Janeiro de 2016 é o melhor mês nos últimos 10 meses quanto ao aumento de postos de emprego no Vale do Sinos

  • Quarta, 30 de Março de 2016

Após 9 meses de queda consecutiva, postos de empregos formais na região dos Sinos voltam a crescer em janeiro de 2016, inclusive com um aumento maior que o registrado em janeiro de 2015. A Indústria de transformação contribuiu para este quadro, com destaque para o subsetor da indústria de calçados.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED para sistematizar os dados de movimentação do mercado de trabalho formal em janeiro de 2016 no Vale do Sinos.

O subsetor da indústria de calçados foi o de maior destaque quanto à geração de postos de emprego na região no mês de janeiro. De acordo com Marcos Tadeu Lélis, doutor em Economia do Desenvolvimento pela UFRGS, o subsetor da indústria de calçados se favoreceu da desvalorização do câmbio, mas houve também uma concentração da produção nas grandes empresas da indústria de calçados na região, a fim de aumentar a produção para o mercado externo, devido à diminuição da demanda no mercado interno, fato verificado a partir da diminuição da renda interna.

A tabela 01 apresenta a movimentação no mercado formal de trabalho no Vale do Sinos em janeiro de 2016. Nesse mês, houve acréscimo de 941 postos de emprego, sendo quase metade destes em Novo Hamburgo, onde foram criados 446 postos.

A região dos Sinos voltou a apresentar saldo positivo depois de 9 meses consecutivos em queda. O resultado de janeiro de 2016 foi, inclusive, melhor que o registrado em janeiro de 2015. Além de Novo Hamburgo, outros 10 municípios registraram aumento de postos de emprego. Em Sapiranga, o acréscimo foi de 227, registrando aumento de 1% em apenas um mês no número de postos de emprego no município. Em 2015, o município havia reduzido os postos de emprego em 2,86%.

Para o Vale do Sinos, o aumento percentual em janeiro de 2016 foi de 0,26%. No mesmo mês do ano anterior, o aumento foi de 0,16%. Tal acréscimo de postos de emprego pode surpreender devido às crises econômica e política, mas poucos setores apresentaram aumento de postos, sendo que a indústria de transformação apresentou o aumento mais representativo.

A tabela 02 apresenta a movimentação no mercado de trabalho formal no Vale do Sinos em janeiro de 2016 no setor da indústria de transformação. A definição dos setores econômicos é dada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Dos 14 municípios da região, houve aumento de postos de emprego em 12 no setor da indústria de transformação. Canoas e Sapucaia do Sul foram os municípios em que houve queda de postos de emprego neste setor econômico.

Em muitos destes municípios, o aumento de postos de emprego na indústria de transformação ocorreu devido ao aumento de empregos no subsetor da indústria de calçados, que registrou elevação de 767 postos; neste subsetor, não houve redução de postos em nenhum município da região.

A tabela 03 apresenta a movimentação no subsetor da indústria de calçados na região. Historicamente esta indústria possui grande representatividade tanto quanto ao percentual de postos de emprego quanto ao valor agregado gerado economicamente.

A indústria de calçados possui 10,20% do total de trabalhadores formais da região, sendo que em alguns municípios como em Sapiranga essa participação de trabalhadores chega a 44,42%. Em Nova Hartz a participação é ainda maior, com 65,21% dos vínculos localizados neste subsetor ao final do ano de 2015.

O subsetor da indústria de calçados se favoreceu da desvalorização do câmbio

 

 

Conforme Marcos, há expectativa de que em 2016 haja um crescimento do nível de exportações da indústria de transformação a partir da recuperação econômica deste setor via setor externo, e não necessariamente da produção, dada a reestruturação das indústrias locais.

No entanto, esta reestruturação deve concentrar o número de empresas na indústria de calçados, visto que há muitas empresas pequenas na região que não têm a mesma agilidade para aumentar o nível de exportação. Isso porque, dada a crise da demanda interna, as empresas necessitam reavaliar suas estruturas para tornarem-se empresas de exportação ao invés de focarem no mercado interno.

Mesmo que haja recuperação das exportações desta indústria, o nível de empregos não deve ser tão alterado já que o nível de produção deve apresentar retração, ao menos nos próximos meses.
Os municípios com maior participação da indústria de calçados na sua economia também estiveram entre os que mais aumentaram percentualmente postos de emprego neste mês. Exemplo disso são os municípios de Araricá, Campo Bom e Sapiranga.

Araricá obteve a maior variação percentual de postos de emprego, 4,41%, após aumento de 26 postos no município no setor da indústria de calçados. Do total de 1.509 vínculos ativos ao final de janeiro de 2016, 616 eram do setor da indústria de calçados.

 

Há uma tendência à saída da indústria de calçados da região dos Sinos

Apesar do aumento de unidades e vínculos empregatícios nos municípios da região norte1 do Vale do Sinos, há uma tendência a saída da indústria de calçados da região dos Sinos. Nos últimos anos, os municípios mais ao sul2 da região como Canoas, Nova Santa Rita, Esteio e Sapucaia do Sul, que no início da década de 2000 ainda detinham indústria calçadista reduziram-na a ponto de não haver mais vínculos empregatícios neste subsetor em alguns destes municípios. A tabela 03 já verifica que não houve movimentação neste setor em três destes municípios no mês de janeiro.

Marcos aponta, também, que há uma migração interna no estado em que a indústria de calçados procura reduzir custos e assim migra do interior da Região Metropolitana de Porto Alegre para áreas próximas, que não possuem custos da terra e do trabalho tão elevados, como para a Região do Paranhana, região localizada ao norte da região dos Sinos.

O aumento de postos de emprego nesta indústria revela um debate acerca do modelo econômico vigente na região, em que setores industriais de baixa tecnologia, como é caracterizada a indústria de calçados, apresentam aumento de participação em número de postos de emprego e, também, em termos econômicos.

[1] Não foi usada uma regionalização oficial em relação aos municípios da região norte do Vale do Sinos. No entanto, para efeito de análise compreende-se que esta subregião é composta pelos oito municípios de Araricá, Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Ivoti, Nova Hartz. Novo Hamburgo e Sapiranga.

[2] Não foi usada uma regionalização oficial em relação aos municípios da região sul do Vale do Sinos. No entanto, para efeito de análise compreende-se que esta subregião é composta pelos seis municípios de Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Portão, São Leopoldo e Sapucaia do Sul.

 Por Marilene Maia e Matheus Nienow