31 Julho 2025
Mais de um terço da população, até 39%, passa vários dias sem comer, e 6.500 crianças foram tratadas por desnutrição em junho. Um colono assassina um dos cineastas de "No Other Land" (Sem Chão).
A reportagem é publicada por El Salto, 30-07-2025.
Após 662 anos de genocídio israelense em Gaza, o número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou 60 mil, segundo fontes de saúde palestinas. Destes, pelo menos 147 morreram de fome, um número que tende a aumentar, segundo a Unicef e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), que alertam que os principais indicadores alimentares e nutricionais em Gaza já excedem os limites da fome e que "o tempo está se esgotando para lançar uma resposta humanitária em larga escala".
De acordo com o último alerta da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), os níveis de alimentos são os piores desde o início do conflito, e dois dos três limites que indicam fome foram excedidos em algumas partes da Faixa de Gaza.
O primeiro desses indicadores, o consumo de alimentos, despencou em Gaza desde a última atualização do IPC, em maio de 2025. Mais de um terço da população, até 39%, passa vários dias sem comer. A desnutrição aguda é o segundo indicador e aumentou "a um ritmo sem precedentes". Na Cidade de Gaza, segundo o IPC, os níveis de desnutrição entre crianças menores de cinco anos quadruplicaram em dois meses, atingindo 16,5% em julho. Mais de 320 mil crianças — toda a população menor de cinco anos em Gaza — correm o risco de desnutrição aguda, segundo o PMA e o UNICEF. Só em junho, mais de 6.500 crianças foram internadas para tratamento de desnutrição.
“O sofrimento insuportável do povo de Gaza é agora evidente para o mundo. Esperar pela confirmação oficial da fome para fornecer a ajuda alimentar de que eles desesperadamente precisam é inconcebível”, disse Cindy McCain, Diretora Executiva do PMA. Apesar da reabertura parcial e controlada da ajuda, os alimentos que chegam cobrem apenas uma “pequena fração” do que é necessário.
Em 30 de julho, a ONG Anistia Internacional descreveu a morte de Odeh Hadalin, colaborador do documentário vencedor do Oscar "No Other Land", como um assassinato "a sangue frio". O assassinato, cometido por um colono israelense ao sul de Hebron, na Cisjordânia, ocorreu em 28 de julho. O assassino, identificado por testemunhas como Yinon Levi, já havia sido sancionado pela UE, EUA e Canadá em 2024 por seu envolvimento em ataques contra civis palestinos. Segundo o Times of Israel, o acusado está em prisão domiciliar até sexta-feira.
עודה מת. נרצח. https://t.co/uHCRSN5wA0
— Yuval Abraham יובל אברהם (@yuval_abraham) July 28, 2025
Segundo o jornalista e cineasta israelense Yuval Abraham, codiretor de No Other Land, Yinon Levi culpou quatro familiares de Odeh Hadalin pela morte de seu marido, que foram presos pelo exército israelense. Em X, Abraham denunciou um "sistema que pune as vítimas (que estão sob lei militar) e recompensa o atirador (que está sob lei civil)". Em março passado, dezenas de colonos já haviam atacado e espancado o codiretor do documentário, Hamdan Ballal.
O governo francês reagiu com um comunicado descrevendo o ataque como um "ato de terrorismo". Aplicou o mesmo termo à violência infligida por colonos na Cisjordânia, que deixou pelo menos 30 palestinos mortos desde o início de 2022 e tem sido particularmente brutal nas últimas semanas em Kafr Malik, a nordeste de Ramallah, e na aldeia cristã de Taibe. O Palácio do Eliseu reiterou sua condenação à colonização, que é contrária ao direito internacional, e alertou que continuará a apoiar medidas contra colonos e membros do governo israelense que apoiam essa violência.
Nesse sentido, o governo holandês decidiu, em 29 de julho, proibir a entrada em seu território dos ministros israelenses da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, e das Finanças, Bezalel Smotrich, representantes da ala mais radical e de extrema direita do governo de Benjamin Netanyahu. Uma decisão que, para Tel Aviv, fortalece o Hamas e diminui a possibilidade de um cessar-fogo. O governo Netanyahu usou termos semelhantes em relação à decisão da França e do Reino Unido de reconhecer o Estado palestino, uma medida com poucas consequências, como o próprio Donald Trump esclareceu: "Essa declaração não tem peso algum."