15 Julho 2020
"Uma sólida base de prováveis eleitores de Trump frequenta as igrejas católicas dos EUA. E esse, em nossa opinião, é o verdadeiro escândalo aqui".
O artigo é publicado por National Catholic Reporter, 14-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Houve uma confusão em janeiro, quando a então correspondente nacional do NCR Heidi Schlumpf revelou a história de que a CatholicVote.org, uma organização de lobby pró-Trump, estava usando uma técnica chamada “geofencing” para coletar dados de celulares dos frequentadores das missas.
A ideia, naqueles dias pré-pandêmicos, aparentemente muito tempo atrás, era buscar informações sobre os frequentadores das missas. O objetivo era “bombar” os resultados pró-Trump nas eleições. Isso foi visto, com justiça, como uma bisbilhotice de alta tecnologia, como uma invasão de privacidade, como uma violação à sacralidade da liturgia dominical.
Talvez o escândalo mais profundo dessa história seja o motivo pelo qual a CatholicVote.org queria essas informações. Os arquitetos da improvável virada política de 2016 sabiam uma coisa: uma sólida base de prováveis eleitores de Trump estava carregando com seus celulares nessas igrejas. E esse, em nossa opinião, é o verdadeiro escândalo aqui.
A confiança dos estrategistas de Trump de que eles têm o apoio dos eleitores dessas igrejas é confirmada por dados concretos.
Uma pesquisa recente do Pew, relatada pelo atual correspondente nacional do NCR Christopher White, indica que o presidente Donald Trump continua sendo o favorito dos católicos brancos dentro de uma pequena pluralidade. Mas esse é um dado de uma pesquisa ampla, que conta todos aqueles que se autoidentificam como católicos. Se alguém restringe a pesquisa aos frequentadores regulares das missas, e não apenas àqueles que se identificam como católicos, os números são indicativos de uma inclinação trumpiana.
Uma pesquisa da RealClear realizada no início deste ano com eleitores católicos registrados nos EUA constatou que, entre os fiéis católicos, entre aqueles que frequentam a missa regularmente, 63% aprovam o desempenho de Trump como presidente.
Essa é uma estatística lamentável. Isso nos diz algo sobre os católicos que participam regularmente da Eucaristia e ouvem falar de um pregador palestino itinerante que falava sobre o amor pelos estrangeiros e forasteiros. Eles continuam sendo uma base de apoio para esse presidente muito peculiar, um homem que metaforicamente presta culto aos pés de estátuas dos Confederados e chama livremente os imigrantes católicos de estupradores e assassinos. Ele é o presidente mais racista desde Woodrow Wilson, que não tinha Twitter para exaltar as virtudes do Ku Klux Klan e de “O nascimento de uma nação”.
Quando Martin Luther King Jr. liderou sua marcha em Selma e em outros lugares do Sul dos EUA, lugares de destaque eram reservados a padres e freiras católicos. A presença deles era um sinal de que uma Igreja imigrante estava emergindo em plena luz do dia na vida estadunidense, apoiando a longa luta pelos direitos humanos básicos nos EUA.
Na era dos direitos civis, os debates sobre a Comunhão para políticos católicos irregulares frequentemente giravam em torno do apoio à segregação, como descobriram os políticos que se cruzaram com o arcebispo de Nova Orleans, Joseph Rummel, em 1962. Autoridades locais lutavam contra a integração nas escolas católicas. Rummel aplicou a pena da excomunhão. Mas, nesta nova era de defesa dos direitos civis, são os políticos que jogam a carta do ressentimento branco que acham que têm um amigo entre os fiéis católicos.
Mas talvez os tempos estejam mudando.
Pobre Pe. Theodore Rothrock, ex-pároco da Igreja de Santa Isabel Seton, em Carmel, Indiana, parte da Diocese de Lafayette. Conforme noticiado por Sarah Salva Dore, no NCR, quando Rothrock comparou, no boletim paroquial, os manifestantes do Black Lives Matter com vermes, provavelmente ele estava pensando que estava simplesmente apelando para uma base católica de frequentadores da igreja que apoiam Trump.
Rothrock deve ter pensado que seus comentários suscitariam pouca objeção naquele que é um subúrbio amplamente branco de Indianápolis. Em vez disso, o clamor foi tão intenso que Dom Timothy Doherty, bispo de Lafayette, tornou-o um ex-pároco.
Esse é um vislumbre de esperança a partir do coração do país de que os católicos estadunidenses levam a sério as questões de injustiça racial.
No ano passado, uma pesquisa do Pew constatou que muitos católicos têm uma interpretação frouxa sobre a presença real na Eucaristia. Isso irritou muitos tradicionalistas. Alguns viram isso como um escândalo.
Agora que temos dados concretos indicando que os frequentadores das missas sucumbiram a outro tipo de heterodoxia – desta vez com implicações abjetas para a praça pública –, é hora de as lideranças da Igreja denunciarem a infecção viral do racismo e do ódio político promovida por esse presidente, identificando-o como o claro escândalo que é.
Precisamos garantir que os mercadores do ódio político achem que o “geofencing” das igrejas católicas é um ato fútil, porque sabem que receberão pouco apoio nesses distritos, pois os frequentadores das igrejas católicas agirão de acordo com a mensagem do Evangelho que escutam todos os domingos.
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“O verdadeiro escândalo é que Trump ainda influencie alguns eleitores católicos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU