18 Dezembro 2025
O Papa enviou uma mensagem impactante, exortando as pessoas a não perderem de vista o fato de que o verdadeiro tesouro não está nos cofres, mas em "amar o próximo ao longo do caminho", e alertando contra o ativismo frenético nos preparativos para as festas de Natal.
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 17-12-2025.
"Frequentemente, percebemos que fazer demais, em vez de nos trazer satisfação, se torna um vórtice que nos sobrecarrega, rouba nossa serenidade e nos impede de vivenciar plenamente o que é verdadeiramente importante em nossas vidas. Então, nos sentimos cansados, insatisfeitos: o tempo parece se dispersar em mil coisas práticas que, no entanto, não resolvem o significado último de nossa existência. Às vezes, ao final de dias repletos de atividades, nos sentimos vazios. Por quê? Porque não somos máquinas; temos um 'coração' — aliás, podemos dizer que somos um coração".
Palavras de Leão XIV em uma de suas últimas catequeses por ocasião do Ano Jubilar, "Jesus Cristo, nossa esperança", na qual ele centrou sua reflexão na "Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo atual. A Páscoa como ponto de chegada para o coração inquieto", para enfatizar as verdadeiras coordenadas em que o coração se sente plenamente realizado.
"É, portanto, no coração que se guarda o verdadeiro tesouro, não nos cofres da terra, não nos grandes investimentos financeiros, hoje mais do que nunca enlouquecidos e injustamente concentrados, idolatrados ao preço sangrento de milhões de vidas humanas e à devastação da criação de Deus", disse ela em sua catequese na Praça São Pedro, onde foi acompanhada por mais de 15 mil pessoas.
"É importante refletir sobre esses aspectos", observou o Papa, "porque nos inúmeros compromissos que enfrentamos continuamente, o risco de distração, às vezes de desespero, de falta de sentido, é cada vez mais evidente, mesmo em pessoas aparentemente bem-sucedidas. Por outro lado, ler a vida sob o signo da Páscoa, olhá-la com Jesus Ressuscitado, significa encontrar acesso à essência da pessoa humana, ao nosso coração: cor inquietum".
"O verdadeiro destino do coração não consiste na posse dos bens deste mundo, mas em alcançar aquilo que o pode satisfazer plenamente, isto é, o amor de Deus, ou melhor, de Deus que é Amor. Contudo, este tesouro só se encontra amando o próximo que encontramos pelo caminho: irmãos e irmãs de carne e osso, cuja presença desafia e questiona os nossos corações, convidando-os a abrir-se e a doar-se. O nosso próximo pede-nos que abrandemos o passo, que o olhemos nos olhos, que por vezes mudemos os nossos planos, talvez até de direção", sublinhou o Papa.
"O coração inquieto não se decepcionará se entrar no dinamismo do amor para o qual foi criado. O destino é certo, a vida triunfou e em Cristo continuará a triunfar em cada morte do cotidiano", concluiu o Papa em seu discurso, antes de saudar os grupos de peregrinos presentes em vários idiomas.
Assim, ele advertiu que, com a aproximação do Natal, "devemos ter cuidado para não nos deixarmos levar pelo ativismo frenético nos preparativos para as festividades, que acabariam sendo superficiais e levando à decepção", e Leão XIV encorajou a todos a manterem a tradição de montar um presépio em suas casas durante esse período. "Espero que um elemento tão importante, não só da nossa fé, mas também da cultura e da arte cristãs, continue a fazer parte do Natal, para nos lembrar de Jesus que, fazendo-se homem, veio 'habitar entre nós'."
Texto para o público em geral
Queridos irmãos e irmãs, bom dia e sejam bem-vindos!
A vida humana é caracterizada por um movimento constante que nos impulsiona a fazer, a agir. Hoje, a velocidade é exigida em todos os lugares para alcançar resultados ótimos nas mais diversas áreas. Como a ressurreição de Jesus ilumina esse aspecto da nossa experiência? Ao participarmos da sua vitória sobre a morte, encontraremos descanso? A fé nos diz que sim, encontraremos descanso.
Não ficaremos inativos, mas entraremos no descanso de Deus, que é paz e alegria. Então, precisamos apenas esperar, ou isso pode nos transformar agora mesmo?
Estamos absortos em muitas atividades que nem sempre nos satisfazem. Muitas de nossas ações estão relacionadas a coisas práticas e concretas.
Precisamos assumir a responsabilidade por muitos compromissos, resolver problemas e lidar com o cansaço. Jesus também se envolvia com as pessoas e com a vida, não poupando esforços e se entregando completamente. No entanto, muitas vezes percebemos que fazer demais, em vez de nos trazer satisfação, se torna um vórtice que nos sobrecarrega, rouba nossa serenidade e nos impede de vivenciar plenamente o que é verdadeiramente importante em nossas vidas. Então nos sentimos cansados e insatisfeitos: o tempo parece se dispersar entre mil coisas práticas que, no entanto, não resolvem o sentido último da nossa existência. Às vezes, ao final de dias repletos de atividades, nos sentimos vazios. Por quê? Porque não somos máquinas; temos um "coração" — aliás, podemos dizer que somos um coração.
O coração é o símbolo de toda a nossa humanidade, a síntese de pensamentos, sentimentos e desejos, o centro invisível do nosso ser. O evangelista Mateus nos convida a refletir sobre a importância do coração citando esta bela frase de Jesus: “Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6,21).
É, portanto, no coração que se guarda o verdadeiro tesouro, não nos cofres da terra, não nos grandes investimentos financeiros, hoje mais do que nunca descontrolados e injustamente concentrados, idolatrados ao preço sangrento de milhões de vidas humanas e à devastação da criação de Deus.
É importante refletir sobre esses aspectos porque, nos inúmeros compromissos que enfrentamos continuamente, o risco de distração, por vezes até mesmo de desespero e falta de sentido, surge cada vez mais, mesmo em pessoas aparentemente bem-sucedidas. Por outro lado, ler a vida sob o signo da Páscoa, contemplá-la com Jesus Ressuscitado, significa encontrar acesso à essência da pessoa humana, ao nosso coração: cor inquietum. Com esse adjetivo, "inquieto", Santo Agostinho nos ajuda a compreender o impulso humano que anseia pela plena realização. A expressão completa remete ao início das Confissões, onde Agostinho escreve: "Senhor, tu nos criaste para ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em ti" (I, 1, 1).
A inquietação é um sinal de que nosso coração não se move ao acaso, de forma desordenada, sem fim ou objetivo, mas sim orientado para seu destino final: "retornar ao lar". E o verdadeiro destino do coração não consiste na posse dos bens deste mundo, mas em alcançar aquilo que pode satisfazê-lo plenamente, ou seja, o amor de Deus, ou melhor, de Deus que é Amor. Contudo, esse tesouro só se encontra amando o próximo que encontramos pelo caminho: irmãos e irmãs de sangue, cuja presença desafia e questiona nossos corações, convidando-os a se abrirem e se doarem. Nosso próximo nos pede para diminuir o ritmo, para olhá-lo nos olhos, às vezes para mudar nossos planos, talvez até mesmo para mudar de direção.
Meus queridos, eis o segredo do movimento do coração humano: retornar à fonte do seu ser, desfrutar da alegria que nunca acaba, que nunca decepciona. Ninguém pode viver sem um sentido que transcenda o contingente, que vá além do passageiro. O coração humano não pode viver sem esperança, sem saber que foi feito para a plenitude, não para o vazio.
Jesus Cristo, por meio de sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição, lançou um alicerce sólido sobre esta esperança. O coração inquieto não se decepcionará se se entregar ao dinamismo do amor para o qual foi criado. O destino é certo; a vida triunfou e em Cristo continuará a triunfar em cada morte do cotidiano. Esta é a esperança cristã: bendigamos e demos graças sempre ao Senhor que a concedeu.
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