17 Dezembro 2018
O ex-porta-voz da Sala de Imprensa da Santa Sé, Federico Lombardi, escreveu na última edição da revista La Civiltà Cattolica um artigo intitulado “Rumo à reunião episcopal sobre a proteção de menores”. Nele, Lombardi pede que a reunião de todos os presidentes das conferências episcopais do mundo com o Papa Francisco, em fevereiro próximo, seja um verdadeiro motor de mudança na luta contra a pederastia eclesiástica.
A reportagem é publicada por Vida Nueva, 15-12-2018. A tradução é de André Langer.
Qualificando a reunião como “um acontecimento sem precedentes que visa dar um forte impulso a novos e urgentes avanços”, o jesuíta pede uma perspectiva global e integral, pois considera equivocado pensar que se trata de “um problema ocidental, majoritariamente americano ou anglófono”, mas que é, ao contrário, uma ameaça para a Igreja universal. E o pior é que “ainda está latente” e pode ter “erupções dramáticas no futuro”.
Encarar a realidade
Contudo, o principal apelo de Lombardi aos bispos é não ignorar sua responsabilidade, nem esquivar-se do problema: “Temos que encarar a realidade”. Uma realidade que, infelizmente, leva a milhares de vítimas dos abusos sexuais por pessoas consagradas em muitos países. E diante da qual não podemos, sem mais, virar a página: “Às vezes, mesmo em círculos eclesiásticos se ouve dizer que está na hora de mudar de assunto, que não é certo dar muito peso a isso ou que a questão é exagerada”.
Um “caminho equivocado”, lamenta, pois em grande parte da sociedade prevalece a “indefensável” imagem de que “as autoridades eclesiásticas ocultaram a verdade para evitar os escândalos, negligenciando a gravidade dos sofrimentos das vítimas”.
É que, se a questão “não for tratada em profundidade em seus diversos aspectos, a Igreja continuará a enfrentar uma crise após outra”, a credibilidade dos sacerdotes ficará “ferida” e a “sua missão de proclamar o Evangelho e do trabalho educativo com as crianças e os jovens” se verá gravemente afetada.
Maior rigor na seleção dos sacerdotes
Com vistas a encontrar soluções profundas para reverter esta crise, Lombardi pede maior “cuidado e rigor” nos processos de “seleção e formação dos candidatos ao sacerdócio”. Uma vez que o dano está feito e explode um caso de abuso, o único caminho a seguir é o da “transparência” e da “cooperação com as autoridades civis”.
Na parte final do seu artigo, o jesuíta reconhece que foi Bento XVI quem, já desde a sua época à frente da Doutrina da Fé, começou a combater energicamente o flagelo da pederastia na Igreja. Um processo no qual Francisco foi além e com ousadia, como representa o fato de que “ele já não fala simplesmente de abuso sexual, mas também de abuso de poder e de consciência”. Caso se queira erradicar pela raiz este mal, todo o povo de Deus deve se comprometer para que “todas as formas de clericalismo sejam combatidas com determinação”.
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Lombardi, sobre a pederastia eclesiástica: “Não é hora de mudar de assunto” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU