06 Mai 2025
O artigo é de José Manuel Vidal, publicado por Religión Digital, 05-05-2025.
No pulso silencioso do pré-conclave, enquanto Roma fervilha de rumores e previsões, um nome ganha força e consenso: Robert Francis Prevost. Americano de nascimento, peruano de coração e filho de mãe espanhola, o cardeal agostiniano se tornou a grande surpresa da reta final. Seu perfil diversificado e sua biografia de pontes o posicionam como o candidato capaz de unir o que outros fragmentaram, além de ser conhecido por todos os cardeais por ter sido o chefe da "fábrica de bispos".
Prevost está conseguindo o que parecia impossível: consenso nos Estados Unidos. Em um episcopado marcado pela polarização e pela sombra dos "trumpistas" mais fanáticos, o prefeito do Dicastério para os Bispos conseguiu conquistar o respeito dos moderados e a desconfiança dos extremistas, que veem nele a continuidade do espírito franciscano e não um retorno ao "combate ao catolicismo". Seu estilo conciliador, sua humildade e sua experiência missionária no Peru o distanciam do clericalismo de escritório e o aproximam do povo de Deus.
Para muitos africanos, o Cardeal Prevost é o candidato ideal: firme na doutrina, mas pastoralmente aberto em questões como acolher a comunidade LGBT, sem recorrer a extremos ou condenação fácil. Sua capacidade de ouvir e seu respeito pela diversidade eclesial lhe renderam simpatia em um continente que busca equilíbrio entre tradição e misericórdia.
Na América Latina, Prevost é “um de nós”. Depois de quase vinte anos no Peru, primeiro como missionário e depois como bispo de Chiclayo, ele tem conhecimento em primeira mão das periferias do continente, da religiosidade popular e dos desafios sociais.
Os cardeais latino-americanos valorizam sua acessibilidade, seu espanhol impecável e, acima de tudo, sua coragem: ele foi o único bispo, junto com Barreto, Castillo e Nann, que ficou do lado das vítimas do Sodalício e defendeu os jornalistas Pedro Salinas e Paola Ugaz quando eles foram processados por denunciar os abusos e a corrupção da organização. Prevost não hesitou em confrontar o poder, mesmo que isso lhe rendesse inimigos no meio eclesiástico peruano.
Francisco confiou a Prevost uma das tarefas mais delicadas: renovar o episcopado global, que estava excessivamente polarizado e precisava de pastores com alma, não de burocratas. Como Prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, Prevost foi o arquiteto de uma nova geração de bispos, escolhidos por sua proximidade, humildade e compromisso social, não por seu alinhamento ideológico.
Os franciscanos o veem como o garante da primavera sinodal e da Igreja em caminho. Seu baixo perfil na mídia e sua capacidade de síntese fizeram dele uma ponte entre os blocos opostos do Colégio Cardinalício.
Na Cúria, Prevost é visto como o homem capaz de reconquistar a confiança dos principais doadores americanos, muitos dos quais estavam alienados pela radicalização de alguns bispos e pelo clima envenenado em torno do fim do pontificado de Francisco. Sua reputação como um gestor honesto e sua herança americana o tornam especialmente atraente para aqueles que buscam estabilidade financeira e transparência, ao mesmo tempo em que mantêm uma orientação reformista.
Prevost é, em suma, o outsider que faz a conta: norte-americano para os americanos, latino para os latino-americanos, moderado para os progressistas e confiável para os conservadores. Sua biografia agostiniana, seu coração peruano e sua experiência curial fazem dele o candidato condensado que muitos buscam para evitar um cisma e consolidar a primavera de Francisco.
No Peru polarizado, ele era um homem de consenso, mas sempre do lado da verdade e das vítimas. Em Roma, ele é o cardeal mais requisitado. Um homem de consenso, de unidade, mas caminhando na direção definida por Francisco. E talvez o Espírito tenha a última palavra.