Laudato Si'. Mobilização católica massiva pelo clima antes do aniversário da encíclica

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21 Junho 2017

Quase dois anos após a publicação da encíclica histórica do Papa Francisco Laudato Si', uma campanha católica global espera reunir 1 milhão de católicos para manter sua mensagem viva e ativa na vida cotidiana dos católicos, principalmente na questão das mudanças climáticas.

A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 17-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

A Laudato Si' Pledge, campanha criada pelo Movimento Católico Global pelo Clima, procura fazer com que os católicos se voltem para os pedidos de Francisco da primeira encíclica papal sobre o meio ambiente e a ecologia humana de que todos façam sua parte para proteger a criação de Deus. A campanha antecede o aniversário de dois anos do lançamento de "Laudato Si', Sobre o cuidado da Casa Comum", em 18 de junho.

O objetivo é mobilizar 1 milhão de católicos em todo o mundo a se comprometer com passos como redução do consumo de energia e uso de energia limpa, bem como pressão por essas medidas dentro de suas comunidades e países. Indivíduos, famílias, paróquias e organizações podem assinar e fazer parte da campanha, que atualmente está disponível em quatro idiomas.

A campanha, disponível em LiveLaudatoSi.org, diz: "Em resposta ao pedido urgente do Papa Francisco em Laudato Si', eu prometo: orar para e com a criação; viver com mais simplicidade; defender a proteção de nossa casa comum".

As pessoas que assinarem receberão convites para diversos programas do Movimento Católico Global pelo Clima, como os eventos planejados para o Tempo para a Criação (em setembro) e o Dia da Terra, transformando a promessa em ações e mudanças de estilo de vida.

"O Papa Francisco ajudou a transformar o debate sobre o clima, colocando-o como uma questão moral. Agora é hora de a Igreja mostrar a que veio e levar a mensagem da encíclica para a vida", disse Tomas Insua, diretor executivo do Movimento Católico Global pelo Clima, em um comunicado.

A rede internacional de mais de 400 organizações católicas aponta para o tamanho da Igreja Católica global - 1,2 bilhão de pessoas, ou cerca de 16% da população mundial, juntamente com suas centenas de milhares de paróquias, escolas e outras instituições - e o acompanhamento das pegadas de carbono não só como um motivo para os católicos priorizarem a questão do clima, mas como uma possibilidade de provocar um impacto significativo através da ação coletiva.

Na sua encíclica, Francisco escreveu: "O clima é um bem comum, um bem de todos e para todos", acrescentando que, para os cristãos, cuidar da criação é "parte essencial da fé".

"É bom para a humanidade e para o mundo em geral que nós, crentes, reconheçamos melhor os compromissos ecológicos decorrentes das nossas convicções", escreveu o Papa.

"A gravidade da crise ecológica exige que todos olhemos para o bem comum, embarcando em um caminho de diálogo que exige paciência, autodisciplina e generosidade, sempre tendo em mente que 'as realidades são maiores do que as ideias' ", disse Francisco.

A Irmã Franciscana Sheila Kinsey, co-secretária executiva da Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação da União Internacional das Superioras Gerais, disse ao NCR que a promessa demonstra que "o bem comum é importante para nós".

"Somos parte de uma família global e sabemos que nossas ações afetam o mundo inteiro", disse Kinsey.

Um aspecto crucial, acrescentou ela, é que a campanha é um esforço comunitário entre os católicos no todo o mundo. Ver que os outros estão fazendo sua parte "cria uma espécie de momentum", disse Kinsey. "Cria um clima, em certo sentido, de que as coisas podem mudar".

O evento de lançamento da campanha Laudato Si' Pledge deve acontecer em 17 de junho nas Filipinas, o mesmo local onde o Movimento Católico Global pelo Clima foi formado, em janeiro de 2015, durante a visita do Papa ao arquipélago do Pacífico.

A ilha teve papel semelhante em outros programas do MCGC, não só por sua consciência em torno da justiça ambiental, mas também por ser um marco zero na luta global contra mudanças climáticas, incluindo o aumento do nível do mar e tempestades mais intensas, como o super tufão Haiyan, que matou pelo menos 6.300 pessoas em 2013.

Insua, em Manila para o lançamento da campanha, disse ao NCR por e-mail que há "um momentum extremamente empolgante em torno da campanha, principalmente para os bispos das Filipinas".

Tanto o cardeal Luis Tagle de Manila quanto o arcebispo de Lingayen-Dagupan, Sócrates Villegas, presidente da Conferência dos Bispos das Filipinas, devem participar do evento.

Laudato Si' Pledge foi inicialmente apoiada por quatro outros cardeais, de países do mundo vulneráveis em relação ao clima, bem como dos Estados Unidos.

"Este é um ministério crucial para ajudar a Igreja global a responder à crise climática", disse o cardeal John Ribat, de Port Moresby, Papua Nova Guiné, que também atua como presidente da Federação das Conferências dos Bispos da Oceania.

Ribat, que se tornou cardeal em outubro, estava entre os líderes de seis conferências episcopais continentais que emitiram um apelo pedindo um acordo global para enfrentar as mudanças climáticas antes da cúpula do Clima das Nações Unidas de 2015, que culminou no Acordo de Paris. Ele foi franco sobre os impactos atuais das mudanças climáticas para a população das ilhas do Pacífico, onde algumas comunidades já tiveram de se deslocar devido ao aumento do nível do mar, inclusive nas Ilhas Carteret.

"Em nome das comunidades vulneráveis da Oceania, apelo a todos os católicos a se unirem e apoiarem esta importante tentativa de dar vida a Laudato Si'", disse Ribat.

O cardeal de Boston, Sean O'Malley, membro do Conselho de Cardeais do Papa Francisco, declarou que, através de Laudato Si', "o Papa Francisco contribui de maneira importante com o bem do mundo em que vivemos, deixando clara a nossa responsabilidade de cuidar do presente extraordinário da criação de Deus", não somente para a população de hoje, mas também para as futuras gerações.

O Cardeal Blase Cupich, de Chicago, descreveu a encíclica como "um chamado inequívoco à ação para proteger nossa casa comum".

"Ao marcar o segundo aniversário deste documento inovador, há uma urgência ainda maior de um trabalho conjunto para honrar o presente do nosso criador", disse ele.

Entre os que apoiam a campanha até agora estão o eco-teólogo Columbano Pe. Sean McDonagh; a Presidente da Pax Christi International, Marie Dennis; o Padre Franciscano Richard Rohr; May Boeve, diretora executiva da organização contra as alterações climáticas 350.org; e a ex-secretária executiva do clima da ONU, Christiana Figueres.

"Agora, mais do que nunca, o mundo precisa prestar atenção ao imperativo moral de Laudato Si' e avançar nas ousadas e urgentes ações que são necessárias", disse Christiana Figueres.

Desde a sua fundação, o Movimento Católico Global pelo Clima enfatizou os passos populares na abordagem das mudanças climáticas pelos católicos, seja como indivíduos ou dentro de suas comunidades locais. O movimento também participou de grandes manifestações e marchas organizadas pela 350.org e por outras organizações de defesa do clima.

O sentimento de "ações locais" se redobrou após a eleição de novembro do presidente Donald Trump, que prometeu reverter as políticas climáticas do país. Ao assumir a presidência, ele solicitou uma revisão do Plano de Energia Limpa e procurou reformular a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, propondo grandes cortes no orçamento e enfatizando apenas ar limpo e água limpa.
Mais recentemente, Trump anunciou que pretende retirar os EUA do Acordo de Paris, que efetivamente cessaria a implementação da compromisso do país em nível federal.

A Laudato Si' Pledge é o segundo movimento de coleta de assinaturas mundial realizada pelo Movimento Católico Global pelo Clima e o primeiro antes das negociações climáticas da COP21, coletando 900.000 assinaturas em uma petição para fazer com que negociadores cheguem a um acordo para limitar o aumento médio da temperatura global para 1,5°C.

Esse limite, objetivo terciário à marca "bem abaixo" de 2 graus do Acordo de Paris, era uma prioridade para as nações insulares, como as Filipinas, que tiveram mais assinaturas do que qualquer outro dos 135 países participantes.

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