Quase 30% das crianças indígenas com menos de 5 anos sofrem de desnutrição

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18 Outubro 2019

Nas últimas décadas, o Brasil reduziu significativamente a taxa de desnutrição crônica entre menores de 5 anos (de 19,6% em 1990 para 7% em 2006), atingindo, antes do prazo, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Entretanto, a desnutrição crônica ainda é um problema em grupos mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%. Os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmis. O relato é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

A reportagem é publicada por ONU Brasil, 15-10-2019.

Um número alto de crianças com menos de 5 anos está sofrendo as consequências físicas da má alimentação e de um sistema alimentar que está falhando com elas, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) nesta terça-feira (15) em um novo relatório sobre crianças e adolescentes.

O relatório “Situação Mundial da Infância 2019: Crianças, alimentação e nutrição” aponta que ao menos uma em cada três crianças com menos de 5 anos – cerca de 250 milhões – está desnutrida ou com sobrepeso.

Duas em cada três com idade entre 6 meses e 2 anos não recebem alimentos necessários para sustentar o crescimento adequado de seu corpo e de seu cérebro. Isso coloca em risco o desenvolvimento cerebral, deixando-as sujeitas a dificuldades de aprendizagem, baixa imunidade, aumento de infecções e, em muitos casos, a morte.

As tendências globais se confirmam no Brasil. O país passou por uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional que afetou o padrão de consumo alimentar e a saúde da população.

Nas últimas décadas, o Brasil reduziu significativamente a taxa de desnutrição crônica entre menores de 5 anos (de 19,6% em 1990 para 7% em 2006), atingindo, antes do prazo, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Entretanto, a desnutrição crônica ainda é um problema em grupos mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%. Os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmis.

Ao mesmo tempo, aumenta progressivamente o consumo de alimentos ultraprocessados (alimentos com baixo valor nutricional e ricos em gorduras, sódio e açúcares) e a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil.

Uma em cada três crianças de 5 a 9 anos possui excesso de peso, 17,1% dos adolescentes estão com sobrepeso e 8,4% são obesos. Apesar da Política Nacional de Alimentação Escolar, a escola ainda é considerada um ambiente obesogênico, com lanches de baixo teor de nutrientes e alto teor de açúcar, gordura e sódio.

“No Brasil, como na maioria dos países da América Latina e do Caribe, crianças e adolescentes estão comendo muito pouca comida saudável e muita comida pouco saudável”, afirma Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.

“Por causa disso, hoje há uma tripla carga de má nutrição, em que desnutrição e deficiência de micronutrientes coexistem com o sobrepeso e a obesidade, associados a doenças crônicas não transmissíveis.”

“Temos de capacitar crianças, adolescentes e suas famílias para que exijam alimentos saudáveis e, por outro lado, exigir a regulamentação da informação nutricional dos alimentos. O UNICEF defende o direito do consumidor de saber o que está comendo por meio de uma rotulagem frontal de alimentos, no formato de triângulo, que é facilmente compreensível a crianças e adultos.”

A má nutrição no mundo, em números

Em todo o mundo, 149 milhões de crianças têm déficit de crescimento, ou estão muito baixas para a idade; 50 milhões de crianças estão com baixo peso para a sua altura; 340 milhões – ou uma em cada duas – sofrem de deficiências em vitaminas e nutrientes essenciais, como vitamina A e ferro; e 40 milhões de crianças estão acima do peso ou obesas.

O relatório alerta que práticas alimentares de baixa qualidade começam desde os primeiros dias de vida. Embora a amamentação possa salvar vidas, apenas 42% das crianças com menos de 6 meses são amamentadas exclusivamente, e um número crescente de bebês é alimentado com fórmula infantil.

As vendas de fórmula à base de leite cresceram 72% entre 2008 e 2013 em países de renda média-alta, como Brasil, China e Turquia, em grande parte devido ao marketing inadequado e políticas e programas fracos para proteger, promover e apoiar a amamentação.

Quando as crianças começam a fazer a transição para alimentos macios ou sólidos após os 6 meses, muitas são regularmente expostas a alimentos não saudáveis, de acordo com o relatório. Em todo o mundo, quase 45% das crianças entre 6 meses e 2 anos não são alimentadas com frutas ou vegetais. Quase 60% não comem ovos, laticínios, peixe ou carne.

À medida que as crianças crescem, sua exposição a alimentos não saudáveis se torna alarmante, impulsionada em grande parte por marketing e publicidade inadequados, pela abundância de alimentos ultraprocessados nas cidades, mas também em áreas remotas, e pelo aumento do acesso a fast-food e bebidas altamente açucaradas.

O relatório mostra, por exemplo, que 42% dos adolescentes em idade escolar em países de baixa e média renda consomem refrigerantes com açúcar pelo menos uma vez por dia e 46% comem fast-food pelo menos uma vez por semana. Essas taxas sobem para 62% e 49%, respectivamente, para adolescentes em países de renda alta.

Como resultado, os níveis de sobrepeso e obesidade na infância e adolescência estão aumentando em todo o mundo. De 2000 a 2016, a proporção de crianças e adolescentes com excesso de peso entre 5 e 19 anos praticamente dobrou, passando de um em dez para quase um em cinco. Dez vezes mais meninas e 12 vezes mais meninos nessa faixa etária sofrem de obesidade hoje quando comparados a 1975.

O maior ônus da má nutrição em todas as suas formas recai sobre crianças e adolescentes das comunidades mais pobres e marginalizadas, observa o relatório. Apenas uma em cada cinco crianças de 6 meses a 2 anos das famílias mais pobres tem uma alimentação diversificada para um crescimento saudável. Mesmo em países de alta renda, como o Reino Unido, a prevalência de excesso de peso é mais do que o dobro nas áreas mais pobres, em comparação às áreas mais ricas.

O relatório também observa que desastres relacionados ao clima causam graves crises alimentares. A seca, por exemplo, é responsável por 80% dos danos e perdas na agricultura, alterando drasticamente os alimentos disponíveis para crianças e famílias, bem como a qualidade e o preço desses alimentos.

Na América Latina e no Caribe, 4,8 milhões de crianças menores de 5 anos têm desnutrição crônica (baixo crescimento para a idade), 0,7 milhão têm desnutrição aguda (baixo peso para a altura) e 4 milhões têm excesso de peso, incluindo obesidade.

O relatório cita o aumento alarmante dos níveis de excesso de peso, especialmente entre crianças mais velhas: quase uma em cada três crianças de 5 a 19 anos na América Latina e no Caribe tem excesso de peso.

O sobrepeso em crianças pode levar ao aparecimento precoce de diabetes tipo 2 e depressão, e é um forte indicador da obesidade adulta, com sérias consequências econômicas e de saúde.

Promover a nutrição saudável das crianças é tarefa de todos

Para lidar com essa crescente crise de desnutrição em todas as suas formas, o UNICEF está apelando urgentemente a governos, setor privado, doadores, pais, famílias e empresas para que ajudem crianças a crescer saudáveis.

A agência da ONU pede apoio à capacitação de famílias, crianças e jovens para que exijam alimentos adequados e saudáveis, inclusive melhorando a educação nutricional e usando legislação comprovada – como impostos sobre o açúcar – para reduzir a demanda por alimentos não saudáveis.

Também insta fornecedores de alimentos para que façam o que é certo para as crianças, incentivando o abastecimento de alimentos saudáveis, convenientes e acessíveis.

Construir ambientes alimentares saudáveis para crianças e adolescentes usando abordagens comprovadas, como rotulagem precisa e fácil de entender e controles mais fortes sobre a comercialização de alimentos não saudáveis.

Mobilizar sistemas de apoio – saúde, água e saneamento, educação e proteção social – para melhorar a alimentação e a nutrição de todas as crianças. Coletar, analisar e usar dados e evidências de boa qualidade regularmente para orientar as ações e acompanhar o progresso.

“Estamos perdendo terreno na luta pela alimentação saudável”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do UNICEF. “Essa não é uma batalha que podemos vencer por nós mesmos. Precisamos que governos, setor privado e sociedade civil priorizem a nutrição de crianças e adolescentes e trabalhem juntos para abordar as causas de uma alimentação não saudável em todas as suas formas”.

Ações do UNICEF no Brasil

Para reverter esse cenário, o Brasil foca em políticas públicas para a prevenção do sobrepeso e da obesidade: incentivo ao aleitamento materno; regulação do marketing para crianças; melhoria na rotulagem nutricional; promoção da alimentação saudável nas escolas; entre outras.

O UNICEF apoia essas medidas, focando em campanhas de conscientização, mobilização de tomadores de decisão e produção de materiais para profissionais de saúde, educação e assistência.

O UNICEF advoga, também, pela saúde das crianças indígenas, mobilizando o governo a entender os altos níveis de desnutrição e realizando capacitações presenciais sobre amamentação e alimentação saudável em distritos sanitários indígenas de maior vulnerabilidade e isolamento geográfico.

Rotulagem Frontal de Alimentos Ultraprocessados

O UNICEF defende a proposta de rotulagem frontal apresentada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), juntamente com outras organizações, que consiste na inclusão de alertas na parte frontal dos produtos alimentícios ultraprocessados para quando há excesso de nutrientes como açúcar, sódio e gorduras saturadas.

Para o UNICEF, o modelo apresentado pelo instituto simboliza a noção de alerta de forma mais fácil para os consumidores, já que permite interpretações rápidas de crianças pequenas ou adultos não alfabetizados.

Segundo a proposta, os alimentos embalados poderão ter até três ícones para identificar o excesso de açúcar, sódio e gorduras saturadas. Ou seja, cada triângulo representará um nutriente prejudicial à saúde.

O UNICEF anunciou o apoio às ações do IDEC para informar a sociedade sobre os benefícios da rotulagem frontal. A aliança acontece no momento em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) está recebendo contribuições e opiniões dos consumidores, por meio de uma consulta pública, sobre qual o modelo de rotulagem nutricional deve ser adotado no País. O processo de participação popular termina em 6 de novembro.

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