Os massacres são intermináveis em Gaza, mas essa semana um deles aconteceu no mesmo dia em que os palestinos lembraram os 77 anos da Nakba. A catástrofe que marcou a expulsão de mais de 700 mil pessoas de suas terras, durante a criação do estado de Israel, em 1948. As bombas israelenses que rompem o silêncio das noites têm como alvo as instalações civis. Um genocídio transmitido ao vivo, que tira a vida de centenas de pessoas todos os dias e reduz o enclave a escombros. O número de mortos beira a 53 mil. Mas o sinal mais brutal dessa violência cotidiana está nas imagens das crianças mortas, feridas e as que sobrevivem, ao preço de uma existência marcada pela miserabilidade impressa sobre uma fina camada de músculos entre os ossos e a pele, aturdidas pela desnutrição que as acometem, porque até leite falta para os recém-nascidos.
Em meio aos ataques incessantes, as vidas se tornam números nas notícias da semana: Novo massacre na Faixa de Gaza: “Oitenta mortos, 22 são crianças”. Gaza, novos ataques israelenses: mais de 100 mortos durante a noite. Human Rights Watch: “É extermínio”./ Gaza, ataques israelenses intermináveis: mais de 120 mortos em uma cidade de tendas./ Além dos ataques, o bloqueio israelense ao território está agora em seu terceiro mês, impedindo a entrada de ajuda humanitária, comida e medicamentos.
No cenário internacional, a adesão do novo chanceler da Alemanha ao rearmamento e a viagem de Trump ao Oriente Médio, com direito a gelo do presidente americano a Israel também foram destaque. Enquanto o magnata recuava nas tarifas contra a China, ameaçava bombardear o Irã, ao mesmo tempo em que sentava com o presidente da síria, ex-estado islâmico, e negociava a paz para Gaza no Catar. Internamente, a Suprema Corte dos Estados Unidos está analisando a controvérsia gerada pelas ordens executivas de Donald Trump: o fim do direito à cidadania por nascimento. No artigo “O Conclave como uma sessão de análise coletiva”, o filósofo italiano Massimo Recalcati fez uma análise que ilumina essa conjuntura Trumpista.
"Apesar dos alertas dos pesquisadores e da oposição das comunidades indígenas continua a se insistir na exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas. Os povos indígenas continuam a ser abandonados e violentados: como os cerca de 30 tiros de fuzil na retomada Kaingang em Chapecó ou as mortes de crianças do povo Xavante, em Mato Grosso, por insuficiente atendimento de saúde. No Senado, há uma tentativa de flexibilizar o licenciamento ambiental, o que seria o maior retrocesso em décadas".
Os dados da última PNAD, divulgados pelo IBGE, mostram que o brasileiro tem maior rendimento médio da história. Mas que 1% mais rico ganha dez vezes mais que os mais pobres, enquanto os 10% mais ricos do Brasil ganham, por mês, 13,4 vezes mais do que os 40% mais pobres.
O Atlas da Violência recém-publicado mostra como o racismo estrutural segue fazendo vítimas. Foram 60 jovens assassinados por dia no Brasil em 2023, sobretudo jovens negros. No total, foram registrados 47.747 homicídios. O atlas velou que ser uma pessoa negra por aqui faz você enfrentar um risco de homicídio dois ponto sete vezes maior do que uma pessoa não negra. A violência contra mulheres e pessoas LGBTQIA+ cresce e persiste contra negros e indígenas.
As disparidades do Brasil também estão postas no Dossiê das Violações dos Direitos Humanos no Trabalho Uberizado, uma pesquisa realizada pela professora Ludmila Abílio em parceria com Silvia Maria Santiago, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. A pesquisa corrobora que os uberizados são, em sua maioria, homens negros. E que não é um mero bico: mais da metade atua há mais de quatro anos. Mas, contrariando o senso comum de que os entregadores seriam predominantemente jovens, o trabalho demonstrou que mais da metade desses homens tem mais de 30 anos.
Ainda essa semana, nos despedimos de José Pepe Mujica, que faleceu no dia treze de maio. Um presidente que começou a vida como agricultor, tornou-se guerrilheiro tupamaro e passou anos na prisão antes de ascender ao mais importante posto de um país. Até o fim, a simplicidade foi sua maior marca. Como mandatário, Mujica recebia um salário de doze mil e quinhentos dólares. Do qual, ficava com dez por centro e o restante doava. Apesar de ter alcançado o posto mais desejado por muitos políticos, Mujica creditava à agricultura a verdadeira liberdade. Sempre a bordo de um fusca azul-claro, o qual ele se recusou a vender mesmo por um milhão de dólares, o líder político carregava na carona a austeridade como símbolo de vida.
No artigo em que Martin Caparros conta a imensa vida de Pepe Mujica, o escritor recorda que o político passou sua última vida pregando: disse coisas que outros não disseram, disse coisas que outros tinham parado de dizer décadas antes, disse coisas que podia comprovar com sua experiência e sua história. Num mundo onde quase ninguém é credível, onde muitos de nós confiam tão pouco, Pepe conseguiu ocupar um espaço inesperado de confiança e credibilidade.”. E lembrou uma das tantas lições que ele deixou: “Nós, da esquerda, somos filosoficamente diferentes. O homem é o problema, mas também é a esperança. Não viemos à vida para explorar os outros, para sugar seu sangue; viemos para viver juntos”.
Em tempos em que a esquerda é tímida ou dogmática, autoritária ou infrutífera, suas palavras nos desafiaram, nos fizeram pensar, nos deram esperança. Portanto, goste ou não, o ex-guerrilheiro, ex-prisioneiro, ex-presidente e ex-velho sábio, Pepe Mujica, continuará falando por muito tempo. Nos despedimos de Mujica com a voz embargada, mas acreditando que outros braços estão aqui para construir um futuro de mais igualdade, justiça e esperança, assim com tantas vezes Pepe almejou.
Esses e outros destaques da semana no IHUCast.
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