Após o surto do coronavírus. Alguns depoimentos

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31 Janeiro 2020

Três religiosos africanos em Hong Kong e em Taiwan narram o impacto da epidemia do coronavírus.

A reportagem é de Lucie Sarr, publicada por La Croix International, 30-01-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Os missionários levam o Evangelho a todo o lugar, independentemente das condições de vida no país anfitrião. No entanto, os padres Cyr Ntadi, Dominique Mukonda e Flavien Ulrich Bouambe nem de longe imaginariam que um vírus causaria uma verdadeira psicose em seus países de missão.

As vítimas do novel coronavírus (2019-nCoV) já ultrapassam a casa dos 6 mil em 15 países. A epidemia foi oficialmente confirmada pela Organização Mundial da Saúde em 31-12-2019.

Também conhecida como coronavírus de Wuhan, a epidemia foi identificada pela primeira vez na China, na cidade de Wuhan, e deu provas de transmissão de humanos para humanos.

Taiwan e Hong Kong foram atingidos devido à proximidade com a China.

Pânico em Taiwan

O Pe. Ntadi, de 39 anos, é um religioso camaronês que há dez anos vive em missão em Taiwan, onde as autoridades já confirmaram cinco casos.

“No começo, a população estava bastante confiante porque contava com o apoio do sistema de segurança empregado no aeroporto de Taipei [capital de Taiwan] e também com o apoio do sistema de saúde taiwanês, que é um dos melhores do mundo. Mas com o anúncio do terceiro, do quarto, do quinto caso de contração do vírus, o pânico ficou visível entre as pessoas”, disse.

“Quase todos que encontro na rua usam máscaras de proteção”, acrescentou Ntadi.

Várias cidades do país lutam para dar conta da demanda de máscaras protetoras. Algumas delas relataram escassez do produto.

“Ontem [27 de janeiro] muitos se levantaram às 3 e às 4 horas da manhã para formar filas nas lojas que vendem esse tipo de máscara”, observou.

Hong Kong novamente

Situação semelhante acontece em Hong Kong, região administrativa especial da China, onde trabalham dois padres africanos, membros dos Missionários de Scheut. O Pe. Mukonda, da República Democrática do Congo, e o Pe. Bouambe, camaronês, trabalham como missionários em Hong Kong há 12 e seis anos, respectivamente.

Eles dizem que uma psicose tomou conta da população desde que a epidemia começou a se espalhar. Até o dia 27 de janeiro, oito casos haviam sido reportados na ex-colônia britânica.

Há pouco o governo tomou uma série de medidas, “incluindo o fechamento de espaços públicos, bibliotecas e parques”, disse Mukonda.

“Mas o grande problema é o fechamento das fronteiras, especialmente com a China”, falou o religioso.

As autoridades já anunciaram que seis dos 14 pontos entre a China e Hong Kong serão fechados a partir da meia noite de 30 de janeiro.

O Pe. Bouambe disse que essa não é a primeira vez que uma epidemia atinge Hong Kong.

“Em 2003, Hong Kong foi atingida pelo SARS que matou dezenas de pessoas. Este trauma ainda se faz presente entre a população”, observou ele.

A síndrome respiratória aguda grave – SARS, na sigla em inglês – é causada pelo coronavírus SARS e provocou a morte de 774 pessoas em 17 países.

Práticas litúrgicas

Em 23 de janeiro, a Diocese de Hong Kong implementou mudanças em suas práticas litúrgicas para evitar a transmissão do vírus. Estas incluem a observância rígida de regras de higiene.

“Todos, inclusive o celebrante e os concelebrantes, devem usar uma máscara protetora”, disse Bouambe.

“O contato físico deve ser evitado tanto quanto possível. Certas práticas como a de dar bênçãos às crianças durante a missa deixaram de ser feitas, bem como o uso da água benta. Da mesma forma, não se sugere fazer visitas aos enfermos”.

Mukonda disse também: “Os padres devem lavar as mãos com cuidado antes e depois de distribuir a Comunhão”.

Missa e máscaras

Em Taiwan, a conferência episcopal não emitiu nenhum comunicado oficial, mas pediu precaução.

“Todos os que forem à missa devem usar máscaras de proteção e não mais dar as mãos para a paz de Cristo, por exemplo”, confirmou o Pe. Ntadi.

“Há muito pouco contato corporal na cultura chinesa, e agora não há quase nenhum. Todos, inclusive o padre, passam a ser suspeitos, principalmente porque eles são estrangeiros e, teoricamente, deveriam estar sempre de viagem, mudando de lugar”.

E o religioso jocosamente acrescentou: “Hoje de manhã, os meus paroquianos me deram uma máscara protetora”.

Os católicos em Hong Kong e em Taiwan continuam rezando para que o surto epidêmico pare e que as vítimas recuperem a saúde.

 

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