“A pandemia de Covid-19 demonstra que devemos reduzir os nossos pontos cegos”. Entrevista com o presidente do Fórum Econômico Mundial

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27 Março 2020

"Embora nos últimos anos muitos países tenham manifestado, com razão, crescente preocupação com as mudanças climáticas não devemos esquecer que ainda existem outros riscos. Da mesma forma, à medida que a atenção do mundo agora se volta para a epidemia COVID-19, a comunidade global não pode se dar ao luxo de negligenciar a batalha para promover intervenções mais ambiciosas sobre as mudanças climáticas ou soluções para os desafios da segurança informática e segurança internacional", escreve Borge Brende, presidente do Fórum Econômico Mundial, em artigo publicado por Business Insider, 26-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Talvez não tenhamos sido capazes de prever com precisão todos os detalhes da pandemia COVID-19, mas há anos sabemos que os riscos de pandemias globais estão em ascensão e que trazem consigo um potencial de graves danos para a economia do planeta.

Mas então por que parece que essa crise surgiu do nada e o que podemos fazer para estarmos melhor preparados para enfrentar os próximos riscos?

Muitas vezes, as pessoas consideram como mais ameaçadores os riscos imediatamente percebidos, devido à exposição pessoal, à cobertura da mídia ou por ambas as razões. Os riscos menos imediatos tendem a passar despercebidos.

Os dados da Pesquisa de Percepção Global de Riscos, realizada pelo Fórum Econômico Mundial em cerca de 1.000 pessoas envolvidas, mostraram isso. Na última década, as doenças infecciosas estiveram entre os cinco principais riscos percebidos apenas uma vez, em 2015, após a epidemia de Ebola, que ficou em segundo lugar em termos de impacto.

Embora a pesquisa tenha solicitado aos interessados que imaginassem a situação do planeta nos próximos dez anos, as doenças infecciosas não estavam mais entre os principais riscos no ano seguinte. Por outro lado, nossa pesquisa mostrou que, a partir de 2016, questões relacionadas ao clima começaram a dominar a percepção de riscos em nossos entrevistados. Não é por acaso que justamente naquele ano foram registradas as temperaturas mais altas.

É da natureza humana sentir-se mais ameaçado pelo que se percebe como mais próximo. No entanto, o perigo potencial existe quando um risco se esconde longe da nossa visão coletiva, porque pode não ser enfrentado e podemos estar despreparados para enfrentá-lo quando se manifesta.

O que podemos fazer?

Para começar, precisamos estar cientes de nossos pontos cegos. Embora nos últimos anos muitos países tenham manifestado, com razão, crescente preocupação com as mudanças climáticas não devemos esquecer que ainda existem outros riscos. Da mesma forma, à medida que a atenção do mundo agora se volta para a epidemia COVID-19, a comunidade global não pode se dar ao luxo de negligenciar a batalha para promover intervenções mais ambiciosas sobre as mudanças climáticas ou soluções para os desafios da segurança informática e segurança internacional.

Diante da pandemia de coronavírus, já vimos o cancelamento de importantes encontros de cúpula sobre o clima, como a Cúpula Mundial dos Oceanos no Japão, e temos dificuldades em reprogramar a Convenção sobre Diversidade Biológica. Se, por um lado, temos que levar em conta os novos perigos e enfrentar a pandemia, pelo outro, é importante não interromper o precioso trabalho de mobilização da comunidade global em direção a objetivos mais ambiciosos para o clima.

Ao mesmo tempo, devemos buscar medidas que tornem menos provável o aparecimento de pontos cegos coletivos. Nesse caso, é essencial criar uma forte estrutura global que envolva várias partes interessadas, uma estrutura na qual governos, empresas e organizações internacionais trabalhem juntos. Isso é necessário porque diferentes atores têm perspectivas diferentes e tendem a ter pontos de contato distintos entre as sociedades. Garantir o contato contínuo entre diferentes atores nas várias regiões do mundo e nos diversos setores industriais aumenta a possibilidade de que os riscos, mesmo que sejam perdidos de vista individualmente, não escapem à comunidade.

Devemos admitir que é impossível prever todo risco potencial e que nem sempre podemos estar sempre em guarda.

É por isso que devemos tomar uma posição que nos permita enfrentar os riscos que se materializam. Novamente, uma estrutura que envolva várias partes interessadas é fundamental. Basta olhar para 2009 para perceber como foi importante ter à disposição um quadro multilateral para levar a economia global à recuperação. O G20, por exemplo, capaz de reunir rapidamente os governos, conseguiu publicar o "Quadro de referência para um crescimento forte, sustentável e equilibrado" (Framework for strong, sustainable and balanced growth), que ajudou a evitar uma depressão global.

No momento em que o coronavírus está monopolizando nossa atenção, uma forte abordagem das várias partes interessadas – através das organizações internacionais e iniciativas globais - é fundamental para criar resiliência e preparar-se para as consequências econômicas, políticas e sociais que estão por vir. Não menos importante, é fundamental garantir resiliência em relação aos riscos que não enfrentamos diretamente neste momento.

 

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