Sem fé na Encarnação, não há fé cristã. Artigo de Martín Gelabert

Foto: Ray Shrewsberry/Unplash

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17 Dezembro 2025

"O mistério da Encarnação, a suprema expressão do amor de Deus pelo ser humano, nos torna cientes da impossibilidade de sermos odiados ou rejeitados. Pois se Deus odiasse ou rejeitasse a humanidade, Ele odiaria e rejeitaria a si mesmo", escreve Martín Gelabert, frade dominicano, publicado por Religión Digital, 14-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Se removermos a fé na Encarnação, isto é, se não acreditarmos que o Verbo de Deus assumiu uma natureza humana, destruímos completamente a fé cristã. Assim se expressava São Tomás de Aquino. A Encarnação é a chave da nossa fé e o que a distingue de qualquer outra concepção religiosa. Nela reside a maravilha da fé cristã, o que a torna única, distinta e insuperável. A Encarnação é a máxima proximidade de Deus com uma criatura humana e, consequentemente, a máxima proximidade de Deus com toda a humanidade. Pois não há maior proximidade possível entre dois seres do que tornarem-se um só.

O que é possível entre os seres humanos apenas em termos de tendência e afeição, e que encontra uma boa realização no casamento — isto é, ser dois em uma só carne (mas dois que continuam sendo dois, mesmo unidos) — no caso da união de Deus com a criatura humana, tornou-se plenamente real na pessoa de Jesus: uma pessoa que assume duas naturezas, uma natureza que desde sempre foi Sua e à qual absolutamente não pode renunciar (a divina), e uma natureza livremente assumida por amor, tão Sua quanto a primeira. Na pessoa de Jesus, as duas naturezas estão inseparavelmente unidas em uma única pessoa.

A Encarnação é a expressão insuperável do amor de Deus pela criatura humana: "Deus amou tanto o mundo", diz o Evangelho de João, "que deu o seu Filho unigênito". Ele amou tanto que é impossível amar mais. Porque Deus ama com todo o seu amor, e o seu amor é divino, infinito. Nenhuma comparação pode expressar um amor como este: "Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti" (Isaías 54,10). E porque amou tanto, Ele doou a si mesmo. A suprema prova do amor não é doar coisas, mas doar a si mesmos. E Deus doa a si mesmo unindo-se à humanidade.

O aspecto original da fé cristã não é tanto a busca da criatura humana por Deus, mas sim a busca de Deus pelo ser humano. O próprio Deus se propõe a sair ao encontro de cada pessoa. O ato supremo dessa busca divina é a Encarnação do Filho, que entra na história e revela a intimidade de Deus em termos e conceitos humanos.

O mistério da Encarnação, a suprema expressão do amor de Deus pelo ser humano, nos torna cientes da impossibilidade de sermos odiados ou rejeitados. Pois se Deus odiasse ou rejeitasse a humanidade, Ele odiaria e rejeitaria a si mesmo. O que a Carta aos Efésios (5,28-29) afirma sobre a relação entre marido e mulher poderia ser aplicado a esta relação entre Deus e o ser humano: se a esposa é a carne do esposo, odiar a esposa significa odiar a própria carne, odiar a si mesmos. No caso de Deus, qualquer traço de ódio não pode ser divino, porque em Jesus Cristo nos foi revelado que Deus é Amor sem qualquer indício de não-amor.

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