28 Novembro 2019
O caminho sinodal (Synodaler Weg) foi decidido pela própria Conferência Episcopal Alemã em setembro e, nos meses seguintes, foi aprovado pelo Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK).
O comentário é de Sergio Rotasperti, publicado por Settimana News, 26-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois de um longo período de reflexão, os bispos alemães quiseram abordar junto com os leigos algumas questões candentes que, em sua opinião, também terão repercussões na estrutura eclesial de todo o mundo. O próprio Papa Francisco, no meio do ano, enviou uma carta aos cristãos da Alemanha (Brief von Papst Franziskus an das pilgernde Volk Gottes, in Deutschland), não desprovida de preocupação e que por alguns foi interpretada como uma irritantes ingerência e condicionamento ao livre debate interno.
Os bispos estão conscientes de se mover em um novo terreno. Não faltaram vozes críticas muito ferozes e contrárias a esse caminho. Por exemplo, logo em seguida à decisão dos bispos alemães, o cardeal estadunidense Raymond Leo Burke pediu explicitamente que o sínodo fosse anulado, porque minaria a unidade da Igreja; o bispo Juan Ignacio Arrieta, da Cúria Romana, estigmatizou o episcopado alemão pela escolha autônoma de convocar um sínodo sem ter obtido nenhuma autorização de Roma.
Há também críticas de natureza teológica, nas quais se evidencia como tenha sido posta ao centro a estrutura da Igreja e não a evangelização.
Também se deve notar que 240 teólogos alemães incentivaram esse caminho necessário para a Igreja na Alemanha. As razões são diferentes.
Certamente, o escândalo do abuso sexual teve um papel preponderante, o que forçou o episcopado a rediscutir a questão do poder e sua estrutura eclesial. Existem alguns temas muito delicados e desconfortáveis, como o dos casais homossexuais que aguardam o reconhecimento de seu amor por parte da Igreja; ou a concretização do diaconato feminino ou a discussão sobre o celibato.
Forte é a pressão das mulheres para que tenham um papel de liderança. Nem todo mundo sabe que há cerca de um ano um movimento de mulheres na Alemanha se manifesta ativamente na comunidade cristã, denominado Maria 2.0, cujo objetivo é entrar em diálogo com a hierarquia da Igreja Católica, exigindo uma efetiva reforma da mesma e um reconhecimento mais resoluto do papel das mulheres na comunidade cristã.
Quanto ao conteúdo do caminho sinodal, os bispos decidiram abrir quatro fóruns sobre os quais convergir na discussão:
1. o poder e a separação de poder na Igreja, colaboração no mandato missionário comum;
2. a vida sacerdotal hoje;
3. o papel das mulheres na Igreja;
4. a vida relacional, viver o amor e a sexualidade nos casais.
Tudo é criticável e discutível, mas uma Igreja em caminho demonstra estar viva, não dobrada sobre o passado, que pretende olhar para o futuro, principalmente para o que o Vaticano II diz na Gaudium et spes: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração" (GS 1). Que o sínodo seja bem-vindo. E não apenas na Alemanha.
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O caminho sinodal da Igreja alemã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU