Abuso de autoridade na igreja. Problemas e desafios da vida religiosa feminina

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03 Agosto 2020

"Uma questão que ainda não recebeu atenção suficiente é o abuso dentro das congregações femininas. Na maioria das vezes, assume a forma de violência sexual e não diz respeito a menores; no entanto, isso não significa que seja menos importante, e tem consequências relevantes. Da experiência pastoral e das conversas sobre o assunto, trata-se principalmente de abusos de poder e consciência", afirma o artigo de Giovanni Cucci, publicado por Civiltà Cattolica, Quaderno 4083-4084, p. 218 - 226, 01-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 


Um tema quase inexplorado

 

A Igreja tem tratado repetidamente dos temas dos abusos, também nos tempos recentes, tanto em termos de reflexão quanto em providências e protocolos operacionais [1]. No entanto, a relevância do tema dirigiu-se principalmente contra os abusos sexuais e psicológicos de menores por parte de ministros da Igreja, especialmente de presbíteros. Estes são, sem dúvida, aspectos predominantes, mas certamente não exaustivos.


Uma questão que ainda não recebeu atenção suficiente é o abuso dentro das congregações femininas. Na maioria das vezes, assume a forma de violência sexual e não diz respeito a menores; no entanto, isso não significa que seja menos importante, e tem consequências relevantes. Da experiência pastoral e das conversas sobre o assunto, trata-se principalmente de abusos de poder e consciência.


O fascínio do poder nas congregações femininas

 

O vento de renovação gerado pelo Concílio Vaticano II e pelo magistério subsequente não foi vivido da mesma maneira nas várias congregações religiosas. Alguns deram origem a uma difícil, mas eficaz obra de atualização e reforma; outras, por outro lado, não foram bem-sucedidos nesse objetivo, seja por falta de forças ou por estarem convencidas de que as práticas até agora praticadas ainda pudessem constituir a modalidade ideal de governo. Infelizmente, a história ensina que, sem esse esforço de confronto e busca de novos caminhos, corre-se o risco de perder o frescor do carisma, iniciando um declínio lento, mas irrefreável.

Também se deve acrescentar que as dinâmicas da vida religiosa feminina se mostram muito diferentes daquela masculina em vários aspectos. Os estudos e as muitas possibilidades pastorais daqueles que receberam as Ordens permitem que os religiosos homens vivam a vida fraterna e os votos religiosos com maior abertura e autonomia.

Além disso, a resposta vocacional e o entusiasmo que uma jovem percebe no início de seu caminho nem sempre permitem avaliar com precisão a diferença entre os vários institutos religiosos; o impulso para frente e uma certa inconsciência típica daqueles que estão no início do caminho às vezes são tristemente soldados com a habilidade de algumas superioras, capazes de identificar almas generosas, mas também vulneráveis às manipulações. Lentamente, a fidelidade ao carisma torna-se fidelidade aos gostos e preferências de uma pessoa em particular, que decide arbitrariamente quem possa ou não usufruir das possibilidades de formação ou de estudo, consideradas uma forma de premiação concedida aos mais fiéis e dóceis, em detrimento de quem expressa um pensamento diferente. Disso decorem formas de chantagem para obter uma gestão do poder sem limites.

Infelizmente, são situações conhecidas e generalizadas, a ponto de terem sido mencionadas publicamente em um dicastério papal. Em entrevista concedida à revista Donne Chiesa Mondo, o card. João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, expressou-se com clareza: “Tivemos casos, felizmente não muitos, de superioras gerais que, uma vez eleitas, não saíram mais de seu cargo. Contornaram todas as regras. Uma até quis mudar as constituições para permanecer superiora geral até a morte. E nas comunidades há religiosas que tendem a obedecer cegamente, sem dizer o que pensam. Muitas vezes existe o medo, no caso das mulheres é ainda mais evidente, o medo da superiora. Na verdadeira obediência, pelo contrário, é necessário dizer o que o Senhor sugere interiormente, com coragem e verdade, para oferecer ao superior mais luz para decidir” [2].

 


A situação de algumas comunidades religiosas

 


Dá o que pensar o fato de que, no contexto cultural atual, onde a autoridade parece impopular e uma fonte de estresse (a ponto de vários superiores maiores de congregações masculinas estarem pedindo uma rotação antes do tempo), em alguns institutos femininos se nota, ao contrário, a tendência oposta, de estender o mandato recebido a todo custo.

Em uma congregação (atualmente sob intervenção), a mesma religiosa foi conselheira geral por 12 anos, depois superiora geral por 18 anos e conseguiu ser eleita vigária geral novamente, "pilotando" o capítulo, a fim de continuar a governar de fato nos anos seguintes.

Tal situação levanta a questão de saber se o governo pode ser considerado uma forma de garantia de privilégios negados a outros membros, como, por exemplo, no caso em questão, confiar às comunidades os familiares e parentes, que são hospedados e tratados gratuitamente, repassando o trabalho a religiosas enfermeiras, que certamente não estão em condição de agir de outra forma. Em alguns casos, os familiares também foram enterrados no túmulo da congregação. As jovens religiosas, principalmente estrangeiras, assim registram a mensagem de que o poder é um atalho que facilita favores também para os familiares e que o imperativo de "deixar o pai e a mãe" diz respeito apenas a elas.

Em outro instituto, a superiora, sem consultar ninguém, levou sua mãe para a comunidade de irmãs até sua morte, permitindo-lhe também compartilhar os espaços comunitários por cerca de vinte anos. Todo verão, deixava a comunidade para levar a mãe de férias.

Ser superiora parece garantir outros privilégios exclusivos, como usufruir dos melhores cuidados médicos, enquanto quem é uma simples freira não pode nem ir ao oftalmologista ou ao dentista, porque "é preciso economizar". Infelizmente, os exemplos dizem respeito a todos os aspectos da vida cotidiana: da roupa à possibilidade de tirar férias, ter um dia de descanso ou, mais simplesmente, de poder sair para um passeio, tudo deve passar pela decisão (ou capricho) da mesma pessoa. Se uma peça de roupa mais quente for solicitada, é preciso aguardar a deliberação do Conselho, ou a solicitação será recusada "por razões de pobreza". No final, algumas freiras acabam pedindo ajuda a seus familiares. Portanto, fica ainda mais triste para elas saber que o guarda-roupa da superiora está cheio de roupas compradas sem consultar ninguém com o dinheiro da comunidade, enquanto outras mal possuem uma troca de roupa [3].

Estes são exemplos que podem parecer desconcertantes e difíceis de acreditar para aqueles que vivem em congregações masculinas, e diante das quais podemos nos limitar a sorrir. Infelizmente, para algumas freiras, essa é a realidade cotidiana: uma realidade que, na maioria das vezes, não conseguem contar a ninguém, porque não sabem quem procurar ou por medo de retaliação.

Até a gestão patrimonial de um Instituto como propriedade pessoal é outro ponto doloroso de algumas congregações femininas, onde a cumplicidade entre a superiora geral e a tesoureira (também, de fato, vitalícia, apesar dos limites de idade) acaba permitindo o controle completo dos bens.

Como no conto La roba de Giovanni Verga, tudo acaba se concentrando nas mãos de uma só pessoa (que faz da Congregação uma gestão familiar, contratando pessoas sem competência, mas com as quais tem laços de parentesco), apesar das prescrições do direito canônico. e as regras do próprio Instituto: como a superiora geral é a instância suprema, ninguém pode verificar a gravidade da situação. Em detrimento de quem vier depois, principalmente das irmãs mais novas.

 


Uma mensagem eloquente

 

Que ideia de vida religiosa é comunicada por esses casos? Evidentemente que governar é sinônimo de privilégio, em detrimento dos mais fracos. Esses mesmos institutos não têm mais vocações na Itália há mais de 50 anos. Será uma coincidência?

Obviamente, as vocações estão em declínio, mas por que outras terras e outras comunidades experimentam uma continuidade também nesse aspecto?

De qualquer forma, a falta de vocações parece não ter colocado nenhuma questão a esse respeito, nem levantou a necessidade de dar vida a uma pastoral vocacional atualizada, valorizando ao máximo os carismas das irmãs mais capazes. Ao contrário das orientações expressas pela Igreja há muitos anos, continua-se a praticar o costume de importar vocações de outros países, empregando as jovens como "tapa-buracos", em vez de lhes garantir uma melhor formação [4]. As recém-chegadas geralmente não têm possibilidade de se defender, tanto pela dificuldade da língua quanto pela absoluta incapacidade de se orientar para fora da casa religiosa da qual geralmente não podem sair e que, ao invés de ser uma comunidade, acaba sendo vivida como uma prisão.


O card. João Braz de Aviz também lembra casos de abuso sexual sofridos pelas noviças por parte das formadoras; uma situação mais rara do que nas congregações masculinas, mas talvez, precisamente por esse motivo, ainda mais grave e dolorosa. E ele também espera nesse campo a coragem de esclarecer e tutelar os mais fracos como uma missão própria da Igreja [5].

 

O drama de quem sai da Congregação


O que foi exposto acima, embora de forma anônima, é infelizmente a dolorosa realidade cotidiana de algumas religiosas. Uma situação que também havia sido reconhecida com clareza no magistério. O documento Para vinho novo, odres novos, fazendo um balanço da situação da vida religiosa pós-conciliar, não deixa de apontar situações problemáticas devidas à falta de confiança e dependência em tudo: “Quem exerce o poder não deve incentivar atitudes infantis que possam induzir a comportamentos responsáveis [...]. Infelizmente, deve-se reconhecer que tais situações são mais frequentes do que se pode se aceitar e são mais evidentes nos institutos femininos. Essa é uma das razões que parece motivar numerosos abandonos. Para alguns, são a única resposta para situações que se tornaram insuportáveis" [6].


Mas também o tempo do abandono da vida religiosa, já difícil e doloroso em si, traz consigo mais sofrimentos, principalmente desconhecidos para quem pertence a congregações masculinas. O card. de Aviz mencionou a trágica condição em que essas religiosas acabam se encontrando: em muitos casos não receberam nenhuma ajuda, ao contrário, tentaram de todas as formas impedir que encontrassem uma acomodação [7].


O problema tornou-se tão grave que o Papa Francisco decidiu construir uma casa para aquelas que, principalmente as estrangeiras, não têm para onde ir. - Fui - disse o cardeal - visitar essas ex-freiras. Encontrei um mundo de feridas ali, mas também de esperança. Há casos muito difíceis em que os superiores seguraram os documentos de freiras que desejavam deixar o convento ou que foram mandadas embora. Essas pessoas entraram no convento como freiras e se encontram nessas condições. Também houve alguns casos de prostituição para poder se sustentar. Elas são ex-freiras! As irmãs escalabrinianas assumiram o cuidado desse pequeno grupo. Mas alguns casos são realmente difíceis, porque estamos diante de pessoas feridas com as quais se deve reconstruir a confiança. Devemos mudar a atitude de rejeição, a tentação de ignorar essas pessoas, de dizer "não é mais nosso problema". E depois, muitas vezes essas ex-freiras não são acompanhadas de forma alguma, não é dita uma palavra para ajudá-las ... tudo isso deve absolutamente mudar" [8].

Algumas freiras permanecem em seu Instituto apenas porque não veem outra possibilidade de viver de maneira diferente, não conhecem a cidade, o idioma, não conseguiram nenhum título de estudo. Uma situação de chantagem psicológica que desperta grande tristeza. Outras, por outro lado, apesar de terem deixado a Congregação, não deixaram de lado o desejo de se consagrar ao Senhor, mas buscam uma modalidade que possa respeitar a sua dignidade.

É impressionante como algumas formas de consagração que permitem um maior espaço de liberdade a quem pertence a elas, como a Ordo Virginum, registrem um número crescente de adesões. Em vários casos, trata-se de ex-religiosas que deixaram sua Ordem muitas vezes pelas razões mencionadas acima. Elas buscam uma autonomia e uma coerência de vida que não sejam incompatíveis com a consagração (poder sair, desempenhar uma atividade pastoral, estudar, ensinar), uma autonomia que lhes foi negada. Isso também constitui uma mensagem que não pode ser ignorada sobre o futuro da vida religiosa feminina.

 

Dar voz a quem não tem voz

 


O tema dos abusos inclui múltiplos aspectos de diferente gravidade, mas que precisam ser igualmente levados em consideração para que a voz da Igreja continue a ser credível. Cuidar com esses casos certamente não significa reduzir a isso a realidade da vida religiosa feminina. Ninguém nega o papel e a importância da obra realizada por tantas religiosas ao serviço dos últimos - tais como, apenas para permanecer no tema, o ministério das irmãs escalabrinianas mencionadas acima – nem se quer colocar no mesmo saco toda conduta e estilo de autoridade nas ordens femininas. Pelo contrário, precisamente a presença desses diferentes estilos pode ajudar a promover formas de consagração cada vez mais imbuídas do novo vinho do espírito evangélico.

E, ao mesmo tempo, encarregar-se do grande sofrimento, no nível afetivo, psicológico e espiritual, que a traição de tal espírito comporta para muitas. As jovens que entusiasticamente deixaram tudo para seguir o Senhor agora se veem sozinhas, abandonadas e, em muitos casos, desesperadas, em uma situação de deserto afetivo, relacional e profissional. Essas almas que caíram em uma armadilha a que aprisco pertencem? Quem responderá ao seu pedido de ajuda?

Para um sacerdote, a ordenação e os estudos realizados continuam sendo uma garantia de encontrar sustento e uma possibilidade de inserção que é impedida a uma religiosa. Como tudo isso está distante da carta com a qual o Papa Francisco se dirigia a elas ao instaurar o Sínodo sobre os jovens! Na passagem final, ele lembrava a recomendação de São Bento aos abades "de consultar também os jovens antes de qualquer escolha importante, porque ‘muitas vezes é precisamente para os mais jovens que o Senhor revela a melhor solução’" [9].

E como também está distante da característica própria da velhice, de ser uma preparação para o encontro com o Amado! O card. Carlo Maria Martini observava a esse respeito: “Existem pelo menos dois tipos de adultos: aqueles que se deixam levar pelo turbilhão dos compromissos e aqueles que sabem ter o tempo para amadurecer seus princípios. Somente estes últimos merecem plenamente o título de adulto. Quanto mais alguém cresce em responsabilidade, mais são necessários momentos de retiro e silêncio [...]. Depois, há o estágio de depender dos outros, o que nunca desejaríamos, mas que vem, para o qual devemos nos preparar" [10].

Quando, por outro lado, alguém se apega a um cargo por muito tempo, surge a dúvida de que não se espera mais nada da vida: é uma mensagem de niilismo prático. O Papa Francisco observa com tristeza o fechamento para o futuro por parte de sacerdotes e religiosos/as apegados ao próprio papel, incapaz de delegar, de dar espaço, de preparar alguém para depois deles: “Eles se contentam em ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados em vez de meros soldados de um esquadrão que continua a lutar. Quantas vezes sonhamos com planos apostólicos expansionistas meticulosos e bem desenhados, típicos de generais derrotados!" [11].

Por essas razões, também, o documento Para vinho novo, odres novos espera a elaboração de normas gerais para "atenuar os efeitos de médio e longo prazo da prática generalizada de cooptar os papéis de responsabilidade de membros dos governos gerais anteriores. Em outras palavras, normativas que impeçam a manutenção dos cargos além dos prazos canônicos, sem permitir recorrer a fórmulas que na realidade contornam o que as normas procuram evitar" (n. 22).

Portanto, não se trata apenas de cuidar de tais casos dolorosos - embora essa seja uma tarefa prioritária e indispensável -, mas também de preparar intervenções eficazes para verificar e supervisionar as modalidades de exercício do governo, para que tais abusos não ocorram novamente e se possa oferecer a quem desejar consagrar-se ao Senhor uma modalidade mais evangélica de viver a autoridade e a vida fraterna.

A grande atenção justamente reservada aos abusos cometidos contra menores não deve impedir que dediquemos um cuidado adequado a essas situações, mesmo que não recebam o mesmo destaque midiático: mesmo nesse caso, é uma questão de dar voz a quem não tem voz.

 

Notas

[1].  Cfr as últimas contribuições publicadas sobre este tema na revista: F. Lombardi, «Verso l’incontro dei vescovi sulla protezione dei minori», in Civ. Catt. 2018 IV 532-548; Id., «Dopo l’incontro su “La protezione dei minori nella Chiesa”», ivi 2019 II 60-73; Id., «Protezione dei minori. I passi avanti del Papa dopo l’incontro di febbraio 2019», ivi 2020 I 155-166; e, infine, il volume monografico Abusi, della collana «Accènti» de La Civiltà Cattolica (giugno 2018). Para um enquadramento geral, cfr G. Cucci – H. Zollner, Chiesa e pedofilia. Una ferita aperta. Un approccio psicologico-pastorale, Milano, Àncora, 2010.

[2]. R. Ferrauto, «Bisogna cambiare. Vocazioni e abbandoni, autorità, beni, rapporto uomo-donna, abusi… Intervista a tutto campo con il prefetto João Braz de Aviz», in Donne Chiesa Mondo, n. 85, febbraio 2020, 17. Questa situazione viene descritta in maniera eloquente anche nel documento Per vino nuovo otri nuovi: «Con parresia evangelica dobbiamo prendere coscienza che in alcune congregazioni femminili si riscontra il perpetuarsi di cariche. Alcune persone rimangono nel governo, pur con diverse funzioni, per troppi anni» (Congregazione per gli Istituti di vita consacrata e le Società di vita apostolica, Per vino nuovo otri nuovi. Dal Concilio Vaticano II la vita consacrata e le sfide ancora aperte. Orientamenti, 6 gennaio 2017, n. 22).

[3].  Sono situazioni menzionate anche nel già citato documento Per vino nuovo otri nuovi: «C’è ancora molto da fare per incoraggiare modelli comunitari convenienti all’identità femminile delle consacrate […]. Nessuna sorella deve essere relegata a uno stato di sudditanza, cosa che si riscontra purtroppo con frequenza […]. Si vigili perché il divario che corre tra le consacrate che servono in autorità (nei vari livelli) o che hanno il compito dell’amministrazione dei beni (nei vari livelli) e le sorelle che dipendono da esse non diventi fonte di sofferenza per la disparità e l’autoritarismo» (n. 40).

[4].  «Se in epoca non proprio lontana c’era chi s’illudeva di risolvere la crisi vocazionale con scelte discutibili, ad esempio “importando vocazioni” da altrove (spesso sradicandole dal loro ambiente), oggi nessuno dovrebbe illudersi di risolvere la crisi vocazionale aggirandola, poiché il Signore continua a chiamare in ogni Chiesa e in ogni luogo» (Pontificia Opera per le Vocazioni Ecclesiastiche, Nuove vocazioni per una nuova Europa, Documento finale del Congresso sulle Vocazioni al Sacerdozio e alla Vita Consacrata in Europa, 1997, n. 13 c). Un’avvertenza che, purtroppo, in questi casi è del tutto disattesa.

[5].  «In una congregazione ci sono stati segnalati nove casi. Questo fenomeno che tocca l’ambito femminile è rimasto più nascosto. Però viene fuori. Dovrà venire fuori. Molte volte la maturità nel campo affettivo e sessuale è debole, è relativa. Se arrivano accuse, noi accogliamo e cominciamo a discernere. Tante cose sono vere, tante no, però non nascondiamo nessun problema. Il Papa ci chiede totale trasparenza» (R. Ferrauto, «Bisogna cambiare…», cit., 18). Nella medesima intervista il cardinale menziona il grave problema degli abusi sessuali compiuti da presbiteri su religiose, un tema anch’esso per lo più inesplorato. Per un approfondimento, cfr A. Deodato, Vorrei risorgere dalle mie ferite. Donne consacrate e abusi sessuali, Bologna, EDB, 2016.

[6].  Congregazione per gli Istituti di vita consacrata e le Società di vita apostolica, Per vino nuovo otri nuovi…, cit., n. 21; cfr n. 39.

[7].  Il can. 702 del Codice di Diritto Canonico precisa: «Coloro che legittimamente escono dall’istituto religioso o ne sono stati legittimamente dimessi non possono esigere nulla dall’istituto stesso per qualunque attività in esso prestata» (n. 1). Ma aggiunge subito dopo: «L’istituto deve però osservare equità e carità evangelica verso il religioso che se ne separa» (n. 2).

[8].  R. Ferrauto, «Bisogna cambiare…», cit., 17.

[9].  Regola di San Benedetto III, 3; Francesco, Lettera ai giovani in occasione della presentazione del Documento Preparatorio della XV Assemblea Generale Ordinaria del Sinodo dei Vescovi, 13 gennaio 2017.

[10].  C. M. Martini, Le età della vita, Milano, Mondadori, 2010, 191; 193.

[11]. Francesco, Esortazione apostolica Evangelii gaudium, 24 novembre 2013, n. 96.

 

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