13 Mai 2025
"Um meio-termo entre o Papa Bento XVI e o Papa Francisco? Se combinarmos os sapatos pretos de Bergoglio com a cristalina clareza doutrinária de Ratzinger, sem buscar originalidade a todo custo, creio que Leão XIV oferecerá uma bela combinação. Sim, ele poderá representar a síntese do melhor de ambos". A voz de Dom Georg Gaenswein vem do frio báltico de Vilnius, na Lituânia, onde é núncio desde junho do ano passado, exercendo sua atividade diplomática também na Letônia e na Estônia. Ele tem uma vibração alegre, quase aliviada. O homem que foi prefeito da Casa Pontifícia com Bento XVI e depois com Francisco, por quem foi abruptamente destituído em 2020, acompanhou de longe o Conclave e a eleição de Robert Prevost. E não esconde que está positivamente surpreso com o epílogo, mesmo admitindo conhecer pouco sobre o novo pontífice.
A entrevista é de Massimo Franco, publicada por Corriere della Sera, 12-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Encontrei-o com o Papa Bento XVI quando ele era Superior Geral dos Agostinianos, nos jardins do Vaticano. E novamente quando, em abril de 2007, ele visitou a catedral de Pavia, onde se encontra o túmulo de Santo Agostinho. Depois, tornou-se bispo no Peru e nunca mais o vi. Mas sua eleição foi uma grande e boa surpresa para mim. Quando o vi sair para a sacada da Basílica de São Pedro, disse a mim mesmo: visual e acusticamente, esse Papa inspira esperança, esperança, esperança..."
Também ficou impressionado com sua decisão de ler a saudação inicial: um pequeno gesto de rigor e seriedade diante da plateia global que estava aclamando.
"Quando vi que ele tinha um texto escrito na mão, disse a mim mesmo: ele começou bem", conta o ex-braço direito do Papa Emérito e, por sete anos, também de Francisco. Para "Don Georg", como era familiarmente chamado, "Leão XIV construirá pontes como seu antecessor. Mas em um contexto e estilo diferentes daqueles de Francisco. Há grandes tensões na Igreja hoje, e há conflitos assustadores lá fora. Acredito que agora é necessária clareza doutrinária. A confusão destes anos deve ser superada. E uma das ferramentas a serem usadas são as estruturas que já existem. As instituições da Igreja não são uma praga nem uma ameaça ao Papa. Elas estão lá para oferecer ajuda aos pontífices, que devem se deixar ajudar. Não se pode governar sozinho, desconfiando de suas próprias instituições."
Em suas palavras, percebe-se claramente o eco de uma percepção diferente da maneira de conduzir o cristianismo entre Bento XVI e seu antecessor argentino. Mas, paralelamente, adivinha-se o desejo de arquivar aquela fase, e aquele 15-01-2020, quando D. Gaenswein foi visto pela última vez em uma audiência geral à direita de Bergoglio como guardião da Casa Pontifícia. A partir de então, ele literalmente desapareceu de qualquer reunião pública, sem que ninguém explicasse os motivos. Exceto, cerca de um mês depois, uma declaração burocrática e pouco crível da Sala de Imprensa do Vaticano. "Uma redistribuição ordinária de funções", foi comunicado, sem que ninguém acreditasse plenamente. "Mas isso são águas passadas", assegura o núncio em Vilnius. "Naqueles anos sofri, é verdade, mas esclareci tudo com Francisco antes mesmo da minha nomeação como núncio. E agradeço a ele, ou a quem quer que estava por trás dele e que decidiu me enviar aqui para os países bálticos, porque isso me permitiu retomar meu serviço na Igreja."
É como se o reflexo da pacificação que adveio do voto quase unânime na Capela Sistina se projetasse sobre as antigas divisões e contribuísse para reduzi-las, senão para recompô-las.
A nova fase do papado de Leão XIV também pode ser deduzida desse desejo transversal de fechar com o passado. “O Papa Prevost me dá grande esperança. Estou convencido de que ele terá um impacto positivo na Igreja e no mundo. Ele é um pacificador”, explica D. Gaenswein. “A escolha de seu nome, na tradição de São Leão Magno e Leão III, que coroou Carlos Magno em 800, é muito indicativa. Seu nome e sua vestimenta deixaram claro que não haverá continuidade, mas uma fase totalmente nova. Sua experiência, sua capacidade de falar muitas línguas, o fato de ter sido missionário, mas também de ter trabalhado na Cúria por dois anos, fazem dele um Papa que é ao mesmo tempo pastor e de governo.
"Ele não vem de um único ambiente, mas de muitas coisas juntas. E isso lhe permitirá falar a todos.”
O ex-braço direito de Bento XVI e, até 2020, de Francisco, admite ter ficado surpreso com a escolha de um estadunidense. "Lembro-me de dizer a algumas pessoas: quando a fumaça branca aparecer, provavelmente será para o Cardeal Pietro Parolin, ou não sei o que está acontecendo. Sinceramente, eu tendia a excluir firmemente a eleição de outro latino-americano. Mas mesmo americano do norte me parecia improvável. Espero que não apenas alguns cardeais de um determinado continente, mas todos eles, tenham sido ajudados pelo Espírito Santo." Ele não diz isso explicitamente, mas parece impressionado com a habilidade com que os estadunidenses se movimentaram, conseguindo consolidar seus consensos com aqueles dos latino-americanos e dos apoiadores do Secretário de Estado, Parolin; e provavelmente também com as divisões dos cardeais italianos. E agora? “Agora começa uma nova fase. Percebo um certo alívio generalizado. A época da arbitrariedade acabou. Podemos começar a contar com um papado capaz de garantir a estabilidade e se apoiar nas estruturas existentes, sem derrubá-las e revirá-las.”
Nada mais Papa na Casa Santa Marta?
"Acredito que Leão XIV certamente irá morar no Palácio Apostólico. Aquele palácio destina-se a ser a residência dos Papas. É a sua função histórica".
A anomalia da Casa Santa Marta acaba?
"Você usa a palavra anomalia. Só posso observar que me agrada pensar que à noite, no Palácio Apostólico, o Papa acenderá a luz e as pessoas saberão que ele está lá".