14 Dezembro 2018
“Peço a Deus Pai para que todos aqueles que participam deste importante dia de estudo saiam com uma renovada vontade de fazer da terra a casa comum que a todos acolhe, um lar de portas abertas, um espaço de comunhão e de benévola convivência. Desta forma, o futuro será cheio de luz e poderá ser encarado por todos com confiança e esperança, como fruto de um presente sereno e rico em sementes de virtude e esperança”, escreve o Papa Francisco em sua mensagem aos participantes do Dia de Estudo “Água, agricultura e alimentação: construamos o amanhã”, evento promovido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação (FAO), no dia 13 de dezembro, na Universidade Politécnica de Madri, na Espanha.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 13-12-2018. A tradução é de André Langer.
A água, dom de Deus
Em sua mensagem, o Santo Padre agradeceu às diversas instituições acadêmicas, sociais e eclesiais, que, juntamente com a participação dos Organismos das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, promovem este dia de estudo. “A temática que vos reuniu – afirmou o Pontífice – fez-me recordar do salmista, que reconhece, agradecido, que ‘o Senhor nos dará a chuva e nossa terra dará o seu fruto’ (Sl 85, 13). Em outro momento, o profeta Isaías compara a palavra de Deus com a água da chuva que encharca a terra, fazendo-a germinar ‘para dar semente ao semeador e pão ao que come’ (55, 10). A chuva, a colheita, o alimento”.
Um apelo urgente à responsabilidade
A sabedoria bíblica, assinalou o Papa Francisco, via uma estreita ligação entre esses elementos e os interpretava a partir da perspectiva da gratidão e nunca a partir da voracidade ou da exploração.
“A fé e a experiência dos crentes leva-os a esse reconhecimento, que se transforma em um apelo urgente à responsabilidade, a não permanecer presos a cálculos mesquinhos que impedem ajudar os menos favorecidos, que são privados do mais básico. A este respeito – precisou o Santo Padre – o subtítulo que quiseram dar às suas reflexões é inspirador, já que o vocábulo ‘construir’ encerra um sentido de positividade, o aporte de um benefício, a abertura aos outros, a reciprocidade e a colaboração. Essas chaves não devem ser esquecidas, pois o amanhã que todos queremos só pode ser o resultado de uma cooperação leal, solidária e generosa”.
Centralidade da pessoa humana
De fato, o Papa Francisco evidencia que os desafios da humanidade na hora presente são de tamanha complexidade que exigem a soma de ideias, a unidade de esforços, a complementaridade de perspectivas, ao mesmo tempo que a renúncia ao egoísmo excludente e ao protagonismo pernicioso.
“Desta maneira – enfatizou o Pontífice –, serão tomadas decisões acertadas e se assentarão bases sólidas para edificar uma sociedade justa e inclusiva, onde ninguém seja deixado para trás. Uma sociedade que coloque a pessoa humana e seus direitos fundamentais no centro, sem deixar-se arrastar por interesses questionáveis que enriquecem somente alguns poucos, infelizmente sempre os mesmos. Este também será o caminho para garantir que as gerações futuras encontrem um mundo harmonioso e sem conflitos, com os recursos necessários para desfrutar de uma vida digna e em plenitude”.
A água é primordial
Embora a terra tenha recursos para todos, tanto em quantidade como em qualidade, recordou o Santo Padre, uma multidão ingente de pessoas está sofrendo de fome e é cruelmente fustigada pela pobreza.
“Para erradicar esses flagelos, bastaria eliminar injustiças e iniquidades e implementar políticas previsoras e de longo alcance, medidas eficazes e coordenadas, para que a ninguém falte o pão de cada dia ou careça dos meios necessários para existir. Entre eles – assinalou o Papa –, a água é essencial e, no entanto, infelizmente, nem todos têm acesso a ela. Por isso, é fundamental que ela seja melhor distribuída e administrada de maneira sustentável e racional. Assim como também é imprescindível o cuidado e a proteção do meio ambiente, guardando sua beleza, preservando a copiosa variedade de ecossistemas, cultivando os campos com esmero, sem avidez e sem provocar danos irreversíveis”.
É imprescindível educar as novas gerações
Finalmente, o Papa Francisco convida os participantes deste dia de estudo para que tratem a terra com ternura, para não causar-lhe feridas, para não arruinar a obra que saiu das mãos do Criador.
“Quando isso não acontece, a terra deixa de ser fonte de vida para a família humana. E isso é o que acontece em não poucas regiões do nosso planeta, onde a água está contaminada, o lixo se acumula, o desmatamento avança, o ar está viciado e o solo acidificado. Tudo isso – precisou o Pontífice – provoca um aumento nocivo de males e misérias, que também encontramos quando os alimentos são desperdiçados e não são compartilhados; por isso, é imprescindível educar as crianças e os jovens a se alimentarem de forma saudável, não apenas comer. Alimentar-se corretamente implica saber o valor dos alimentos, livrar-se do consumismo frenético e compulsivo e fazer da mesa um lugar de encontro e fraternidade, e não apenas espaço para a ostentação, o esbanjamento ou os caprichos”.
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O Papa denuncia o “aumento nocivo de males e misérias” fruto dos maus-tratos infligidos à terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU