Ucrânia-Igrejas: as leis e o pós-guerra

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05 Abril 2022

 

Em 21 de março, foram apresentados ao parlamento ucraniano dois projetos de lei (discutíveis) que dizem respeito às Igrejas e, em particular, aquela pró-Rússia, pelo Metropolita Onufrio.

 

A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 01-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

O primeiro, apresentada por Cyril Oksana Savchuk, único deputado do partido de extrema-direita Svoboda, pede a interdição em solo ucraniano de qualquer organização religiosa que faça referência ao Patriarcado de Moscou. O segundo, apresentado pela ex-ministra da Educação do Partido Liberal, Inna Sovsun, pede o encerramento das atividades das organizações religiosas se seu centro decisório estiver em uma nação que atacou militarmente a Ucrânia ou ocupa seus territórios.

 

Os dois projetos de lei

O primeiro projeto de lei prevê a apreensão de todos os bens eclesiásticos da Igreja pró-Rússia e um prazo de 14 dias para paróquias, mosteiros e institutos de ensino decidirem se passam para a Igreja autocéfala ou para outra obediência. Os grandes mosteiros históricos de Kiev, Potchaȉev e Sviatogorsk se tornarão propriedade do estado. Os serviços de segurança tomarão as providências para verificar a situação antes e depois. O segundo projeto retoma com modificações uma lei anterior, aprovada após o tomo sobre autocefalia (6 de janeiro de 2019) e posteriormente rejeitada pelo Tribunal Constitucional. Prevê reservar o termo "Ucrânia" apenas para Igrejas que têm seu centro de autoridade no país.

A mudança de nome desencadeia a necessidade de rediscutir todas as propriedades e todas as comunidades. Nos primeiros meses de 2019, foi aprovada uma lei que facilitava a transição de uma obediência para outra (moscovita ou kievana) com uma decisão de assembleia apenas da comunidade paroquial. O uso compartilhado pelas duas igrejas dos grandes edifícios eclesiásticos de Kiev também estava previsto na época. O que não aconteceu.

 

Redesenho pós-bélico

A Igreja Russa, por meio de seu porta-voz, Vladimir Legoyda, estigmatizou as propostas legislativas que preveem o agravamento da situação social e a exasperação dos conflitos confessionais.

“Já há alguns anos, padres e fiéis da Igreja Ortodoxa ucraniana (pró-russa) são atacados e perseguidos por representantes de grupos cismáticos (autocéfalos) e nacionalistas. Recentemente as perseguições tornaram-se ainda mais duras”. Sem qualquer referência à agressão militar russa. Em plena sintonia com o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que fala de iniciativas "extremamente negativas".

É a guerra que favorece as mudanças na pertença das confissões ortodoxas. E, em particular, o total apoio do Patriarca Kirill à agressão militar russa.

O site da Igreja de Moscou fala de buscas às quais as igrejas e comunidades da Igreja pró-Rússia são submetidas, como a decisão de alguns municípios da região de Lviv que decidiram fechar comunidades, suspeitas de colaboracionismo. No distrito de Kolomyia (Ivano-Frankivsk) uma igreja foi apreendida e a comunidade expulsa. A ajuda prevista de Moscou, por outro lado, é direcionada apenas às comunidades pró-Rússia. “Lembramos - comenta criticamente Andrei Kordotchkin, secretário da diocese hispano-portuguesa da Igreja Russa - que após o nascimento da Igreja autocéfala por Constantinopla apenas dois bispos (pró-russos) passaram para aquela. Hoje, porém, em decorrência da guerra, mais de 15 dioceses ucranianas (e uma centena de paróquias) deixaram de mencionar o patriarca de Moscou na liturgia. Uma tendência centrífuga cada vez mais forte”.

Para o Patriarca Kirill é o “momento mais difícil da história contemporânea. Muitas forças tentam quebrar o corpo único da nossa Igreja”. "A Ucrânia já está perdida", conclui K. Chapnin, ex-colaborador de Kirill.

 

Uma revolução palaciana?

Thomas Kremer, especialista em Igrejas Orientais (Eichstätt - Alemanha) prevê escolhas drásticas: “A Igreja Ortodoxa Russa é uma joia da cristandade com a riqueza de sua história e teologia. Não deve ser subestimada, nem mesmo nestes tempos. Mas a guerra atual representa o "crepúsculo dos deuses". A atitude de Kirill se coloca em um ponto indefensável na história do cristianismo. Muitos teólogos ortodoxos, inclusive russos, estão plenamente conscientes disso. Eles sofrem muito. Uma "revolução palaciana" poderia ser inevitável, porque parte da atual liderança considera a situação intolerável. É hora de um estado de confissão para as comunidades russas. Eles já estão fazendo isso, mas não explicitamente. Isso é pelo bem da paz na Ucrânia e pelo futuro da Igreja Ortodoxa Russa”.

Um diplomata do Vaticano confidenciou a La Croix: “Devemos começar a trabalhar pelo depois. Algum dia a guerra terminará e a paz precisará ser reconstruída. A Igreja olha muito à frente porque seu objetivo é a salvação do mundo, de todos os homens, e não a vitória de uma nação sobre outra. Para uma lógica de reconciliação, há muitas coisas a fazer, imediatamente”.

Nada vai ficar como antes. Alguém já especulou que o bispo Onufrio poderia ser chamado para substituir Kirill, salvando a relação da Igreja Ortodoxa Ucraniana com Moscou. Mas isso deveria passar pelo sínodo e pelo grande eleitor (Putin).

Outros aguardam o reaparecimento de uma hipótese que agrada os greco-católicos. Se a Igreja autocéfala se impor na Ucrânia, o sonho dos últimos arcebispos maiores das comunidades greco-católicas (Husar e Shevchuk) poderia tornar-se plausível: um único patriarcado com duas obediências (Constantinopla e Roma).

 

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