"Já sabemos que o Sínodo da Amazônia vai provocar reações duras", prevê Lorenzo Baldisseri

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02 Março 2018

O papel dos governos, das multinacionais, da corrupção e do tráfico de drogas. São “teclas sensíveis” que terão seu espaço no próximo Sínodo dedicado à Amazônia. Uma reunião mundial de bispos convocada pelo Papa Francisco para outubro de 2019. Os debates não se concentrarão apenas nos aspectos pastorais, mas também abordarão uma realidade marcada pela exploração indiscriminada da natureza e pelo deslocamento das populações locais. “Teremos reações nada fáceis. Nós já sabemos disso”, afirmou o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo.

A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 01-03-2018. A tradução é de André Langer.

Será uma assembleia especial, realizada por vontade explícita de Francisco. Ele próprio abriu o “caminho sinodal” no dia 19 de janeiro na cidade peruana de Puerto Maldonado. Ali se encontrou com os habitantes da floresta e marcou um rumo para toda a Igreja.

Há pouco, Bergoglio confessou a Baldisseri ter tomado consciência da situação da Amazônia durante a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de Aparecida, Brasil, em maio de 2007. Desde então, ele tinha em mente a magnitude do problema. Depois, já como papa, vários bispos pediram o enfrentamento da situação. Propuseram-lhe convocar um Sínodo, e ele respondeu: “Vamos fazer isso!”

“Vamos tratar da questão do ponto de vista eclesial e também civil, para englobar a todos”, disse o cardeal em entrevista ao Vatican Insider. Ele lembrou que existem 107 circunscrições eclesiásticas católicas relacionadas com a Amazônia (entre dioceses e prelazias), onde vivem 37 milhões de pessoas. Os bispos responsáveis pelo território passam dos 100 e os indígenas da região são cerca de dois milhões e 270 mil. A presença cristã supera em média 80%.

“Hoje, quando falamos da Amazônia, pensamos apenas nos países da floresta, mas precisamos expandir o horizonte. Os problemas nos levam às causas: de onde surgem. Se ali existem empresas, de onde elas são? Os consumidores, onde estão? São empresas estatais ou privadas? Devemos incluir não só os indígenas, que são os guardiões da floresta, defendê-los. Mas há mestiços e pessoas de todo o mundo”, disse.

Considerou “fundamental” o olhar dos indígenas, que vivem na floresta e garantem seu cuidado. Por essa razão, descreveu como “impensável” tentar proteger esse pulmão do planeta sem eles ou enviando outras pessoas de fora. “Isso é uma falsa conservação”, ponderou.

“É importante esclarecer que o Sínodo Pan-Amazônico acontecerá em Roma, não em Manaus ou em outra cidade da região, porque se busca enviar uma mensagem não apenas a toda a Igreja, mas ao mundo inteiro. Existem outras Amazônias em diversas partes do mundo, na África, na Ásia. Este encontro será um sinal para todos”, disse.

Baldisseri também refletiu sobre o andamento do Sínodo dos Bispos e antecipou que já se trabalha na redação de uma série de mudanças nesse organismo promovidas pelo Papa Francisco desde o início do seu pontificado.

Ele revelou, pela primeira vez, que está em estudo uma atualização do decreto papal de 1965 com a qual Paulo VI criou o Sínodo. É o motu proprio Apostolica Sollicitudo publicado em 15 de setembro daquele ano.

“Estamos trabalhando na prática, não na teoria. Estamos lentamente renovando cada coisa. Não é necessário mudar a estrutura, a intuição de Paulo VI foi ótima. Assim como acontece com a Pastor Bonus, os cardeais do C9 estão trabalhando em um novo documento, ao mesmo tempo em que estamos trabalhando para chegar a algo que pode recolher os avanços, um texto “, precisou.

Com estas palavras, Baldisseri referiu-se à mais avançada reforma da cúria romana, liderada por Francisco e pelo conselho de nove cardeais que se reúnem trimestralmente em Roma para incrementar as mudanças. Eles estão trabalhando na redação de um novo documento para substituir a Pastor Bonus de João Paulo II.

No caso do Sínodo, esclareceu que ainda não está claro se será necessário que o Papa emita um decreto diferente que revogue o de Paulo VI. Em todo caso, insistiu: “Já começamos a trabalhar nisso. Também o estamos estudando minuciosamente do ponto de vista doutrinal”.

Para o cardeal, a inovação mais significativa introduzida durante o pontificado de Francisco é uma mudança no modo de enfrentar os problemas no Sínodo. A metodologia renovada busca começar pela experiência e não analisar a realidade “de cima para baixo”.

Isso, disse ele, já se podia ver nas duas últimas assembleias sinodais, cujos documentos conclusivos surgiram do modelo “ver, julgar e agir”, uma metodologia usada na América Latina há 70 anos, mas não aceita no Vaticano. “Isso não foi tão pacífico (sua aplicação)”, reconheceu o cardeal. “Sobre este ponto, tivemos dificuldades no início, mas agora já é aceito”, prosseguiu.

“Nós partimos da realidade como ela é, mas olhamos essa realidade com os olhos da fé, não com outros. Mas que diferença haveria entre a Igreja, quando trata do tema da juventude e o Estado, as Nações Unidas ou outra organização qualquer? O objeto é o mesmo, mas a perspectiva é diferente. O que procuramos evitar é impor algo acima e evitar que, por conta disso, essa realidade se converta em outra realidade, ou quase. Queremos tomar o que existe na realidade e responder a esses desafios com os olhos da fé”, disse.

Mais adiante, Baldisseri recordou que o Sínodo nasceu por iniciativa dos bispos após o Concílio Vaticano II e seu objetivo era colaborar com o Papa como uma estrutura paralela e diferente da cúria. Mas ao longo das décadas, esse organismo perdeu sua eficácia. Francisco quis dar-lhe nova força. Baldisseri lembrou-o da seguinte maneira: “Desde o início (do pontificado) ele me disse: eu quero que o Sínodo assuma outra forma, porque agora é estático, está inerte; ele mesmo tinha visto isso como participante”.

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