O que aconteceu com a Sala de Imprensa da Santa Sé?

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03 Março 2017

Em nota divulgada na Quarta-feira de Cinzas, Marie Collins, sobrevivente de abuso sexual clerical nomeada pelo Papa Francisco em 2014 para integrar a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, anunciou sua renúncia. Collins elogiou as tentativas de Francisco de reformar a resposta católica aos casos de pedofilia e os procedimentos diante dos novos casos. Porém denunciou a Cúria Romana, especialmente a Congregação para a Doutrina da Fé – CDF, por dificultar estes esforços. Ela também deixou claro que nunca se encontrou nem falou diretamente com o papa. “Eu cheguei a um ponto onde não consigo mais me manter apenas com a esperança”, disse na nota. “Como sobrevivente, assisti a alguns eventos se desdobrarem com consternação”.

O comentário é de Massimo Faggioli, professor de teologia e estudos religiosos na Villanova University, EUA, publicado por Commonweal, 02-03-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

A renúncia de Collins e os comentários que teceu levantam uma série de dúvidas não apenas sobre o futuro da Pontifícia Comissão. O que essa renúncia significa para o mandato do Cardeal Gerhard Müller na Cúria Romana e como prefeito da CDF – e, consequentemente, para a credibilidade das reformas pretendidas pelo papa? O que ela significa para o presidente da Comissão, o Cardeal Sean P. O’Malley, em sua relação com a CDF e com a Cúria Romana em geral?

Uma outra pergunta ainda se levanta a partir da forma como o Vaticano lidou com o anúncio de Collins: O que está acontecendo na Sala de Imprensa da Santa Sé sete meses depois que Federico Lombardi se aposentou dela?

Em julho de 2016, após dez anos conduzindo este departamento, Lombardi foi substituído pelo jornalista e leigo americano Greg Burke, ex-correspondente em Roma do canal Fox News e da revista Time. Burke esteve também na Secretaria de Estado por três anos e meio, tempo durante o qual trabalhou com Lombardi. Sob o comando deste último, a Sala de Imprensa serviu como a voz do papa – Bento XVI e Francisco. Por exemplo, quando o sobrevivente de abuso sexual clerical Peter Saunders saiu de licença da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores em junho de 2015, este dirigiu palavras duras ao Cardeal George Pell. Lombardi rapidamente emitiu uma nota distanciando Saunders da Comissão.

Porém nada se ouviu da Sala de Imprensa na sequência da renúncia de Collins. O único a encarar a imprensa foi o padre jesuíta Hans Zollner – psicólogo, psicoterapeuta e professor no Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana de Roma. Ele também é membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores e preside o Centro para a Proteção Infantil da citada universidade.

A Sala de Imprensa da Santa Sé não parece nem capaz, nem disposta a falar em nome do papa neste caso. Talvez seja porque Collins criticou não só um cardeal em particular, mas também a CDF e toda a Cúria Romana. Com a aposentadoria de Lombardi, a Sala de Imprensa não vem funcionando como a voz do papa, mas como a voz do Vaticano. Isso não dá certo. Até mesmo a diplomacia vaticana é, tecnicamente, uma “diplomacia papal”, dado que se baseia na autoridade do papa e não no Vaticano. E isso é verdadeiro mais ainda para o pontificado de Francisco.

Essa mudança aparente no papel da Sala de Imprensa pode também fazer parte da luta de poder que acontece em Roma desde a eleição de Francisco. Entretanto, ela também sinaliza algo mais: uma transformação de toda a operação midiática vaticana sob a liderança do Monsenhor Dario Edoardo Viganò, prefeito da relativamente recém-criada (junho de 2015) Secretaria para a Comunicação. De acordo com o motu proprio de Francisco, de 27-06-2016, essa secretaria supervisionará uma revisão completa das operações midiáticas vaticanas, fundindo e absorvendo uma série de instituições: o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, a Sala de Imprensa da Santa Sé, os serviços de internet do Vaticano, a Rádio Vaticano, a televisão do Vaticano, o jornal L’Osservatore Romano e a Libreria Editrice Vaticana. Também irá assumir o controle do sítio eletrônico da Santa Sé. Quiçá o silêncio da Sala de Imprensa em torno da renúncia de Collins seja apenas uma “questão comunicacional”. Mas quando se diz isso no Vaticano, geralmente há muito mais coisas envolvidas do que meramente uma questão de comunicação.

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