09 Mai 2025
Robert Prevost é o primeiro pontífice americano. Nascido em Chicago, formado em filosofia e matemática na Filadélfia, é um tenista amador. Ele viveu no Peru por vinte anos. Francisco o queria cardeal em 2023
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 09-05-2025.
Se a escolha do seu nome já é um programa, Francis Robert Prevost anunciou que será um Papa atento às questões sociais, aos dramas do seu tempo, aos temas do trabalho e da pobreza. Porque Leão XIV não é apenas o 267º sucessor de Pedro, mas também o sucessor de Francisco, que o chamou a Roma e o criou cardeal, e de Leão XIII, o Papa que viveu entre os séculos XIX e XX e é mais conhecido pela encíclica Rerum Novarum (1891): era a era da industrialização, a questão operária estava explodindo, e o Papa Vincenzo Gioacchino dei conti Pecci escreveu uma carta na qual condenava as doutrinas socialistas, em concorrência com a Igreja, mas denunciava as repercussões sociais da expansão do capitalismo industrial, instava à formação de sindicatos operários e relançava os princípios da solidariedade cristã nas relações entre trabalhadores e empregadores. Mais de um século depois, o Papa Leão pediu aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro e ao longo de toda a Via della Conciliazione, na primeira bênção da galeria de São Pedro, que "construíssem pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos a todos para sermos um só povo sempre em paz".
Consegui montar o perfil do novo Papa. De centro, com tendência ao centro-esquerda. Próximo da Renovação Carismática, mas sensível aos imigrantes (oposto ao Trump). No Brasil, católicos progressistas aliviados e festa na Canção Nova. pic.twitter.com/R9fex34Cqy
— Rudá Ricci (@rudaricci) May 8, 2025
Nascido em Chicago há 69 anos, o Cardeal Prevost foi o menos americano entre os americanos no Conclave que o elegeu. «Eu nasci nos Estados Unidos, meus pais também nasceram em Chicago, mas meus avós eram todos imigrantes, franceses, espanhóis», disse ele em uma entrevista há algum tempo no Tg1. Prevost se formou em matemática e filosofia pela Universidade Villanova, na Filadélfia, foi ordenado padre em 1982 e recebeu o doutorado em direito canônico pelo Angelicum, a universidade romana dos dominicanos, em 1987.
O novo Papa viveu por vinte anos na América Latina, mais precisamente no Peru. Sua primeira experiência no país foi em 1985-1986, na missão de Chulucanas, retornou em 1988, desta vez na missão de Trujillo com as mais variadas tarefas, formador de noviços, vigário judicial, professor. Retornou aos Estados Unidos em 1999 e dois anos depois, em 2011, foi eleito prior geral da ordem agostiniana, tarefa que o levou a viajar por todo o mundo e que — sinal de reconhecida capacidade de governo — foi confirmado para um segundo mandato, até 2013. Em 2014, foi o Papa Francisco quem o enviou de volta ao Peru como bispo. Ele foi segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana e desempenhou um papel político quando os bispos tentaram uma mediação pacífica e democrática no momento em que o poder do então presidente Pedro Castillo estava vacilante.
Discreto, figura pequena, durante as congregações gerais conseguia desaparecer dos monitores dos operadores e fotógrafos, driblando a multidão de jornalistas que esperava na passagem dos cardeais que entravam no Vaticano pela entrada Petriano. Ele costumava usar o carro, um pequeno carro anônimo, partindo de sua casa, na cúria geral da Ordem de Santo Agostinho, à esquerda da colunata de Bernini, um edifício que ele mesmo havia construído quando era superior de sua ordem. Quando jovem, Prevost jogava tênis, esporte pelo qual ele continuaria apaixonado, mas como espectador.
Il Papa missionario che il predecessore aveva chiamato da una remota diocesi del Perù 🇵🇪 a governare il Dicastero del Vescovi. Americano che si rivolge al popolo di Dio in italiano e spagnolo. Il papato resta in America Latina. pic.twitter.com/VJXsLd23nX
— Antonio Spadaro (@antoniospadaro) May 8, 2025
Desde 2023, Prevost é um cardeal “romano”, no sentido de que faz parte da Cúria Romana desde que, para surpresa de todos, o Papa Francisco o nomeou em janeiro de 2023 para chefiar o poderoso dicastério dos bispos que seleciona novos bispos de todo o mundo. Nessa função, Prevost também é presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Bergoglio o conheceu durante a viagem ao Peru em 2018, nos anos seguintes o nomeou membro de algumas congregações do Vaticano. Praticamente ninguém o conhecia e ninguém esperava essa nomeação. Longe dos salões, com grande capacidade de trabalho e grande propensão à escuta, é pouco conhecido fora do mundo eclesiástico. E, mesmo aqui, é praticamente impossível encontrar um dos seus escritos, uma das suas posições, um dos seus livros.
Robert Francis Prevost é um padre agostiniano, uma ordem conhecida por não ser um viveiro de ultraprogressistas. Sua precisa e profunda cultura teológica transpareceu no primeiro discurso que ele proferiu durante a bênção de ontem à noite. Algo diferente, porém, dizem seus conhecidos. Ele foi ordenado sacerdote por Dom Jean Jadot, um belga, um expoente progressista da Cúria Romana na época.
Em Chicago, ele tem um excelente relacionamento com o cardeal arcebispo Blaise Cupich, um cardeal muito distante de Donald Trump.
No Peru, ele conheceu e apreciou o Padre Gustavo Gutierrez, o fundador da teologia da libertação. "Ele sempre foi muito afável, com um certo senso de humor, tinha a capacidade de se aproximar das pessoas", disse Prevost ao Repubblica na época de sua morte. "Ele é um homem que sabe ouvir, que sabe abordar problemas de forma pragmática", dizem aqueles que trabalharam com ele. Seu lema episcopal é "In Illo uno unum", que evoca uma expressão de Santo Agostinho tirada da Exposição sobre o Salmo 127 (Em um só Cristo somos um).
"El expresidente Fujimori pidió perdón en una forma genérica. Sería más eficaz pedir perdón más expresamente por alguna de las grandes injusticias que fueron cometidas, por las cuales el fue juzgado y sentenciado", decía el hoy Papa León XIV cuando era obispo de Chiclayo, Perú. pic.twitter.com/gIoJRLaEIi
— Juan Manuel Karg (@jmkarg) May 8, 2025
Ele participou das assembleias sinodais fortemente desejadas por Francisco e em sua bênção da galeria central de São Pedro citou a experiência sinodal: "A todos vocês, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que sempre busca a paz, que sempre busca a caridade", disse o Papa Leão XIV, "que sempre tenta estar próxima, especialmente daqueles que sofrem".