08 Abril 2019
Foi forte a denúncia feita hoje pelo Papa contra o tráfico de armas e o "sistema econômico injusto" que atualmente impera no mundo. "Somos artífices das diferenças, da dor e da pobreza. Por que hoje no mundo há tantas crianças com fome? É Deus que cria essa diferença? Não, é este sistema econômico injusto, onde a cada dia há menos ricos com mais dinheiro e mais pobres sem nada", criticou Francisco, ao receber, em audiência, docentes e estudantes do Instituto São Carlos de Milão, no norte da Itália.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 06-04-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
"Por que há tantas guerras? Se não houvesse armas, não fariam guerra. Por que fazem guerra? Porque nós, a rica Europa, e a América, vendemos armas para matar as crianças, as pessoas, somos nós que fazemos as diferenças", denunciou Bergoglio.
"Somos nós que criamos as diferenças. Seja com sistemas econômicos injustos, seja com armas, para que o resto se mate. Sobre a consciência de um povo que fabrica e vende armas está a morte de cada criança e pessoa e a destruição das famílias", acrescentou o pontífice.
Mas o Papa não ficou só na denúncia. Também animou os jovens para que se perguntem a si mesmos sobre o porquê de haver conflitos em lugares como Iêmen, Síria ou Afeganistão. "Estas coisas devem ser ditas claramente, na cara e sem medo. Se vocês não são capazes de fazer estas perguntas, não são jovens, falta algo no seu coração", disse Francisco aos moços e moças.
O Papa citou como exemplo para eles um jovem engenheiro que conheceu no recente Sínodo sobre a Juventude no Vaticano, que, relatou, havia se negado a trabalhar em uma fábrica de armas. "Esses são os jovens valentes que precisamos", insistiu Francisco.
Nota de IHU On-Line:
O vídeo, em italiano, pode ser visto aqui.
A veemência do Papa Francisco fazendo a denúncia do "sistema econômico injusto" pode ser vista aos 17min do vídeo. A indignidade do Papa em relação à "rica Europa e a América que fazem a guerra fabricando as armas", pode ser vista a partir dos 19min do vídeo. Ao final da sua resposta ao jovem que o havia questionado sobre a desigualdade no mundo hoje, o Papa pede desculpas pela sua veemência e indignação dizendo: "Me desculpem se me apaixonei um pouco, mas isso me faz ferver". O auditório aplaude com entusiasmo.
Veja o vídeo no tempo em que o papa faz a denúncia:
"Não ter medo do imigrante"
Bergoglio também abordou com os jovens milaneses o problema do 'bullying' nas aulas, perguntando-lhes: "É coisa de Deus?". "Não, são vocês", explicou, recordando que "com cada gesto de perseguição se faz uma declaração de guerra".
Outra questão a que Francisco se referiu na audiência foi a da imigração, que traz, afirmou, "riqueza" para a sociedade e sem a qual a sociedade se torna como "água destilada", ou seja, "sem força". Animou os jovens a "não ter medo do imigrante" e repeliu a ideia de que se vinculem os estrangeiros com a criminalidade. "O que são delinquentes? A máfia não foi inventada por nigerianos, é um “valor” nacional, a máfia é nossa, 'Made in Italy'", lembrou Bergoglio.
"Estejam atentos", animou o Papa aos alunos italianos. "Há a tentação de criar uma cultura de muros, no coração e na terra, para impedir o encontro com outras culturas. Quem constrói muros, acabará escravo dentro deles, sem horizontes".
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Papa denuncia que "a rica Europa e a América vendem armas para matar as crianças" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU