Do Acre, um olhar esperançoso do Sínodo Pan-Amazônico: tempo de dar voz às mulheres e às juventudes

Arte: Aurélio Fred | Ateliê 15

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Thalita Janaina Vasconcelos da Costa | 28 Novembro 2018

“O Sínodo Pan-Amazônico deixa algumas pistas que será um momento de esperança. Tanto em relação às mulheres, mas, sobretudo, em relação à própria juventude amazônica. Os clamores do Sínodo da Juventude, que não foram respondidos, mais uma vez poderão ser colocados”, aponta a jovem acreana Thalita Janaina Vasconcelos da Costa, graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Acre – UFAC, representante da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude pelo Regional Noroeste, que compreende os estados do Acre, Rondônia e Sul do Amazonas.

Eis o comentário.

O anúncio do Sínodo foi como uma luz para a Igreja e para nós, jovens, da Pastoral da Juventude — PJ, que acreditamos no protagonismo da juventude, que é das nossas mãos que brotam as transformações da realidade. A sinodalidade que inspira a “caminhar juntos” é uma proposta motivadora a sermos francos e transparentes para expormos os nossos anseios, as problemáticas das juventudes, e por isso já foi um ganho imenso, o processo em si. Esse processo de abertura e escuta da Igreja denota uma sensibilidade do papa Francisco, como uma figura próxima da juventude, muito jovem e faz com que a juventude se identifique.

Porém agora, passadas algumas semanas desse encontro dos bispos em Roma, e tendo acesso ao ressoar do que foi discutido e aprovado no documento final, o sentimento talvez seja de desapontamento em relação ao todo. Certamente, não entraria tudo o que foi apontado pelas juventudes durante mais de um ano, mas o documento ainda é morno diante das expectativas.

Nós, jovens, esperávamos que fossem dadas respostas práticas e bem acertadas às problemáticas que dizem respeito à nossa vida. A Igreja demonstrou e assumiu que não está pronta para tocar em algumas temáticas. Sobretudo a questão da sexualidade, da juventude LGBT e a participação feminina, que foi ainda mais forte até pela movimentação de mulheres que pediam o direito à voto durante o Sínodo. Então o retorno que alguns bispos deram foi muito fechado.

Esse é só um reflexo do que as mulheres enfrentam hoje no âmbito eclesial. Existe uma presença massiva de mulheres nas congregações religiosas, nas lideranças de pastorais e serviços e nas próprias comunidades/paróquias e, mesmo assim, em diversos espaços, nós somos silenciadas e colocadas como auxiliares. Somos consideradas pessoas de classe subalterna, impedidas de ocupar os espaços, que são nossos por direito, e as instâncias de decisões ainda estão muito distantes das mulheres.

Cristo se revela ressuscitado primeiramente à uma mulher, Maria Madalena, e pede que ela anuncie aos demais sobre a Ressurreição. São as mulheres que o buscam no primeiro dia da semana e encontram o túmulo vazio, sendo então motivadas a se dirigirem à Galileia. As Galileias dizem muito, especialmente para a PJ, pois são os lugares da nossa ação pastoral, onde nós devemos ser direcionados.

Porém, a Igreja deveria inspirar esse movimento de comunhão fraterna com os empobrecidos e as empobrecidas, mas não consegue abrir esse espaço para contar com a voz das mulheres em um momento tão importante como é o processo sinodal. Ao não seguir piamente o que deveria, torna evidente quais são as suas contradições.

No mundo inteiro as mulheres têm clamado por respostas e buscado igualdade de direitos. Porém, as mulheres que são silenciadas e que enfrentam diariamente o machismo, por vezes velado, por vezes explícito, dentro dos espaços eclesiais, precisam de respostas com atitudes práticas.

Essa resposta seja dada pela ordenação feminina, que é uma pauta que tem sido levantada, e deve aparecer também no Sínodo Pan-Amazônico, visto que é um clamor das comunidades, ou por outro posicionamento, precisar ser uma ação efetiva da Igreja. É necessário, primeiramente, abrir os espaços para que as mulheres possam falar, sem intermediários, sem outras vozes. Garantir que nós mulheres possamos participar e falar. Infelizmente isso ainda nos parece um pouco distante.

O Sínodo Pan-Amazônico deixa algumas pistas que será um momento de esperança. Tanto em relação às mulheres, mas, sobretudo, em relação à própria juventude amazônica. Os clamores que do Sínodo da Juventude, mais uma vez poderão ser colocados.

Além da riqueza desse bioma, é preciso olhar também para a contribuição dos povos, para a vida no planeta. Os ribeirinhos, os pescadores, as mulheres indígenas, os homens indígenas presentes nas comunidades de todos os cantos da Amazônia, e as juventudes da zona rural, assim como da zona urbana.

O que nós, jovens, ainda temos a dizer? O que pode inspirar a Igreja a promover mudanças diante dessas escutas e partilhas?

Algumas vivências dos povos dizem muito! A própria experiência das mulheres indígenas que tem quebrado paradigmas e sendo sinal de resistência em todos os cantos da Amazônia. Essas e outras vivências que trazem perspectivas de construção de novos caminhos de evangelização, já que a Igreja busca refletir como ela tem atuado e incidido, especialmente nesse espaço.

A juventude pode ter um papel muito importante e as mulheres podem mais uma vez levantar o debate dessas temáticas que nos atingem. O Evangelho nos exige uma atitude jovem, ousada e comprometida na defesa da vida e da justiça. A Igreja não pode ter medo de deixar clara a sua opção pelos mais empobrecidos e empobrecidas, pelos excluídos e excluídas. Somente assim é possível promover mudanças nas estruturas e construir uma Igreja autêntica e comprometida.

Leia mais