12 Agosto 2020
“Não podemos mais construir o nosso cristianismo e a vida da Igreja apenas sobe tradições”, alertou um bispo alemão.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 11-08-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Se o cristianismo é agora apenas uma instituição, um reservatório de grandes teorias, então é inevitável que as pessoas voltem as suas costas para a Igreja e o cristianismo, que gradualmente se tornará desinteressante”, advertiu Dom Peter Kohlgraf, da Diocese de Mainz, em uma ordenação sacerdotal no fim de semana.
De acordo com o bispo de Mainz, a mudança fundamental que a Igreja deve fazer para continuar despertando o interesse dos homens e mulheres contemporâneos é deixar de ser apenas um depósito de tradição para se tornar um lugar onde as pessoas podem realmente sentir e experimentar a Deus.
“As pessoas devem ter experiências de fé, devem experimentar como pode ser belo crer em Deus, como é bom pertencer a uma comunidade de fé. Então, eles se interessarão pela fé, então permanecerão cristãos”, enfatizou Kohlgraf.
O bispo de Mainz tomou como ponto de partida para o seu sermão na ordenação uma citação do grande jesuíta Karl Rahner (1904-1984), amplamente considerado como um dos teólogos católicos mais importantes do século XX.
“O cristão de amanhã ou será místico ou não será cristão. Será alguém que experimentou a Deus ou deixará de ser cristão”, disse Rahner certa vez.
“Hoje podemos sentir claramente que Karl Rahner tinha razão”, afirmou Kohlgraf, acrescentando que hoje, na Igreja, “devemos buscar as verdadeiras razões da fé mais do que meros hábitos e oferecer às pessoas essas razões de forma convincente.”
Além de alertar a Igreja de que ela deve mudar de foco se deseja garantir um futuro para si mesma, o bispo Kohlgraf, em sua homilia, dirigiu algumas palavras para o novo padre que ele ordenou na catedral de Mainz – o irmão carmelita Severin Tyburski – e para o restante dos colegas do novo padre.
Os padres devem “lembrar as pessoas da presença de Deus, mas não com palavras eloquentes ou com uma argumentação inteligente”, disse o bispo de Mainz.
Quem recebe o sacramento da Ordem deve deixar os outros entrarem nas “suas experiências de fé”, nas “suas perguntas e na sua proximidade com Deus”, nas “suas dúvidas, para que Deus não continue sendo uma bela teoria”, afirmou Kohlgraf.
Tornar a Boa Nova relevante hoje requer, acima de tudo, não um “belo embrulho novo” para o Evangelho, mas sim “testemunhas” e “místicos” que realmente “experimentaram algo” em sua fé e, portanto, podem transmiti-lo, acrescentou o prelado.
O apelo do bispo Kohlgraf para testar os espíritos sobre a tradição da Igreja não é apenas retórico. O bispo de Mainz também está acompanhando na prática a necessidade de reforma da Igreja, mais recentemente com o posicionamento crítico que ele assumiu sobre a recente instrução vaticana sobre o futuro das paróquias.
“Eu não posso aceitar a interferência na minha pastoral episcopal tão facilmente”, denunciou Kohlgraf logo após a divulgação do texto da Congregação para o Clero, que foi amplamente criticado por reforçar a superioridade do padre e a inferioridade dos leigos.
O bispo de Mainz também expressou sua preocupação com os efeitos da instrução romana sobre seus padres e leigos.
“Muitos padres se queixam de estarem sobrecarregados com assuntos de administração e burocracia. Segundo a instrução, no entanto, é precisamente isso que os padres devem fazer”, lamentou Kohlgraf.
O bispo acrescentou que leigos e leigas comprometidos com a Igreja e que detêm responsabilidades nas paróquias logo “se cansarão” da suspeita e do julgamento de Roma, da mesma forma que – segundo Kohlgraf – os potenciais católicos se afastam da Igreja diante de tais demonstrações de autoridade por parte do Vaticano.
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Bispo alemão alerta: “Não podemos mais construir a nossa vida eclesial apenas sobre tradições” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU