29 Outubro 2018
“Fica claro que os jovens são também aqueles que fazem uma Igreja participativa e corresponsável. Tornar realidade esta metodologia nas Igrejas locais dependerá de quanto integramos os jovens no próprio processo”. A reflexão é de Juan Bytton, SJ, em artigo publicado por Religión Digital, 28-10-2018. A tradução é de André Langer.
Juan Bytton é padre jesuíta, capelão da Pontifícia Universidade Católica do Peru, participou do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, nomeado pelo Papa Francisco como auditor no atual Sínodo dos Bispos, cujo tema foi a juventude.
Chega o final de um mês de trabalho sinodal. Um mês intenso, na forma e na profundidade. E esta é uma primeiríssima reflexão do que foi vivido. Já o Instrumentum Laboris expressava muito bem qual era o objetivo do Sínodo: “como o Senhor Jesus caminhou com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35), também a Igreja está convidada a acompanhar todos os jovens, sem excluir ninguém, para a alegria do amor” (n. 1).
O tema que nos chamou era os jovens, e foi se descobrindo dia a dia, com a ajuda do Espírito, que os jovens não são um tema, mas uma realidade; que não são um objeto, mas sujeito de uma vida eclesial ativa; que não são o futuro, mas o presente da experiência cristã. Os jovens em aula e todo o trabalho pré-sinodal permitiram que a Assembleia trabalhasse com abertura e “parresia”. O ícone bíblico que foi escolhido para embasar o documento final foi a passagem dos discípulos de Emaús:
Caminhar com..., abrir os olhos..., eles voltaram sem demora. Esses três momentos da relação entre Jesus e os discípulos foram os três momentos do Sínodo, do documento final e, sem dúvida, dos passos a seguir. Podemos dizer que o documento foi o próprio Sínodo, que procurou espelhar o que foi refletido à luz da realidade do mundo – e nela os jovens – e da fé em Jesus Cristo.
A experiência sinodal ajudou a sentir o espírito e a descobrir o que Deus nos pede hoje a partir da vida dos jovens. Foram e são os jovens que despertam a Igreja e lhe pedem modos renovados de ser e fazer. É por isso que a sinodalidade missionária começou a ocupar um espaço muito especial. Assim, fica claro que os jovens são também aqueles que fazem uma Igreja participativa e corresponsável. Tornar realidade esta metodologia nas Igrejas locais dependerá de quanto integramos os jovens no próprio processo.
A metodologia tem sido a do discernimento, que nos deixou surpreender pela novidade que cada um e cada uma trazia. A novidade que ia acontecendo com os trabalhos cotidianos na aula: a convivência diária, o trabalho em grupos, os intervalos, a vivência em cada local de alojamento. “Assim como todo crente, também a Igreja está sempre em discernimento”, nos diz o documento final.
Os temas discutidos e que aparecem no documento são os temas que tocam o coração dos jovens de hoje: o ambiente digital com suas vantagens e seus riscos, os migrantes, os pobres, o corpo, a sexualidade, a iniciação cristã, a política, a vida da Igreja local, a educação e o chamado à santidade, eixo central das conclusões. A “arte do discernimento” nos ajudou e nos ajudará a responder fielmente ao “evangelho da liberdade” e seu viver na Igreja ao longo dos séculos. Neste processo ocupa um lugar central o compromisso fundamental com os pobres, pois, como observava um dos padres sinodais, não se trata de integrar os pobres na vida da Igreja, mas que a própria Igreja se integre na vida dos pobres.
Da mesma maneira, levanta-se a voz diante da urgência dos migrantes, muitos deles jovens, que faz com que os quatro verbos dirigidos pelo Papa Francisco como um apelo ao mundo inteiro, sejam agora verbos sinodais: acolher, proteger, promover e integrar. O valor teológico e pastoral da escuta torna os jovens “um lugar teológico”.
Por outro lado, a presença do Papa foi crucial. Ele faltou a pouquíssimas sessões devido a compromissos já assumidos. O seu encontro diário e próximo com todos os participantes fez com que o próprio Sínodo tivesse aquele ar de fraternidade e sinceridade. Neste momento em que a Igreja está passando por não pequenas dificuldades, a trágica questão dos abusos sexuais não foi deixada de lado. A Igreja está comprometida com uma reforma na formação dos seminários e com um crescimento saudável da integração da sexualidade e da vocação.
A fragilidade abre a possibilidade à conversão, e é isso que exige caminhar ao lado de Jesus. O Ressuscitado quer caminhar com os jovens, compartilhando sua vida inteira, como fez com os discípulos de Emaús. Demos mais um passo em direção ao dinamismo que uma Igreja em saída nos pede. É um novo Pentecostes porque reconhecemos a ação renovadora do Espírito. Falamos de uma fé feita diaconia, porque somente o serviço tornará as palavras dignas de crédito.
O que, concretamente, resta a ser feito? Na minha opinião, levar o Sínodo às Igrejas locais de três modos diferentes: 1. Compartilhar o que foi vivido e fazer o documento final ser conhecido; 2. Convocar sínodos diocesanos com os jovens; 3. Retomar o caminho de uma Igreja sinodal.
Concluindo, falamos de um tema: ser e fazer Igreja com os jovens; de uma forma: a sinodalidade; e de um método: o discernimento. Os jovens ajudaram a Igreja a avançar rumo a uma sinodalidade missionária renovada. Todos os membros da Igreja são necessários (1 Cor 12). É o caminho da unidade através da diversidade, um mosaico de vidas que mostra a beleza de ser Igreja universal, que é e deve ser sempre a beleza do Evangelho, capaz de superar todos os obstáculos que impedem o ser humano de estar à altura de sua dignidade de filho e filha de Deus.
Nota de IHU On-Line: A íntegra do documento final, em italiano, pode ser lida aqui.
Veja a seguir a carta do Sínodo aos Jovens:
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Com os jovens rumo a uma sinodalidade missionária. Síntese de uma experiência eclesial” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU