30 Março 2021
O ex-prefeito de Culto Divino acredita que as disposições da Secretaria de Estado “colocam em risco o decoro da celebração, a participação devota na missa e a liberdade dos filhos de Deus”.
A reportagem é de Darío Menor, publicada por Vida Nueva Digital, 29-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Não cessa a polêmica sobre a decisão da Secretaria de Estado do Vaticano de 12 de março, que aboliu a celebração das Missas individuais nos diversos altares da Basílica de São Pedro, permitindo apenas que a Eucaristia fosse oficiada de acordo com a forma extraordinária do Rito Romano (anterior à reforma conciliar) na Capela Clementina das catacumbas do Vaticano.
Após as objeções levantadas pelos cardeais Raymond L. Burke, Gerhard L. Müller e Walter Brandmüller, que em outras ocasiões também haviam demonstrado perplexidade com algumas decisões tomadas pelo Papa Francisco, na última segunda-feira, 29, veio a crítica de outra voz de peso no setor eclesial conservador: a do cardeal Robert Sarah, quem até o mês passado era o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
“Rogo humildemente ao Santo Padre que ordene a retirada das recentes normas ditadas pela Secretaria de Estado, que carecem de justiça e de amor, não correspondem à verdade nem à lei e não facilitam, mas antes põem em perigo o decoro da celebração, a devota participação na missa e a liberdade dos filhos de Deus”, afirma Sarah em uma carta na qual defende sua posição e cujo conteúdo foi publicado pelo blog Settimo Cielo, do italiano Sandro Magister.
O purpurado guineense destaca que “o decoro da liturgia não se obtém automaticamente impondo a concelebração e simplesmente proibindo a celebração individual da missa” e recorda que o Magistério recomenda que os sacerdotes celebrem diariamente, porque assim “flui uma grande quantidade de graças a todo o mundo”.
Por isso considera “uma pena, do ponto de vista espiritual”, que o documento da Secretaria de Estado fale de “supressão” das celebrações individuais, o que, ao seu entendimento, supõe “uma violência inusitada” pela escolha daquele verbo.
“Muitos padres vêm a Roma em peregrinação! É muito normal para eles, mesmo que não tenham um grupo de fiéis para acompanhá-los, nutrir o desejo saudável e belo de poder celebrar a missa na Basílica de São Pedro, talvez no altar dedicado a um santo por quem têm devoção especial”, diz Sara, que lamenta a falta de acolhida a estes padres que não aceitam “a imposição da concelebração”, porque com a nova disposição da Secretaria de Estado só essa opção é permitida.
A possibilidade de poder celebrar a missa individualmente na Basílica de São Pedro, “deve ser garantida”, adverte o 'ex-ministro' da liturgia vaticana, que sustenta a sua reivindicação apelando para o “direito comum” e o “altíssimo valor simbólico deste templo para toda a Igreja”. Com esta opção proibida, os múltiplos altares da basílica também serão transformados em “tumbas de santos” e “meras obras de arte” na maior parte do tempo.
Ao analisar a decisão de que a Eucaristia só pode ser celebrada “pelo rito extraordinário” na Capela Clementina, Sarah qualifica-a de “singular” e alerta para as repercussões que podem supor que se deve estar “autorizado” para ministrar uma Missa, como diz o texto do Secretário de Estado.
“Quem deve autorizar esses padres? Por que a forma extraordinária não pode ser celebrada novamente na basílica? Que perigo representa para a dignidade da liturgia?”, pergunta o purpurado, expressando o seu desejo de que neste templo que representa o centro do catolicismo, “espontaneamente seja permitida uma celebração deste tipo”.
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Robert Sarah entra na “guerra das missas” ao pedir ao Papa que permita as celebrações individuais na Basílica de São Pedro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU