10 Março 2020
As doenças transmitidas de animais para seres humanos estão em ascensão e pioram à medida que habitats selvagens são destruídos pela atividade humana. Cientistas sugerem que habitats degradados podem incitar processos evolutivos mais rápidos e diversificar doenças, já que os patógenos se espalham facilmente para rebanhos e seres humanos.
A reportagem é de Roberta Zandonai, publicada por PNUMA Brasil, 06-03-2020.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que um animal é a provável fonte de transmissão do coronavírus de 2019 (COVID-19), que infectou milhares de pessoas em todo o mundo e pressionou a economia global.
Segundo a OMS, os morcegos são os mais prováveis transmissores do COVID-19. Porém, também é possível que o vírus tenha sido transmitido aos seres humanos a partir de outro hospedeiro intermediário, seja um animal doméstico ou selvagem.
Os coronavírus são zoonóticos, o que significa que são transmitidos de animais para pessoas. Estudos anteriores constataram que a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, em inglês) foi transmitida de gatos domésticos para seres humanos, enquanto a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS, em inglês) passou de dromedários para humanos.
“Portanto, como regra geral, o consumo de produtos de origem animal crua ou mal cozida deve ser evitado. Carne crua, leite fresco ou órgãos de animais crus devem ser manuseados com cuidado para evitar a contaminação cruzada com alimentos não cozidos", comunicou a Organização Mundial da Saúde.
A declaração veio alguns dias antes da China tomar medidas para coibir o comércio e o consumo de animais silvestres.
“Os seres humanos e a natureza fazem parte de um sistema interconectado. A natureza fornece comida, remédios, água, ar e muitos outros benefícios que permitiram às pessoas prosperarem”, disse Doreen Robinson, chefe para a Vida Selvagem no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
“Contudo, como acontece com todos os sistemas, precisamos entender como esse funciona para não exagerarmos e provocarmos consequências cada vez mais negativas”, complementou.
O relatório Fronteiras 2016 sobre questões emergentes de preocupação ambiental (Frontiers 2016 Report on Emerging Issues of Environment Concern, em inglês) do PNUMA mostra que as zoonoses ameaçam o desenvolvimento econômico, o bem-estar animal e humano e a integridade do ecossistema. Nos últimos anos, várias doenças zoonóticas emergentes foram manchetes no mundo por causarem ou ameaçarem causar grandes pandemias, como o Ebola, a gripe aviária, a febre do Vale do Rift, a febre do Nilo Ocidental e o Zika Vírus.
Segundo esse relatório, nas últimas duas décadas, as doenças emergentes tiveram custos diretos de mais de US$ 100 bilhões de dólares, com esse número podendo saltar para vários trilhões de dólares caso os surtos tivessem se tornado pandemias humanas.
Para impedir o surgimento de zoonoses, é fundamental endereçar as múltiplas ameaças aos ecossistemas e à vida selvagem, entre elas, a redução e fragmentação de habitats, o comércio ilegal, a poluição, a proliferação de espécies invasoras e, cada vez mais, as mudanças climáticas.
Leia mais
- O rei está nu. Assim, um vírus colocou em crise o modelo de negócios global. Por onde recomeçar?
 - A pandemia de Coronavírus (Covid-19) e o pandemônio na economia internacional
 - Economia global em quarentena
 - A crise mostra a fragilidade do liberalismo. É hora de recomeçar pela solidariedade
 - O coronavírus na economia brasileira e o fim do voo de galinha
 - O vírus do medo
 - Quando Milão se torna o laboratório da nova solidão
 - A quarentena total da Itália
 - EUA. É preciso escolher: Medicare para Todos ou coronavírus para todos?
 - Preservação ambiental é a chave para a contenção de doenças
 - Coronavírus: a anestesiologista que diagnosticou o paciente número 1 na Itália
 - Lições virais da China. Artigo de Yann Moulier Boutang e Monique Selim
 - O coronavírus e a questão ambiental
 - O retorno de doenças vetoriais é sintoma de políticas públicas não integradas. Entrevista especial com Marcia Chame
 - Disseminação de informações falsas (fake news) sobre coronavírus preocupa especialistas
 - O inimigo invisível
 - O aval da ciência
 - A cientista e o coronavírus: “Desta vez todos estamos nos movendo em um território desconhecido”
 - “Antigamente contra epidemias se rezava, hoje se fecham as igrejas”. Entrevista com Franco Cardini, historiador
 - Coronavírus. Vaticano registra primeiro caso
 - Coronavírus: atmosfera de dúvida e medo leva a cancelar eventos em Roma
 - Coronavírus über alles
 - Zizek vê o poder subversivo do Coronavírus
 - Coronavírus, agronegócio e estado de exceção
 - África, o continente que não chora. “Bem-aventurados vocês que só têm o coronavírus”
 - A política do coronavírus: ativar os anticorpos do catolicismo. Artigo de Antonio Spadaro
 - Os partidos e o vírus: a biopolítica no poder
 - Coronavírus? “No Vaticano, os vírus são outros...”
 - Coronavírus: a militarização das crises. Artigo de Raúl Zibechi
 - “Em epidemias como o coronavírus, repete-se um padrão de discurso tóxico e depreciativo”. Entrevista com Adia Benton
 - Morre por coronavírus o ex-embaixador iraniano no Vaticano
 - Veja as dicas da OMS para evitar o contágio e a disseminação do novo coronavírus
 - O estado de exceção provocado por uma emergência imotivada. Artigo de Giorgio Agamben
 - Resistir ao pânico
 - O coronavírus mudará a China?
 - OMS alerta para 13 ameaças emergentes à saúde, incluindo possíveis pandemias
 - O vírus, o imperador e o médico chinês
 - A economia chinesa e mundial frente ao coronavírus
 - Novo coronavírus. Todas as atenções se voltam para a China
 - Vaticano envia máscaras hospitalares para ajudar na batalha contra o coronavírus na China
 - Após o surto do coronavírus. Alguns depoimentos
 - Racismo psicológico: quando a mente se fecha devido a um vírus. Artigo de Massimo Recalcati
 - Vírus novo, medos antigos
 - A chinesa e a espanhola
 - O primeiro surto
 - Coronavírus e o retrato de um ecossistema de desinformação
 - Vaticano envia 700.000 máscaras hospitalares para a China