O núncio no Chile “complicou e bloqueou” a renúncia de Juan Barros

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13 Janeiro 2018

O Papa Francisco quis parar o “caso Barros”... e não conseguiu. Esta é uma das conclusões que podem ser extraídas de uma carta que Bergoglio enviou à Conferência Episcopal do Chile em 31 de janeiro de 2015, e que acaba de ser divulgada pela agência Associated Press.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 12-01-2018. A tradução é de André Langer.

Na carta, o Papa revela que tentou pedir a renúncia do atual bispo de Osorno e de outros dois bispos ligados ao pederasta Fernando Karadima e que tinham sido acusados de acobertar os casos. Entretanto, algo deu errado. O que de fato aconteceu?

O Papa tenta explicá-lo na carta: “Surgiu depois, no final do ano (últimos dias de dezembro de 2014), um sério problema: o Sr. Núncio (Ivo Scapolo) pede a dom Barros a renúncia e o exorta a tomar um período sabático (um ano, por exemplo) antes de assumir outra responsabilidade pastoral como bispo diocesano. E comentou com ele que o mesmo procedimento seria realizado com os bispos de Talca e Linares (também envolvidos no caso Karadima), mas que não o dissesse a eles”.

No entanto, continua a carta do papa, “o bispo Barros envia o texto de sua renúncia acrescentando este comentário do núncio”. Um comentário não combinado com o papa? É o que parece insinuar o parágrafo seguinte da carta de Francisco. “Como vocês poderão entender, este comentário do Sr. Núncio complicou e bloqueou qualquer outro caminho posterior no sentido de oferecer um ano sabático. Falamos sobre o assunto com o cardeal Ouellet e sei que ele falou com o Senhor Núncio”.

Tudo parece indicar que o núncio se adiantou aos desejos do papa e que, ao ‘exortar’ Barros a renunciar, impediu um diálogo entre o polêmico bispo e Francisco. Então, Barros não apresentaria sua renúncia voluntariamente, mas obrigado pelo representante papal, que deveria ter sido admoestado pelo cardeal Ouellet. No entanto, a ação do núncio “complicou e bloqueou” qualquer solução para o caso de Osorno.

De acordo com a AP, o Vaticano estava preocupado com “os danos colaterais que o caso do maior sacerdote pedófilo poderia provocar no Chile e tentou colocar em prática um plano: pedir a renúncia e dar um ano sabático a três bispos chilenos acusados de terem acobertado os abusos desse sacerdote”.

Finalmente, em 10 de janeiro de 2015, Francisco nomeou Barros bispo da cidade de Osorno, a cerca de 930 quilômetros ao sul da capital chilena, provocando uma catarata de protestos que se tornaram visíveis no dia da sua ordenação episcopal e que, três anos depois, ainda continuam. Espera-se que durante a iminente visita do papa ao Chile, o “caso Osorno” vá retornar à linha de frente. De fato, algumas das vítimas de Karadima pediram para se encontrar com o papa, sem que até o momento nenhuma reunião tenha sido formalizada.

Perguntado sobre esta questão, o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, evita fazer qualquer comentário, embora tenha dito que os fiéis de Osorno que se opuseram a Barros são livres para se manifestarem e que a Santa Sé respeitava o seu direito de fazê-lo.

A AP também consultou sobre a carta o presidente da Conferência Episcopal e os membros do seu Comitê Permanente, mas ninguém respondeu. Juan Barros, por sua vez, negou ter conhecimento da existência da carta – ela foi enviada apenas ao Comitê Permanente, do qual Barros não fazia parte – e assegurou à agência que “eu nunca soube nem imaginava os graves abusos que este padre cometia com suas vítimas”.

“Eu não aprovei nem participei desses atos gravemente desonestos e nunca fui sancionado por um tribunal a este respeito”, acrescentou, sem revelar se apresentou ou não a renúncia de que o papa fala, ou se o núncio o exortou a fazê-lo.

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