Cientista do Vaticano convida outros cientistas religiosos a 'saírem do armário'

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09 Mai 2017

Está acontecendo, no Observatório do Vaticano, uma grande conferência de 09 a 12 de maio sobre "Buracos negros, Ondas gravitacionais e Singularidades espaço-tempo", destacando o ponto em que ciência e religião podem confluir. O diretor do observatório diz que ajudaria se mais cientistas religiosos "saíssem do armário", compartilhando sua fé.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 08-05-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Há um episódio de "Os Simpsons" sobre a descoberta de um fóssil que parece ter a forma de um anjo, que desencadeia uma onda de fervor religioso até se revelar uma estratégia publicitária para a abertura de um novo shopping.

Tratando-se dos EUA, a questão gera um processo em que um juiz coloca uma medida cautelar de afastamento na ciência, ordenando que fique a 152 metros da religião em todas as circunstâncias. A cena reflete a concepção popular de que ciência e religião são inimigas naturais e que as coisas ficam quentes quando elas se cruzam.

O irmão jesuíta Guy Consolmagno, que lidera o Observatório do Vaticano, passou a maior parte de sua carreira tentando desmitificar essa visão e agora está organizando uma grande conferência que atesta bem esta ideia. Trata-se de um encontro, de 09 a 12 maio, na residência papal de verão em Castelgandolfo, onde também se situa o Observatório do Vaticano (para escapar da distração das luzes de Roma), sobre "Buracos negros, Ondas gravitacionais e Singularidades espaço-tempo".

"O Observatório do Vaticano foi fundado em 1891 pelo Papa Leão XII para mostrar que a Igreja apoia a boa ciência e para isso precisamos ter boa ciência", disse ele, argumentando que é disso que trata este encontro. Ele destacou que entre os palestrantes haverá um ganhador do Prêmio Nobel de Física e do Prêmio Wolf.

Em preparação há cerca de dois anos, a ideia por trás da conferência é reunir especialistas em cosmologia teórica e observacional, para ponderar novas questões decorrentes dos descobrimentos de elementos intrigantes no universo, como a matéria escura e a energia escura.

O encontro também marca o 50º aniversário da morte do padre Georges Lemaître, padre, físico e matemático belga, que é amplamente considerado o fundador da teoria do "Big Bang" para explicar as origens do universo físico.

De certa maneira, Lemaître foi um reductio ad absurdum vivo em relação à ideia de que a religiosa é necessariamente hostil à ciência. Ele lecionou na Universidade Católica de Leuven e foi um fiel padre católico, além de um físico brilhante, pioneiro em muitos dos conceitos fundamentais da cosmologia moderna, como a ideia de um universo em expansão.

Numa conferência de imprensa do Vaticano na segunda-feira, o padre jesuíta Gabriele Gionti, organizador da conferência, disse que é o tipo de coisa que leva pessoas racionais a irem além da ideia de ruptura entre uma forma científica e uma forma religiosa de ver o mundo.

"Este medo da ciência de que as pessoas falam é um mito", disse Gionti.

"Lemaître sempre fez uma distinção entre o início do universo e suas origens", disse ele. "O início do universo é uma questão científica, para saber com precisão quando as coisas começaram.”

"A questão das origens do universo, no entanto, tem forte carga teológica" e respondeu que "não tem nada a ver com uma epistemologia científica".

Por sua parte, Consolmagno advertiu contra uma tendência preguiçosa entre muitos religiosos de lidar com a teoria do Big Bang respondendo que Deus é o único que o causou – o que não só provoca um curto-circuito na investigação científica, segundo ele, mas também diminui o conceito de Deus.

"Ao considerar Deus simplesmente como o que deu início ao Big Bang, tem-se um deus da natureza, como Júpiter lançando raios ao seu redor", disse ele.

"Esse não é o deus em que eu quero acreditar", afirmou. "Há muitas ideias de Deus, o que significa que há muitos deuses nos quais eu não acredito.”

"Temos de acreditar em um Deus sobrenatural", disse Consolmagno. "Nós reconhecemos Deus como aquele que é responsável pela existência, e a ciência nos diz como ele o fez."

Para explicar melhor, Consolmagno fez uma piada que, provavelmente, desestrutura o lado dos físicos.

"Stephen Hawking disse que ele explica Deus como uma oscilação do campo gravitacional primordial", disse ele. "Segundo esta ideia, significa que Deus é a gravidade... talvez por isso os católicos celebrem a missa!"

Basicamente, segundo Consolmagno, é importante manter a distinção adequada entre o que a ciência pode provar e o que a fé pode acrescentar.

"Deus não é algo a que se chega no final da trajetória da ciência, é o que supomos no início", disse ele, acrescentando, enfaticamente: "tenho medo de um Deus que pode ser comprovado pela ciência, porque eu conheço a ciência o suficiente para não confiar nela!".

Finalmente, Consolmagno chamou os cientistas que também têm a "saírem do armário" nesta questão, compartilhando seu trabalho científico com as pessoas em suas igrejas e comunidades religiosas.

"Mais cientistas que frequentam a Igreja precisam levar sua ciência ao conhecimento dos paroquianos", disse ele.

"Eles devem colocar seus telescópios no pátio da igreja ou liderar trilhas ecológicas para grupos de jovens", disse Consolmagno. "É preciso lembrar as pessoas nas igrejas que a ciência foi uma invenção das universidades medievais fundadas pela Igreja e que a lógica da ciência vem da lógica da teologia.”

"Se há uma rivalidade", afirmou, "é uma rivalidade entre irmãos".

"É um crime contra a ciência dizer que apenas os ateus podem fazê-lo", ele disse, "porque se isso fosse verdade, eliminaria muitos cientistas maravilhosos."

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