Cardeal George Pell, o maior hierarca da Igreja Católica a ser condenado por abuso sexual

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27 Fevereiro 2019

Era considerado como um assessor próximo ao Papa, que o convocou em 2014 a Roma para ajudar a pôr ordem nas finanças da Igreja. Como tesoureiro da Santa Sé, George Pell era visto como o terceiro homem mais poderoso do Vaticano. Agora se tornou o maior hierarca católico a ser condenado por abuso sexual. Um tribunal na Austrália condenou esse cardeal, de 77 anos, por ter agredido sexualmente dois adolescentes de 13 anos na Catedral de Melbourne em 1996.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 26-02-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

A decisão judicial foi emitida em dezembro, porém não podia ser divulgada até agora por restrições legais.

O alcance da condenação, da qual o religioso já apelou, será anunciado neste 27 de fevereiro de 2019.

“Se converteram em ferramentas do Satanás”, o papa Francisco promete levar à justiça os sacerdotes que tenham cometido abusos sexuais a menores.

Pell, que sempre defendeu sua inocência, forjou sua carreira como um grande partidário dos valores católicos tradicionais e assumindo posturas conservadoras contra o aborto, os métodos anticonceptivos e a favor do celibato dos sacerdotes.

Nos últimos anos, sua figura se viu fortemente questionada quando começaram a surgir acusações contra si, que inicialmente o marcavam por encobrir casos de abuso sexual e, logo, começaram a apontá-lo como perpetrador desse tipo de delito.

Em dezembro passado foi removido do círculo próximo do papa Francisco e seu período como tesoureiro do Vaticano chegou ao fim no domingo passado.

O julgamento

Segundo se disse durante o julgamento, os fatos pelos quais Pell foi condenado ocorreram durante seu primeiro ano como arcebispo de Melbourne, em 1996, quando ao terminar uma missa se encontrou com dois adolescentes nas dependências da Catedral.

Então, segundo a Justiça, Pell disse aos jovens que estavam em apuros por beber vinho da comunhão e então os obrigou a cometer atos indecentes.

O júri ouviu o depoimento de uma das vítimas, pois a outra faleceu. O advogado do cardeal, Robert Richter QC, disse no tribunal que as acusações eram fantasiosas e inventadas pelas vítimas.

O caso deveria ter sido realizado duas vezes no ano passado, pois um primeiro júri não concordou com o veredicto. O segundo júri, por outro lado, chegou a uma conclusão unânime e condenou Pell por uma acusação de molestar sexualmente um menor de 16 anos e por quatro delitos por cometer um ato indecente a um menor de 16 anos.

Aspirante a papa

O processo contra o cardeal Pell é parte de uma larga investigação na Austrália iniciada em 2012 sobre a resposta das instituições do país às denúncias de abuso sexual infantil do passado.

No total as autoridades australianas documentaram o abuso de 4.400 crianças com 1.880 padres envolvidos.

Mas nenhuma com a posição de George Pell na hierarquia, em algum momento considerado um aspirante ao posto de Papa.

O australiano nasceu em Ballarat, uma localidade próxima a Melbourne da qual foi padre, em 1941.

Sua educação inicial foi no Convento Loreto e depois frequentou o Colégio St. Patricks, onde se destacou nos esportes, particularmente no futebol.

Tal era sua destreza no campo que ao final dos seus estudos assinou um contrato com o Richmond Football Club, mas logo optou pela vida religiosa.

Foi ordenado sacerdote em Roma, em 1966, e com os anos se tornou o principal líder católico da Austrália, como arcebispo de Melbourne e depois de Sydney.

Ascendeu entre a hierarquia católica a tal ponto que chegou a ser considerado entre os possíveis sucessores do papa Bento XVI quando o pontífice renunciou em 2013.

E seu cargo de tesoureiro do Vaticano, designado pelo papa Francisco em 2014, o converteu na terceira pessoa mais poderosa da Igreja Católica.

Com a acusação da Justiça, Pell se tornou o membro da Igreja Católica de mais alto escalão a enfrentar um julgamento por abusos sexuais.

E por isso mesmo sua condenação também é um momento histórico dentro do escândalo de abusos sexuais a menores no seio da Igreja Católica.

Nota da Santa Sé

A Santa Sé se soma ao declarado pelo presidente da Conferência Episcopal Australiana em ter em conta a sentença da condenação em primeira instância do cardeal George Pell.

Uma notícia dolorosa que, sabemos bem, escandalizou muitas pessoas, não somente na Austrália. Como já foi afirmado em outras ocasiões, reiteramos o máximo respeito pelas autoridades judiciais australianas.

A respeito disso, esperamos agora o resultado do recurso de apelação, recordando que o cardeal Pell repetiu sua inocência e tem o direito a se defender até a última instância.

Na espera do julgamento definitivo, nos unimos aos bispos australianos em oração por todas as vítimas de abusos, reafirmando nosso compromisso em fazer todo o possível para que a Igreja seja uma casa segura para todos, especialmente para as crianças e os mais vulneráveis. Para garantir o andamento da justiça, o Santo Padre confirmou as medidas de vigilância já dispostas no referente ao cardeal George Pell pelo Ordinário do lugar depois do regresso do cardeal à Austrália. Ou seja, que na espera de definição dos fatos, o cardeal Pell seja proibido, com caráter preventivo, do exercício público do ministério e, como é norma, o contato de qualquer maneira e forma com menores de idade.

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