29 Agosto 2022
Nenhum recuo de parte da Santa Sé após as palavras ditas de improviso pelo Papa Francisco na audiência geral na quarta-feira passada ("a guerra é uma loucura", há "vítimas inocentes tanto ucranianas quanto russas", entre as quais Darya Dugina), as acusações contra Bergoglio do embaixador ucraniano no Vaticano ("agredidos e agressores não podem ser confundidos") e a convocação por Kiev do núncio apostólico à Ucrânia para expressar sua "decepção" com as declarações do pontífice.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 27-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Do Vaticano se tenta esfriar a temperatura, mas sem retratações ou correções de Francisco. O Papa "nunca foi equidistante: condenou com palavras claras a agressão perpetrada pela Rússia. Ele foi mais ‘equipróximo’, ou seja, próximo a todos que sofrem pelas consequências da guerra”, explicou à edição ucraniana do Vatican News Andrea Tornielli, diretor editorial do dicastério da comunicação da Santa Sé. “Francisco falou da ‘loucura’ da guerra russa - continua Tornielli. Na encíclica Fratelli tutti ele já havia explicado que não há mais razões para falar de ‘guerra justa’, nenhuma guerra hoje é justa.
E justamente referindo-se à loucura da guerra, ele relembrou o episódio do atentado em que Darya Dugina morreu. Ele a definiu como uma "pobre jovem" referindo-se às dramáticas circunstâncias de sua morte, para reiterar que nada pode justificar a morte de um ser humano. O Papa falou com o coração do pastor, não do político. Ele queria expressar a piedade cristã por todos os mortos, certamente não ferir os sentimentos da população ucraniana, que vive o horror da guerra”.
A corda sobre a qual a diplomacia do Vaticano continua a se equilibrar é cada vez mais estreita. De um lado está Kiev, contrariada pelo fato de Bergoglio não ter usado o capacete e não estar abertamente ao seu lado, que nunca perde uma oportunidade de apontar isso, como nos últimos dias e no passado.
Do outro lado, está Moscou, tradicionalmente desconfiada em relação ao Vaticano, e o Patriarca Kirill, que ainda não consegue digerir ter sido definido por Francisco como "o coroinha de Putin", e de fato anteontem cancelou o encontro com o Papa no Cazaquistão em meados de setembro. Bergoglio nestes últimos dias coleciona ataques e reclamações de ambos os lados, mas continua no seu caminho: condena a guerra em geral e a agressão da Rússia em particular, sem, no entanto, se transformar no "capelão do Ocidente", que fornece armas a Kiev.
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O difícil equilíbrio de Bergoglio, “equípróximo” mas sem o capacete - Instituto Humanitas Unisinos - IHU