“A carta de dom Ladaria: Uma Igreja, para quê?”. Artigo de José M. Castillo

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07 Março 2018

“Quando a Igreja se despojar de suas muitas elucubrações estelares e de tantas aparências, que apontam as glórias e tronos, em lugar de seguir o caminho de Jesus, que se iniciou entre pobres pastores e acabou entre malfeitores, “como um entre tantos”, quando vermos esse dia, sem dúvida alguma, inauguraremos a enorme estrada que nos leva diretos à salvação. Obrigado, querido irmão e amigo, Luis F. Ladaria!”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado por Religión Digital, 06-03-2018. A tradução é do Cepat.

Segundo ele, a carta sustenta que "Jesus é o Salvador porque 'se humanizou' plenamente".

Eis o artigo.

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Luis F. Ladaria, publicou (há poucos dias: 22-02-18) um documento importante sobre o tema capital da “salvação” sob o título Placuit Deo. Um documento, portanto, que tenta deixar claro “alguns aspectos da salvação cristã”. Em definitivo, trata-se de uma carta, dirigida aos Bispos da Igreja Católica, para responder a esta pergunta elementar: do que o cristianismo nos salva? O que, em definitivo, equivale a perguntar: para que nos serve e qual é a contribuição da Igreja a este mundo convulsivo em que vivemos?

O arcebispo Ladaria nos recorda, antes de tudo, duas limitações inerentes à condição humana. E que, portanto, de uma forma ou de outra, estão presentes em todos. Estas duas limitações são velhas heresias que seguem como constantes da condição humana. De uma parte, o “neopelagianismo”, que consiste no projeto de todo aquele que “pretende salvar a si mesmo”, quando na realidade dependemos de tantas outras condicionantes e, sobretudo, da realidade última e transcendente a qual nós, crentes, denominamos “Deus”.

E de outra parte, o “neognosticismo”, que é o projeto dos que só aspiram a “uma salvação meramente interior”, seja qual for a origem religiosa que tenha semelhante ideia. E registre-se que, nestes dois coletivos, há mais gente do que imaginamos. Com o agravante de que a maioria daqueles que estão metidos nestas andanças, nem se dão conta dos desorientados que seguem pela vida. Sem ir muito longe, eu mesmo me pergunto: serei eu um deles?

Por outra parte, que todos desejemos – de uma maneira ou de outra – algum tipo de salvação, é coisa que, por pouco que se pense, resulta evidente. Seja já nesta vida (pelas muitas coisas que almejamos e que carecemos), seja depois da morte (pelo muito que disso ignoramos), o fato é que todos – pensemos ou não, digamos ou neguemos –, absolutamente todos, desejamos e buscamos salvação. Que resposta o cristianismo (a religião, a Igreja...) oferece a esta questão tão fundamental?

Claro, o arcebispo Ladaria, em seu recente documento, recorda-nos que Jesus, o Senhor, é nosso Salvador. Por quê? Como? A resposta que o Santo Ofício oferece, hoje, é clara e eloquente: “Cristo é Salvador porque assumiu nossa humanidade integral e viveu uma vida humana plena, em comunhão com o Pai e com os irmãos. A salvação consiste em incorporarmos a nós mesmos em sua vida, recebendo seu Espírito” (n. 11).

Em definitivo, se buscamos salvação (e a buscamos), a solução e a resposta que a Igreja nos oferece, hoje, é simplesmente genial e casa com nossas mais profundas aspirações: Jesus, o Senhor, é nosso Salvador porque “assumiu nossa condição humana”. Ou seja, Jesus é o Salvador porque “se humanizou” plenamente. Daí que o caminho da Salvação consiste em “incorporarmos a nós mesmos em sua vida”. Ou seja, nós nos salvamos (e trazemos salvação) na medida em que, assim como Jesus, somos plenamente humanos, superando e vencendo tudo quanto possa ser ou representar qualquer forma de desumanização, em nossas vidas ou em nossas condutas.

Com razão, Ladaria aponta, desde o início de sua Carta, que escreve sobre a Salvação, que a Igreja oferece, “com particular referência ao ensinamento do Papa Francisco” (n.1). Onde está o centro deste ensinamento? Não está em seus ensinamentos chamativos e brilhantes. Nem está em suas decisões organizativas de nomeações que retiram e criam dicastérios, escritórios, cargos, transferências que levam e trazem decisões que são notícia mundial. Não. Nada disso. Ou melhor, em tudo isso, o indispensável.

Então, onde e em que está a novidade ou a originalidade do “ensinamento do Papa Francisco?” Em algo tão simples e tão difícil como isto, em algo tão “original” como a sábia e profunda indicação que o cardeal Ladaria acaba de nos fazer: viver em plenitude e coerência a profunda e chamativa humanidade de Jesus, o Senhor.

Quando a Igreja se despojar de suas muitas elucubrações estelares e de tantas aparências, que apontam as glórias e tronos, em lugar de seguir o caminho de Jesus, que se iniciou entre pobres pastores e acabou entre malfeitores, “como um entre tantos”, quando vermos esse dia, sem dúvida alguma, iremos inaugurar a enorme estrada que nos leva diretos à salvação. Obrigado, querido irmão e amigo, Luis F. Ladaria!

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