Após anúncio, Donald Tump adiou por sete dias o começo do tarifaço, mas as cartas já estão postas e as taxas anunciadas. O presidente americano, no entanto, mais uma vez, amarelou. Quem saiu ganhando? A soberania brasileira, que não cedeu aos que se dizem patriotas, que na verdade são sabujos do Imperialista.
“A economia global entrou em uma nova era nesta sexta-feira: a era das tarifas de Donald Trump. Este 1º de agosto, 193 dias após seu retorno ao poder, será lembrado como a data em que o presidente republicano concretizou uma de suas aspirações mais antigas: inaugurar uma nova ordem comercial marcada pela imposição de tarifas sobre exportações de cerca de 200 países para os Estados Unidos. Um ponto sem retorno”, afirmou o EL País.
Ficaram de fora das cobranças extras 694 produtos que o Brasil exporta para os Estados Unidos. Em suma, 43% das vendas feitas aos norte-americanos no ano passado não foram afetadas. De acordo com o Planalto, cerca de 36% das exportações brasileiras aos americanos serão afetadas pela tarifa de 50%. Isso ocorre porque quase 45% dos produtos foram retirados da lista de aumento pelos EUA. Aço e alumínio, que já tinham alíquota de 50%, assim permanecem. Automóvel e autopeças tinham alíquota de 25% dos EUA ao mundo inteiro e estão mantidas.
O Brasil obteve uma vitória parcial, mas como aponta a economista Maria Luiza Falcão Silva, com a sanção a Alexandre de Moraes, agora a tática é institucional. “O que está em jogo não é apenas o comércio. É o respeito à soberania brasileira. É a capacidade de dizer não à chantagem, venha ela em forma de tarifa ou de sanção.” Apesar do TACO, Trump Always Chickens Out, “esta é uma tentativa de intimidar as instituições brasileiras e favorecer seus aliados internos. É mais do que um ataque pessoal. É um ataque à soberania jurídica do Brasil”.
O tarifaço abre portas e possibilidades para aproximação com outros países. As taxas podem destravar a assinatura definitiva do acordo Europa-Mercosul. Contraditório em alguns aspectos, o principal ponto crítico é justamente o ambiental e os impactos que atingem os países do Sul, enquanto o Norte Global fica isento dos danos climáticos. Pedro Peretti afirma que "você tem inundações, você morre de calor, você tem geadas, você tem secas terríveis, e eles não sofrem nada". "Ele descreve como 'um absurdo' que Bruxelas valide supostos 'padrões ambientais' do Mercosul 'que os latifundiários ignoram'".
O tarifaço, articulado pessoalmente pela família Bolsonaro, compromete o emprego – e a renda – de milhares de famílias brasileiras. A Taurus, fabricante de armas localizada em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, ameaça transferir sua fábrica para os Estados Unidos. O fechamento da empresa significaria a perda de 3 mil postos de trabalho diretos e 15 mil indiretos. Além de defender a soberania, o governo precisa adotar um plano de contingência para cuidar do elo mais fraco dessa corrente: os trabalhadores.
Dois mapas que estão desenhado os avanços e as contradições do governo Lula, conforme resumiu Paulo Kliass. A saída do Brasil do Mapa da Fome mostra um avanço positivo, “apesar do 'ajuste fiscal’. Mas a cartografia dos juros da dívida mostra a cada ano, que o rentismo drena mais recursos públicos. Governo precisa de outra geografia econômica. O primeiro passo: reduzir a Selic”, defende o economista.
A reunião do Copom essa semana manteve a alta da taxa básica de juros. Com o pagamento de juros da dívida pública aos parasitas do sistema financeiro chegando à marca de R$ 1 trilhão, quem paga a conta da política monetária são os mais pobres. A escolha, segundo Sergio Barcellos, “expressa um modelo de governança econômica que privilegia a estabilidade da inflação a qualquer custo, mesmo que isso signifique paralisar o crescimento, sufocar políticas sociais e aprofundar desigualdades. Ao se omitir ou ao se submeter a essa lógica, o governo se torna corresponsável pelos efeitos sociais dessa política econômica, especialmente sobre os que menos têm”.
Vale enaltecer a saída do país do Mapa da Fome, mas, ao passo que reduzimos a insegurança alimentar, estamos comendo pior. Isso porque há um aumento do consumo de ultraprocessados e de casos de obesidade, conforme explica o ex-ministro José Graziano: “hoje não basta combater a fome. Tem também que combater a má alimentação. Isso não implica apenas em dar de comer, mas dar de comer produtos de qualidade. Atualmente, 24% da população não consegue comprar uma cesta básica considerada saudável, que é aquela cesta que tem frutas, verduras e legumes, uma diversidade de alimentos”.
Semana passada esgotamos todos os recursos do planeta e passamos a ficar em débito com a natureza. O dia da sobrecarga da Terra chegou mais cedo e uma pesquisa vinda da Antártica acendeu outro alerta: desde 2016 as águas superficiais do Oceano Antártico estão mais salgadas, sinalizando que o sistema climático do sul do planeta estaria mudando drasticamente. Essa alteração histórica pode afetar a vida selvagem, o turismo e as pescarias”, advertem.
A batalha em prol do veto integral ao PL da devastação continua. Enquanto as organizações pedem #VetaTudoLula, o MPF recomenda mais de 30 vetos. A situação da Amazônia, que teve queda de desmatamento de 18% em junho, tende a piorar se o licenciamento ambiental for implodido. E “apesar da queda, a devastação acumulada preocupa especialistas; Amazonas, Mato Grosso e Pará são responsáveis por 79% da área destruída”.
Ainda sobre crise climática, a presidência da COP30 fortalece o compromisso com soluções para tratar os impactos da crise climática na saúde. Mas, a cem dias do evento, a comunidade internacional se mobiliza e já oficializou o pedido de mudar o evento de cidade, por conta dos preços exorbitantes das hospedagens em Belém.
Essa semana foi publicado o Relatório Violência Contra Povos Indígenas no Brasil – dados de 2024, pelo Cimi. Os números indicam um recrudescimento da violência contra os povos originários no primeiro ano da nefasta lei do Marco Temporal: a entidade registrou 424 casos de violência contra a pessoa, entre eles, 211 assassinatos e 31 tentativas de assassinato, sendo Roraima, Amazonas e Mato Grosso do Sul os estados mais letais.
Voltamos a falar da potência em decadência, da repressão e do autoritarismo que lá emergem. Harvard dá sinais de que vai ceder a queda de braços para não ficar sem dinheiro para patrocinar o pensamento livre. Depois de Columbia, a maior universidade americana indica que está negociando com o governo Trump para não ficar sem recursos.
Além disso, o governo americano mandou incinerar os anticoncepcionais que ajudariam mulheres pobres, em mais um gesto de ataque aos direitos delas. Segundo The Guardian, os contraceptivos — principalmente DIUs e implantes hormonais — estavam armazenados na Bélgica. Os produtos foram adquiridos durante o governo Biden, por meio de contratos da agência de ajuda humanitária fechada por Trump e Musk, e seriam destinados a mulheres em países de baixa renda, especialmente na África Subsaariana.
Essa semana os ataques coordenados do conservadorismo eles ganharam os holofotes no Vaticano, que recebeu os “influenciadores católicos” para o Jubileu dos Missionários e Influenciadores Digitais Católicos. Parte do grupo que lá estava coordena ataques ao padre Antonio Spadaro, conforme Marinella Perroni. Em artigo, a teóloga observa que “a imunidade digital, invocada como expressão do mais alto valor democrático, a liberdade de expressão, está se tornando um corrosivo igualmente perigoso para a estabilidade social”.
A cada relato que chega da Faixa de Gaza, perguntamo-nos se ainda resta alguma humanidade. Apesar da trégua, a população morre à míngua, no desespero. São vídeos de crianças implorando por comida aos seus pais, com ataques de palestinos desesperados a comboios de ajuda humanitária. Lá, ao vivo, assistimos aos famintos sob tiros.
“O que estamos vendo hoje é o ápice de tudo o que aconteceu nos últimos 22 meses; não aconteceu de repente, não é como se essas pessoas tivessem morrido de fome de repente; é um processo que foi permitido acontecer. Então, como seres humanos, temos o dever de fazer tudo o que pudermos. Nada justifica isso.” Assim, Ana Jeelani, médica voluntária em Gaza, nos convoca a fazer mais.
Após 662 anos de genocídio israelense em Gaza, o número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou 60 mil. Ao menos 147 pessoas morreram de fome, um número que tende a aumentar, segundo o Unicef, pois 320 mil crianças correm o risco de morrer de fome. Mais de um terço da população passa vários dias sem comer. A ONU alerta: "o tempo está se esgotando para lançar uma resposta humanitária em larga escala".
"A ONU emitiu uma declaração contundente sobre a crise humanitária na Faixa de Gaza, comparando a situação atual às grandes fomes do século XX, como as da Etiópia e de Biafra". A entidade ainda alerta que os lançamentos aéreos de alimentos – autorizados por Israel – são insuficientes, além de perigosos para as pessoas no solo, para conter a catástrofe humanitária no território palestino.
Um estudo, divulgado por uma ONG Israelense essa semana, mostra que os soldados de Israel matam e agridem crianças palestinas, que vivem sob o iminente risco de morte e sem perspectivas de futuro. O documento, intitulado “Our Genocide”, revela o quão macabras são as ações de Israel contra mulheres e crianças. A ONG Save The Children divulgou outro dado chocante: 96% da população infantil em Gaza acredita que vai morrer logo e outros 50% desejam a morte, em decorrência dos traumas gerados pelo conflito.
“As crianças são a imagem mais eloquente do sofrimento provocado pelas guerras”. A constatação está na reportagem do La vanguardia, “O futuro incerto de Andreii e de 100 mil ucranianos órfãos”. A matéria conta a história de Andreii, que assim como milhares de crianças em Gaza, ficou órfão e sem família próxima.
A Casa Branca age para manter o genocídio dos palestinos. A reportagem do El País explica que “o apoio militar e diplomático de Washington, motivado por razões geopolíticas e de política interna, é a principal causa de um bloqueio para o qual contribuem a disfunção da ONU, a divisão europeia e a repressão aos protestos dos cidadãos. Os Estados Unidos fornecem a Israel US$ 3,8 bilhões em ajuda militar anualmente, aos quais devem ser adicionados outros fundos específicos desembolsados para apoiá-lo nesta campanha, como os US$ 8,7 bilhões aprovados em abril de 2024”.
“O que a matança em Gaza, mostrada ao vivo e em repetições nas redes sociais, nos revela? Será que ela nos revela que a espécie humana, como me disse uma vez Hugo Assmann com raiva, é uma espécie que não deu muito certo na evolução das espécies? Com um cérebro supercomplexo e com capacidade social de acumular conhecimentos, a humanidade atual é capaz de matar uma população inteira, destruir todas as casas da região e, mais do que isso, reduzir um povo a uma ‘coisa’, inferior à condição de animal doméstico, pois esses são protegidos por leis e têm o direito de comer”, reflete Jung Mo Sung.
Na visão de Leonardo Boff, para encontrarmos uma chave de virada para a desumanização do outro, devemos estar apegados à compaixão. “A compaixão, segundo o teólogo da libertação, talvez seja a contribuição ética e espiritual maior que o Oriente deu à cultura mundial. O que torna o sofrimento penoso não é tanto o próprio sofrimento. Mas a solidão no sofrimento. O budismo e também o cristianismo convocam a estabelecer uma comunhão no sofrimento para que ninguém fique só e desamparado em sua dor. Como o amor e o cuidado, assim a compaixão tem um campo ilimitado de realização”.
E se houver compaixão, pode ser que Tim Ingold, um dos maiores antropólogos vivo, esteja correto. “Tenho a esperança de que a trajetória atual da sociedade se desmorone, que entre em colapso. Então, teremos a oportunidade de construir sobre outros alicerces e, talvez, nesse momento, este tipo de pensamento ajude a guiar as pessoas sobre como realizar a reconstrução. No entanto, não seremos capazes de instaurar esta forma de pensar dentro do tipo de sociedade atual”.
Em memória à festa de Santo Inácio de Loyola, celebrada em 31 de julho e que se propunha a “ver Deus em todas as coisas”, antes de encerrar, queremos acreditar, assim como Dom Vicente Ferreira, no futuro: “Não sei se é inocência. Mas acredito na força humana. Naquele fundo de bondade que habita cada coração. E que, com ele, vamos achar a solução. Para destruir esse sistema capitalista que tomou conta da terra A gente ainda vai desfraldar a bandeira da paz, em cada campo de guerra”.
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