30 Julho 2025
O setor de vinhos e bebidas alcoólicas na França teme “consequências” potencialmente “colossais”, após o anúncio de um acordo entre a União Europeia e o governo de Donald Trump sobre taxas alfandegárias. Os EUA constituem um mercado essencial que representa 25% das exportações do setor produzidas em solo francês. Representantes defendem o fortalecimento europeu diante dos EUA e o estreitamento de laços comerciais com a América Latina.
A informação é de Luiza Ramos, publicada por RFI, 29-07-2025.
A hipótese de um aumento de 15% das taxas aduaneiras representaria um choque imediato para o setor de vinhos e bebidas alcoólicas na França, como alertou Gabriel Picard, presidente da Federação dos Exportadores de Vinhos e Bebidas da França, à rádio Franceinfo nesta terça-feira (29). Para o representante do setor, “é preciso dedicar tempo, nos próximos dias, para discutir, esclarecer e negociar”.
“Se somarmos uma variação de 15% na taxa de câmbio, teremos um aumento de cerca de 30% nos preços no mercado americano. Um aumento de 30% nos preços significa uma queda de 30% no volume. É algo colossal. Portanto, trata-se efetivamente de algo que talvez seja parcialmente absorvível, mas que tem consequências colossais”, salientou.
Gabriel Picard acredita ainda que “o principal erro” que a UE poderia cometer é não pensar nas consequências do acordo no longo prazo. Segundo ele, “a Europa deve se fortalecer, deve se recompor, deve efetivamente ter um posicionamento muito mais forte em relação aos Estados Unidos, deve ser capaz de assumir uma relação de força bem diferente, primeiro no plano político, depois no plano econômico, no plano industrial e no plano tecnológico”.
Patrick Martin, presidente da Medef (Movimento das Empresas da França), a principal organização patronal do país, também destacou os impactos no mercado de vinhos franceses e acrescentou que ainda não está claro se os destilados também sofrerão consequências. No entanto, ele afirmou, também em entrevista à rádio Franceinfo nesta terça-feira, que a França precisará fortalecer outros mercados além dos EUA.
“Precisamos assinar o tratado com o Mercosul, que está em negociação há 25 anos. Ainda há ajustes a fazer, claro”, sublinhou Martin.
A Comissão Europeia defende o acordo americano, mesmo que ainda apresente pontos indefinidos sobre quais setores serão mais afetados, pois defende ser "melhor do que uma guerra comercial”.
Para Martin é necessário analisar com cautela. “É preciso esperar por mais detalhes, porque ainda há muitas zonas cinzentas. Por exemplo, no setor do aço, dos medicamentos, dos vinhos e até dos destilados. Houve anúncios bastante prematuros, como sempre, por parte de Donald Trump, mas eu acredito que o jogo ainda não acabou”, destacou.
Patrick Martin insiste que a América Latina pode ser uma opção viável, apesar da hostilidade dos dirigentes franceses sobre o acordo de livre comércio com os países do Mercosul. Segundo ele, a Europa não pode "depender da China".
“Os chineses são fundamentalmente muito mais ameaçadores que os americanos, até porque não são uma democracia. (...) Não podemos depender, de um lado, da China, e do outro, dos Estados Unidos, e, ao mesmo tempo, nos proibir de negociar com países amigos. E penso, em particular, na América Latina”, insiste.
O governo francês é contra o UE-Mercosul devido à concorrência entre a agricultura sul-americana e a europeia, especialmente a francesa. Mas Martin acredita que o lado positivo da troca pode ser evidenciado neste momento de tensões aduaneiras.
“Há tantos setores — inclusive alguns agrícolas, como a viticultura — que seriam beneficiados por esse acordo, que não podemos, só porque outros setores agrícolas seriam ameaçados, colocar em risco toda a economia. Então, sim, é preciso trabalhar nas chamadas 'cláusulas espelho' e em algumas cotas, para evitar que o mercado europeu seja inundado por produtos que não seguem nossas normas”.
“Os brasileiros, em particular, estão conscientes de que essas adaptações são agora indispensáveis. E acredito que o presidente Lula, falando do Brasil, também tem essa consciência”, enfatizou Patrick Martin.