Nicarágua revive o terror após uma série de confrontos em várias cidades

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14 Mai 2018

Entrincheirado na paróquia de San Miguel, em Masaya, na Nicarágua, o sacerdote Edwin Román socorria, com o apoio de um médico e três estudantes de medicina, os feridos nos confrontos ocorridos no sábado entre moradores, tropas de choque da polícia e outras forças ligadas ao Governo nesta cidade localizada 35 quilômetros ao sul de Manágua. Román relatou por telefone um cenário de caos e destruição no dia mais violento desde abril, quando o presidente Daniel Ortega ordenou uma dura repressão para sufocar as manifestações contra uma reforma da Previdência que ele impôs sem consenso.

A reportagem é de Carlos Salinas, publicada por El País, 13-05-2018.

Os confrontos em Masaya, famosa por seu artesanato, começaram no bairro indígena de Monimbó, onde há duas semanas os moradores protestam nas ruas contra Ortega. O sacerdote disse que forças da Frente Sandinista provocaram os moradores, que responderam com “pedras e paus”. A violência se estendeu para toda a cidade, onde foram erguidas barricadas. Forças antimotim foram enviadas a Masaya, mas os confrontos aumentaram. Moradores consultados por telefone disseram que grupos “paramilitares” armados com fuzis Kalashnikov disparavam impunemente, apesar da presença da polícia.

Román disse que a casa da vice-prefeita local foi saqueada e os móveis foram queimados na rua. Também foram relatados incêndios no célebre mercado de artesanato e outros saques na sede da Prefeitura. Na noite de sexta-feira, a tensão continuava. Uma das pessoas que atendia os feridos na paróquia de Román disse por telefone que ao longo do dia tinham sido atendidas ali pelo menos 25 pessoas, 3 delas com ferimentos graves, incluindo um jovem baleado no pescoço e outro atingido na altura do abdome pela explosão de uma bomba caseira. “Dava para ver todas as vísceras, ele precisava de uma cirurgia de emergência”, assinalou. O ferido foi transferido para um hospital de Manágua.

Além de Masaya, ocorreram fortes distúrbios em cidades importantes, como León (no oeste do país) e Rivas (no sul). Manágua mantinha uma tensa calma, embora os estudantes entrincheirados na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua e na Universidade Politécnica continuassem de guarda depois do ataque de forças do Governo contra suas instalações na quinta-feira passada, que deixaram 2 mortos e pelo menos 16 feridos. A cifra de mortos já passou de 50 desde o início da violência, em abril.

Enquanto isso, o porta-voz do Exército, coronel Manuel Guevara, disse à agência France Presse que os militares não reprimirão os protestos pacíficos, distanciando-se assim da estratégia do Governo de Ortega, que, com as forças da Frente Sandinista e da polícia promoveu uma dura repressão par sufocar os protestos.

“Não temos por que reprimir”, disse Guevara, acrescentando que os militares se apegarão à Constituição, que os manda “proteger objetivos vitais para o funcionamento do país”. O porta-voz militar afirmou que o Exército reconhece o diálogo nacional, mediado pela Igreja, como “única solução” para a difícil crise que a Nicarágua atravessa.

O Exército é um elemento-chave na estabilidade do regime de Ortega. Até agora se especulava no país sobre a posição que os militares teriam em relação às manifestações que exigem o fim do regime do ex-guerrilheiro sandinista, que em janeiro completou onze anos no poder e enfrenta uma crise que o colocou contra a parede.

Enquanto isso, em Masaya, o padre Román tentava garantir alguma ordem em meio ao caos que vivia sua paróquia com a chegada de feridos. A violência ocorreu um dia depois que os bispos conclamaram Ortega a “acabar com os corpos paramilitares e as forças de choque” e a pôr um fim imediato à repressão como condições para se sentar à mesa de negociações. “O Governo já não tem nenhuma credibilidade”, disse Román ao jornal. “Ele tem um discurso que engana.”

Em um curto pronunciamento transmitido em rede de televisão na noite de sábado, Ortega disse que “reitera o chamado e o compromisso para pôr fim à morte e à destruição”, acrescentando: “Que não se siga derramando sangue de irmãos. A paz é o caminho e a única porta para a convivência, a tranquilidade e a segurança de todos”. Em sua mensagem, ele não deixou claro se estava ordenando o fim da repressão.

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