Bento XVI queria Bergoglio como secretário de Estado?

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23 Julho 2019

Um padre argentino que conhece o cardeal Jorge Mario Bergoglio de Buenos Aires desde antes de sua eleição como Papa Francisco afirma que, em 2005, o Papa Emérito Bento XVI ofereceu a Bergoglio o cargo de secretário de Estado, efetivamente a segunda posição mais importante no Vaticano depois do próprio papado, mas o futuro pontífice recusou.

A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 22-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Bento XVI supostamente queria que Bergoglio fosse seu secretário de Estado para ajudá-lo a limpar o governo central da Igreja Católica, conhecido como Cúria Romana. Oito anos depois, o próprio Bergoglio foi eleito para o papado, em parte precisamente com um mandato de reforma da Cúria.

Várias fontes consultadas pelo Crux que eram próximas a Bergoglio em 2005 disseram que não podiam confirmar ou negar a afirmação, mas a acharam “plausível”.

“Eu sei que o Papa Paulo VI sofreu muito devido à corrupção na Santa Sé”, disse o Pe. Fernando Miguens ao Crux em Buenos Aires. “Eu sei que João Paulo II também sofreu devido a isso, mas ele decidiu que a missão seria sua prioridade.”

“O pobre Bento tentou enfrentá-la e, para isso, aproximou-se de Bergoglio para nomeá-lo como seu secretário de Estado, mas Jorge disse-lhe que não”, disse Miguens.

Bento queria escolher alguém que tivesse as unhas de um ‘violonista’ para que essa pessoa pudesse enfrentar a reforma”, disse o padre em entrevista exclusiva ao Crux.

Miguens é o ex-reitor do seminário católico de San Miguel, nos arredores de Buenos Aires.

Embora essa seja a primeira vez que alguém afirme que Bento XVI queria Bergoglio como seu secretário de Estado, espalhou-se amplamente durante os últimos anos de São João Paulo II que o cardeal argentino poderia estar na linha de uma posição máxima no Vaticano. O veterano vaticanista Sandro Magister relatou em 2002 que, depois de um forte desempenho no Sínodo dos Bispos de 2001, alguns de seus colegas prelados queriam que Bergoglio fosse chamado para Roma, ao que ele teria respondido: “Por favor, eu morreria na Cúria”.

No fim, Bento XVI nomeou um ex-assessor do seu mandato de 20 anos como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, o cardeal italiano Tarcisio Bertone, para atuar como secretário de Estado. Bertone ocupou o cargo de 2006 a 2013.

A ideia de Bento XVI querer que Bergoglio fosse o seu principal assessor pode chamar a atenção dos observadores casuais dos assuntos da Igreja como algo contraintuitivo.

Quase desde o início do papado de Francisco, em 2013, a narrativa popular tem sugerido uma tensão entre um Bento XVI arquiconservador e um Francisco reformador progressista. Na realidade, fontes que conhecem Bergoglio dizem que os dois homens desfrutam de um profundo respeito pessoal.

“Eu ouvi dele [Bergoglio] que a relação entre eles era insuperável, pessoal”, disse um ex-assessor, que hoje trabalha no setor privado, ao Crux. “Sempre que o cardeal estava em Roma, ele ia ao escritório de Bento XVI quase sem pedir uma audiência, o que me foi confirmado por vários jornalistas de Roma.”

Os dois falavam ao telefone regularmente, até mesmo uma vez por mês, confirmou outra fonte.

O escritor britânico Austen Ivereigh, biógrafo papal e autor de “Francisco, o grande reformador” (Ed. Vogais), disse ao Crux que “o cardeal Bergoglio tinha uma reputação em Roma como um cruzado anticorrupção, e o Papa Bento XVI o considerava muito, de modo que a ideia de pedir que ele fosse secretário de Estado parece plausível”.

“Se for assim, Bergoglio foi sábio em recusar”, disse Ivereigh. “Sem a autoridade do papado por trás de uma reforma radical, ela não poderia ser feita.”

O fato de Bergoglio ter sido o segundo colocado no conclave de 2005 que elegeu Bento XVI está bem documentado, assim como o fato de que o então cardeal argentino disse aos que estavam impulsionando a sua candidatura, sem o seu incentivo, que ele apoiava Ratzinger como papa.

Também está bem documentado pelo jornalista argentino Mariano de Vedia, em seu livro “Em nome do papa”, um complô de 2008, orquestrado pelo governo da então presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner, que envolveu Bertone e os prelados argentinos Hector Aguer, arcebispo, e Oscar Sarlinga, hoje bispo emérito de La Plata e Zarate-Campana respectivamente.

Ironicamente, eles planejavam remover Bergoglio de Buenos Aires, entregar essa arquidiocese a Sarlinga e colocar Bergoglio em um cargo vaticano. No entanto, mesmo estando envolvido no complô, não está claro se Bertone entendeu na época que Bergoglio havia recusado a posição que o próprio Bertone detinha.

Miguens disse que o compromisso de Bergoglio com a reforma vaticana, a qualidade que interessou a Bento XVI sobre o prelado argentino há 14 anos, não vacilou desde a sua eleição como Papa Francisco.

O que mudou, segundo Miguens, é a percepção do papa sobre o tempo necessário para concluir o trabalho. Originalmente, disse ele, Francisco acreditava que poderia colocar a casa em ordem em três anos, mas, desde então, percebeu que vai demorar muito mais tempo do que isso.

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