12 Mai 2025
Quando a fumaça branca sai da chaminé da Capela Sistina, o presidente Donald Trump está acabando de assinar o acordo comercial com o Reino Unido. O dia “histórico” que havia antecipado “Urbi et Orbi” na noite anterior, convocando os repórteres à Casa Branca para um anúncio incrível, empalidece diante do “Urbi et Orbi” que chega pelas emissoras unificadas de Roma. Trump está na Sala Leste para celebrar as Mães dos Militares. “Vi a fumaça branca, mas não sei quem é o Papa”. Naquele momento, ninguém sabe, exceto os 133 cardeais.
A reportagem é de Alberto Simoni, publicada por La Stampa, 09-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Com o anúncio de que será um estadunidense que ocupará o trono de Pedro, pela primeira vez na história, a sala de imprensa da Casa Branca se transforma em um turbilhão de pensamentos, corridas entre aqueles que pesquisam a biografia de Prevost no Google e aqueles que perguntam ao vizinho se “ele é realmente o primeiro papa estadunidense”. Nos bastidores, um funcionário de nível médio até brinca na euforia do momento quando descobre que Prevost nasceu em Chicago em 1955, filho de um pai com raízes italianas e francesas. “Com Trump, temos o primeiro Papa estadunidense”, diz ele. Em seguida, acrescenta: “Bem, é o caso de dizer: America First, Pope”, em que a vírgula não esconde a verdade. Trump ainda poderá dizer que o primeiro Papa estadunidense coincide com seu governo.
Trump também transmite seus cumprimentos pelo Truth alguns minutos após o anúncio do Cardeal Mamberti: “Congratulações ao Cardeal Robert Francis Prevost, recém-nomeado Papa. É uma grande honra descobrir que é o primeiro papa estadunidense. Que emoção e que grande honra para nosso país. Estou ansioso para me encontrar com Leão XIV. Será um encontro muito significativo”. Sua equipe especifica que essa declaração será a única do presidente em um dia em que oficialmente os compromissos terminam pouco depois das 13h30min. Mas Trump, de improviso, pouco depois, do lado de fora da Ala Oeste, se entretém com os repórteres para uma breve troca de palavras e diz que está “feliz e surpreso com a escolha” e reitera que “é uma grande honra” ter um Papa estadunidense.
Enquanto isso, as reações se sobrepõem. Obama lembra o “concidadão de Chicago”; Mike Johnson, presidente da Câmara, congratula-se; o mundo católico se mobiliza e a maior basílica dos EUA - no norte de Washington, ao lado da Universidade Católica - é cercada por repórteres. O mesmo acontece com a Basílica de St. Patrick, em Nova York, onde a notícia da fumaça branca chega durante uma missa. No Santuário Nacional em Washington, os estudantes brincam com os frisbees no gramado. Há entusiasmo. A equipe do Reitor Walter R. Rossi se agita para organizar uma coletiva de imprensa improvisada para falar sobre Prevost, dos católicos dos EUA (53 milhões) e de qual direção a Igreja tomará.
Não falta a mensagem de JD Vance, o vice-presidente que se converteu ao catolicismo em 2019, um dos últimos a ver o Papa Francisco vivo na véspera da Páscoa, e que teve um confronto bastante acalorado com as hierarquias católicas do Vaticano e dos EUA sobre imigrantes em fevereiro. Prevost - Leão XIV havia feito um post no X dizendo que Vance estava errado porque “Jesus não nos pede para fazer uma classificação do nosso amor pelos outros”. Prevost havia relançado um esclarecedor editorial do National Catholic Reporter que criticava profundamente a posição de Vance, que em uma entrevista à Fox News havia citado a ordo amoris e dito que primeiro “você ama sua família, depois ama seu próximo, depois ama sua comunidade, depois ama seus concidadãos e depois prioriza o resto do mundo”.
JD Vance is wrong: Jesus doesn't ask us to rank our love for others https://t.co/hDKPKuMXmu via @NCRonline
— Robert Prevost (@drprevost) February 3, 2025
Do novo Vaticano, não são esperados descontos sobre a política de deportação e sobre a gestão da imigração. O último rastro online do novo papa remonta à época em que Trump se encontrou com o presidente Bukele de El Salvador no Salão Oval e os dois sorriram quando perguntados sobre Abrego Garcia, o imigrante salvadorenho que vivia em Maryland e que foi deportado em 15 de março devido a um erro administrativo. Um comentarista católico escreveu: “Sua consciência não fica perturbada? Como você pode ficar em silêncio?” Frases críticas à globalização da indiferença denunciada por Bergoglio, que foram repostadas por Prevost. O suficiente para fazer sobressaltar anticatólicos ou simplesmente toscos fãs do Governo.
Como Laura Loomer, uma ativista da conspiração que tem uma influência especial sobre Trump. Ela é responsável pela frase sobre os imigrantes ilegais de Springfield que comem cães e gatos. E, pior ainda, as listas de proscrição de funcionários que, segundo ela, não são fiéis ao presidente. Bem, em um post, Loomer definiu Prevost de “naturalmente anti-Maga e Woke”, “outro papa das fronteiras abertas”, “outro marxista”.
Visto de outro ângulo, no entanto, até mesmo o conservador The Spectator já coloca uma barreira entre Trump e o Vaticano. E no editorial que abre sua versão on-line, ele escreve: “O Colégio de Cardeais deixou claro que Roma não é fã do presidente”. A manchete diz: “Resistência a Trump”, e usa o termo Trumplash, ou seja, a oposição às políticas de Trump que está se espalhando por toda parte.