23 Mai 2018
O nome mais significativo para a América Latina dentre os novos cardeais vem da Amazônia. É uma das vozes que mais fortemente incorpora a questão da defesa do meio ambiente como caminho para o desenvolvimento que respeite os povos indígenas. O jesuíta Pedro Ricardo Barreto Jimeno, 74 anos, é o arcebispo de Huancayo, da região amazônica do Peru onde o Papa abriu (de Puerto Maldonado), em janeiro deste ano, o caminho para o Sínodo especial dedicado a esta região do mundo que será realizado em outubro de 2019.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada por Vatican Insider, 21-05-2018. A tradução é de André Langer.
Originário de Lima, o padre Barreto foi primeiro vigário em Jaen, no norte do país, e depois, a partir de 2004, foi transferido para Huancayo, localizada nas montanhas centrais do país. Ele amadureceu um magistério corajoso na defesa da Criação ao estar em contato com os povos que vivem na floresta e lançou a ideia de uma mesa de negociação “para uma solução integral e sustentável para a questão ambiental”. Uma postura com vários riscos, em um canto do mundo em que os ambientalistas são assassinados sem muitos escrúpulos. O próprio Barreto recebeu ameaças: a mais clamorosa foi em 2012, quando, após denunciar os riscos à saúde provocados por uma mineradora, recebeu telefonemas e mensagens de SMS alertando-o sobre seu comportamento e que “estava com os dias contados”.
Barreto é o quinto cardeal de toda a história do Peru, mas é o primeiro eleito pelo Papa que não seja da capital Lima. Mas sua nomeação tem um significado para toda a América Latina: o arcebispo de Huancayo foi presidente da Comissão Justiça e Paz do Celam (Conselho dos Episcopados da América Latina) e é vice-presidente da Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica), fundada e presidida pelo cardeal brasileiro Claudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero. Não é por acaso, portanto, que o nome de Barreto já estava entre os membros do Conselho pré-Sinodal escolhido por Francisco para a preparação do encontro de 2019, durante o qual se refletirá sobre a Amazônia e os “novos caminhos para a Igreja e para a uma ecologia integral”.
Em relação aos outros dois latino-americanos que serão novos cardeais (ambos não eleitores em um futuro Conclave), é significativo o perfil do prelado emérito de Corocoro, na Bolívia, Toribio Ticona Porco, de 81 anos. Um bispo pastor entre os mineiros, de origem muito humilde: na homilia da celebração dos seus 80 anos ele recordou que na sua infância trabalhou como engraxate e vendedor de jornais na rua. Também se referiu aos 14 anos durante os quais, além de ser pároco, foi prefeito da cidade de Characilla, onde usava o método “ver, julgar e agir...”.
O terceiro novo cardeal latino-americano é Sergio Obseo Rivera, arcebispo emérito de Xalapa, México, de 86 anos, que foi presidente da Conferência Episcopal Mexicana entre os anos 80 e 90.
Também do mundo de língua espanhola, devemos destacar a presença entre os novos cardeais do ex-superior geral dos claretianos, padre Aquilino Bocos Merino, que há poucos dias completou 80 anos. É a primeira nomeação de um religioso que dirigiu uma congregação missionária. Fundados na Espanha por Santo Antônio Maria Claret no século XIX, os claretianos têm dois mil missionários em todo o mundo e justamente durante a gestão do padre Bocos Merino a congregação abriu novas missões na Ásia, África e Europa Oriental.
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Do defensor da Amazônia ao ex-engraxate, os novos cardeais “latino-americanos” de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU