Igrejas e espaço público. Artigo de Fulvio Ferrario

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23 Abril 2020

"Na extrema emergência, aqueles que têm a responsabilidade de decidir, tomam decisões, e não são as Igrejas: essas últimas se adaptam. Se o fizerem da maneira certa, podem transformar inclusive essa simples lealdade civil em um testemunho".

A opinião é de Fulvio Ferrario, teólogo italiano e decano da Faculdade de Teologia Valdense de Roma, em artigo publicado na revista Confronti, de abril de 2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Como os "pastores de almas" podem estar próximos de suas comunidades em um momento tão particular? As várias igrejas respondem de maneira diferente a uma necessidade comum, revelando como entendem o espaço público.

Parecia, a princípio, que a reação do mundo cristão (na Itália, essencialmente católico) à emergência de saúde fosse rápida e compacta: igrejas fechadas, espaço para telemática e flexível criatividade nas situações que a exigem.

Mas as dinâmicas do encontro pessoal não são simplesmente substituíveis por aquelas eletrônicas e isso logo ficou evidente: é justamente a emergência que requer adaptação. Também é importante que nosso povo, notoriamente composto de santos, heróis, poetas e navegadores, mas ocasionalmente também de treinadores de futebol, economistas e climatologistas não se transformasse em um povo de virologistas, no qual todo mundo dá sua opinião. Na extrema emergência, aqueles que têm a responsabilidade de decidir, tomam decisões, e não são as Igrejas: essas últimas se adaptam. Se o fizerem da maneira certa, podem transformar inclusive essa simples lealdade civil em um testemunho.

Em 13 de março, no entanto, o pontífice romano sentiu que tinha que notificar o país de que as "medidas drásticas nem sempre são boas". O contrário, de fato, seria absurdo, nenhuma medida é "sempre boa". Se, no entanto, o oposto do que afirmo é absurdo, há uma boa chance de que o que digo seja muito genérico. Na situação dada, é necessário estabelecer quando uma medida, drástica ou não, é boa e quando não é, mas não é uma questão de .

No entanto, ele estava se referindo, em primeiro lugar, aos "pastores", que não deveriam imitar Dom Abbondio, mas ficar perto de seu próprio povo. Mais uma vez: só podemos concordar com isso, mas a questão pastoral é como estar perto das pessoas em um momento bastante particular. A resposta do Vicariato de Roma foi imediata: vamos abrir as igrejas para que nelas as pessoas possam sentir a presença do Senhor. O próprio Papa, no domingo 15 de março, foi a S. Maria Maggiore para “fazer uma oração à Virgem, Salus Populi Romani, cujo ícone é mantido lá" e depois em S. Marcello al Corso, onde existe um "crucifixo milagroso" que em 1522 foi levado em procissão para invocar o fim da peste (as expressões entre aspas são retomadas da declaração da Sala de imprensa do Vaticano).

Do ponto de vista de um observador teologicamente e ecumenicamente interessado, eu gostaria de fazer três observações.

As igrejas, todas elas, são unânimes em perceber na oração a primeira, fundamental reação especificamente cristã à crise. Certamente não podem faltar a solidariedade ativa, a responsabilidade e a generosidade financeira: mas o que só a Igreja pode fazer é orar.

Foto: Vatican Media

Foto: Il Sismografo

Parte da opinião pública reage sentindo incômodo ou talvez escândalo e é normal que seja assim. Cristãos e cristãos acreditam em Deus e isso significa, acima de tudo, que eles oram. É interessante notar que o catolicismo romano, no momento da crise e em seu mais alto nível de autoridade e representatividade, concentra-se significativamente nas formas de devoção popular: na igreja aberta se encontra um espaço sagrado onde encontrar o Santíssimo Sacramento; depois a Virgem, depois aquele crucifixo em particular.

Por outro lado, uma sensibilidade evangélica experimenta, quase com surpresa, que a concentração na palavra de Deus não é apenas uma bandeira confessional, mas efetivamente molda uma sensibilidade. Não é que a pessoa protestante não perceba o caráter asséptico (precisamente!) e limitante da comunicação litúrgica em formato eletrônico, mas aceita serenamente essa limitação. Acredito que seria um erro considerar que o catolicismo é mais "corpóreo", enquanto o protestantismo seria "etéreo". Somos todos "corpóreos" e "corpóreas", mas entendemos de maneira significativamente diferente a "corporeidade" da palavra de Deus.

Por fim, a relação com a autoridade civil.

Para a Igreja evangélica, o momento requer a máxima solidariedade com aquele que lidera o país; nessa perspectiva, a pérola da sabedoria papal de 13 de março parece, no mínimo, não necessária.

Do ponto de vista católico, o pastor dos pastores tem o dever de chamar os seus, mas também os outros, para o fato de que os museus podem fechar, mas as igrejas não, porque irradiam a presença de Deus.

Duas maneiras diferentes de entender o testemunho na esfera pública.

 

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