Análise da dimensão renda no CONSINOS. Artigo de Angélica Massuquetti e Vanessa Krützmann

  • Segunda, 29 de Julho de 2013

As pesquisadoras Angélica Massuquetti e Vanessa Krützmann a convite do ObservaSinos elaboraram um artigo tendo como foco a renda da população do Vale do Rio dos Sinos. E, este dado como um indicador para planejar, monitorar e avaliar as políticas públicas na região. As autoras apontam uma mudança promissora na região, tendo como argumento os parques tecnológicos que se instalam no Vale.

Angélica Massuquetti é Professora do Programa de Pós-Graduação em Economia da UNISINOS; e Vanessa Krützmann é Mestre em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da UNISINOS.

Eis o artigo.

O Produto Interno Bruto (PIB) foi, durante décadas, o principal indicador de desenvolvimento econômico. Os países perceberam, no entanto, a necessidade de se alcançar, além do crescimento econômico, um melhor padrão de vida para sua população, de se ter uma renda mais equitativa, de se erradicar o analfabetismo e as doenças transmissíveis por falta de condições mínimas de moradia e saneamento, entre outros. Houve, portanto, um esforço dos governos em alcançar tais metas a partir de um deslocamento do foco apenas econômico. O conceito de desenvolvimento socioeconômico passou a considerar, além da dimensão econômica, também os âmbitos social, cultural e político.

O Programa das Nações Unidas (PNUD), por exemplo, encontrou uma forma para estudar e analisar o processo em que os países se encontram e, para tanto, lança anualmente, desde 1990, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), no qual são apresentados os resultados deste estudo e de que forma os países podem agir para alcançar um melhor padrão de vida para sua população. Nesse relatório consta um índice mundial sobre o desenvolvimento socioeconômico dos países e o mesmo é denominado de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH é uma forma de verificar o avanço que está sendo alcançado em cada país em relação à melhoria de padrão de vida da sua população, pois considera variáveis que expressam esta evolução e são importantes dentro de uma nação, como renda, longevidade e educação.

Na atualidade, a busca por um melhor padrão de vida para as pessoas pode ser verificada a partir de atitudes que estão sendo tomadas, como, por exemplo, o encontro ocorrido no início dos anos 2000, em Nova York. Neste encontro, os governos mundiais compreenderam conjuntamente a relevância que deve ser dada às vítimas da pobreza de todo o mundo e, nessa data, assinaram a Declaração do Milênio. Este documento representa um compromisso de aliviar os homens, mulheres e crianças da condição desumana de pobreza extrema e, para tanto, traçaram objetivos denominados de Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), como erradicar a extrema pobreza e a fome até 2015.

Na análise da meta de redução pela metade, entre 1990 e 2015, da proporção da população com renda inferior a US$ 1 PPC/dia, para os 14 municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE) do Vale do Rio dos Sinos (CONSINOS), realizada pelo ObservaSinos, identificou-se que apenas Dois Irmãos apresentou resultado positivo referente à meta no ano de 2010. O desempenho desfavorável dos demais municípios, por sua vez, é acompanhado pela dificuldade evidenciada pelo próprio estado do Rio Grande do Sul. Apesar dos resultados negativos desta meta para o COREDE, houve melhora na dimensão renda entre 1991 e 2009 a partir da análise do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE).

No Rio Grande do Sul, o desenvolvimento socioeconômico do estado, dos COREDES e dos municípios é medido pelo IDESE, que é calculado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE). A metodologia utilizada para chegar ao índice é a agregação de quatro blocos de indicadores: Renda, Educação, Saúde e Saneamento e Domicílios. Cada bloco é composto de grupos de indicadores selecionados que, após serem transformados em índices, são agregados com pesos específicos, definidos pela equipe técnica, resultando no índice do respectivo bloco. Em relação ao IDESE Renda, os indicadores empregados no cálculo são PIB per capita e Valor Adicionado Bruto per capita do comércio, alojamento e alimentação, que representam, respectivamente, a geração e a apropriação de renda.

No ano de 19911, dentre os 14 municípios que integram o COREDE, apenas Canoas (0,822) e Esteio (0,867) estavam classificados como alto desenvolvimento (acima de 0,800), enquanto os demais estavam inseridos no grupo de médio desenvolvimento (entre 0,500 e 0,799)2. Em 2009, oito municípios não atingiram o alto desenvolvimento: Novo Hamburgo, Portão, São Leopoldo, Estância Velha, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Nova Hartz e Araricá. Ou seja, 43% dos municípios eram considerados como alto desenvolvimento no IDESE Renda do CONSINOS, em 2009. Entre 1991 e 2009, as maiores variações do IDESE Renda foram apresentadas por Araricá (28,21%), Nova Santa Rita (23,56%) e Canoas (18,98%). Por outro lado, os menores avanços foram exibidos por Ivoti (4,27%), Novo Hamburgo (4,51%) e Estância Velha (5,05%). Dois Irmãos, destaque no artigo do ObservaSinos - publicado no dia 15 de julho, teve a quinta melhor evolução entre os municípios da região, com 14,39%. Identifica-se, portanto, que apesar das disparidades entre os municípios, houve evolução na dimensão renda no CONSINOS desde o início dos anos 1990.

Mas como explicar a dificuldade dos municípios em atingir a meta dos ODM? Sabe-se que o CONSINOS possui uma das melhores condições socioeconômicas do estado (ao lado dos COREDES Serra e Metropolitano Delta do Jacuí), contudo, sua contribuição para o PIB gaúcho tem sido cadente nos últimos anos em razão da crise no setor coureiro-calçadista (principal atividade econômica da região). Além disso, tem ocorrido o deslocamento de empresas de produção de calçados do COREDE para outras regiões do Brasil e até para outros países, como a China.

Neste sentido, ações direcionadas para intensificar o crescimento econômico e a redistribuição de renda deveriam ser priorizadas no CONSINOS, como a implantação de políticas de geração de emprego e a promoção de educação técnica e/ou superior, já que esta região é industrializada e exerce uma forte atração de mão de obra, muitas vezes não qualificada. Além disso, a concentração do ensino superior possibilita que a região busque outras fontes de desenvolvimento, além do segmento coureiro-calçadista, como, por exemplo, o segmento da tecnologia e da inovação.

Há um futuro promissor para o COREDE. Os parques instalados na região, como o Parque Tecnológico São Leopoldo (TECNOSINOS) e o Parque Tecnológico do Vale dos Sinos (VALETEC), estão contribuindo para o desenvolvimento do COREDE, pois possibilitaram a inclusão de setores mais dinâmicos e que geram maior valor agregado aos produtos. O TECNOSINOS, inclusive, conquistou, em 2010, o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, na categoria de Melhor Parque Tecnológico do Brasil.

Notas:

1 - O IDESE foi calculado apenas para os municípios no ano de 1991. Para o estado e os COREDES, os dados estão disponíveis a partir de 2000.

2 - Destaca-se que para Araricá e Nova Santa Rita, os dados estão disponíveis apenas a partir de 2000.