01 Agosto 2025
"Ao dar as boas-vindas a Leão XIV como guia entre a Boa-Nova (o Evangelho) e as coisas novas, a obra reconhece nele um líder preparado para conduzir a Igreja nesse momento de transição, mantendo-se fiel aos ensinamentos de Cristo enquanto dialoga com as novidades do mundo".
O artigo é de Eliseu Wisniewski.
Eliseu Wisniewski é presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
A obra intitulada Leão XIV: a Boa-Nova e as coisas novas (São Paulo: Paulinas, 2025, 216 p.) foi organizada pelos professores Francisco de Aquino Júnior e João Décio Passos. Especialmente dedicada à eleição do Cardeal Robert Prevost, agora Papa Leão XIV, oferece uma reflexão aprofundada sobre seu significado para a Igreja e para a sociedade em um momento de grandes transformações.
A publicação reúne treze reflexões elaboradas por diversos autores destacados, incluindo Dom Joaquim Mol Guimarães, Agenor Brighenti, Augusto Rinaldi, Claudio de Oliveira Ribeiro, Dário Bossi, Eduardo Brasileiro, Fernando Altemeyer, Francisco Aquino Júnior, João Décio Passos, Leomar Nascimento de Jesus, Luiz Augusto de Mattos, Luiz Marques, Maria Clara Bingemer, Moema Miranda, Reginaldo Nasser, Ricardo Hida, Rosana Manzini e Tiago Cosmo da Silva Dias. O objetivo central das reflexões aí contidas é oferecer uma análise inicial e necessária sobre o impacto da eleição do novo Papa na Igreja atual e na sociedade, buscando promover uma compreensão mais profunda das mudanças em curso e do papel que o Papa Leão XIV pode desempenhar nesse contexto de renovação e esperança.
"Leão XIV: a Boa-Nova e as coisas novas " de Francisco de Aquino Júnior e João Décio Passos
As palavras iniciais são de Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, Bispo coadjutor de Santos, SP. Este reflete sobre a relação entre as expectativas, desejos e a realidade do Papa Leão XIV (p. 7-11). Ele destaca que nossas percepções e ideias sobre quem ele é ou deve ser são fruto de nossas reflexões e anseios, mas também de nossas esperanças de como ele se revelará na prática. Ao mesmo tempo, enfatiza que estamos agora abertos para conhecer o verdadeiro perfil do Papa Leão XIV, à medida que ele revela suas qualidades, valores e liderança a partir de seu interior. Sua forma de liderar será fundamental para orientar um universo de aproximadamente 1 bilhão e 406 milhões de católicos ao redor do mundo. Reforça, ainda, que o Papa atua como bispo de Roma e líder de toda a Igreja, colocando-se a serviço do Povo de Deus. Inspirado pelos fundamentos do Vaticano II e pelo exemplo do Papa Francisco, Leão XIV busca uma fidelidade renovada a Jesus Cristo e ao Reino de Deus, elementos centrais que devem ocupar o lugar principal na vida da Igreja, em suas instituições, bem como na vida individual dos cristãos. Assim, há uma expectativa de que sua liderança seja marcada por essa busca por autenticidade, fidelidade ao Evangelho e compromisso com os valores do Reino, promovendo uma Igreja mais próxima das pessoas e fiel à missão cristã.
Os organizadores explicam a estrutura e o enfoque das reflexões presentes na coletânea, destacando que elas estão organizadas em torno de dinâmicas dialogais essenciais para a compreensão do papel da Igreja e do Papa no mundo contemporâneo (p. 18-13). Primeiramente, há o movimento de escuta, que representa a abertura da Igreja para ouvir as necessidades, os clamores e as esperanças do povo de Deus. Essa escuta é fundamental para que a Igreja seja mais próxima, acolhedora e fiel às realidades atuais. Em segundo lugar, está o movimento de interpretação, que envolve compreender esses apelos da realidade atual, como desafios sociais, econômicos, culturais e espirituais, à luz do Evangelho e dos ensinamentos cristãos. Essa interpretação busca orientar a ação da Igreja e do Papa diante das complexidades do mundo moderno. Por fim, há o movimento de fala, no qual o Papa exerce seu ministério como pastor supremo dos católicos, líder religioso que dialoga com diferentes culturas e religiões, e iluminador dos caminhos da humanidade. Nesse papel, ele orienta, inspira e oferece esperança às pessoas em suas buscas por sentido e justiça.
As reflexões dos diversos autores e autoras ilustram esses dois movimentos principais: a renovação interna da Igreja conectada ao Vaticano II e às propostas/renovação de Francisco, e os apelos concretos da realidade atual. Assim, a obra busca mostrar como o Papa atua como um líder que escuta, interpreta e fala ao mundo, promovendo um diálogo vivo entre a fé cristã e os desafios contemporâneos.
Nesta perspectiva, a obra inicia com uma apresentação biográfica do novo Papa, contextualizando sua trajetória e características pessoais (p. 21-38), e é estruturada/dividida em duas grandes partes, promovendo diálogos entre:
a) o legado do Papa Francisco (p. 39 -102): abordando temas como a nova imagem do Papa (p. 41-54), a reforma permanente da Igreja (p. 55-64), o magistério social (p. 65-74), a inclusão e os desafios de uma Igreja sinodal (p. 87-101). Essa seção reflete as principais linhas de ação e pensamento do pontificado de Francisco,
b) os clamores da realidade atual (p. 103-180): discutindo temas contemporâneos como esperança em tempos de crise (p. 105-119), o impacto da era digital (p. 133-147), desafios econômicos (p. 148-166), pluralismo religioso e o diálogo inter-religioso (p. 167-180). Aqui, busca-se relacionar os desafios do mundo moderno com os valores cristãos e a Boa-Nova de Jesus Cristo.
O Epílogo com a reflexão feita por Francisco de Aquino Júnior (p. 183-198) dentre outras aspectos, ressalta que Francisco marca uma nova era na vida da Igreja destacando, por isso, as primeiras impressões de indícios, sinais e perspectivas de continuidade com o novo Papa. Para ele, Francisco inaugurou uma nova era na vida da Igreja, marcada por uma retomada do processo de renovação e reforma iniciados pelo Concílio Vaticano II. Apesar das tensões e dúvidas que surgiram ao longo do caminho, o reconhecimento da importância das reformas e da liderança ética e espiritual de Francisco por diversos setores mostra que esses processos continuam em andamento. A eleição do Cardeal Robert Francis Prevost e os debates internos indicam que, embora com estilos e ênfases diferentes, a direção que Francisco abriu permanece firme. A comparação com figuras como João XXIII e Paulo VI, ou Leão XIV, ajuda a entender as diferentes posturas dentro da Igreja, umas mais proféticas e ousadas, outras mais comedidas e conciliadoras, mas todas contribuindo para o mesmo caminho de reforma. Ainda é cedo para fazer diagnósticos definitivos, mas tudo indica que Leão XIV seguirá avançando nesses processos de renovação, com esperança de que essa nova era traga frutos profundos para a comunidade eclesial e para a sociedade.
Além disso, o livro destaca aspectos específicos do perfil do novo Papa Leão XIV, incluindo sua experiência na Igreja no Peru, seu trabalho com os pobres, sua atuação no Dicastério para os Bispos, sua mística agostiniana e sua participação nas reformas promovidas por Francisco. A escolha do nome "Leão XIV" faz referência ao Papa Leão XIII, autor da encíclica Rerum Novarum, que tratou das questões sociais decorrentes da Revolução Industrial, um sinal claro do compromisso do novo pontífice com justiça social e a realidade atual. Por fim, os textos enfatizam que as "coisas novas" que desafiam toda a humanidade a repensar valores e consensos devem estar sempre relacionadas à Boa-Nova de Jesus Cristo.
O livro busca ajudar os leitores a compreenderem esses contextos, perspectivas e desafios atuais, promovendo uma reflexão profunda sobre o papel da Igreja na sociedade contemporânea. Ao dar as boas-vindas a Leão XIV como guia entre a Boa-Nova (o Evangelho) e as coisas novas, a obra reconhece nele um líder preparado para conduzir a Igreja nesse momento de transição, mantendo-se fiel aos ensinamentos de Cristo enquanto dialoga com as novidades do mundo. Essa postura é fundamental para que a Igreja continue sendo uma presença relevante, capaz de iluminar caminhos para todos, especialmente para os cristãos e católicos em meio às complexidades do século XXI.