22 Março 2019
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pediu ao cardeal Barbarin que “evite todo escândalo público” em relação ao Pe. Bernard Preynat.
A reportagem é de La Croix International, 21-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A sentença sobre o cardeal Philippe Barbarin, proferida em 7 de março pelo Tribunal de Magistrados de Lyon, na França, e as denúncias apresentadas contra o núncio apostólico em Paris deram novas esperanças a uma associação que defende os direitos das vítimas de abuso sexual clerical.
Em uma carta datada de 20 de março, o advogado das vítimas do Pe. Bernard Preynat solicitou à Promotoria Pública de Lyon que peça ao cardeal Luis Ladaria Ferrer que compareça perante o tribunal.
O advogado Jean Boudot também pediu à Promotoria Pública para solicitar ao Ministério das Relações Exteriores de Paris que o cardeal, que atualmente é prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, perca a sua imunidade funcional.
Evitar todo escândalo público
A investigação sobre o Pe. Preynat revelou que o cardeal Ladaria, então secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, foi informado pelo cardeal Barbarin sobre a acusação apresentada por uma das vítimas e sobre certos documentos no dia 19 de dezembro de 2014.
“Em resposta a essa informação completamente explícita sobre as múltiplas ofensas sexuais cometidas pelo Pe. Preynat, o arcebispo Luis Ladaria pediu que o cardeal Barbarin, em uma carta de 3 de fevereiro de 2015, prescrevesse todas as medidas disciplinares adequadas, evitando o escândalo público”, recorda o advogado em sua carta.
La Parole Libérée (“A Palavra Libertada”) – uma associação para defender os direitos das vítimas de abuso sexual do clero – fez uma primeira tentativa em vão de fazer uma intimação direta contra a autoridade da Congregação para a Doutrina da Fé.
Depois, dirigiu-se à Promotoria Pública de Lyon, que enviou a intimação ao gabinete da Promotoria Geral. A intimação, então, foi enviada à Divisão de Assuntos Criminais do Ministério da Justiça e para o Ministério das Relações Exteriores, que a enviou, “por meios diplomáticos”, ao Estado do Vaticano.
Em setembro de 2018, a Secretaria de Estado do Vaticano recusou-se a notificar o cardeal sobre a intimação, considerando que os atos foram cometidos “em sua qualidade de autoridade pública em nome e em prol da Santa Sé” e, consequentemente, protegida pela imunidade diplomática.
Dois novos desdobramentos
Dois novos desdobramentos justificam essa nova tentativa da La Parole Libérée.
Em primeiro lugar, o cardeal Barbarin – cuja renúncia acaba de ser rejeitada pelo Papa Francisco – recebeu uma sentença de seis meses de prisão no dia 7 de março por não informar as autoridades judiciais sobre as ações do Pe. Preynat precisamente para “evitar o escândalo público”.
Em sua decisão de 7 de março, o tribunal observou que parecia que essa era a única prioridade do cardeal e o “único motivo para a [sua] inércia” em 2015.
O advogado Jean Boudot argumentou em sua carta que, “dada a motivação precisa da decisão”, não havia dúvida de que, “de acordo com essa decisão”, o cardeal Luis Ladaria “é totalmente responsável por uma condenação na França”, por cumplicidade com o crime de não denúncia de abuso sexual.
Além disso, a Promotoria Pública de Paris recentemente solicitou o levantamento da imunidade diplomática do núncio apostólico e arcebispo Luigi Ventura, que está sendo investigado após três acusações de abuso sexual cometido na França, disse Boudot.
“O promotor público de Paris fez o seu trabalho”, disse François Devaux, presidente da La Parole Libérée. “Não entenderíamos se Lyon deixasse de nos apoiar.”
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Vítimas de abuso querem que cardeal Luis Ladaria perca sua imunidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU