“Precisamos do Papa Francisco para ter esperança.” Entrevista com Enzo Fortunato, frei franciscano do Sacro Convento de Assis

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30 Março 2020

“O Papa Francisco nos deu um motivo para manter viva a esperança.” A voz do padre Enzo Fortunato, diretor da Sala de Imprensa do Sacro Convento de Assis, Itália, está abalada pela emoção, quando perguntado sobre a solitária e histórica bênção Urbi et Orbi na sexta-feira da Quaresma na Praça de São Pedro.

A reportagem é de Giacomo Salvini, publicada em Il Fatto Quotidiano, 29-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ele e os franciscanos de Assis a assistiram na TV: “Quando eu o vi, pensei imediatamente em uma imagem do cardeal Henry Newman: ‘cor ad cor loquitur’, o coração do papa falou ao coração de Deus, e o coração de Deus falou ao coração do papa, que, naquele momento, representava as batidas da humanidade”.

Eis a entrevista.

O que mais o impressionou?

O pontífice nos assegurou de que Deus não nos deixará sozinhos neste momento de tempestade. Mas me impressionaram principalmente duas passagens. A primeira na qual ele recorda quando nos sentíamos “fortes em um mundo doente”: pois bem, antes desse vírus, não nos dávamos conta das feridas da humanidade e da Terra. Não escutamos o grito dos pobres, continuamos fazendo guerras e cultivando injustiças.

E depois?

Quando ele disse: “As pessoas começam a passar fome”. Ele nos levou para o outro lado desta tragédia, o dos últimos. Há pessoas que terão grandes dificuldades econômicas e começarão a não ter o que comer. O pontífice colocou a nudez do ser humano diante do Senhor: a do pobre que precisa de ajuda e a do rico que não tem mais certezas. As pessoas precisam do papa e da espiritualidade. As suas imagens dramáticas entraram nas vidas das pessoas: primeiro o papa que caminha pelo centro de Roma e, depois, que, como Moisés, implora a Deus, com as mãos levantadas, para que ajude o ser humano a vencer e a superar este momento.

As igrejas estão abertas, mas sem ritos.

Decidimos utilizar as redes sociais, porque queremos levar às suas casas o espírito e a palavra de São Francisco. Já fazíamos isso antes da epidemia, mas hoje, em Assis, fortalecemos o modo de comunicar a fé. Começamos a dialogar com jornalistas, artistas, sociólogos e teólogos para entender o que está acontecendo e para dar uma palavra de esperança. Como o telefonema de Renato Zero, que dialogou com os nossos seguidores: que canções podem falar com os nossos idosos? A vida deles não é um “suco”, é uma memória, disse Renato. Aquelas rugas, aquelas mãos calejadas devem ser o nosso guia todos os dias.

O que gostaria de dizer a eles?

Aos idosos, eu diria: “Eu os quero bem”. Devemos dizer isso a eles, devemos lhes agradecer. Hoje, somos levados a pensar que eles se tornaram démodé, que devem ser jogados fora.

E aos jovens que gostariam de sair de casa?

Eu digo: sejam rebeldes e obedientes, como São Francisco.

O que isso significa?

Rebeldes contra um mundo que não é bom para nós e obedientes porque o respeito pelas regras nos torna maiores.

Vamos nos reerguer?

É um momento dramático, mas também uma oportunidade, porque nos fará redescobrir as relações entre nós e Deus. Estou convencido de que vamos nos reerguer, mas, para isso, precisaremos dos anticorpos espirituais contra o vírus: esperança, respeito e coragem.

Como o governo [Giuseppe] Conte [primeiro-ministro italiano] está agindo?

Eu imagino o sofrimento deles: são chamados a tomar decisões muito difíceis, mas estou certo de que o governo está agindo pelo nosso bem. Eu o ouço e rezo por aqueles que estão tomando as decisões.

O primeiro-ministro está se tornando um guia para muitos.

Sim, precisamos ouvir a voz do presidente Conte e seguir a sua direção. Depois, há a espiritualidade de cada um de nós.

Ou seja?

Olhando para o céu destes dias, todos percebemos que ele está mais limpo. E não é apenas pelo smog que não existe mais: é pela profundidade das nossas perguntas e pelo anseio da nossa espiritualidade que nos ajudará a superar esta tragédia.

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