Adolescentes e fé

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17 Mai 2019

Eles parecem incapturáveis. Os adolescentes (entre 12 e 18 anos) escapam dos cuidados educacionais escolares, assim como dos eclesiais. Não é difícil encontrar genitores exasperados pelos seus desafios. No entanto, é uma época decisiva em que florescem as possibilidades, também em termos de fé. O número 12 (2018) da Documents episcopat, revista publicada pela secretaria da Conferência dos Bispos da França, indica, em uma dezena de breves artigos, os maiores desafios dessa idade: educativos, missionários e eclesiais.

A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 12-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Arrastados pelas tumultuosas mudanças do corpo, da mente e da consciência, os adolescentes são obrigados a responder à perene pergunta: “Quem sou eu?”, em um contexto em que a norma social parece ter desaparecido, enquanto se multiplicam as injunções (roupas, linguagens, música etc.) e se torna opressivo o imperativo da autonomia.

Reconhecer o bem, aprender a escolher, viver em relação: esses são os maiores desafios educacionais.

Digitais e insubmissos

O ambiente digital e o jogo sexual parecem ser as características mais intrigantes da nova geração. Os “nativos digitais” (definição, aliás, bastante controversa) vivem o ambiente digital como algo obrigatório. As suas capacidades são fruto da aprendizagem na imitação. Eles se tornam digitais, não nascem assim. Eles assumem os seus imperativos: “imediatismo, ilimitabilidade e continuidade representam os três pilares do digital”.

O fato de estar sempre conectado não é apenas uma tarefa, mas também um espaço de personalidade que se soma ao “Id – Ego – Superego” da tradição freudiana. Assim são identificados os pontos que caracterizam os “jovens mutantes”:

- os “mutantes” não são mais psicossocialmente moldados para integrar a autoridade de tipo paterno;

- não são mais psicossocialmente moldados para integrar os modos de aprendizagem baseados na “submissão” ao saber de um mestre;

- não aprendem o respeito exceto a partir do respeito que lhes é concedido;

- aprendem conosco (adultos) a partir daquilo que nos veem fazer, e não daquilo que nós lhes ordenamos a fazer;

- conversas e negociações “igualitárias” tornam-se os instrumentos privilegiados do codesenvolvimento nosso e dos nossos jovens”. A brecha geracional muitas vezes manifesta mais o medo dos adultos do que a situação real dos adolescentes.

Em relação à sexualidade, o desafio que eles enfrentam é o de reconhecer o estatuto do corpo, a unidade da sua pessoa e o sentido dos gestos e dos atos. Trata-se de um horizonte antropológico em relação ao qual as listas normativas são incompreensíveis.

Acima de tudo, o sexo é vivido como um puro jogo de prazer, submetido à única regra do consenso. Uma vertigem imediata sem duração e sem compromisso. O anteparo do gênero torna-se fluido e, para além das infinitas discussões sobre a teoria de gênero, condiciona a vida afetiva e sexual dos adolescentes, arrastados pelos modelos propostos a eles pela cultura midiática.

A sexualidade tende a se tornar o jogo dos possíveis e se expande sobre a onda de desejos múltiplos e flutuantes. O ato sexual se reduz a uma experiência, mesmo quando é de tipo homossexual ou bissexual.

Os modelos de conformidade, por um lado, são os da publicidade e, por outro, os da pornografia, que “é a principal fonte de informação e de formação em matéria sexual para os adolescentes”.

Mas precisamente a relação mecânica e desconectada da emoção transmitida pela pornografia relança a exigência, muito viva nos jovens, da unidade da sua pessoa e do perigo de uma dissociação íntima quando o corpo, próprio e alheio, é reduzido a um instrumento. Daí nasce uma conscientização não só da unidade pessoal própria, mas também de um dom de si livre e responsável. O controle dos gestos não é mais castração, embora seja alcançado através de tentativas e erros.

Assim, abre-se uma nova confidência com o adulto, chamado a acompanhar e a não forçar as etapas. Até a descoberta da interioridade que habita o corpo, o silêncio meditativo que alimenta a pessoa, a capacidade de estar consigo mesmo no dom aos outros.

O “eu” e o “eu creio”

O percurso catecumenal parece ser o mais adequado para acompanhar a formação de fé nos adolescentes. Começando pela sua consciência de verem morrer a criança que existe neles em favor de um novo adulto, percepção que se aproxima da tarefa do cristão de deixar morrer o homem velho por uma nova vida. No momento do crescimento, a criança que se torna adolescente aprende a pensar sozinha, a agir por vontade própria, a ser um “eu” diante dos outros.

O percurso catecumenal também transforma um simpatizante da Igreja em uma pessoa que é capaz de dizer “eu creio”. Assim, os pequenos gestos de emancipação podem ser colocados ao lado do rito de passagem da crisma. Um caminho a ser feito em grupo e dentro das relações que se estabelecem com as lideranças de fato e as propostas pelos adultos. A estes últimos, compete particularmente a delicada tarefa do acompanhamento. Ele conhece a paciência do crescimento, a marcação das etapas, a dimensão relacional e social.

“Acompanhar uma criança, um adolescente no caminho da significa esforçar-se para criar as condições para um encontro com Cristo, é a proposta de partir para o seguimento a Cristo em um caminho que lhe seja próprio. Em suma, trata-se de ajudá-lo a escutar o apelo do Cristo dentro da sua vida, a descobrir a vocação que lhe é própria e a responder a ela.”

As pequenas decisões ao seu alcance têm o efeito de estruturar e relançar energias para outros passos. É caminhando que se aprende a caminhar, permitindo que se intua o fio dourado do Espírito que atravessa as decisões individuais. O apelo vocacional é totalmente funcional para a construção da identidade pessoal.

O conjunto da comunidade cristã e os educadores individuais são chamados a viver a relação educativa sob a insígnia de três gestos fundamentais: “Eu creio em ti”, “Eu espero contigo”, “Eu te amo assim como Cristo te ama”. Sabendo que cada vez menos adolescentes virão à Igreja, e será necessário alcançá-los nos lugares que eles frequentam.

Um ensinamento “de cima para baixo” não funciona mais. “Os jovens querem ser atores das suas descobertas, aprendem melhor se são interativos com aquilo que lhes propomos. Entrar nos seus modos de funcionamento, utilizar os seus instrumentos midiáticos só pode nos ajudar a entrar em uma dinâmica nova do anúncio com os instrumentos do nosso tempo.”

A missa e os ritos

E a missa? “Longa demais, sempre a mesma coisa, sempre o mesmo que fala.” “Bonita pelos encontros com os outros, mas aos domingos, sem os amigos, é chata.” “Não se entende nada das palavras do padre e dos leitores... Até em sala de aula é possível fazer perguntas.” “Ir com os pais é maçante, e depois só tem velhos”: a dureza das afirmações dos adolescentes (algumas totalmente compartilháveis até mesmo pelos adultos) não esconde o desafio explosivo contido no rito, de um mistério que ocorre diante de nós e conosco, que descentraliza a vida, que interrompe à força os nossos tempos, que nos obriga à interioridade.

Não é fácil para o adolescente entender a lacuna entre a turbulência interior produzida pelo rito e o seu aspecto imutável. “Eu acho que a missa é um problema porque é fonte de angústia para muitos adolescentes e adultos que têm cada vez menos o hábito ao silêncio e à gestão das frustrações.” “Devemos reconhecer o incômodo representado pela missa e como ela requer delicadeza e acompanhamento da nossa parte.”

São duas as pistas propostas: o rito e a participação da família. A ritualidade é necessária para todos, e viver a Eucaristia com a família ou com os educadores é o único meio para torná-la fecunda para os jovens.

A Documents Episcopat propõe, na segunda parte da revista, uma série de experiências práticas de associações e de movimentos que são próprios da tradição francesa, como o trabalho nas escolas católicas e nas capelanias escolares, a ação educativa das novas comunidades, as peregrinações juvenis e a experiência das “igrejas dos jovens”. Há outras, como o escotismo e as associações católicas, que também valem para o contexto italiano.

Limito-me a destacar o papel de Taizé, que aqui é remetido à sua introdução à oração. “Três dimensões da oração em Taizé parecem ecoar na busca dos jovens: uma oração acessível, uma oração meditativa, uma oração do coração”.

A oração da comunidade aberta a todos foi progressivamente enfraquecida e limada para chamar a maior atenção possível. O canto com textos curtos da Escritura de forma responsorial e repetitiva facilita a meditação. “Através do canto, do silêncio, os jovens se descobrem capazes de um coração novo, de um coração simples no sentido etimológico da palavra, de um coração contrito.”

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