“As igrejas não devem ser fechadas.” Entrevista com Enzo Bianchi

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17 Março 2020

Para o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, “não é o momento de milagreiros ou de procissões para curar o vírus, ou coisas desse tipo. Não derrotamos a pandemia com a fé”.

Entretanto, afirma, “os sacramentos são coisas decisivas e não supérfluas para nós, cristãos”.

A entrevista é de Carlo Tecce, publicada por Il Fatto Quotidiano, 15-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Igrejas abertas ou fechadas?

Entendo a pergunta, que diz respeito a milhões de cidadãos angustiados pela pandemia, mas preferiria que a questão não fosse feita nesses termos e fosse resolvida com mais discernimento.

Neste momento, as igrejas estão semifechadas, ou semiabertas, se o senhor preferir.

Como cristão, eu não tenho dúvidas: igrejas abertas, mas com extremo juízo e com as precauções sanitárias prescritas, porque as igrejas não estão isentas das disposições governamentais. Digo aos pastores que se recordam da nossa função essencial: deve-se garantir às pessoas os lugares para rezar, os momentos para percorrer outros caminhos de consolação e de esperança, se a fé assim lhes pedir.

Na quinta-feira passada, a Conferência Episcopal Italiana (CEI) sugeriu – obviamente não impôs – o fechamento das igrejas aos 260 bispos das 260 dioceses, e alguns bispos logo se adequaram à solicitação.

Pareceu-me logo uma medida excessiva, pouco meditada. Havia a exigência de dar um sinal de disciplina e de apoio ao governo, mas reiterando o papel primário da Igreja: fazer com que a sua presença seja sentida lá onde estão os enfermos, os idosos, os últimos.

Uma intervenção do Papa Francisco, na manhã de sexta-feira, forçou a CEI a desmentir a si mesma, e os átrios das paróquias foram reabertos.

Eu esperava um sinal de Francisco. Interrogava-me: estamos realmente certos de que, barrando a entrada na igreja e cessando a Eucaristia, estamos testemunhando a obediência ao Evangelho, que nos pede um amor concreto pelo próximo? Não, era um erro. Bem ao contrário da proximidade ao próximo: o próximo morreria. Felizmente, o papa falou e interrompeu uma grave sonolência espiritual.

Agora, os sacerdotes, por indicação da CEI, podem acolher os fiéis entre os bancos e levar a Eucaristia a quem sofre, a quem está sozinho. Não é perigoso para um sacerdote se aproxime de um doente?

Esse é um problema muito sério, e a CEI não pode deixar liberdade de escolha e responsabilidade demais aos padres. Ela tem a tarefa de fornecer diretrizes precisas. É preciso estar atento e encontrar soluções adequadas para evitar contágios. Por exemplo, usar máscaras e luvas esterilizadas para levar a comunhão a quem a pedir.

Porém, as normas proíbem contatos externos e visitas em domicílio. Só é possível sair por razões necessárias, como para ir ao trabalho ou para comprar comida.

Para mim, foi difícil entender por que o governo cancelou as celebrações litúrgicas e os funerais, enquanto os restaurantes ainda estavam inacreditavelmente lotados. Essa emergência é uma novidade que fez com que se perdesse o justo equilíbrio e desaparecesse o discernimento. Isso ocorreu com os bispos. Eu certamente não culpo as autoridades civis. Nutrir o corpo com os alimentos comprados nos supermercados é necessário, mas, para os cristãos, também é necessário nutrir a alma com os sacramentos.

Quer seja a gripe espanhola, a cólera ou a peste, desde sempre a Igreja sempre entrou em conflito com a ciência e as regras, ou se rebela. Qual é o outro risco do vírus Covid-19?

Simples: a fraqueza da fé. Não é o momento de milagreiros ou de procissões para curar o vírus, ou coisas desse tipo. Não derrotamos a pandemia com a fé, é claro, mas os sacramentos são coisas decisivas e não supérfluas para nós, cristãos. Eles têm um significado profundo que deve ser buscado sem atentar contra a saúde pública. O Estado deve entender que há exigências essenciais para todos, mas, para os católicos, também é essencial nutrir-se do corpo de Cristo.

O que o governo pode fazer?

A Constituição italiana sancionou que o Estado e a Igreja são, cada um por sua própria ordem, independentes e soberanos. No entanto, o Estado tem o dever de explicar às comunidades religiosas, de qualquer religião, como se comportar diante de uma pandemia, deixando ao discernimento das comunidades religiosas o que é necessário para a vida espiritual dos fiéis.

 

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