do Sul.

 Por Marilene Maia e Matheus Nienow

A Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016 realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC conclama a todos para o debate sobre o direito ao saneamento básico, com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”.

O tema do saneamento é exigente e, ao mesmo tempo, revelador das realidades vividas pela população, evidenciando necessidades humanas e desigualdades, visto que tem relação com moradia, saúde, segurança, trabalho e tantas outras. É preciso reconhecer que o saneamento básico é uma das expressões da desigualdade social e deve ser entendido como tema articulador para a formulação de políticas públicas.

Segundo o Instituto Trata Brasil, em 2014, mais da metade da população brasileira não contava com coleta de esgoto e 35 milhões de brasileiros ainda não recebiam água tratada. Apenas um quarto da população vive em localidades com tratamento de dejetos. No Vale do Sinos, segundo o Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia - IBGE, 84,8% dos domicílios na região são abastecidos pela rede geral de distribuição. Este indicador é menor que o do Rio Grande do Sul e o do Brasil, que são 93,4% e 91,9%, respectivamente. O cuidado com políticas públicas de saneamento ainda não é tão evidente na região, pois até o mês de outubro de 2015, do total das despesas orçamentárias liquidadas dos 11 municípios da região que apresentaram a função saneamento, apenas 2% era investido nesta área.

Em 2013, apenas 4 municípios do Vale do Sinos possuíam Plano Municipal de Saneamento Básico - PMSB e 4 possuíam Políticas de Saneamento Básico - PSB. No que se refere aos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos - PMGIRS, apenas 8 municípios da região possuem o plano.

Quando o assunto é poluição, o Índice de Potencial de Poluição da Indústria - INPP-I aponta 4 municípios do Vale do Sinos entre os 20 mais poluidores do Estado do Rio Grande do Sul. Já em termos de cargas totais poluentes, as atividades que utilizam água residuária de esgoto (rede doméstica) superaram as atividades industriais e de suinocultura. O Rio do Sinos, segundo o IBGE, é o rio mais poluído do Rio Grande do Sul e o 4º mais poluído do Brasil.

Diante dessas realidades, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, objetiva dar vistas aos indicadores socioeconômicos e promover o debate sobre a realidade e políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos, assim como da Região Metropolitana de Porto Alegre em que estão inseridos, conforme a perspectiva glocal, no Rio Grande do Sul e no Brasil.

Abaixo, eis uma análise com mais informações e aprofundamentos do saneamento no Vale do Sinos.

RIO DOS SINOS: FONTE DE VIDA PARA O VALE DO SINOS

O Rio dos Sinos nasce nos morros do município de Caraá, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, percorrendo cerca de 190 km até desembocar no Delta do Jacuí, em Canoas. Há, ainda, mais de 3,3 mil quilômetros de rios secundários e arroios. O Rio dos Sinos ganhou esse nome por ser muito sinuoso, tendo muitas curvas. Em seu percurso pode ser classificado em superior, médio e inferior. A parte superior pertence aos municípios de sua nascente e o inferior é onde ele deságua.

Imagem: www.infoaldeia.blogspot.com

 

O Rio desempenha um importante papel no desenvolvimento dos 14 municípios do Vale do Sinos, sendo o principal recurso hídrico da região e dos demais 18 municípios que compõem a Bacia do Rio dos Sinos. Envolve, assim, 32 municípios do Rio Grande do Sul e alcança mais de 2 milhões de habitantes.

Nascente do Rio dos Sinos, em Caraá, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. (Foto: Vanderson dos Santos/Guia de Caraá)

 

A Tabela 01, produzida pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, a partir do relatório de agrotóxicos no Estado gaúcho, apresenta os 14 municípios do Vale do Sinos que possuem território na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos.

Destaca-se que, dos 14 municípios do Vale do Sinos, 5 possuem todo o território inserido na bacia dos Sinos: Campo Bom, Esteio, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. A média dos 14 municípios ficou em 74,9%. Ivoti e Dois Irmãos são os municípios que menos possuem os seus territórios inseridos na bacia dos Sinos. Assim, a divisão dos territórios é ultrapassada pelo ambiente e, também, pelo saneamento, que necessita de políticas públicas em conjunto entre os municípios da região. Isso porque, a partir do município de Sapiranga, são mais visíveis os efeitos dos resíduos industriais, residenciais e os agrotóxicos.

OS RESÍDUOS INDUSTRIAIS, RESIDENCIAIS E OS AGROTÓXICOS

A empresa Utresa teria sido responsável pela maior tragédia ambiental do Rio dos Sinos. Em 2006, aproximadamente 90 toneladas de peixes morreram, entre Portão e Sapucaia do Sul, por causa de substâncias e produtos que foram despejados no Rio.

90 toneladas de peixes mortos no Rio dos Sinos em 2006. Foto: Letícia Barbieri/Zero Hora.

 

Passados quatro anos, 10 mil peixes apareceram mortos no Rio dos Sinos. Desta vez, a Delegacia Especializada do Meio Ambiente - DEMA e o Departamento Estadual de Investigações Criminais – DEIC foram responsáveis por fazer fiscalizações no Rio. A partir disso, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul propôs medidas no Pacto pelo Rio dos Sinos para os municípios fazerem sua contribuição pela preservação do Rio. Isto não gerou grandes efeitos, já que no ano de 2011 ocorram duas novas mortandades de peixes – embora os números não tenham sido divulgados ou contabilizados, espera-se que o impacto seja menor do que nos anos anteriores. O Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos - PRÓ-SINOS não descartava acontecer novamente naquele ano uma nova mortandade de peixes, pois novos casos estavam acontecendo ao longo dos últimos anos.

Embora o número de municípios inseridos na pesquisa da Tabela 02 seja limitado para o Vale do Sinos, apresenta-se o Índice de Potencial Poluidor da Indústria no ano de 2009. É possível notar que dos 20 municípios da lista, 4 são da região. Canoas é o primeiro município nesse índice, seguido de São Leopoldo (10º), Novo Hamburgo (11º) e Sapucaia do Sul (12º). A Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, responsável pela pesquisa desde 2002, considera que o Estado e os denominados municípios contemplados no estudo estão em situação crítica em termos de produção industrial e de risco ambiental.

Além da questão da poluição industrial, deve-se considerar o despejo de agrotóxicos nas águas, pois atinge também a saúde pública, inclusive no que se refere ao saneamento, conforme pontua Wanderlei Pignati, em entrevista à revista IHU On-line: “A água é um dos componentes ambientais para onde os resíduos de agrotóxicos vão. Com o uso intensivo de agrotóxicos na agricultura brasileira isso vem se agravando. No ano passado, foram usados cerca de um bilhão de litros de agrotóxicos em nosso país, do tipo que se compra em agropecuárias. Não estou falando do agrotóxico diluído. Um litro de herbicida comprado nesses estabelecimentos é diluído em 100 litros de água para fazer a calda e pulverizar”.

A intoxicação, através da água, por agrotóxicos ainda é pouco notificada no país e, portanto, não há dados disponíveis que abordam esta realidade. No entanto, sabe-se que esta realidade existe e que nos últimos anos o uso de agrotóxicos intensificou-se. Em entrevista ao IHULarissa Mies Bombardi afirma que um dos públicos mais vulneráveis junto aos camponeses quanto ao envenenamento por agrotóxicos são as crianças e os jovens: “Praticamente de 20 a 25% das intoxicações notificadas, ano após ano, diziam respeito a crianças e jovens, com idade de 0 a 19 anos”.

O relatório final do Centro de Vigilância em Saúde da Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul apresenta o levantamento do uso e da criticidade dos agrotóxicos para o ano de 2010 a partir das safras de 2009 e 2010.Este estudo abordou 3 municípios de cada bacia conforme as maiores áreas de produção agrícola, sendo que nenhum deles pertence à região do Vale do Sinos na bacia dos Sinos: Taquara, Caraá e Rolante.Através desta pesquisa, o uso estimado de litros de agrotóxicos por habitante por ano na região da bacia dos Sinos é de 0,060, mesmo sendo uma área majoritariamente industrial. No estado o uso estimado é de 2,07 litros por habitante anualmente.

Em 2016, um estudo será feito, a partir da Secretaria Estadual da Saúde, em parceria com o Ministério da Saúde, com amostras de água coletadas em 38 municípios do estado para verificar a presença de agrotóxicos na água. Na região do Vale do Sinos, o município de Novo Hamburgo terá amostras estudadas. Maquiné é outro município no qual será feito o teste dos 33 municípios da bacia dos Sinos.

O parâmetro mais utilizado para avaliar a poluição é a Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO que corresponde à quantidade que será consumida pelos organismos aeróbicos ao degradarem a matéria orgânica lançada nos rios. Em termos de cargas totais poluentes, as atividades que utilizam água residuária de esgoto (rede doméstica) superaram as atividades industriais e de suinocultura (agropecuária).

Frente a esse cenário, duas leis que entraram em vigor em 2007 e 2010 visam uma maior participação das autoridades públicas na questão do saneamento básico. Esse é o tema tratado na seção a seguir.

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O PAPEL DOS PLANOS DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E DE SANEAMENTO BÁSICO

O saneamento no país, conforme Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, aponta para uma evolução principalmente a partir de 2007: “é visível, ganhamos muito com a sanção da 11.445/2007, que traz as diretrizes para o setor”. No entanto, as metas de universalização do saneamento básico ainda não devem ser cumpridas: “Infelizmente, a continuar como está, poucas metas serão cumpridas até 2033, como universalizar a coleta e o tratamento dos esgotos em todo o país. Com os atuais ritmos de investimentos e de execução das obras, dificilmente teremos força para cumprir com o que foi firmado”.

Em 2007, a lei n° 11.445, conhecida como Lei do Saneamento, instituiu como diretrizes para a prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: o planejamento, a regulação e a fiscalização, a prestação de serviços com regras e demais atividades afins. Com isso, objetivou-se a universalidade e integralidade na prestação dos serviços de saneamento básico, assim como a interação desta com outras áreas, como recursos hídricos, saúde, meio ambiente e desenvolvimento urbano.

A partir desta Lei, fizeram-se necessários os Planos Municipais de Saneamento Básico, assim como as Políticas de Saneamento Básico, os quais são importantes instrumentos para o controle e o acompanhamento de políticas públicas que visem combater o saneamento básico precário. A partir de 2016, a existência dos planos municipais é obrigatória para os municípios que desejam receber recursos da União na área do saneamento. Em 2013, no Vale do Sinos, apenas 4 municípios possuíam plano municipal de saneamento básico e 4 possuíam políticas de saneamento básico. Campo Bom, Canoas e Dois Irmãos possuíam tanto PMSB quanto PSB, sendo os 3 únicos municípios da região que poderiam requerer recursos da União para investir na área do saneamento a partir de 2016.

Na região, conforme o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, 1.379 domicílios não tinham existência de sanitário, sendo 77,0% destes nos municípios de Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Além disso, dos domicílios que possuíam banheiro ou sanitário, 32.421, ou seja, 7,7% possuíam algum tipo de esgotamento sanitário diferente da rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica, tornando-se assim mais vulneráveis ao trato com o saneamento. Na região, 3,4% dos domicílios sem banheiro ou sanitário localizam-se na área rural, sendo que apenas 2% da população regional vive nesta área.

Outra faceta do saneamento dá-se quanto à forma de abastecimento de água. Conforme o Censo Demográfico, apenas 84,82% dos domicílios na região são abastecidos pela rede geral de distribuição. Este indicador é menor do que o do Rio Grande do Sul e do Brasil, que são 93,4% e 91,9%, respectivamente. Um dos questionamentos que cerca esta realidade é se esta população que não é atendida pela rede geral de distribuição tem acesso à água potável e tratada, dado o avanço dos poluentes, incluindo os agrotóxicos nas águas da região e do país.

A Lei Federal 12.305/2010 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS. Nesta lei, foi promulgado o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos - PMGIRS, através do artigo 18, que busca assegurar a realização deste plano municipal como fator condicionante para que os municípios acessem os recursos da união nesta área. Seis municípios da região não possuem este plano, conforme dados do Tribunal de Contas - TCE de 2010 a 2013. No entanto, Ednilson Viana pontua que o modelo ainda “é responsável pelo esgotamento rápido dos aterros sanitários e por contribuir para agravar os impactos negativos ao meio ambiente e à saúde pública pelo uso alargado de lixões e aterros controlados”.

Os resíduos sólidos costumeiramente são tratados como dejeto que não cabe ao cidadão manusear e tratar e por isso não é considerado de grande importância para os debates dos cidadãos sobre as políticas públicas. Segundo Raúl Néstor Alvarez, isto é resultado de uma construção social na qual o lixo é visto como uma relação de desapropriação “entre partes desiguais que permite a alguns descarregar seus passivos econômicos e ambientais sobre os outros, que compõem o conjunto coletivo social”.

A tabela a seguir apresenta os 8 municípios da região que possuem o Plano e algumas informações nele contidas, como o volume de resíduos e a cobertura da coleta.

Dos 8 munícipios do Vale do Sinos que possuem o PMGIRS, Sapucaia do Sul lidera no quesito de volume de resíduos domésticos por dia per capita, com 0,92 quilos. Já no caso das toneladas totais, o município de São Leopoldo passa a liderar, com 170. Já os municípios de Campo Bom, Nova Hartz e Portão estão entre os menores no volume de resíduos domésticos por dia per capita, com 0,44 quilos. No que tange ao total de toneladas, os mesmos municípios acima apresentaram os menores índices. Porém, dentre estes, Nova Hartz destacou-se com 8 toneladas por dia no total.

Ainda, cabe destacar que na área urbana só Nova Santa Rita não possui cobertura total de lixo, abrangendo apenas 87,5% do território. No que se refere à área rural, chama ainda mais atenção que, no ano de 2014, apenas 25% da área rural do munícipio tinha cobertura de coleta de lixo. Já em Sapiranga, esse percentual foi de 70%.

Com a objetivação de universalizar o saneamento básico, ainda estão previstos recursos da União para municípios, conforme pontuado. Cabe analisar o percentual de investimentos em saneamento para os 14 municípios do Vale do Sinos.

OS INVESTIMENTOS EM SANEAMENTO E O COMBATE ÀS DOENÇAS

Ao acessar os dados de investimentos dos municípios no Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul - TCE/RS, alguns apresentam os gastos na função saneamento e outros não. Em 2015, até o mês de outubro, do total das despesas orçamentárias liquidadas dos 11 municípios da região que apresentaram a função saneamento, 2% era investido nesta área. Em 2014, o resultado foi 1,76% e em 2013 foram 2,81%.

No entanto, os investimentos municipais em saneamento são em maior parte investimentos em curto prazo, visto que os montantes para investimentos em longo prazo requerem maior planejamento orçamentário por parte dos municípios, principalmente quando o investimento dá-se em relação ao esgoto.

Para a professora Ermínia Maricato, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – USP, a falta de prioridade dos governantes ao tema tem ligação com o sistema político: “No Brasil, temos de tirar os mercadores das decisões sobre o investimento do dinheiro. Isso tudo tem a ver com financiamento de campanha. Por isso, tem de acabar com esse financiamento empresarial, porque eles passaram a definir quais obras seriam feitas”.

O déficit em drenagem de águas fluviais acaba dando espaço para criação de mosquitos e o córrego fica tomado de lixos. Neste caso, é preciso recuperar os rios e córregos. Na opinião da professora, na realidade, não é o que acontece, utilizam veneno para afastar o mosquito dos locais. A questão do saneamento básico é fundamental para combater a malária, a febre-amarela, a dengue ea febre do zika e do chikungunya. Nesse caso, para Maricato, o problema do mosquito da dengue não se resolve apenas na conscientização da população para retirada da água parada.

Em entrevista ao IHU On-line, Rafael Volquid pontua que: “O investimento em esgoto é sensivelmente maior que o investimento necessário para garantir a qualidade da água: é preciso uma tubulação especial, as estações de tratamento são mais complexas para poder tratar o esgoto atendendo aos padrões estabelecidos pela legislação, etc. Estamos falando de milhões de reais para poder dobrar a capacidade de tratamento de esgoto do estado, são valores muito altos que terão de ser aplicados, mas pelo menos já há uma conscientização de todos os setores da sociedade, principalmente das administrações municipais e estadual.” Para o estudioso, há uma crescente reflexão da população em relação à necessidade do próprio tratamento da água.

O MEIO AMBIENTE EM DEBATE

O principal objetivo do Instituto Humanitas Unisinos - IHU é apontar novas questões e buscar respostas para os grandes desafios de nossa época, a partir da visão do humanismo social cristão, do debate cultural, tendo em perspectiva a sociedade do futuro. Com base no tema da Campanha Ecumênica da Fraternidade, o Instituto realiza duas atividades para o primeiro semestre de 2016:

O Ciclo de atividades “O cuidado de nossa casa comum”, em sua 13ª edição, propõe no período da Páscoa debater a crise ambiental, a ecologia, gestão ambiental e a teologia para o cuidado com o meio ambiente e sustentabilidade. A primeira atividade aconteceu no dia 10 de março e termina no dia 03 de maio. Confira aqui mais informações e a programação completa.

O 3º Ciclo de Estudos Metrópoles, Políticas Públicas e Tecnologias de Governo. Territórios, governamento da vida e o comum propõe debater os principais problemas que emergem nas metrópoles capazes de construir uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, ecologicamente sustentável, socialmente solidária e culturalmente plural. Os debates acontecem entre 30 de março e 08 de junho. Confira aqui mais informações e a programação completa.

Veja também a revista IHU On-Line, no. 481, cujo tema de capa é "O fracasso do saneamento e a emergência de doenças vetoriais". A edição está disponível, nesta página, nas versões Html, Pdf e 'versão para folhear'.

Por João Conceição e Marilene Maia

 

Em um espaço de urbanização e de vulnerabilidades sociais, o que uma praça, sendo um espaço público tem a oferecer? Pensar o impacto e a proteção social que uma praça pode gerar é necessário para possibilitar outros meios de acesso ao esporte e ao lazer, oportunizando outra inclusão social em um ambiente mais democrático, que promova a saúde e o bem-estar.

Ampliar a análise e o debate sobre as realidades do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre a partir das contribuições de acadêmicos e trabalhadores por meio de sistematizações de pesquisas e/ou experiências de intervenção é o objetivo do edital de Apresentação de trabalhos para publicação pelo ObservaSinos/Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Em 2015, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.

O trabalho “Apropriação do espaço público pela comunidade frente às políticas de lazer: o caso da Praça da Juventude de Novo Hamburgo, RS, Brasil”, realizado pelos pesquisadores Alison Trindade de Vargas, graduado em Educação Física Licenciatura e graduando em Educação Física Bacharelado pela Unisinos, Cláudio Augusto Silva Gutierrez, doutor em Ciências Sociais e Humanas pela Universidade de Deusto/Espanha, no programa Ócio e Potencial Humano e professor e pesquisador da Unisinos além de coordenador do curso de Bacharelado de Educação Física, e Fernando Edi Chaves, mestre em Ciências Sociais pela PUC/RS e graduado em Educação Física Licenciatura pela UFRGS, procura identificar se a Praça da Juventude em Novo Hamburgo tem sido ocupada de acordo com suas finalidades.

Eis o artigo.

O programa Praça da Juventude, criado pelo Governo Federal em 2007, é uma ação destinada a aumentar os espaços urbanos de convivência comunitária e oferecer um equipamento público e qualificado às comunidades com índices de vulnerabilidade social que possuem reduzido ou nenhum acesso a equipamentos públicos de esporte e lazer. Esse programa tem por objetivo “democratizar o acesso a equipamentos públicos de esporte e lazer, ampliando a oportunidade do desenvolvimento de práticas esportivas, atividades recreativas, educativas, culturais e sociais como instrumentos de inclusão social e de promoção da saúde” (BRASIL, 2010a, p. 03).

A Praça da Juventude é uma ação do Ministério do Esporte em parceria com o Ministério da Justiça que se realiza por intermédio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Essa ação é posta em prática e implementada pelos governos estaduais e municipais na medida em que são contemplados em editais e celebram convênios com o Ministério do Esporte. Cada Praça da Juventude custa, em média, R$ 1,7 milhão, sendo que o valor total das Praças pode ser acrescido de investimentos do próprio município. O investimento total nessa política, em 2010, foi superior a R$ 262 milhões (BRASIL, 2010b).

Nesse mesmo ano, foi conveniada pelo Ministério do Esporte a construção de 184 Praças da Juventude pelo país, sendo dez praças no estado do Rio Grande do Sul, nos municípios de Porto Alegre, Canoas, Esteio, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha, Guaíba, Alvorada, São Leopoldo e Alegrete (BRASIL, 2010c).

Desses convênios realizados no estado, constatamos, a partir de investigação exploratória, que estão implantadas as Praças da Juventude em cinco municípios, sendo eles: Cachoeirinha, Canoas, Esteio, Novo Hamburgo e Sapucaia do Sul.

Em que pese os investimentos públicos nessa política, certamente o tipo de apropriação feita pela comunidade vai influenciar nos benefícios que a praça pode oferecer. Ou seja, os objetivos dessa ação de Governo não dependem apenas da disponibilidade de recursos no orçamento da União, da iniciativa e capacidade de gestão das prefeituras, mas depende, fundamentalmente, da apropriação da comunidade em acordo com os objetivos dessa política pública. De nada adiantará todo o investimento e gestão dessa ação de governo se as comunidades não se apropriarem das Praças, ou se apropriarem em desacordo com sua finalidade.

Nesse sentido, será que a praça de Novo Hamburgo tem sido apropriada pela comunidade, ou estará ociosa? Como se dá essa apropriação: é em acordo com os objetivos dessa política pública? Existem projetos e animação na praça de modo a democratizar a oferta de práticas esportivas, atividades recreativas, educativas, culturais e sociais? A comunidade se apropria da praça como instrumento de promoção da saúde? A praça é apropriada democraticamente pela comunidade, sendo fator de inclusão social?

A partir desses questionamentos realizamos uma investigação com o objetivo de analisar se a apropriação da Praça da Juventude pela comunidade do Bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, corresponde aos objetivos dessa política pública: a democratização do acesso ao esporte e lazer, a inclusão social em um ambiente democrático e a promoção da saúde.

Os objetivos específicos foram: identificar se a Praça da Juventude tem sido utilizada pela comunidade ou se está ociosa; identificar se a apropriação pela comunidade contempla a democratização das culturas lúdicas por meio do acesso a projetos de esporte, atividades recreativas e sociais na praça; identificar se é realizada uma apropriação democrática e inclusiva da praça, tomando-se por dimensões de análise a gestão participativa, a intergeneracionalidade, a equidade de gênero e a inclusão de pessoas com deficiência; analisar se a comunidade se apropria da praça como fator de promoção da saúde.

Quanto à metodologia, a investigação de campo tomou a forma de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, com utilização da estratégia de estudo de caso. Para a coleta de informações foram utilizadas: análise de documentos oficiais e citados pelo Ministério como referências para essa política pública; observações diretas da interação entre a comunidade e o espaço da Praça da Juventude; e entrevistas semiestruturadas com usuários e gestores. Os resultados da investigação emergiram da triangulação entre as informações de campo e documentais, tendo por dimensões de análise os objetivos dessa política, a democratização do acesso ao esporte e ao lazer, inclusão social em um ambiente democrático e promoção da saúde.

Num primeiro momento verificamos que, de fato, a Praça da Juventude de Novo Hamburgo está instituída, localizada no Bairro Santo Afonso, localidade arrolada como Território de Paz. Portanto, o fato de esse bairro, onde se localiza a Praça, ter sido incluído como Território de Paz significa que essa é uma região reconhecida pelo Governo Estadual como de vulnerabilidade social e violência. Sendo assim, é um local que atende aos objetivos do Programa Praça da Juventude, porque nesse local se verifica um escasso acesso ao direito social do esporte e do lazer.

Os resultados da investigação evidenciaram que a Praça da Juventude tem sido apropriada pela comunidade em acordo com os seus objetivos. Ao triangular as entrevistas com as observações realizadas, pudemos observar a forte frequência da comunidade às atividades que animam esse equipamento público que oferece práticas esportivas, atividades recreativas, educativas, culturais e sociais, atingindo assim a democratização do acesso ao esporte e ao lazer. Também observamos que a Praça da Juventude de Novo Hamburgo, ao oferecer atividades diversificadas, também possibilita a inclusão de gênero, pois são homens e mulheres usufruindo das atividades ofertadas e dos espaços da Praça. Da mesma forma, observou-se, quanto à intergeneracionalidade, que as atividades oferecidas contemplam a participação de crianças, jovens e adultos.

Para atingir os objetivos dessa política, alguns fatores foram determinantes: a articulação de esforços dos poderes Federal e Municipal na concretização dessa ação; o amplo leque de atividades ofertadas com orientação, o estímulo ao lazer ativo, a qualidade dos equipamentos, a gratuidade e a segurança; assim como a participação da comunidade, tanto na utilização quanto na gestão da Praça por meio da Associação de Amigos da Praça, criada pela comunidade. A fala a seguir exemplifica a percepção da comunidade sobre a Praça:

[Fatores importantes na apropriação pela comunidade são:] os projetos, ter os profissionais para auxiliar. Ter projetos como judô que muitas crianças não teriam acesso, e aqui na Praça é de graça, noutro lugar teria que gastar com mensalidade e quimono, e aqui na Praça tem toda essa estrutura. No meu tempo tinha que fazer as marcações para jogar uma bola, hoje eles têm tudo, toda estrutura para jogar. Tem as aulas que motivam, até por estarmos num tempo que está mudando essa mentalidade sobre o esporte, onde as pessoas estão buscando fazer um esporte, estão se reeducando para fazer um exercício, para fazer uma alimentação correta (Diretor de Esporte da Associação Amigos da Praça, informação oral).

 

 

 

Por outro lado, dois aspectos devem ser mais bem desenvolvidos: primeiramente, há ausência de uma maior participação da juventude, principalmente em atividades dirigidas. A juventude parece ocupar espaços/tempos marginais na Praça da Juventude, aqueles não contemplados por projetos ou atividades dirigidas. Os espaços e atividades centrais da praça parecem se relacionar a um padrão normatizado e disciplinado de comportamento, que agrada a adultos e crianças, mas que não dá espaço para as necessidades de exercício de autonomia da juventude. Em segundo lugar, pessoas com deficiência ou os usuários do Centro de Atenção Psicossocial existente no bairro não se apropriam desse espaço. A comunidade acompanha calada a invisibilidade e não presença desses grupos. Parece haver um segundo nível de exclusão, para determinados grupos, dentro de uma comunidade que luta por inclusão.

Esperamos, com essa investigação, dar uma contribuição às pesquisas e projetos comprometidos com a democratização do esporte e do lazer. Ao mesmo tempo, a investigação permitirá dar um retorno à comunidade da Praça da Juventude do bairro Santo Afonso, com a finalidade de qualificar essa política pública.

Acreditamos que políticas de esporte e lazer como essa promovem a inclusão social, o enfrentamento das desigualdades e o fortalecimento da cidadania, garantindo o exercício de direitos e a construção de uma sociedade mais justa.

Referências


BRASIL (2010a). Manual de Implantação das Praças da Juventude. Brasília, DF: Ministério do Esporte. Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer. Disponível em: <.">http://www.esporte.gov.br/arquivos/publicacoes/manualImplantacaoPraca.pdf>. Acessado em: 17 abr. 2015.

BRASIL (2010b). Praça da Juventude. Brasília, DF: Ministério do Esporte. Secretaria Executiva. Disponível em: .">http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/secretaria-executiva/praca-da-juventude/sobre>. Acessado em: 17 abr. 2015.

BRASIL (2010c). Investimento dos ministérios do Esporte e da Justiça garante a construção de dez Praças da Juventude. Brasília, DF: Ministério do Esporte. Secretaria Executiva. Disponível em: <.">http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/secretaria-executiva/praca-da-juventude/noticias/122-noticias-praca-da-juventude/38582-investimento-dos-ministerios-do-esporte-e-da-justica-garante-a-construcao-de-dez-pracas-da-juventude>. Acessado em: 17 abr. 2015.

 

Por Alison Vargas, Cláudio Gutierrez, Fernando Chaves

No mês do Dia Internacional da Mulher, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou dados públicos para traçar um quadro sobre a realidade das mulheres na região do Vale do Sinos.

Há muitos anos a luta por mais direitos para as mulheres tem marcado a história. Desde movimentos que exigiam o direito ao voto para a população feminina, até mesmo organizações que lutavam contra a jornada dupla de trabalho e a exploração do corpo feminino. O próprio oito de março, Dia Internacional da Mulher, é uma homenagem às operárias que morreram carbonizadas em uma fábrica têxtil no EUA, em 1911, um fato simbólico que demonstrou a crueldade que as mulheres têm sofrido ao longo do tempo. Por isso a data se coloca como um dia de afirmação da luta por mais direitos femininos.

Foto: www.artsonline.monash.edu.au

 

Até os dias de hoje já tivemos muitos avanços, entretanto ainda são muitas as desigualdades vividas pelas mulheres. A professora Marcia Blasi [1] afirma que ainda temos muito a avançar: “O machismo impera no Brasil, no Rio Grande do Sul e nos municípios. Homens e mulheres não são iguais. Isso não é uma teoria, é uma realidade”.

Realidade que se revela em números e estatísticas. E dessa forma demonstram que ainda se tem muito a avançar. Para a professora é necessário que se tornem efetivas as políticas públicas. “É necessário que se torne bem implementada para termos grandes números de atendimentos. Faltam estruturas como casa de passagem para mulheres em situação de violência”, relata.

Seguem apresentados alguns dados sistematizados sobre as realidades vividas pelas mulheres no Vale do Sinos.

A morte de mulheres na região

Em 2015 foi lançado o Mapa da Violência: Homicídio de Mulheres no Brasil com a sistematização de dados sobre os homicídios femininos ocorridos no país. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, o Brasil está em 5º lugar na taxa de homicídios de mulheres. Com uma taxa de 4,8 a cada 100 mil mulheres. O país tem 48 vezes mais homicídios femininos que o Reino Unido que está em 75ª posição no ranking com 83 países.

Já o Rio Grande do Sul apresenta uma taxa de 3,9 entre os anos de 2009 e 2013. No ranking apresentado pelo Mapa da Violência entre os municípios com a taxa de homicídios femininos, apenas Tramandaí aparece entre os 100 primeiros, na 50ª posição com a taxa média de 12,8. O segundo município do RS a aparecer na lista é Capão da Canoa em 156ª posição, com taxa média de 9,1.

A tabela abaixo apresenta a sistematização dos indicadores de homicídios femininos nos 14 municípios da região do Vale dos Sinos. O primeiro município do Vale do Sinos a aparecer no ranking é o de Nova Santa Rita, na 185ª posição e como apresenta a tabela 01 com uma taxa média de 8,7.

O município com o maior índice de violência, conforme a média apresentada na tabela é Nova Santa Rita. Mas, deve-se considerar que o município tem uma população média de 11 mil habitantes. Em segundo lugar, com a maior taxa de homicídios femininos está o município de São Leopoldo, com uma taxa média de 6,8, tendo sido registrado onze mortes apenas no ano de 2012.

Observando mais a tabela 01 podemos ver que os anos de 2009 e 2012 tiveram um número maior de ocorrências. Canoas, por exemplo, no ano 2009 apresenta um número de 11 homicídios e, no ano de 2013, o número é de 13 ocorrências. Nesse sentido, 2009 e 2012 são os anos com os números mais altos do município. Esse fenômeno se repete no município de Novo Hamburgo, onde os números totais mais altos do Vale do Sinos estão nos anos de 2009 e 2012.

De maneira geral, podemos notar que o ano de 2012 foi marcado por um alto índice de mortes de mulheres na região do Vale do Sinos. Cinco municípios tiveram um número maior de ocorrência no ano de 2012: São LeopoldoCanoasCampo BomPortãoSapiranga. Dois apresentaram maiores números no ano de 2009: Nova Santa Rita e Novo Hamburgo. Dois apresentaram maiores números no ano de 2010: Esteio e Nova Hartz. Um apresentou maior número em 2011: Sapucaia do Sul. Um apresentou maior número no ano de 2013: Campo Bom. Esses números foram apresentados em um panorama geral, sem considerar o número absoluto de habitantes.

A Lei Maria da Penha no Vale do Sinos

Hoje no Brasil existem duas leis que são importantes para compor as políticas públicas de enfrentamento às violências contra as mulheres. Elas são:

Lei Maria da Penha, sancionada no ano de 2006, que prevê os crimes de violência contra as mulheres em ambiente doméstico e familiar;

E a Lei do Femicídio, sancionada no ano passado e que prevê pena mais ampla para crimes contra a vida de mulheres por condições do sexo feminino.

Entender a complexidade da realidade das mulheres hoje na sociedade é um grande desafio. A violência física é só mais uma das formas que exclui e ceifa com a vida da população feminina. Por muitas vezes facilmente identificamos quando o uso de força física é empregado contra uma mulher, resultando em uma violência ou mesmo em morte. Porém, deve-se atentar de que a violência pode ser muito mais silenciosa do que parece. E quando falamos de violência doméstica se torna muito mais complicado de observarmos isso.

Uma dificuldade encontrada em relação ao combate da violência doméstica é a ideia que a vida familiar é privada e diz somente respeito aos membros daquele ambiente. Assim, muitas vezes as vítimas não denunciam seus problemas no ambiente doméstico, pois acham que o Estado não deve ter responsabilidade com isso. A professora Marcia aponta que esta é uma tendência. “As mulheres costumam pensar que as soluções são individuais e devem ser resolvidas dessa maneira. Além de terem medo de fazer as denúncias”, afirma.

É importante que se atente para todos os tipos de violências que podem ser cometidos contra as mulheres no ambiente doméstico. A Lei Maria da Penha apresenta quatro tipos de violência, além da violência física. Entre elas estão enquadradas a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e a violência moral que afetam e são capazes de prejudicar a vida das vítimas tanto quanto a violência física.

A partir desse entendimento, sobre as tipificações de violência previstas na Lei Maria da Penha, apresentamos a tabela 02. O ObservaSinos acessou os dados da Secretaria de Segurança Pública do estado do Rio Grande do Sul e sistematizou as informações a partir das denúncias pela Lei Maria da Penha nos 14 municípios da região do Vale do Sinos.

Na tabela 02 são apresentados dados dos anos de 2013, 2014 e 2015. Foram somadas todas as notificações enquadradas na Lei Maria da Penha e comparada às variações durante esses anos. É importante dizer que os dados de 2015 foram coletados somente até o mês de outubro.

Podemos analisar que ao longo desses três anos foram notificados no total 25.485 casos enquadrados em ameaça, lesão corporal, estupro, femicídio tentado e femicídio consumado. Entre os municípios com mais notificações estão Canoas, com 6.316 no total, Novo Hamburgo, com 4.605 no total e São Leopoldo, com 4.586 no total. Vale ressaltar que esses são os municípios mais populosos da região do Vale do Sinos.

Pode-se dizer que houve uma diminuição no Vale do Sinos durante esses anos. Mas, novamente é preciso alertar que o ano de 2015 é composto por dados somente até o mês de outubro. A próxima tabela, abaixo, apresenta outra variação, agora entre os anos de 2013 e 2014 e com as notificações por tipificação.

A tabela 03 apresenta a variação do número durante os anos de 2013 e 2014, com as tipificações da Lei Maria da Penha. Podemos observar um aumento de 90% de registros de lesão corporal no município de Araricá.

Outro município que teve variação nas notificações de lesão corporal para mais no Vale do Sinos foi Nova Santa Rita, apresentando um número de 35%. Entre as variações de lesão corporal apenas cinco municípios tiveram variações para mais. Eles são: Araricá, Campo BomCanoas, Nova Santa Rita e Portão.

Se observarmos as notificações de ameaça, lesão corporal e estupro, no geral do Vale do Sinos, diminuíram. Porém, as de femicídio consumado e tentado aumentaram. O número de femicídio consumado aumentou em 66%. Ao mesmo tempo em que no Vale do Sinos, as notificações somadas tiveram uma diminuição de 1,94%.

Foram também reunidos e analisados dados de ano a ano. A tabela 04 apresenta dados do ano de 2015.

A tabela 04 nos apresenta os números de notificações de violência contra as mulheres durante o período do ano de 2015 até o mês de outubro. São tipificadas as notificações em ameaça, lesão corporal, estupro, femicídio consumado e femicídio tentado. Olhando a tabela 04 o município com maior índice de notificações de ameaça foi Canoas. Deve-se considerar que Canoas é o município mais populoso da região do Vale do Sinos, porém sem desconsiderar que esse número é representativo da situação das mulheres na região.

Os municípios que apresentam números maiores nas notificações de ameaça, depois de Canoas, são Novo Hamburgo e São Leopoldo, com o número de 697 e 666 respectivamente. É importante apontar que Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo são os municípios mais populosos em número de mulheres. Isso gera mais probabilidade de ocorrência de violência contra a mulher nesses municípios. O município de Araricá tem o menor número de população média de mulheres, sendo elas 2.408, enquanto o índice de femicídio consumado é igual ao de municípios mais populosos, como apresenta a tabela 04 acima.

Pode-se dizer também que as maiores notificações de violência com a mulher se encontram enquadradas em ameaça e lesão corporal. Ao todo a região do Vale do Sinos teve um total de 4.094 casos notificados de ameaça e 2.311 casos de lesão corporal. Tendo os maiores números de casos concentrados, como já foi apontado antes, nos municípios de Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo.

Dos 14 municípios do Vale do Sinos sete não apresentaram notificações de femicídio consumado no ano de 2015, até outubro do mesmo ano. Isso apresenta um número relevante considerando que metade dos municípios que compõe a região não apresentaram notificações. O total de ocorrências de femicídios consumados no Vale do Sinos no ano de 2015 foram sete. Número razoável, mas, que deve alertar para as questões de violência de gênero.

Em 2014, como veremos a seguir na tabela 05, o número femicídios consumados foi de 10 ocorrências, portanto os casos foram concentrados em cinco municípios.

Podemos ver que na tabela 05 que aconteceram dez femicídios consumados no ano de 2014. Três casos aconteceram em Novo Hamburgo, outros três em Sapucaia do Sul. Dois aconteceram em Canoas, um em São Leopoldo e um em Sapiranga.

Também é possível perceber uma grande variação no número de notificações enquadradas na Lei Maria da Penha em relação à tabela 04 que apresenta dados do ano de 2015. Porém, é necessário apontar que os dados da primeira tabela foram extraídos somente até o mês de outubro, o que pode explicar a diminuição dos casos, pois, o ano ainda não tinha sido encerrado e por isso as notificações de novembro e dezembro não entraram no banco de dados.

Dessa forma, em comparativo com a tabela 06, que segue a seguir, houve mais notificações no ano de 2013. Porém, no ano de 2014 houve mais femicídios consumados. Como podemos ver, a tabela 06 apresenta um número total de seis femicídios ao longo do ano de 2013, com centralidade no município de São Leopoldo, onde foram registrados três casos.

No ano de 2013 foram registradas 9.573 notificações enquadradas nos crimes previstos pela Lei Maria da Penha. Em 2014, esse número foi de 9.387. Observamos uma tendência a diminuir os registros.

Apesar dessa tendência de decréscimo, visualizamos que houve um aumento nas notificações de femicídio tentado ao longo desses três anos. Apesar de no ano de 2015 termos somente dados até outubro, esse foi o ano com maior número de registro, 49 notificações, enquanto que em 2013 foram 33 e 2014 foram 36.

Outras observações que podem ser feitas são sobre a questão é de que os municípios de Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo aparecem com os maiores números. Isso se dá bastante pela questão de serem municípios com grande população.

Aborto: direito a qual vida?

A questão da interrupção da gravidez é rodeada por muitos tabus. Desde seu debate ético sobre o valor da vida até mesmo sobre as questões que discutem o direito ao próprio corpo. Independente disso, esta é uma realidade que envolve a vida e a morte de mulheres na tentativa de abortos clandestinos. Em 2014 um caso que gerou grande repercussão midiática sobre o tema, foi a morte da jovem Jandira dos Santos. A jovem foi até uma clínica clandestina para realizar o procedimento e no dia seguinte foi encontrada morta.

Apesar dos riscos que estão em volta desse procedimento feito de forma clandestina, além do fato do aborto ser proibido por lei, segundo o artigo 124 do Código Penal, de acordo com o IBGE, estima-se que em 2013, 1 milhão de mulheres, entre 18 e 49 anos, interromperam a gravidez propositalmente. Dentre essas, 33% possuía ensino fundamental incompleto e 33% ensino médio incompleto. Apenas 10% dessas mulheres possuíam ensino superior completo.

Porém, ainda existe muita dificuldade na computação de dados sobre aborto. Um motivo é que os dados são construídos em cima do número de mulheres que se internaram em hospitais depois de fazer o procedimento de aborto. Nesse sentido, há mulheres que usam medicações clandestinas que provocam abortos ”espontâneos” ou mesmo as que não têm complicações após o procedimento e por isso não procuram uma unidade de saúde.

Em questões de dados mais específicos para regiões, à pesquisa feita pelo IBGE apresenta somente os dados para abortos provocados dividido em região norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste. Para a região sul, como é possível ver abaixo, o número de abortos foi de 74 mil ou de 6,9%. Abortos inseguros é a 5ª maior causa de mortes maternas no Brasil, segundo DataSUS, causando a morte de uma mulher a cada 2,6 dias em média.

Jandira era mãe de outras duas crianças quando decidiu interromper a sua terceira gestação. SegundoPesquisa Nacional do Aborto, 81% das mulheres que interrompem a gravidez já são mães. Falar sobre aborto também nos leva a pensar na situação da maternidade. Em 2015, o ObservaSinos reuniu dados sobre a situação de vulnerabilidade das mães na região do Vale do Sinos.

No ano de 2010 o percentual de meninas de 10 a 17 anos que já tinham filho era de 2,16. Além disso, outro dado preocupante era o de mães chefes de família sem ensino
fundamental completo e com filho menor. O gráfico, que pode ser visto na análise “Mães e filhos estão vulneráveis no Vale do Sinos”, aponta que houve um aumento. Em 2000 o percentual era de 13,37 enquanto que no ano de 2010 subiu para 19,62.

É dessa forma que comemoramos o dia 8 de março e o mês da Mulher. Apontando dados. “Existiram muitos avanços para as mulheres, mas isso não significa que todas foram beneficiadas, há muito ainda a fazer”, afirma a professora Marcia Blasi. Que as aproximações com a realidade sejam inspirações para as mudanças.

[1] Marcia é professora na Faculdades EST - Escola Superior de Teologia. Ela também é coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Gênero da EST e professora de Teologia Feminista. Também colabora com debates e palestras sobre o assunto em diversos espaços. O Núcleo de Pesquisa de Gênero da Faculdades EST estuda as relações de gênero e como elas afetam a construção social, também no campo da teologia.

Por: Carolina Lima e Marilene Maia