17 Mai 2025
Felix Neumann entrevista o provincial da ordem de Santo Agostinho na Alemanha, Pe. Lukas Schmidkunz, sobre as raízes espirituais, relacionais e práticas das experiências do Papa Leão XIV na família religiosa.
A reportagem é de Felix Neumann, publicada por Settimana News, 13-05-2025.
Padre Lukas, quando Bento XVI foi eleito, o slogan na Alemanha era "nós somos o papa". Os agostinianos agora também são "papas"?
Assim que foi anunciado, recebi as primeiras mensagens: "Agora você é Papa!" Mas essa expressão não é usada pelos nossos irmãos.
Vocês esperavam que um de vocês se tornasse papa?
Ter um agostiniano no conclave, pela primeira vez em muito tempo, obviamente tornou isso possível, pelo menos em teoria. Conversamos internamente sobre as oportunidades que ele poderia ter, o quão bem integrado ele era e o quanto ele era respeitado. As avaliações foram variadas. Nós na Alemanha achávamos que isso era bastante improvável, enquanto nossos irmãos na Bélgica estavam mais otimistas. Mas no final foi uma surpresa para todos quando nos sentamos em frente à televisão e o nome foi anunciado.
O senhor conheceu o atual Papa durante seu mandato como prior geral dos agostinianos. Que impressão ele causou em você como pessoa?
Ele é um homem muito agradável e sociável. É bom sentar com ele à noite. Ele tem um ótimo senso de humor. Participou dos nossos capítulos provinciais, que presidiu e acompanhou, visitando depois os nossos irmãos nos mosteiros e conventos. Ele nunca se apresentou como alguém que ostentava poder e fazia pronunciamentos sobre o que estava acontecendo. Ele é um homem que escuta, observa e se interessa pelas pessoas ao seu redor. Quando eu morava no mosteiro de Germershausen, na diocese de Hildesheim, levei-o para visitar o centro de educação familiar de São Martinho. Foi então que percebi o quanto ele era atencioso e interessado em nosso trabalho e em nossa vida juntos. Seu comportamento é modesto. Ele não fica apenas tagarelando e, quando fala, o faz de forma pensativa e ponderada.
Ele também fala alemão?
Um pouco, mas ele fala inglês de forma muito compreensível. Este não é o caso de muitos americanos.
Como ele exerceu seu papel como prior geral? O que era importante para ele?
Era importante para ele conhecer seus irmãos. Ele não gostava da palavra Visitação (visita canônica). Como prior geral, ele naturalmente teve que visitar as províncias e os conventos, conforme estabelecido nas constituições. Ele sempre repetia que não vinha como um visitante apostólico com atitude de inspetor, mas como alguém que ia ao encontro dos irmãos. Ele perguntou: "Como a comunidade vive aqui? Como vocês, agostinianos, convivem em nível local? Era muito importante para ele que respeitássemos a regra de nossas constituições, segundo a qual cada convento é composto de pelo menos três irmãos, ou melhor ainda, quatro. Especialmente nas províncias menores, a tentação de enviar alguém sozinho para outro lugar para começar um negócio, ou de deixar alguém para trás quando algum trabalho estava prestes a ser concluído, era e é forte. Ele não queria essa mentalidade de lutador solitário.
No caso do Papa Francisco, muitas coisas foram explicadas pelo estilo de liderança jesuíta. Existe um estilo de liderança agostiniano?
É essencial que tomemos decisões como comunidade. Pode haver discussões e diferenças de opinião. Não é típico dos agostinianos que o superior se levante e imponha o que ele acha certo. Temos um alto ideal de comunidade. Em todos os níveis, temos conselhos que decidem, consultam e buscam uma solução conjunta. Este é o estilo de liderança agostiniano: participação, envolvimento e possibilidade de todos participarem. As decisões não são tomadas na hora, mas a partir de um processo compartilhado.
Que espiritualidade caracteriza os agostinianos? Como eles veem o mundo e como vivem sua fé?
Somos moldados pelos ensinamentos de Santo Agostinho e pela regra monástica que ele nos deu. O princípio de viver juntos e caminhar juntos é central em tudo isso. O que influenciou Agostinho não foram tanto suas grandes obras teológicas, mas suas cartas e sermões. Isso mostra claramente que Agostinho estava ciente das pessoas de seu tempo, de suas preocupações e ansiedades compartilhadas. Nascemos na Idade Média no contexto do movimento das ordens mendicantes. Isso significa que queremos estar ao lado das pessoas, ouvi-las e colocá-las no centro de nossas ações e crenças. Não queremos forçar ou impor nada, mas sim entender suas preocupações e necessidades, apoiá-los e conviver com eles.
Isso poderia descrever o trabalho de um papa.
Como bispo, Robert Prevost viveu dessa maneira e abordou as pessoas como pastor e missionário. Espero e acredito que ele fará o mesmo que o Papa.
Aos 69 anos, Leo é relativamente jovem para um papa e pode esperar um longo pontificado. O que você espera?
Ele precisará de tempo para se adaptar ao seu papel. Ele não é alguém que fará grandes reformas rapidamente. Nem espero que isso desfaça algo que foi criado durante o pontificado de Francisco. Sua atitude é confiável e envolvente, abre à Igreja e ao mundo a possibilidade de envolver as correntes que hoje divergem em todos os lugares: conservadoras e progressistas. Na Igreja e no mundo, as coisas podem coexistir sem que uma tenha que condenar a outra. O Papa Leão tem exatamente as forças necessárias para esta jornada de reconciliação e unidade.